quinta-feira, 12 de julho de 2012

SAMPA II


Estava demorando a voltar ao assunto, eu sei, mas vocês vão concordar que fica complicado falar de outra coisa.

Todos sabem que de uns tempos para cá passo os dias de semana na terra da garoa. Fico de segunda à quinta trabalhando arduamente como qualquer brasileiro descente.

Pena que não somos muitos.

Afirmo, sem medo de errar, que somos menos que a minoria.

São reuniões, treinamentos; verificações, busca e análise de dados diversos, troca de mensagens eletrônicas, emissão de relatórios etc.

De vez em quando, para aliviar a tensão, um copo de água, um café e até uma olhadela no site de esportes para verificar as últimas do Mais Querido, pois ninguém é de ferro.

Após a tradicional pausa para o almoço retorno a intensa labuta; ao contrário de muitos por aí que fingem que fazem, mas na realidade gastam o que roubam enquanto sonegam a educação, a saúde e a segurança como autênticos filhos da ...

E vocês continuam votando nessa corja.

Não me venham dizer que não o fazem porque se não o fizessem eles não se perpetuariam no poder como muitas múmias ou zumbis que volta e meia aparecem nos meios de comunicação.

Uns conseguem se mexer. Outros até balbuciam algumas palavras.

E vocês lá, votando de eleição a eleição.

Já são mais de sete meses nesse vai e vem e já estou me acostumando com certas particularidades desta imensa terra.

A diversidade de estilos e cores, a maioria cinza, que emergem do chão em forma de construções de vários tipos e tamanhos são a flora em jardins de concreto onde a cada esquina se encontra uma novidade.


E nesse emaranhado de selva de pedra a arquitetura está muito bem representada pelo ecletismo das décadas com fortes influências de várias culturas mundiais.


Em alguns casos ainda vemos belos casarões de anos, talvez séculos atrás.


Imponentes residências de famílias tradicionais e abastadas de outrora que hoje abrigam empresas, faculdades, museus etc.


Já aqui, acordo cedo e reparo que o sol consegue, com muita dificuldade, fazer com que seus raios atravessem o ar carregado e impuro para aquecer as manhãs ainda úmidas por lágrimas derramadas pela noite agitada da cidade.

Mas é quando chego à estação República do metrô, exatamente no intervalo entre o desencontro da devassa noite dos domingos e a responsabilidade das segundas feiras, que os personagens antônimos da fauna local se misturam. Ao menos se cruzam rumo a seu destino.

Seres de todas as tribos, religiões, opções sexuais e situações socioeconômicas, desfilando pelas ruas da cidade. Dentro ou fora de seus redutos.

À noite diferem-se por seus trajes, penteados e/ou acessórios normais para seus pares e nem tanto para os que não o são. Muitos merecedores de fotos que o receio de ser mal interpretado não permite tirar.

De dia são os vários representantes de raças, cores e culturas que formam esse maravilhoso caleidoscópio que sintetiza a conhecida miscigenação brasileira.


Observam-se tal qual cães e gatos outros se agridem verbalmente como caçadores e presas ou no mínimo se respeitam. E segue a vida onde nem sempre o mais fraco sucumbe ao que seria natural.

Outro dia, início da noite, no metrô, indo para a rodoviária; deparei-me com um desses personagens.

Baixinho, gordinho, bigodinho com as pontas viradas para cima, usava chapéu coco e uma bengala tipo Bat Masterson (veja no Google). Trajava, estilo anos 30, sapatos tipo Zé Pelintra (bicolores) só que preto e branco, um longo sobretudo preto, terno preto com riscas de giz, colete, camisa de gola alta e pontas arredondadas, gravata borboleta e um cravo vermelho na lapela. Os óculos, de aros dourados, provavelmente ouro, redondos estilo Harry Potter.


Relutei bastante e hoje me arrependo de não ter tirado a foto.

