terça-feira, 16 de julho de 2013

O GIGANTE NÃO ACORDOU


Prezados,

Houve o tempo em que se ouvia aos quatro ventos:

“É desde pequeno que se torce o pepino!”

Não sei o que uma coisa tem a ver com a outra, mas significa que é desde criança que se educa o indivíduo.

É nessa época que o ser humano começa a aprender e esse aprendizado é facilitado pelo fato de o cérebro ainda estar literalmente vazio.

Lembro-me de meus pais e alguns outros pais nos ensinando a ser gente. A dividir os brinquedos com nossos amiguinhos e ceder quando os deles eram mais atrativos e vice-versa.

Ou quando nos mostravam que os mais velhos assim como as autoridades mereciam respeito.

Da mesma forma que os brinquedos de nossos amiguinhos de pracinha, os bens de nossos semelhantes também deveriam ser respeitados.

Não eram poucas as vezes em que gritavam quando não atendíamos (entendíamos?) seus conceitos e não se furtavam a usar da “violência” para ter nossa atenção e consequente compreensão.

Para essa árdua tarefa nossos pais recebiam o APOIO das escolas na pessoa sempre enérgica ou carinhosa de nossas professoras. Autoridades que chamávamos de Tias.

Estudávamos em escolas públicas, instituições sérias e muito bem administradas pelos Governos e seus funcionários, que com isso cumpriam seu dever de dar ensino de qualidade àqueles cujos pais labutavam produzindo frutos, parte dos quais eram direcionados ao sustento desta engrenagem na forma de impostos em um moto contínuo satisfatório.

E foi nesse cenário que eu e muitos de meus contemporâneos crescemos.

Procuramos fazer o mesmo com nossos filhos. Mesmo separados lhes demos estrutura sócio econômica e principalmente familiar mostrando à eles as opções de caminhos a seguir e corrigindo-os quando necessário. A escola pública já não tão eficiente nos fez optar pela particular e depois de terminado o ciclo da menor idade verificamos que a escolha fora acertada.

Hoje eles estão iniciando sua vida profissional ainda como estudantes de universidades particulares.

Eu estava viajando e em 17 de junho havia chegado na fronteira com o Uruguai. À noite, no jantar, vi um dos canais de TV aberta acompanhando ao vivo e a cores as manifestações que aconteciam em várias capitais do país. No Rio, era a primeira. O pau comia solto em frente a Câmara dos Vereadores. Alguns vândalos, que depois vieram chamar de infiltrados, quebravam o que viam pela frente amontoando os destroços, ateando fogo.


E a polícia, corretamente, baixava a porrada sem dó nem piedade.

Os demais manifestantes, curiosos que são, mantinham-se em volta da bagunça estupefatos.

Preocupado eu me perguntava onde poderiam estar meus filhos, já imaginando a resposta. Após várias tentativas consegui a confirmação. A contragosto sabia que não haveria outro lugar para eles estarem naquele momento e que só me restava pedir para que nada de ruim acontecesse.

Ao mesmo tempo, via crescer um sentimento de patriotismo nunca visto em meus mais de 35 anos de vida. O povo, pequena parte dele, deixava o conforto de seus lares para estar nas ruas defendendo seus direitos há muito deflorados pelo extrativismo, ganância, arrogância, estupidez e egoísmo de uma corja instalada no poder desde 1500. O Pavilhão Nacional tremulava ao sabor dos ventos do Movimento.


Foram semanas, de preocupação, mas também de satisfação, pois via cair por terra uma a uma cada uma das palavras proferidas por mim inúmeras vezes na frase:

“Nós somos um povinho de merda!”

Como eu havia esperado por isso. Como eu desejara essa demonstração de comprometimento na luta pelos nossos direitos assim como a demonstração de que conhecemos nossos deveres ao ver a maioria se afastando e/ou delatando aqueles cujos rostos cobertos pela vergonha haviam sido comprados para provocar desordem e com isso desestabilizar o Movimento.

Em uma valoração nunca vista e nunca obtida pelos vis investidores, reles vinte centavos adquiriram valores estratosféricos transformados em luta contra a corrupção, melhorias no sistema de segurança e no transporte público; investimentos na saúde e na educação; melhores condições de trabalho para diversas classes; melhorias na infraestrutura do país e demais inerentes.


O povo se multiplicava nas ruas não só das capitais como em diversas outras cidades e estradas do país.

Estimados em pouco mais de dois milhões de “combatentes” apartidários mostraram a cara e sua insatisfação por um período próximo dos sessenta dias.

A estes somavam-se os que postados nas janelas ou em frente as TVs, admiravam e incentivavam o Movimento.

Número maior de manifestantes era “visto” nas redes sociais.

Brancos, negros, católicos ou não, homossexuais, ricos (nem todos, claro), pobres, amarelos, heterossexuais, estudantes, trabalhadores, Flamengos, arco-iristas, etc. uniram-se como:

“Nunca na História Deste País!”

Neste período a força desse conjunto de vozes fez tremer os alicerces de cada prédio público, construído, principalmente aqueles onde estão instalados os membros da corja governante; seja ela municipal, estadual ou federal e seus asseclas.


Aparentemente acuados reuniram-se e desse conluio quatro pseudo importantes decisões foram tomadas:

- Os 20 centavos acrescidos às passagens foram retirados;

- A PEC 37 que em poucas palavras impediria o Ministério Público de conduzir investigações criminais, foi rejeitada em plenário;

- A corrupção foi considerada Crime Hediondo

- Será realizado um Plebiscito a fim de verificar a opinião dos brasileiros com relação a assuntos de seu interesse.

Nesse mesmo período, como em uma terra de contos de fadas, a Copa das Confederações acontecia.


Pão e Circo.

