domingo, 2 de maio de 2010

SOB AS BENESSES DO PAC.


Mais uma vez divagando devagar, procurando um assunto para escrever e nada me vem à cabeça. Vontade de beber um whisky para ventilar as idéias, mas hoje é domingo e como vocês, tenho que trabalhar.

Por falar nisso, amanhã não vai ser mole. O chuveiro elétrico quebrou, como só saio de casa de banho tomado e está começando a esfriar, vai ficar complicado.

Vai ser uma semana curta, pois na quarta teremos o jogo do Mengão x gambás (Corinthians) pela Liberta e se tudo correr bem estarei em Sampa para assistir.

Mas isso são outros quinhentos.

Pois é, como vêem estou sem assunto. É péssimo, uma sensação de impotência. Ops! Não essa que estão pensando. Ainda estou conseguindo corresponder as expectativas e espero que por muito tempo.

Não que tenha a obrigação de escrever sempre, mas é que estou a fim de escrever. Sei que temos muitos assuntos rolando por aí, mas queria algo novo, nem que fosse algo meio surrealista. Mas nenhuma idéia me contenta.

Talvez uma história, sei lá...

Ok, vamos começar como começam todas as histórias:

Era uma vez em uma pequena cidade nos confins do sertão...

Ih! Isso vai dar merda! Vão achar que estou discriminando o pessoal da terrinha. Vocês acreditam que no ano passado, apenas pelo fato de ter me referido ao Coronelismo reinante no nordeste do Brasil Colônia, em um texto onde tecia comentários a cerca de uma situação no trabalho, me suspenderam por três dias? Na realidade neguinho (ops! Olha eu aí falando besteira.) os “alemão” queriam minha cabeça, ou seja, queriam me mandar embora. Pode? Então vamos mudar o local da cidade.

Era uma vez em uma pequena cidade nos confins do interior de um país qualquer vivia um casal de imigrantes. A família de Severino tinha uma terrinha promissora e a família de Raimunda outra. Muito dedicados e esforçados obtiveram suas terras após árduos anos de labuta servindo a ricos fazendeiros da região. As duas crianças sempre trabalharam. Tiveram infâncias semelhantes.

Desde pequenos ajudavam os pais, ora na lavoura de cana de açúcar ora no manejo do rebanho de cabras e bodes. Moravam na mesma região da Caatinga (que me desculpem os politicamente corretos, os responsáveis pelos direitos humanos, etc., mas não é possível escrever uma história sem pelo menos um pouco de sofrimento dos personagens) onde o sol era seu companheiro freqüente. A lida era pesada e demandava raça, amor e paixão (oh meu Mangoooooooo!!!!!!!) e apesar de tudo isso, o resultado nunca era satisfatório. Dava apenas para a sobrevivência deles e de seus sete irmãos. De cada.

Estudavam à noite, cada qual em sua casa, fazendo os exercícios dos livros do Telecurso 1º e depois 2º grau. Eram persistentes e nem mesmo as constantes secas os fazia desistir. Eram vidas de sacrifícios ponteadas por encontros esporádicos aos domingos atrás da igreja.

Após a missa. Sentavam-se ao pé da pequena escada na base da torre do campanário e trocavam informações das aulas da semana entre olhares furtivos e desejos reprimidos. Para Severino, desejos facilmente aliviados com o auxílio das cabras de seu rebanho, mas para Raimundinha não restavam muitas opções a não ser aguardar o casamento.

O tempo foi passando, eles foram crescendo, os encontros acontecendo de forma natural e carinhosa, entremeados pelas cada vez mais freqüentes visitas de Severino aos pastos. Raimundinha estava ficando muito jeitosa.

Como uma dádiva divina o Telecurso os acompanhava e ele já na casa dos vinte e nove anos e ela vinte e cinco tornaram-se universitários. Usufruíam de projetos do Governo como Bolsa Escola e Bolsa Família, Bolsa Caatinga, Bolsa Seca, etc.

O curso lhes proporcionava uma visão global da economia do país e do mundo fazendo-os vislumbrar um futuro promissor quando conseguissem juntar dinheiro suficiente para comprar duas passagens para a felicidade. Sim, esse era o plano, vender as terras e partir para uma aventura sem volta com destino a felicidade (se escrever sul maravilha, apesar de ser a verdade, vou ser preso).

Continuaram sua vidinha: acordando cedo, assistindo as aulas do Telecurso enquanto tomavam café da manhã (pão, manteiga de garrafa, queijo qualho (as vezes tapioca) e leite de bode, ops! Cabra. Depois, a cansativa porém gratificante lida no canavial ou o manejo dos animais. À noite, faziam os exercícios conseqüentes das aulas matinais. Eram típicos personagens da história daquele país.

No final daquele ano, como por milagre, eles conseguiram o dinheiro para a tão sonhada liberdade. Foi uma despedida sentida por todos os moradores da cidade. Muitos choraram, outros agradeceram (Severino não era flor que se cheirasse) e eles partiram, não sem antes se casar (o pai de Raimunda era um tremendo bandido e não ia deixar a filha ir sem esse ritual), com a promessa de retornar com novas técnicas e conseqüente prosperidade para sua tão querida cidade natal.

Após duas semanas de sofrida viagem, chegaram. Era uma cidade linda, montanhas repletas de florestas, mares límpidos, ruas tranqüilas. As pessoas educadas e solícitas os receberam com carinho. Mostraram-lhes os pontos turísticos, a infra-estrutura e lhes ofereceram emprego.

Foi aí que aconteceu o primeiro embate. Eles estavam cansados de trabalhar. Haviam visto muitas coisas na TV. Pessoas que não faziam nada e tinham uma vida repleta de regalias. Não queriam nada diferente, queriam aquilo que a TV lhes fazia entender ser a realidade.

Foram banidos e escorraçados. Foram parar no meio das florestas e como Robson Crusoé (um filme que haviam visto na praça de sua cidade natal), com restos encontrados pelo caminho construíram sua residência não sem antes derrubarem uma dúzia de árvores.

Com o tempo, se sujeitando, ela como prostituta e ele como flanelinha, as vontades dos cidadãos, conseguiram contato com seus familiares. Não podiam dizer que haviam fracassado. Contavam diversas histórias de como haviam prosperado na cidade grande.

O sucesso foi tamanho que em poucos meses muitos familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos desembarcavam na rodoviária da cidade. Todos em busca de sucesso.

A realidade encarava-os de frente, sem perdão e as casas iam sendo erguidas a exmo sob vastos desmatamentos. Eles cresciam e se multiplicavam seguindo os dogmas.

Hoje vivem entre as trevas do crime e a fraca luz das ocupações, sob as emoções dos deslizamentos como em parques de diversões apreciando a vista que conquistaram.

Severino e Raimunda, agora são lembranças. Os pioneiros hoje são idolatrados e como heróis têm seu túmulo visitado pelas crianças das comunidades hoje assistidas pelo PAC.

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