Meus caros, aqui em Sampa, com exceção dos cocos e xixis de cachorros espalhados nas calçadas, quase nada é natural.

Mas as coisas estranhas não param por aí. O paulistano (paulista é quem mora no interior) é um povo diferente. Enquanto a maioria gosta de paisagens naturais os quadros e pôsteres que vemos nas lojas especializadas mostram prédios, viadutos, museus, pontes e avenidas como paisagens. Entre esses variados pontos turísticos a avenida Paulista é uma das mais cultuadas.


É uma bela avenida, concordo. Limpa, larga e por isso visualmente confortável. Ao longo de suas oito pistas estão prédios conhecidos ou não de arquitetura marcante.

Não tenho tido oportunidade de saracotear pela cidade e aproveitar o melhor que ela tem a oferecer, mas percebo com facilidade que no quesito diversão São Paulo é quase imbatível.

As poucas chances que tenho em ao menos passar em frente a um evento importante ou não, vejo a qualidade e diversidade de opções com que os habitantes e turistas desta cidade são ofertados.

Os bares cheios nas diversas calçadas sempre por volta das 18:30 horas mostram a disposição que o paulistano tem em fugir do engarrafamento do período.

Aliás, um item que dá orgulho ao paulistano é o tal do trânsito.

Vejo nos telejornais quanto orgulho eles têm. Já é default o repórter aparecer sorridente e cheio de si anunciando em quantos quilômetros o engarrafamento do dia ou do fim de tarde está.

Esse orgulho é facilmente percebido quando sabemos de sua perseverança em manter o estado de caos.

Enquanto o Governo cria alternativas para reduzir o tumulto, o paulistano se desdobra em ações para manter o status quo.

O governo cria o Rodízio de Placas (carros com determinado final só podem circular na cidade em um determinado dia) e o zeloso paulistano, em uma atitude deveras inteligente, compra outro carro.


Mas também há atitudes elogiáveis no dia a dia dos caras.

Faz um tempo que a Prefeitura iniciou uma campanha de educação no trânsito que deveria ser copiada pelas demais cidades do país.

Trata-se de fazer com que os motoristas respeitem os cruzamentos e as faixas destinadas a travessia de pedestres. Vira e mexe rola na TV um anúncio sobre o assunto.

E não é que está dando resultado!

Será que o brasileiro tem solução?

Desculpem, tenho cá minhas dúvidas.

Ainda no início da campanha já era raro ver algum motorista não atender a determinação.

Cheguei a me enrolar e me assustar ao voltar a Cidade Maravilhosa e tentar atravessar uma rua. Quase fui atropelado.

Com relação ao transporte público, fiquei impressionado. O metrô apesar de ainda insuficiente, é absurdamente melhor que em muitas cidades do país que já possuem o serviço.

Um sistema composto de trens com mais de 8 linhas em que mais de 150 estações funcionam perfeitamente.


Proporcionalmente, a quantidade da população atendida é irrisória, mas assusta quem transita pelas primeiras vezes nas galerias repletas como formigueiros a qualquer hora do dia.


No centro da cidade ainda circulam os trólebus ou ônibus elétricos criminalmente retirados das ruas do Rio de Janeiro.

Acho que aqui não preciso fazer comentários. Certo?

Não posso falar do sistema de saúde, ainda não utilizei e nem pretendo, mas tem 3 pessoas aqui que foram bem atendidas em um hospital particular utilizando seus planos de saúde. Uma com dengue que trouxe do Rio, outra com infeção intestinal após o café da manha do hotel, um 4 estrelas normalzinho e um com dores na lombar.

Mas é comendo em São Paulo que você se surpreende. Mesmo sabedor da fama, em muitas das esquinas que se contorne encontra-se um dos representantes da vasta gastronomia da cidade e do mundo.

São italianos, franceses, contemporâneos, clássicos, caseiros, japoneses ou chineses.