Utilizaram estádios construídos ou reformados a custos estratosféricos com o dinheiro surrupiado do povo por um Ali Babá e seus mais de 40 ladrões. Estádios, que como castelos, poucos deixarão de se tornar grandes e brancos elefantes por falta de um Hobin Wood ou outro herói qualquer. Estádios que tal qual a carruagem virarão abóboras a serem devoradas pelos ratos que sob a alcunha de Concessionárias os administrarão, com certeza deixando em 2º plano aquilo para o qual foram construídos, o futebol.

Estádios que podem cair como as casas dos Porquinhos sob o sopro do imenso Lobo Mau.

E foi como os porquinhos, que derrotaram o lobo mau que conquistamos o torneio.

Não demorou muito e as ruas se esvaziaram, restando apenas as palavras compartilhadas nas frágeis trincheiras eletrônicas das redes sociais ou pequenas manifestações promovidas por partidos, sindicatos ou outros reles iguais se aproveitando do momento. Como sempre. Tudo isso em troca de uns “reaus” e um sanduba safado e frio.

VERGONHA!

Muito pouco para quem pretendia acordar o Gigante.

Das quatro decisões oriundas do conluio as quatro nada mais são, como as Bolsas Assistencialistas, medidas paliativas com o único e sórdido objetivo de calar e amansar os que se insurgem.

Ou não? Vejamos:

- Os 20 centavos é um item lógico que auto se explica;

- A PEC 37 impedia o Ministério Público de investigar crimes? O que importa? O importante é que os crimes sejam investigados e de maneira séria, na forma da lei; o que não ocorre neste país desde 1500 e quando o são, ninguém é preso. Joaquim Barbosa que o diga.

- Crime Hediondo? É como a lei da ficha limpa, não é necessária. Necessário é identificar o criminoso e colocar na cadeia. Simples assim. O que tem que acontecer é acabar com as artimanhas jurídicas que mantém os corruptos nas ruas e nisso, é claro que a Corja governante não se interessa. Enquanto isso, ladrões de galinha são amontoados nas cadeias do país.

- Plebiscito? Vocês estão de sacanagem. Esse já adiaram para o ano que vem e ano que vem, é ano de Copa do Mundo então, até lá, vocês povinho sem memória, já terão esquecido e estarão nas arquibancadas ou nas ruas ao som do Olodum cantando:

“EU, SOU BRASILEIRO, COM MUITO ORGULHO, COM MUITO AMOR...”

Ridículos.

Nossa pobre história está repleta dessas tramoias e a postura de nosso povo não muda, mesmo a dos poucos que à leem em condições de discernir. Todos agem como ovelhas de um rebanho sem personalidade.

Diante disto, eu gostaria de fazer umas perguntinhas e para que esse Papo de Cozinha continue produtivo, é necessário que sejam sinceros e concisos nas respostas.

1 - Vocês realmente pensavam que iam conseguir algo além dessas migalhas?

2 – Vocês acham que só porque meia dúzia de gatos pingados foi para as ruas a Corja ia ter uma sincope e sucumbir à consciência de que estão no poder pelo povo, em nome do povo e para o povo?

Foram aproximadamente 2 milhões nas ruas, um pouco mais de 2 % dos 180 milhões de espertos que compõem nossa população, portanto, número irrisório que não decide “porranenhuma”. Menos que os 6% que conseguem discernir.

3 –Em que mundo vocês vivem, onde estavam os outros 98%??

Como disse, somos o país dos espertos, posso afirmar sem medo de errar que uma grande porcentagem de nosso povo é egoísta e desprovido de civilidade. São vários os exemplos e a reportagem de capa da Vejinha desta semana é a mais nova e clara imagem desta nossa pobre história.

E como poderia ser diferente se até vocês que têm condições de discernir não abrem mão de sua zona de conforto para um bem maior e melhor.

4 - Senão, quantos de vocês, por exemplo, deixariam o conforto de seu lar para sair às ruas em passeata?

5 – Quantos deixariam sua SUV em casa ou ao menos a dividiriam oferecendo carona a seus semelhantes?

7 - Quantos de vocês passariam a ir de moto, bicicleta ou taxi, já que utilizar metro e/ou ônibus é impraticável, para comparecer a seus compromissos.

8 - Quantos de vocês em vez de “chamar” mais de um elevador, se daria ao trabalho de olhar o marcador, “chamaria” o mais próximo e esperaria pacientemente por sua chegada?

8 – Quantos de vocês gastariam ao menos alguns poucos minutos diários pensando em uma forma EFETIVA de fazer com que as coisas aconteçam realmente.

É ruim heim!

9 - Ora meus caros, se nós não abrimos mão de algo como querer que a Corja imunda abra mão de suas benesses?

Ah! Vocês vão falar da justiça, leis e demais ferramentas criadas para manter a Ordem.

Tolinhos!

É público e notório que a corrupção corroeu e ainda corrói todos os seguimentos de nossa pobre sociedade, ou vocês se esqueceram:

- De quem faz os CDs piratas;

- Dos restaurantes que em vez de cobrarem os 10% de praxe passaram a cobrar 13% ou 15%;

- Dos que furam filas;

- Do mal atendimento dos SACs da vida;

- Dos que ultrapassam pelo acostamento;

- Dos médicos e/ou enfermeiros que roubam itens dos hospitais públicos sob a desculpa de salario indireto devido aos baixos vencimentos que foram de seu conhecimento quando da sua contratação

- Dos que estacionam sobre as calçadas ou em vagas de deficientes e não o são;

- Dos arquitetos que especificam materiais de empresas que pagam 10% por conta disso;

- Dos engenheiros que utilizam material de segunda em suas obras ou compram materiais com notas superfaturadas nas obras por administração;

- Dos jornalistas que se vendem em reportagens caluniosas e sem fundamento;

- Dos advogados que se valem de sua condição para obter vantagens;

- Dos motoriatas que não respeitam as leis de trânsito e fecham os cruzamentos;

- Dos que vão ao banheiro e não lavam as mãos;

- Dos administradores de ONGs fantasmas;

- Dos que pedem para não ter a Carteira Profissional assinada para se valerem das diversas bolsas assistencialistas ou seguro desemprego;

- Etc., etc., etc.

