sábado, 28 de agosto de 2010

ENQUANTO ISSO, NA TÁVOLA REDONDA ...


Ela estava de bobeira. Pensando no ontem, ou seja, no passado e nele estava perdida, sem rumo, sem idéias, pensando em seus ideais. Mas não desistia. Perseverante como só ela o era, ouvia seu MP3 enquanto vagava por seus pensamentos.

Romântica como muitas, porém racional como poucas. Sempre desejava o Rei. Fez dele não apenas rico e dono de um belo corcel branco, mas o fez homem. Além de empunhar corajosamente sua espada, ele também tinha uma estrutura do mundo moderno. Alguns belos carros, por exemplo.

Um deles uma SW (Station Wagon) com a qual ela levava os cinco sobrinhos à escola. Sim, ela desejara ter filhos e cinco parecia ser um número razoável, mas não podia tê-los então fazia dos de sua irmã os seus. Não gostava de novelas. Desejara também levá-los à passear e o fazia. Nada de motorista, nada de babá. Era seu lado emocional que se manifestava. Sua origem humilde nunca deixava de se fazer presente.

Camponesa que através de caminhos tortuosos conseguiu ter acesso aos estudos. Foi uma das milhares beneficiadas pelo Saco Escola.. O Telecurso foi seu maior aliado junto com madrugadas em que dividia os estudos com a subserviência ao Conde de S. Cabralis. Essa fora a paga em troca de acesso aos estudos e de poder acordar mais tarde. Esse era o motivo de seu comportamento.

A ira a transformara em uma mulher fria, mas não tirava sua esperança. E o amor, como até no mais irracional dos animais, ainda abrigava seu coração petrificado pelo ódio adquirido à custa de sua virgindade que uma disfunção física a ajudara esconder do Rei.

Ódio que a transformou e que as más companhias potencializaram. Drogada, violentada, prostituída e descrente, tornou-se refugiada opositora ao antigo Rei, aplicou golpes, roubos, seqüestros e depois, com a caça as bruxas se escondeu. Exilou-se em um dos quatro cantos do mundo plano. Galileu ainda não havia descoberto sua curvatura, mas estava perto de fazê-lo.

Foi amada por muitos dos quais apenas um se apaixonou. Ele a fazia de gato e sapato, obrigava-a a lavar, passar e cozinhar. Os eletrodomésticos, seu sonho, não passavam de miragem nas vitrines das lojas do reino que visitava esporadicamente nas noites em que seu amor viajava. Era nessas noites que, por necessidade, vendia seu lindo corpo.

Mas ela o desejou como nunca e entre as quatro paredes daquela garçoniere tudo acontecia. Os vizinhos que o conheciam muito bem temiam sua ira e se faziam de surdos, incluindo a delegada designada a proteção as mulheres. E a cada tórrida noite de amor ela se tornava mais dependente. Era um amor inexplicável, inquestionável.

Recebeu a notícia quando não agüentava mais a solidão dos dias de espera de mais uma daquelas viagens intermináveis. A morte dele foi como uma bomba atômica em seu coração. Três anos se passaram até sua recuperação. Trocou de nome, fez plástica e outras cositas mais. Tudo em troca do uso de seu corpo, que ela sabia, como poucas, manter tentador. E saiu em busca de um trouxa para montar uma família fictícia e assim sumir dos arquivos do serviço secreto do antigo Rei e poder circular sem ser notada. Era uma nova e linda mulher.

Severina deixou de ser seu nome. Após a união matrimonial com o segundo do reino passou a se chamar Guinevere.










Ele, a quem conheceu e conquistou bêbado em uma taberna, em poucos meses se tornou Rei em uma manobra política muito suspeita.

Ela sempre arrumava tempo para passear com a SW do Rei. Com diversos air-bags, freios ABS, motor flex, rodas de liga leve aro dezessete polegadas, pneus de perfil baixo, ar condicionado, computador de bordo, vidros negros, faróis de x(ch?)enon, teto solar, etc. Blindado é lógico, afinal o Projeto Unidade Pacificadora de Piratas - UPP esbarrava na burocracia para ser implementado. Os Cavaleiros da Távola Redonda (que era retangular) dificilmente compareciam em quórum suficiente para votar os Projetos aos quais seriam abertos os cofres do Reino.

Eles tinham muitos Projetos para discutir, Saco Família, Saco Escola, Vale Banho, Tabernas à 1 Coroa, etc. E não havia espaço para novos já que a época era de escolha dos novos Cavaleiros e os membros da casta da situação que disputava os cargos, todos eles, inclusive ela e os que estavam se candidatando novamente, estavam envolvidos em terminar as obras do Projeto de Alimentação das Castas Sofridas ou PACS como eram conhecidos pelo povo. Era mais um daqueles Projetos para manter os camponeses tranqüilos e as intenções de votos crescendo.

E lá estava ela, pensativa tentando descobrir o que a mesmice reservava para seu futuro sem o Rei estilizado.