Sofisticados, árabes, portugueses, espanhóis, vietnamitas, indianos, a quilo, a la carte, buffets, pés sujos, em shopping ou não.


Da Tia, Da Nona, Do Frade, Do Nono, Do Giuseppe, Do Kalifa, Do Samurai, Do Manuel, da Terê, Da Zilma, Do Aladim etc.


Os mexicanos e alemães merecem destaque. Do Fritz, Do Miguelito, Das Frauen, Da Tica, Do Waiss Phuder, etc.


Um simples almoço rápido ou um jantar mais elaborado podem te surpreender pela qualidade e sabor. Mesmo uma reles saladinha acompanhando um grelhado safado, tem o seu valor.


As churrascarias são excelentes tanto na qualidade como diversidade de cortes servidos.


O churrasquinho de gato vendido em poucas esquinas, com certeza é de Siamês. No mínimo Angorá.

E as pizzarias? Excelentes! Servem pizzas de todos os tipos formas espessuras e recheios.


O tamanho? Ah! Aí a coisa pega. É impossível você conhecer o tamanho a não ser na hora que ela chega à mesa. É uma situação complicada porque você está esperando um tamanho, baseado no cálculo que fez da relação entre a sua vontade de comer e a informação que recebeu do garçom, mas acaba quase sempre se decepcionando e engordando.

- Qual o tamanho da pizza família?

- 16 pedaços senhor.

Você impaciente pergunta:

- A grande?

- 8 pedaços.

Puto:

- E a média?

- 4 pedaços.

Você fica sem saber o tamanho da pizza e acaba escolhendo qualquer um para não se aborrecer mais.


Não entendeu? Faltou a aula de geometria? Ok! Vou explicar.

Qualquer que seja o tamanho da pizza, você corta em quantos pedaços quiser. Portanto, não é o número de pedaços que vai te indicar o tamanho da dita cuja.

O que determina o tamanho da gororoba é o diâmetro:

- Família = 45 cm;
- Grande = 35 cm;
- Pequena = 25 cm.

Ou:

- Família = Um pouco maior que o prato (o prato geralmente está à sua frente);
- Grande = Do tamanho do prato;
- Pequena = Menor que o prato.

Ou ainda, utilizando as mãos o garçom aproxima os indicadores e os polegares formando um “círculo imaginário” e aumenta ou diminui em função da dimensão da bolachona.

Com mais dois amigos pedimos uma com três sabores (aqui eles fazem) adivinhem em quantos pedaços ela foi cortada?

Sim, em 9 pedaços!

Perguntei, com certo ar irônico (não podia deixar passar), como chamam esse tamanho e quase apanhei!

Fico imaginando como chamam a pizza cortada à francesa...

E foi nesse paraíso gastronômico que, após muitos anos, relembrei um de meus hábitos de juventude. Nessa época, ao voltar da praia, lá pelas 18 horas ia para a cozinha preparar, com ingredientes requentados, um dos pratos que mais apreciava. Bife, farofa arroz e dois ovos fritos. O bife era cortado em pedaços, misturado ao arroz e a farofa depois banhava tudo com a gema do ovo também em pedaços.


Melhor que isso, só pé de mesa à milanesa.

Você quer apenas uma cervejinha ou um destilado para acompanhar o papo com os amigos ou amigas? Aqui você se perde procurando. Se decidir sair de onde estiver para isso, basta poucos passos e encontrará um bom bar para:


Destilados ou


Fermentados.

Nos esportes são uma força razoável e no futebol, mesmo conquistando mais títulos nacionais e internacionais permanecem como províncias do nosso querido Rio de Janeiro.

Financiar a construção de um estádio de futebol com parte do dinheiro vindo dos cofres públicos, oriundo dos impostos arrecadados dos incautos e que deveria ser gasto com educação, saúde, saneamento básico, segurança, transporte público, etc. é um dos exemplos das ações que promovem com a intenção de fazer desta cidade o mais importante pólo esportivo do país.