10 – Quem desses aí em cima tem hombridade para julgar e prender alguém, se até nosso valoroso Joaquim Barbosa ainda (espero) não conseguiu?


E tem gente animadinha que vai votar nele para presidente achando que só isso vai resolver “aporratoda”.

BOBINHOS!

Meus caros desculpem tanta incredulidade, mas não consigo ver os acontecimentos com os mesmos olhos que vocês. A criação que relatei no início deste texto é a verdadeira responsável por isso.

Sinceramente eu gostaria de estar errado nas palavras acima e com isso não poder afirmar que o Gigante ainda adormece em berço esplêndido e ao som do mar e a luz do SONO profundo.



quinta-feira, 11 de julho de 2013

25º AO 28º DIAS - CURITIBA - SÃO PAULO – RIO


Era um Hotel Ibis, o café da manhã, pago separado como os demais Ibis, estava razoável. Nada de especial. Nesta viagem, comi melhores e piores. Estava bom para o que se propunha.

O céu parecia estar abrindo. Resolvi acreditar no sol, arriscar e mudar a estratégia de sair vestido com a calça a prova de chuva e com o casaco à mão no topo da mala. Agoora ambos estariam no topo da mala.

A temperatura subia.

Check-out, tudo pago, segui com o carrinho de malas em direção ao lado de fora da portaria onde deixaria com um dos garagistas enquanto ia pegar a moto. Procedimento padrão.

Havia dois caras conversando aguardando a chegada do carro. Ocupavam a calçada toda.  Ao que reparou minha chegada, o outro estava de costas, solicitei em voz baixa;

“Gente boa, dá para dar uma chegadinha prá lá?”

Ele disse algo ao outro que se virou, olhou para o carrinho, para mim e não se mexeu.

“PORRA TU VAI FICAR OCUPANDO A CALÇADA TODA? TU NÃO É DONO DO MUNDO! CACETE!”

“Eu não ouv...”

“NÃO OUVI MESMO! NÃO FALEI COM VOCÊ! FALEI COM SEU AMIGO, ELE QUE FALOU COM VOCÊ! PORRA! VOCÊ ATÉ OLHOU PRA TRÁS E FEZ ESSA CARA DE VIADINHO!

“Você é muito gros..”

“GROSSO É O CACETE! FIQUEI DEPOIS QUE VOCÊ DEU UMA DE BABACA! VAI SE FODER!

Ele deu espaço resmungando. Deixei as coisas na calçada, pedi em voz baixa e educadamente à um dos garagistas para dar uma olhada e desci para pegar a moto.

Voltei, coloquei tudo na moto, agradeci o apoio do garagista, perguntei a direção à seguir e fui embora.

Não andei muitos quilômetros e puto, ainda na cidade, tive de parar em um posto para vestir a roupa de chuva.

Tudo pronto, errei na rotatória e mais puto refiz o caminho para então sair na direção certa. A GPS não estava errada, apenas confundi, pois eram muitas saídas da rotatória.

Alguns poucos quilômetros e estava na BR 116 rumo a Terra da Garoa.

A Regis Bittencourt já foi uma estrada traiçoeira.  Chamada de Rodovia da Morte devido aos inúmeros acidentes, a maioria com mortos. Era em mão dupla onde os camioneiros se transformavam em verdadeiros animais. Tanta era a agressividade com que dirigiam nesse pedaço de rodovia que não havia no país outra com maiores índices negativos quanto esse trecho da BR 116.


Ainda em processo de duplicação, são anos nisso, posso dizer que fora o trânsito no trecho sinuoso ainda por duplicar, a Regis Bittencourt é hoje uma estrada confortável, bonita e segura. Tem um bom grau de sinuosidade não possuindo aquelas retas enjoadas que levam horas para serem transpostas. Vira e mexe rios cruzam sob suas pontes e as montanhas estão sempre presente.


Com exceção da emoção vivida nas Serras Gaúchas, essa foi uma das melhores etapas da viagem. Temperatura amena, sem chuva (sim, só de sacanagem, em pouco tempo a filha da puta parou de cair), estrada limpa, asfalto liso, curvas em profusão, moto na mão, o que mais iria querer depois de tantos dias debaixo d’água e frio?

E assim foi até que reparei estar em ascendente com bom aumento na sinuosidade das curvas. Estava subindo uma pequena serra, com no máximo 10 quilômetros que passou como um raio sob meus pneus. E a sensação de quero mais me fez pegar o primeiro retorno, descer até o início, mais outro retorno e começar tudo novamente. Esse seria o objetivo da viagem se não fossem tantas chuvas.

Revi excelentes amigos, conheci belos lugares, provei boas comidas, bebi excelentes vinhos; tudo ótimo e maravilhoso, mas estar na estrada sobre duas rodas dessa forma, não tem preço.

Repeti agora, fiz o mesmo nas Serras Gaúchas e na Serra do Rio do Rastro à dois anos e farei novamente em próxima e breve oportunidade.

Cheguei à Sampa sem chuva e cansado. Direto para o apart-hotel, banho e cama. Após poucas, mas revigorantes horas de descanso desci para o jantar. Nada de sofisticado. Um filezinho a parmegiana com arroz e fritas. Estava honesto. O vinho, a única meia garrafa, um Santa Helena safado e bem ruinzinho. Não notei na hora da primeira degustação... dancei.


A noite de um sábado chuvoso e frio não conseguiu me tirar do hotel.