E “neguim”, em pleno século XXI mantém uns costumes meio estranhos por aqui. Quando vão aos jogos se juntam em bandos e saem na porrada no meio da rua, como uns animais. São disputas que lembram bem épocas e hábitos medievais. Chegam a se matar como nas cruzadas.

Tudo bem, convenhamos que na Cidade Maravilhosa não é muito diferente e que esse lado belicoso também nos pertence, mas se é para matar alguém, vai matar um político ladrão.

Pelo menos estarão fazendo algo útil a sociedade.

Não estou fazendo apologia, nem incentivando a violência. Detesto isso. Entendo que a solução para TODOS os problemas é muito simples:

BASTA CUMPRIR A LEI!

Não é necessário ficar inventando sub-leis ou palhaçadas tais como a “Lei da Ficha Limpa” entre outras pérolas criadas pelo Sistema.

Seguir os X Mandamentos já seria suficiente. São apenas 10 leis escritas em poucas, mas claríssimas palavras. Vale uma conferida.


Mas já que vão se matar, que matem quem, merece. Depois assumam e paguem por seus atos.

Voltando a ideia principal deste texto.

Outras artimanhas são armadas com o mesmo intuito. A nomeação do Presidente de um clube da cidade em importante Diretor da CBF e as várias tentativas frustradas de fazer esse mesmo time Campeão Brasileiro. São duas delas.

Foram 3 anos até que conseguiram e em 2011 a conquista foi obtida.

Estamos em julho de 2012 e estão fazendo a mesma coisa para esse mesmo timeco conquistar a Taça Libertadores da América.

E em 04/07/12 conseguiram.

Outro objetivo dessas ações provincianas é fazer com que a torcida desse mesmo timezinho sem vergonha cresça ao ponto de superar a insuperável Magnética.

A prova cabal das célebres palavras do grande filósofo alemão; Paw Ista Twma Noku:

“A INVEJA É UMA MERDA!”

A Onipresente, maior e Mais Bonita torcida de um time de futebol no mundo, a MULAMBADA do MENGÃO.


A onipresença da Nação é tanta que somos a quarta torcida deste estado e aqui temos uma desorganizada chamada Flasampa com sede em um bar próximo a estação Santa Cruz do metrô, onde parte da Magnética assiste aos jogos do Mais Querido.


São Paulo não tem praia?

Engano seu!

São Paulo tem uma das mais tradicionais praias do país. E é mundialmente conhecida. Perde um pouco para a fama de Copacabana, é fato, mas o Rio Tietê tem o seu valor no cenário nacional.


Está um pouco largadinho, é verdade, mas a Prefeitura está providenciando melhorias na intenção de torná-lo navegável e em condições de utilização pelos banhistas.


Com essa promessa renovada anualmente desde que, ainda criança, eu passava parte das férias aqui, a Prefeitura pretende diminuir o trânsito nas estradas nos feriados.

Eles vêm alargando e duplicando estradas estado à dentro sem parar, mas cumprir a promessa que é bom, nada.

Estradas? Ah! As estradas!

Aí é covardia. São as melhores e mais seguras do país. O asfalto de alta qualidade, com diversas pistas em suas retas quilométricas. A implementação de sistemas de monitoramento de última geração, fazem desta malha viária uma das mais seguras do mundo.

Ajuda ainda mais essa segurança o número de carros que nelas transitam.

São tantos que a velocidade se mantem em um nível tão baixo, mas tão baixo que torna desnecessário tamanho investimento.

Aqui cabe outra frase do nobre filósofo alemão Paw Ista Twma Noku:

“O biscoito está sempre fresquinho porque vende mais ou vende mais porque está sempre fresquinho?”

Mas São Paulo não se resume apenas a prédios, trânsito, comida ou lazer. São Paulo também oferece um comércio diversificado.

Dirão vocês que poucas cidades não os oferece e eu seria um idiota se não concordasse, mas São Paulo o faz de maneira única e dependendo do serviço prestado, o faz glamourosamente.

São lavanderias, deliverys, postos de abastecimento com suas lojas de conveniências, lojas de vestuário feminino, masculino, adolescentes e crianças assim como assessórios idem. Lojas de brinquedos, concessionárias de carros e motos de várias marcas. Como em muitas cidades.

A Rua 25 de Março é um exemplo da diversidade de itens comercializados com preços bastante acessíveis, pena que a qualidade...


Próximo está o Mercado Municipal, com grande variedade de produtos. São frutas, embutidos, enlatados, importados, bebidas, bares e restaurantes. Uma festa, mas tudo muito caro.


Mas aqui a coisa é diferente. Os itens além de várias marcas, modelos, gostos e preços; têm espaços exclusivos para sua comercialização.

A Rua São Caetano é a famosa rua das noivas. 90% ou mais das lojas são destinadas a este seguimento. Deveria se chamar Rua Santo Antônio.

A Rua General Osório e adjacências é o local onde você encontrará tudo em acessórios para motocicletas, motociclistas e motoqueiros.

Há uma diferença. Motociclista é o que anda de moto civilizadamente e Motoqueiro ... bem isso é a banda podre da classe. Toda classe tem a sua. Burro é quem não enxerga.

São capacetes, botas, lanternas, luvas, proteções, lubrificantes, capas de chuva, caveiras, anéis, coletes e calças de couro, baús para viagem ou para entregar pizza.

Lá pelas bandas do Jardins, na Avenida Europa, as lojas de carros importados se multiplicam cercadas de diversas lojas de grifes de auto luxo.

Até para morrer você pode se surpreender aqui em Sampa. Existem funerárias onde você pode ser velado em espaços discretamente decorados com flores importadas em um ambiente finíssimo onde seus familiares e amigos terão um atendimento 5 estrelas. Sim porquê você estará morto, lembra-se?


Ou seja, seus familiares te colocarão em uma saia justa com a turma lá de cima, já que o desprendimento de valores materiais é a regra por lá.

Até as garotas de programa prestam um serviço de altíssimo nível.

Aqui você pode usufruir da companhia de algumas das mulheres mais famosas e emborrachadas da televisão a preços proporcionais a quantidade de borracha que compõe seus corpos.

Sim meus escassos e ingênuos leitores, vocês pensavam que essas meninas da TV vivem apenas do “limitado” salário proveniente de seus dons artísticos?

Não são todas, mas não são poucas ... tenham certeza.

Segundo um amigo que aprecia esses seres híbridos (carne, osso e silicone), não que eu não goste, gosto e muito, mas prefiro as naturais. Pode ter um silicone aqui ou ali, mas nada de exageros; o serviço inicia-se com uma dose de prosseco importado, mas não se limita a ela. Uma bela e relaxante massagem utilizando óleos de diversas viscosidades e fragrâncias e habilidade idem. Depois, segue o atendimento sob lençóis de seda.

Após tudo isso, só um bom, forte e quente café na padaria da esquina próxima ao escritório para as pessoas se manterem acesas durante o dia de trabalho.


E assim a vida segue aqui na terra da garoa. Na noite em meio a loucos ou não, na manhã curtindo a ressaca desta noite, no dia em massacrantes e demoradas horas de labuta ou a qualquer hora ou lugar nos braços de uma... Você nunca estará só mesmo que mal acompanhado.


domingo, 1 de julho de 2012

PRAZER


Cá estamos, mais uma vez.

Hoje vou falar sobre uma das poucas coisas que têm me dado prazer nesses últimos meses.

Claro que estar com meus filhos e cachorro não conta nessa história. Afinal juntar filhos com cachorro e dizer ser felicidade é redundância.

Ainda ando por São Paulo e a cada dia que passa vou me acostumando com isso. Mas não se preocupem, não há a menor possibilidade de deixar nosso querido Rio de Janeiro.