Acordei tarde e saí para um rolê à pé na avenida Paulista. Vazia e molhada pela insistente garoa não me era estranha, mesmo depois de quase um ano separados nos entendemos bem. Achei o que queria com facilidade quase como um legítimo paulistano.

O MASP continuava o mesmo e me chamou a atenção seu mau estado de conservação. Manchas de vazamentos entre outros indícios corroborando com os maus tratos reservados as nossas cidades pelos governantes corruptos. Cambada de safados.


Estava em casa. Um café expresso na Haddock Lobo quase esquina com a Alameda Santos, alguns metros distante de onde veria o jogo da “selecinha” na final da Copa das Confederações.

A chuva foi o que me fez voltar ao hotel. Escrever e ver televisão foram meus passatempos enquanto aguardava a hora do jogo. E esta chegou.

Entrei na Cantina do Piero il Vero e enquanto a pelada rolava na televisão, pedi uns petizes que consumi junto a um Gato Negro.


O pão Italiano, a manteiga, a berinjela desfiada, as azeitonas pretas e a pasta que esqueci o nome duraram todo o jogo, mas deixaram um bom espaço para um belo filé que esqueci de tirar a foto de tão bom que estava.

No dia seguinte acordei cedo para levar a moto fazer revisão. Perdi a manhã toda nessa brincadeira e mais uma vez a chuva me fez voltar ao hotel. Desta vez o almoço não poderia deixar de ser uma massa.


À noite, reencontrei uns amigos da época em que laborava na cidade. Fomos à um Mexicano onde íamos com certa frequência. Alguns nachos e doses de tequila foram os adereços para o bom papo e excelentes risadas relembrando tempos não tão distantes.

Na manhã seguinte, entrei na Dutra ainda cedo, mesmo não tendo me preocupado com a hora. A chuva havia parado e o sol me fez companhia quase que a viagem inteira. Essa parte da viagem não há muitos atrativos nem muita coisa para contar. Tive a oportunidade em reparar em trechos interessantes que não havia dado atenção em passagens anteriores.




A chuva voltou com certa força poucos quilômetros antes da serra o que me fez reduzir consideravelmente o ritmo. Estava chegando e até lá não havia nada a fazer que já não fosse conhecido.

Queria chegar em casa.

E cheguei.


segunda-feira, 8 de julho de 2013

22º, 23º e 24º DIAS - FLORIANÓPOLIS - BLUMENAU - JOINVILLE - CURITIBA



Acordei, os procedimentos de praxe e parti

Passei na concessionária para pegar o documento que não havia chegado à tempo e segui meu destino.

Queria andar, testar tudo, controle de tração, piloto automático e demais novidades que faziam parte do conjunto adquirido.

A lâmpada, apesar de não poder usar a mesma que vinha utilizando, já não era mais problema.


Da estrada só conhecia a parte da BR 101 que desta vez parecia que estava toda asfaltada e sem os perigosos canteiros de obras mal sinalizados de há dois anos.

O tempo estava nublado, mas firme. Não havia previsão de chuva. À frente tudo parado. Pensei:

“Ok! Deve ser o trânsito da manhã, com certeza vai melhorar.”


Segui no meio das duas faixas de carros, ônibus e caminhões completamente paradas. Alguns poucos, mas tensos quilômetros e um desvio. Segui, desta vez pelo acostamento, em baixa velocidade até que passei pelo acidente. A foto fala por si.


Nem imagino como o motorista conseguiu fazer isso. Só pode ter dormido.

Continuei meu caminho desta vez a estrada quase vazia, já que os veículos estavam retidos no acidente. Acelerei, mas não teve graça, era uma reta só e assim permaneceu. Resolvi prestar atenção na paisagem à direita.


Passei por Balneário Camboriú e peguei o acesso à Blumenau à esquerda.

Outra reta, desta vez em mão dupla e muito trânsito; não só de carros, mas também de caminhões. Estava perigoso, mas nada que um pouco mais de atenção e responsabilidade não resolvessem. Era difícil, mas me segurei.

Adiante o cenário começou a mudar. A vegetação aumentava de volume, a estrada começava a esvaziar, o piso melhorar e a sinuosidade aumentar. Estava ficando bom. A moto, mais leve e potente começava a ficar nervosa. Acelerei para o início de mais um baile. Desta vez tipo matinê.


Tudo era novo. Peso, resposta, dirigibilidade e a desconfiança de uma nova relação. Estávamos indo bem. Respeitávamo-nos mutuamente como dois bons e educados recém-conhecidos.

Podia ter escolhido o melhor caminho, mas como sabem, prefiro as curvas, então, resolvi arriscar as estradas secundárias desconhecidas.

E não me arrependi.

A temperatura agradavelmente estável, a redução de fluxo, a boa qualidade da estrada e a vontade de brincar formaram um quarteto bastante acolhedor para os primeiros passos dessa nova relação. Não havia dificuldade no consumo das curvas o que aumentava o nível de segurança. Estava tudo indo bem. A relação precisava dessa etapa morna para as primeiras adaptações.

E foi assim nessas preliminares que adentramos Blumenau.

A GPS me levou à porta do Ibis, fiz o check-in, malas no quarto e desci para uma passada na concessionária. Estava com uma dúvida e queria resolver logo.

Jean, o gerente me atendeu com educação e presteza. Explicou tim-tim por tim-tim cada item perguntado em uma revisão de aprendizado bastante esclarecedora. Depois um papo sobre a cidade e o que fazer. A época de provas de fim de período, esvaziavam a cidade à noite.


Mesmo com a chuva fina molhando as ruas, fui dar uma grande volta pela bela, mas movimentada cidade. O trânsito é intenso e as vezes para tudo. Cortada pelo caudaloso Rio Itajaí-Açu é uma simpática e acolhedora cidade. Beirando o rio chega-se à Universidade e outros pontos interessantes.