Mesmo com todas as suas mazelas, tristes mazelas, mesmo com seus governantes safados e povinho sem vergonha, mal educado e metido a esperto; o Rio de Janeiro é e sempre será, assim espero, a Cidade maravilhosa.

Mas convenhamos, não podemos tapar o sol com a peneira; o Rio de Janeiro está largado às traças.

Traças não! Aos Aedes Egypts.


Sim meus escassos leitores, elas (são mosquitas) estão de volta, mais uma vez. E cada vez mais fortes e contundentes. Aderiram ao feminismo reinante desde a década de 80 e graças a ignorância da maioria dos que se dizem Cariocas, estão, tal qual moçoilas recém-saídas dos MBAs da vida ou mulheres da mesma, pintando e bordando pela cidade.

Mas vamos falar de coisa séria, se esse assunto é tratado como brincadeira pelos palhaços de nossos governantes, que desfilam nos picadeiros das Zonas Eleitorais cercado pelos espectadores, o povinho ignorante da porra que aplaude de pé a cada eleição; não sou eu que vou levar a sério.

O negócio é utilizar os repelentes oferecidos pelo mercado e torcer.

Não! Não é esse assunto que me dá prazer. Claro que meter o pau nessa corja de safados tem lá seu lado agradável. Funciona como um desabafo ou mesmo descarrego, mas com certeza preferia estar enumerando resultados positivos de administrações públicas bem sucedidas.

Estamos em época “new fratern” quando inimigos quase mortais se desculpam e fazem as pazes como outro dia o fizeram nosso “querido” ex-presidente Lula e o eterno “rouba, mas faz” Paulo Maluf; sob o olhar complacente de milhões de otários que não têm vergonha na cara.

Época em que a Gabriela de Jorge Amado além de cravo e canela, também tem silicone. 

Pois é nessa época que toda semana deixo o lado feio da Dutra no “buzunga” leito das 00:05 horas de sexta feira para chegar ao Rio no máximo 5 horas e trinta minutos depois. Salvo se no trajeto a coisa enrola.

Chego em casa, num veículo de um membro da máfia eternamente impune dos taxis, para um banho e roupas limpas.

Adentro o “metrônibus” ou “metrolha” (aquela porcaria que chamam de metrô de superfície) e após quase 45 minutos sacudindo ou preso em um engarrafamento formado pelos inúmeros e solitários egoístas em suas enormes SUVs, chego ao trabalho.

É sexta feira, não se esqueçam, é dia anterior ao sempre desejado fim de semana. Sexta feira, dia em que muitos, eu diria a maioria, está mais preocupada com as 48 horas seguintes do que outra coisa. É o dia em que, além de trabalhar, tento resolver os assuntos particulares que os 400 quilômetros da Via Dutra não permitem.

Vocês não imaginam como é complicado. Se você não tem secretária e precisa agendar uma consulta médica, uma visita de um técnico, a vistoria anual de seu veículo, ou similares, você está ferrado. As pessoas que te atendem, já naturalmente desprovidas de vida inteligente no interior de suas cabeças tornam-se mais danosas a sua saúde do que entre as terças e quintas feiras do ano. Não estou considerando a proximidade com feriados.

Mas enfim chegam as 18:00 horas e as tarefas planejadas estão parcialmente cumpridas.

Tudo bem! É sexta para mim também e eu vou para casa, tomar um belo e quente banho, jantar uma comidinha especial e dormir o sono dos justos.

Ou não.

Sábado de manhã, sem chuva. Se com sol ou não é irrelevante. Prefiro sem, fica mais fresco.

Levo @Boris Stafford para seu longo e divertido passeio matinal. Na volta, alimento-o e a mim também.


Um banho rápido, separo as coisas, visto a roupa específica, me despeço de quem está acordado e lá pelas 08:30 horas estou em cima da moto em busca de uma estrada qualquer.