À noite, o bar sugerido junto ao hotel estava lotado e com fila. Decidi procurar a segunda opção, perto da Universidade. Não estava cheio. Sentei à mesa e pedi uma Batata Recheada com Picanha e uma cerveja. Não tirei foto, mas estava tudo ótimo.

Na mesa ao lado um grupo de motociclistas com quem tirei algumas dúvidas do percurso que iria seguir no dia seguinte. Um deles é da Polícia Rodoviária Federal, deu todas as informações e deixou o adesivo do Moto Clube a que pertence – www.amigosdosul.com.br.


Voltei ao hotel e fui dormir.

Nada de especial no café da manhã. Check-out, malas na moto e estrada.

Continuei pelas secundárias e mais paisagens diferentes foram passando. O destino era Joinville à pouco mais de 110 quilômetros de Blumenau.


O clima permanecia agradável e a estrada idem. Estávamos evoluindo no relacionamento e avançando nas preliminares. Parei na Polícia Rodoviária Federal para deixar nosso adesivo para o pessoal do “Amigos do Sul” e continuei em frente. À direita acessei a Rodovia do Arroz, estrada que corta a região produtora deste grão.


A estrada é cercada pelas plantações que seguem rumo ao infinito até chegar às montanhas que limitam a região. É muito arroz.

Depois uma pequena e sinuosa serra bastante interessante. Com poucos quilômetros á percorrer, não havia preocupação com hora. Me diverti muito. Os 119 quilômetros passaram ligeiro.

O plano era uma passada rápida, comer uma coisinha, abastecer e seguir mais 132 quilômetros em direção à Curitiba.

A cidade é muito limpa e arrumada. O trânsito flui bem e o povo muito educado, pelo menos no posto e quando pedi informação para voltar à estrada. Muitas construções, mesmo as novas, ainda remetem ao passado na época da colonização alemã.


Acho isso fantástico, pois significa o respeito que têm por seus ancestrais. Não obstante lembrar das tradicionais festas típicas da cidade, não só em Santa Catarina como de toda a região sul.

Gostaria de ter ficado ao menos uma noite, mas o tempo ruim e a noite fria me convenceram a seguir para Curitiba.

E assim o fiz, pela segunda vez nos braços da BR-101 rodamos seguros entre conhecidas e belas paisagens.


A estrada com asfalto digno de uma rodovia importante atendia ao principal objetivo da viagem, andar de moto e como já estávamos praticamente integrados cumprimos o trajeto de forma brilhante tamanho êxtase.


Cheguei cedo, abasteci a moto e saí em busca do hotel. Tramites cumpridos, sai à pé em busca de almoço. Era tarde e uma padaria, a segunda sugestão da recepcionista, já que a primeira havia fechado, foi a escolha. Um sanduba de queijo, salame e graxa (manteiga), no delicioso e crocante pão de sal (Francês para nós e Cacetinho para os gaúchos) foi a pedida. Delicioso!

O objetivo desta parada era apenas pernoitar e, após um breve passeio pelas redondezas, assim foi feito.


sábado, 6 de julho de 2013

20º e 21º DIAS - GARIBALDI - LAGES - FLOIRIANÓPOLIS


Mais bolo, ainda delicioso, as coisas na moto e fomos beber um café na cidade. O derradeiro papo e rodas na estrada. Ao parar em um dos poucos sinais da cidade reparei, no reflexo do carro à frente, que meu farol estava queimado. Tenho uma sobressalente, mas a preguiça em desfazer a bagagem e pegar no fundo da mala me fez aguardar chegar em Floripa.


O céu cinza deixava cair as já tradicionais e inócuas gotículas de chuva. O chove molha, não chove, mas não seca retornou com força e a estrada, apesar de convidar ao prazer estava molhada e insegura.


Foram poucos quilômetros, nem a metade do previsto. A chuva forte abreviou o planejamento. Procurei um hotel e o que indicaram era muito ruim. Mais um! Preciso rever meus conceitos sobre como e onde me hospedar. Não sou nem um pouco exigente, mas minhas últimas escolhas tem sido horríveis.

Chovia muito e um banho quente, mesmo em um quarto vagabundo parecia ser mais atrativo do que “rearrumar” as coisas na moto para sair, debaixo de chuva, em busca de algo melhor.

Deixei as coisas no quarto e saí para o supermercado ao lado a fim de comprar algo para substituir o jantar que já havia decidido não degustar.

Acordei cedo e após o café da manhã, fechei a conta, coisas na moto e estrada. Quanto antes saísse daquele inferno melhor.

Continuava chuviscando o que já não era mais um problema. Isso me fez desistir de descer a Serra do Rio do Rastro, não havia sentido para isso. Peguei a rota mais simples iniciando por uma enorme reta depois da qual se sucederam curvas convidativas, mas ainda molhadas.

Apesar da chuva a paisagem mudava agradavelmente.


Mudava...


Mudava...



Parei para me esquentar e comer algo além da barra de proteínas. Foi em um beira de estrada que pedi um queijo quente bem torrado e um refrigerante. Lá fora permanecia frio e a chuva caia sem cerimonia. Sem mais nem menos um motorista de caminhão puxou assunto. Estranhei o modo como me encarava até que entendi. Segundo ele eu era muito parecido com um grande amigo que não via há tempos. Vendo que eu não era, conversamos um pouco sobre a viagem e pedi informações da estrada à frente. Ele foi muito prestativo.

Peguei as luvas que estavam secando embaixo do balcão quente do bufe de comidas, paguei a conta, comi a barra de proteínas, uns goles de água e fui embora.

Os quilômetros foram passando, a chuva diminuindo, a temperatura subindo, o céu clareando e a pista secando. As curvas surgiam em maior quantidade iniciando seu flerte. A mão direita ainda deixava se controlar pela razão e permanecia mantendo o acelerador em velocidade morna.


A situação permaneceu nesse processo crescente. A estrada em uma sinuosidade inesperada continuava secando aos primeiros raios do sol e juntos me convidavam a uma nova dança.

Na esperança de bons momentos, deixei de lado o planejado e decidi dar ao sol mais tempo e parei em um pequeno, mas aconchegante bar de estrada. Pedi um queijo quente no pão da casa e enquanto aguardava pedi um pastel de forno de frango; depois me arrependi. Não pela qualidade e sim quantidade.

Fiquei ali proseando dando tempo ao tempo de clarear e aquecer o dia e assim secar a pista. Previa emoções.

Um casal fumava lá fora, mas toda a fumaça invadia o ambiente. As pessoas realmente não se tocam.

O último gole de refrigerante, conta paga, joelho vazio e rodas na estrada.

Como descrever esses últimos mais de 50 quilômetros?

Seguimos os quatro, sol, estrada, moto e eu, como se nos conhecêssemos há anos. Fazia alguns dias que não me sentia tão bem sobre a moto e isso foi fantástico. Precisava disso. Os dias nas estradas entre cidades não têm sido nada agradáveis.

O pequeno número de veículos circulando aumentavam a segurança.

Não foi necessário muito tempo para me readaptar e a parte da viagem em estradas voltava a ser prazerosa. Curvas e mais curvas se sucediam. Subidas, descidas ou em nível. A vegetação que as emoldurava tinha um tom verde musgo devido as recentes chuvas e sorriam diante dos mornos raios de sol.

E permanecemos assim, nesse grande baile à luz do dia até poucos quilômetros antes do encontro com a BR 101.

Ela estava cheia devido a proximidade com a capital de Santa Catarina e cada vez mais a medida que nos aproximávamos do litoral. Atravessamos a ponte, entrei à direita para em alguns metros chegar à concessionária. Trocar a lâmpada era o objetivo.


Simples. Sim, mas nem tanto. Há muito havia trocado as lâmpadas por mais fortes e o calor emanado por esse tipo de lâmpada é maior que o das normais. Resultado, derreteu o soquete. Ia precisar de mais tempo para a troca.

“Gostaria de fazer o test drive da moto nova. É possível?”

“A moto não está aí, mas está chegando. Foram encher o tanque. Se desejar esperar...”

“Espero!”

E ela chegou. Linda, branco e cinza claro eram as cores predominantes.

“Vou aproveitar e fazer o check-in no hotel, pois não fiz reserva e isso pode  demorar um pouco.”

“Sem problemas. Vai tranquilo.”

O som do motor era conhecido do dia de lançamento ainda no Rio de Janeiro. O peso da moto era menor, o peso do acelerador também.  Eu sorri. Os poucos que estavam no pátio de acesso à concessionária estavam atentos.

Primeira e em segundos estava no topo da rampa de acesso à rua. Estava vazia. Agora éramos apenas nós dois.

Eu sabia a direção do hotel. Seria o mesmo de dois anos atrás. Estava enganado, mas me perder não foi tão ruim. Peguei a beira mar e acelerei. Depois peguei o miolo do centro e acabei caindo em uma alameda com algumas curvas. A moto respondia sem reclamar. Os 15 cavalos à mais mostravam a que vieram. Após consulta cheguei ao destino. Tinha vaga, Fiz o check-in e voltei à concessionária.

Os alemães conseguiram melhorar e muito o que já era bom. O conjunto de inovações mecânicas implementadas na 1200 GS 2013 transformaram a velha senhora em uma linda donzela.

Não, eu não esqueci que houve modificações tecnológicas, mas no test-drive não houve como conhece-las. E isso só podia significar uma coisa, o ótimo poderia ser ainda melhor.

De brincadeira fiz a seguinte pergunta:

“Quanto vocês voltam na minha em troca de uma nova?”

Voltei à noite para o lançamento nacional do novo Mini. As manifestações políticas esvaziaram o evento, mas foi legal. O carro é bonito.

Retornei ao hotel e, como há dois anos, no dia seguinte não foi possível conhecer o sul da ilha.

Desta vez foi por um bom motivo. Enquanto aguardava os trâmites voltei ao centro para tentar consertar o óculos que havia afrouxado as fixações devido a uma queda. Esse sistema de fixação é relativamente novo. São como rebites segurando as lentes em vez de parafusos e não são todas as óticas que tem equipamento para conserto. A primeira ótica indicou a segunda que pediu ao menos 1 hora.

“Ok, então, vou almoçar.”

Não estava enxergando direito, precisava comer algo que não necessitasse enxergar direito. Burguer King, Mac Donald’s ou Bob’s eram as opções. Na falta do primeiro, escolhi o segundo que era mais perto eu estava sem óculos e andar também não ia ser confortável.

Tudo resolvido, voltei para o hotel, arrumei as coisas e fui dormir.


terça-feira, 2 de julho de 2013

17º, 18º E 19º DIAS - GARIBALDI E REDONDEZAS



Complementando as informações do post anterior, o jantar de ontem foi realizado na CIC – Câmara da Indústria e Comércio de Garibaldi, o nome do evento era: “Homens na Cozinha” e no jantar, além da Vaca Atolada (Ensopado de Carne de Gado e Mandioca) e do rocambole de carne citados no post, rolou uma salada básica de tomate, alface e palmito e um Risoto de Ervas. Como disse no referido post, tudo estava ótimo.

Antes, ao chegar na casa do Marcos, havia no ar o cheirinho de bolo recém retirado do forno. Trouxe recordações.

Café da manhã com frutas e bolo foi o máximo! Tinha mais, mas não precisava só o bolo resolveria. Comi vários pedaços.

Conversando sobre os planos do fim de semana, no jantar de ontem, tinha dito a Marcos que gostaria de visitar uma vinícola artesanal e por coincidência, havia entre os convidados um amigo dele proprietário de uma Micro-Champanharia. Marcos então marcou com ele para irmos conhecê-la.