O destino? Pouco importa. Pode ser Itaipava, Friburgo, São Paulo, Juiz de Fora, Angra, Curitiba, Búzios ou mais longe.

A simples menção de um bate e volta ou o rebuscado planejamento para uma longa viagem já são itens a serem vividos intensamente.

Muitas vezes só, outras poucas acompanhado.

São pessoas de várias idades, religiões, estado civil, essas coisas. Mas com o mesmo sentimento quando o assunto é moto.

O prazer de sair por aí meio que sem destino, com ele ou inteiramente sem.

Nas estradas de mão única ou dupla, com uma ou mais faixas, lisas como cetim ou ásperas como a casca de um abacaxi.

Degustando cada curva e até mesmo as retas. As subidas e decidas. Entre montanhas, morros ou morrotes. Nas planícies, planaltos ou planos inclinados. Sob sol ou sob chuva. Mais uma vez, melhor sem ela.

As paradas de encontro antes de iniciar o passeio ou aquelas intermediárias para um café, suco ou apenas água; sempre acompanhadas de um bom papo com os parceiros do passeio ou outros que encontramos pelo caminho.


Você que viaja só ou com familiares, de carro, enfurnado em seu mundinho climatizado não sabe o prazer que é conhecer pessoas diversas pelo simples fato de estarem de moto.

São pessoas simples, algumas esnobes (sim elas também andam de moto, têm direito), a maioria solidária, de bem com a vida, pelo menos naquele momento sobre as duas rodas.

Experiências são trocadas assim como informações e histórias. As vezes contatos. Certamente você não as verá novamente, mas a simpatia de cada um desses encontros e desencontros deixa sua marca e isso ajuda a alimentar sua vontade de estar de moto.


Os raros distantes amigos que ficam, como os que fiz em Caxias do Sul quando fui até o Chuí.

Os lugares que vi e principalmente vivi e com certeza não seriam os mesmos se não estivesse de moto.

As paisagens sem as limitações das tradicionais molduras e escudos pseudo transparentes das janelas sobre quatro ou mais rodas.

O ritual de escolher as coisas certas e a eterna luta de fazê-las caber nos pequenos compartimentos antes de cada partida.

A ansiedade que antecede cada passeio ou viagem.

A vontade de nunca mais voltar para a vidinha mais ou menos vivida entre o acordar e dormir de cada dia útil.

Útil?

Apreciar pratos tradicionais ou não, simples ou rebuscados, a cada almoço ou jantar. O camarão com pedaços de manga e queijo Brie, em Itaipava;


Ou o sanduiche de linguiça à caminho de Ubá;


Ou ainda a comidinha caseira na estrada para São Lourenço.


Prazeres impares, discriminados em nome de uma insegurança que na realidade não é tão insegura assim. E que poderia ser menos ainda se aqueles que discriminam as motos fossem inteligentes ao ponto de trata-las com respeito e como conseqüência teríamos mais motos e menos carros nas ruas.


Prazeres que com certeza fazem muito bem a saúde e dependendo da intensidade talvez transformem se em segundos, quem sabe minutos ou horas complacentemente acrescidos a sua vida pelo Senhor de tudo e todos.

Uns dirão que viagens ao exterior como Paris, Praga, Londres, Barcelona, Roma ... são mais interessantes, outros citam viagens aos pontos eco-turisticos tais como Fernando de Noronha, Chapada, Lençóis ...

Pode até ser, mas não me fazem falta. O simples fato de pensar em entrar em um avião já reduz em quase cem por cento o tesão por uma dessas aventuras.

Uma pena.

O prazer agora é maior, pois tenho ao lado meu filho iniciando sua história sobre duas rodas.


Sim meus caros e escassos leitores, andar de moto tem sido a mais prazerosa atividade nos últimos meses. Vocês deveriam experimentar. Duvido que a experiência não vá mexer de alguma forma com vocês.