Estava frio, fomos de carro. Encontramos com Gilberto Pedrucci no local marcado e após as apresentações pegamos uma estrada secundária com destino a Presidente Soares. Durante o percurso, aproximadamente 20 quilômetros, ele contou sua história.

Enólogo ha muito de uma grande vinícola de espumantes, resolveu produzir seu próprio espumante e após procurar, descobriu e se interessou por uma velha vinícola desativada que estava à venda. Após as negociações de praxe ele conseguiu arrematá-la. É claro que não foi tão simples assim, maiores detalhes lá no site da vinícola.


A paisagem peculiar mostrava vinhedos vazios devido a entressafra. Nesta época as parreiras hibernam economizando energia e nutrientes para a época de produção de folhas e frutos. Mesmo assim, o vale iluminado pelo sol que eficientemente afastara as nuvens, mostrava toda sua exuberância.


A simpática estrada de terra remete a época em que o transporte era precário e a maioria dos vinicultores morava e laborava no mesmo lugar. O conjunto de propriedades era religiosamente guarnecido por capelas ou pequenas igrejas, muitas construídas pelas mãos hábeis desses trabalhadores do vinho.



Após agradáveis bons minutos chegamos à vinícola.

Uma construção dos tempos da imigração italiana, erguida em pedras lavradas cujas dimensões quase iguais permitiram perfeito assentamento dando beleza e segurança a construção. Pedrucci teve de reformar o imóvel e nesse trabalho procurou preservar o máximo possível do existente


Com o apoio de apenas um empregado ele administra, cria e produz seus espumantes nesse único ambiente.


Foram muitas informações para apenas uma manhã e provavelmente vou esquecer alguma coisa, mas em resumo o vinho é colocado em um grande barril de aço inoxidável e ali fica por um determinado tempo em um processo químico natural.


Depois é engarrafado e descansa por mais tempo após o qual, com a garrafa de boca para baixo (rémuage), passa por um processo de resfriamento (fermentação) em que todo o resíduo é concentrado e congelado junto a boca (método Champenoise – fermentação na garrafa). Este Método Champenoise é utilizado na elaboração dos sempre famosos Champagnes. Pelo método Charmat, são feitos os espumantes de menor qualidade.



A etapa seguinte, Dégorgement, é tirar a tampa provisória para que esse resíduo seja expulso pela pressão do gás carbônico formado no processo. A finalização do espumante é colocar a rolha, a grade de segurança (esqueci o nome) e os rótulos do pescoço e barriga da garrafa.

Foi uma aula em que nota-se a emoção e boa vontade de Pedrucci em nos passar todas as informações, esclarecer dúvidas e matar curiosidades.

Mostrar que nossos produtos quando bem feitos podem e são muito bem qualificados no exterior também fez parte dos ensinamentos. Há pelos vinhos e espumantes nacionais uma boa quantidade de prêmios que com certeza nossos enólogos têm conhecimento, mas infelizmente poucos ajudam a divulgar deixando-se levar pela doutrina de que o que vem de fora é sempre o melhor.

Apenas para ilustrar, em um evento relacionado com a mais importante exposição do setor na região, foi servido vinho importado.

PODE ISSO ARNALDO?

Mas havia mais uma etapa do complexo processo à cumprir e este, com certeza o melhor. Degustar os espumantes Pedrucci foi para mim, que sou mais de vinhos, uma experiência bastante agradável.


Estou muito longe de ser um expert, mas com as dicas do enólogo consegui sentir a diferença de sabores e aromas das amostras oferecidas, estavam excelentes.

Aqui ficam meus agradecimentos ao casal Marcos pela oportunidade e à Pedrucci pela aula.

Retornamos e a paisagem mesmo que revista, novamente nos chamou a atenção. O sol estava mais forte e a manhã cinzenta estava se transformando agradavelmente.


Voltamos para a cidade, deixamos Pedrucci em casa e fomos almoçar em um simpático e honesto restaurante à quilo na avenida principal. Com exceção da polenta com queijo derretido, esqueci o nome, as demais opções não eram novidade. Estava bom.

Voltamos para casa e como combinado pegamos as motos para um rolé nas redondezas. Iniciamos pela estrada em direção à Bento Gonçalves, passamos por Pinto Bandeira, uma cidadezinha bastante simpática e seguimos a direção dos Caminhos de Pedra.


Paramos na Casa das Massas e do Artesanato (34-3455-63-68) onde fomos muito bem atendidos pela dona do estabelecimento.


Trata-se de uma casa construída em madeira na época em que os italianos imigraram. Os equipamentos da fazenda, a roda d’água, o pilão entre outros, ainda existem e funcionam.

Além do café quentinho provamos e adquirimos alguns biscoitos salgados, muito saborosos. Quase todos os produtos são feitos na propriedade e os que não são, tem origem nas redondezas. Doces, massas, geleias, molhos, etc. em diversas texturas e sabores não nos deixavam ir embora.

Alguns metros à frente, na casa vizinha, construída nos mesmos moldes da anterior e diversas outras da região. Na Casa da Tecelagem (54-3455-63-93) se produz peças fabricadas em teares rudimentares da mesma época. Com poucas modificações devido ao desgaste do passar dos tempos. Todos estão como se estivessem sido construídos há pouco tempo e funcionando.


Como de praxe, fomos atendidos muito bem pelas duas funcionárias da casa. Não só recebemos todas as explicações de funcionamento como as vimos produzir alguns centímetros de peças que após sua conclusão estarão expostas e sendo comercializadas na grande sala ao lado, junto com as demais.

Continuamos nosso passeio em direção a Garibaldi, mas dessa vez passando pelo Vale dos Vinhedos; que já conhecia da viagem anterior.

Estávamos cansados. O por do sol na janela da casa dos Marcos estava indescritível. Tentei registrar, mas a foto abaixo está bem aquém da realidade.


Não houve jantar. Por opção nossa resolvemos finalizar a noite conversando, degustando os salgadinhos adquiridos no passeio, cubos de Parmesão e rodelas de salame, ambos também da região. Simone bebeu vinho e nós o Jack que trouxera do lado uruguaio do Chuí.


Mais um delicioso café da manhã cujo item principal não deixara de ser o bolo feito por Simone, que mesmo passadas mais de 24 horas, permanecia macio e gostoso.

O sol brilhava como há muito não se via e o calor emanado, mesmo que pouco, era sentido com prazer.

Enquanto aguardávamos a O Casal Marcelo para um almoço especial ligou e juntou-se a nós os Montagna. Um casal bastante simpático e divertido que reside muito mal (hehehe!!!!) em Gramado para onde ele transferiu sua fábrica de componentes elétricos. Uma caipirinha para eles, uma dose de Jack para mim e com a chegada dos Marcelo nos dirigimos, de carro, ao restaurante escolhido, evento agendado no dia anterior. O acesso se dá pela Estrada do Sabor.



Trata-se da sede de uma propriedade rural com, se não me engano, 10 hectares de terras produtivas. É delas que saem os produtos servidos no restaurante comandado pela matriarca da família.


Do pai, falecido há alguns anos, guardam as ferramentas com que trabalhava, caçava, sustentava e defendia sua família.


As modestas instalações guardam quase tudo da época e garrafas diversas dos anos passados. Localizada no porão da casa sede, está em bom estado de conservação e mostra alguns itens como o fogão à lenha, o móvel aparador, a chaleira, etc.


Não é só chegar, entrar e sentar, você tem que agendar, pois os pratos são feitos à conta dos comensais que só podem ser no máximo 30.

A casa também abre para eventos.

Raissa, a caçula que administra o estabelecimento e atende ao público, explicou que o número é reduzido para que todos recebam atendimento especial e consigam conversar entre si ou com os que ali trabalham sem atropelos.

Formada em turismo, ela conta histórias que não se recorda por ser muito pequena na época, mas transmitidas a ela por sua mãe, a chef que com suas mãos elabora as iguarias servidas, cujo maior fruto e orgulho foi ter formado suas três filhas.

A filha do meio, que conheci após o almoço ao visitar a cozinha, é Pedagoga. Nos fins de semana ela auxilia a mãe na cozinha junto com outra senhora contratada. Nos dias de semana trabalha em uma escola de Garibaldi.

A terceira, que não conheci é a que comanda os trabalhos rurais da propriedade. Agrônoma estava em casa cuidando dos gêmeos recém-nascidos.

Todas muito educadas e simpáticas. Se fosse dar uma nota pelo atendimento não poderia ser menor que 10.


Iniciamos os trabalhos espalhados pelo grande salão de pé direito baixo e piso de terra batida. Enquanto conversávamos, a fim de abrir o apetite, degustamos três deferentes tipos de aperitivos, uma espécie de licor artesanal nos sabores de “Murta (fruta), Nêspera (do caroço da fruta de Nêspera) e de Nosin (casca de nozes)

Acompanhava Polenta Brustolada que são polentas sob queijo da casa derretido e rodelas de salame também da casa; servidos pelo pai dos gêmeos.


Após muito papo fomos convidados a sentar à mesa. Em poucos minutos iniciou-se o tão esperado banquete. No começo estranhei a pouca quantidade, mas depois entendi que o motivo é para manter a comida sempre quente e por isso os pratos eram substituídos frequentemente, mesmo não estando totalmente vazios. O limite é sua vontade e espaço.

Primeiro serviram uma salada com verduras frescas, rodelas de maça, gomos de tangerina, estrelas de Carambola e lascas de queijo.




Depois, uma espécie de sopa de capelletti ou agnollini cuja massa estava bem macia e o sabor muito bom.


Seguiu com a Carne Lessa que é uma carne cozida na sopa, bem saborosa.


Não parou por aí, sem mais nem menos surgiu a minha frente um delicioso Frango ao Molho, eleito por mim o melhor dos muito bons itens servidos. Junto veio o nhoque com pedaços de linguiça.


Mais uma saborosa carne feita em panela de ferro via bacon, com legumes cozidos. Batata, cenoura e cebola.



Fechou as opções, mas não o almoço a Fortaia, uma espécie de omelete de espinafre. Excelente, lembrou os tempos quando conseguiram me fazer gostar dessa simples, mas deliciosa iguaria.


Tudo isso regado com um excelente Caberne Sauvingnhon Pedrucci.


Estávamos bem servidos, mas ao vislumbrar a mesa onde nos aguardavam delícias da mama, não havia como não procurar um cantinho para a sobremesa. Mesmo eu que não sou afeito a doces, achei.

Sorvete caseiro, calda de amoras, pudim de laranja, sfregolá, figo e abóbora cristalizada. Tudo feito na casa.


As colombinas, o nome do restaurante da Famiglia Odete Bettú Lazarri, é uma iguaria feita de massa de pão. Não faço a menor ideia do sabor, pois as guardei como lembrança, mas devem ser deliciosas com manteiga, queijo, salame ou simplesmente pura.


Se desejarem mais informações e opções da região, consultem:



Nos despedimos, os Montanha foram para Gramado, Os Marcelo para Caxias do Sul e nós fechamos esta minha passagem por Garibaldi em casa, conversando e iniciando as tratativas para uma nova viagem, no máximo daqui há dois anos, para o Chile.

Antes de dormir, fazer as malas com uma ponta de tristeza e iniciei os preparativos para o dia seguinte pegar a estrada cedo, pois Marcos tinha um dia de labuta e eu não queria atrasá-lo.