As atividades se repetem monotonamente dias após dias, úteis ou não, quase sempre inúteis. Acordam cedo e enquanto ele toma banho, preparando-se para o trabalho, ela vai verificar se o desjejum está sendo feito como planejado na noite anterior.

Após as derradeiras instruções volta a sua alcova para os primeiros carinhos do dia. Sim a noite terá mais, com certeza.

Dez minutos depois, ele sofre de ejaculação precoce e o tratamento ministrado por Merlin, o mago, ainda não está fazendo efeito, saem. Cada qual para o seu lado.

Ele para o trabalho, afinal mesmo a realeza necessita trabalhar, mesmo que de mentira. Alias, não é apenas na Monarquia onde quem manda não faz nada, em muitas Repúblicas do mundo também é assim. Você lembra de alguma?

Mas o antigo Rei não fora condescendente. Nada de dar mole pro moleque. Se não tivesse sido assim ele estaria passando o dia na cama, ouvindo funk e escrevendo besteira no twitter, com a televisão ligada. A perseverança de seu pai o fez alguém. Agora, devido a sua traição ele tornara-se o Rei.

E ela, ora, ela também tinha suas tarefas. Apesar de já ser Princesa e não mais precisar fazer as tarefas domésticas, tinha seus desejos. O Rei era um pão duro e gastava muito com viagens políticas e bebidas. Ela tinha que se virar.

E se virava como nunca, o Conde S. Cabralis que o diga. Ela tinha a tarde toda para se dar à corte.

Ela continuava pensativa, divagando com seus botões de ouro. Lembrou-se das sextas feiras e um leve sorriso surgiu em seus lábios. Afinal, sextas tem pagode, sábados Funk e nas tardes de domingo, churrasco.

Ele, tornou-se Rei por acaso. Correndo da Guarda Real, após uma grande confusão que surgiu no seio de uma assembléia de agricultores. Eles haviam, mais uma vez, decidido pela greve e claro, o antigo Rei não ia permitir tal insolência. Ele corria como muitos em debandada. Era conhecidíssima a violência da Guarda Real. As masmorras estavam repletas de presos oposicionistas ao antigo Rei. Eram mal tratados, comiam insetos, as vezes ratos, quando comiam. A dieta oficial era composta de uma sopa rala e insossa.

Ele corria desesperadamente e de repente escorregou, catou cavaco e caiu apoiado em uma imensa pedra onde encravada se encontrava uma espada. Por deficiência de escolaridade ele desconhecia o propósito daquela espada estar ali. O texto explicativo gravado a fogo em uma placa de ouro, sua velha conhecida, manchada pelas intempéries nada significava. Ele havia tentado roubá-la diversas vezes.

Muitos haviam tentado retirá-la, mas como escrito nas entrelinhas de certo pergaminho, só o predestinado conseguiria e ao fazê-lo se tornaria Cavaleiro.

O medo corroia sua medula e sem pestanejar ele subiu na pedra e mais uma vez escorregou, sentindo que iria se esborrachar no chão, por instinto catou a primeira coisa que viu. Era a espada, mas não adiantou, se estabacou no chão. O povo se esculhambava de tanto rir. Mas as risadas foram diminuindo até se calarem. Conseguiu, mas era pesada. Ele se desequilibrou e a espada decepou seu dedo indicador.

Não foi difícil se aposentar por invalidez. Ele era confeiteiro e precisava do dedo para provar as delícias que fazia, Sem o dedo, não havia como trabalhar. Sua tristeza era comovente e o povo com carinho o apelidou de Fura Bolo. Daí o nome do dedo.

O Rei foi obrigado a agir. Viu-se em situação delicada, o rapazola era um delinqüente, mas conseguira tirar Escalibur da pedra. O Rei podia ser mau, mas era muito astuto e em mais uma de suas brilhantes manobras o fez ajoelhar-se. O rapazote tremia. Todos nervosos pensavam que em segundos sua cabeça rolaria ladeira abaixo até parar em uma das diversas crateras das ruas mal pavimentadas do Reino. Mas o Rei se fez misericordioso, ergueu Escalibur encostou-a na cabeça e nos ombros daquele que passou a se chamar Arthur, Sir Arthur o primeiro filho adotivo do Rei, o Primogênito.

O povo, mais uma vez enganado, vibrou em uni som, aumentando vários pontos o conceito do Rei. Foram sete dias de festas. Bêbados se espalhavam pelas ruas enquanto a realeza promovia bailes.

No começo mostrou-se tímido, mas observava tudo como uma águia, aprendia com rapidez. Ia construindo um futuro espetacular até que o poder o corrompeu. Tornou-se o principal membro da Távola Redonda (que era retangular), mas queria mais, muito mais. Juntou-se as maiores raposas do Reino. Os anos foram passando e seu poder aumentando. Os súditos do então Rei já vislumbravam dias melhores com sua provável morte.

Mesmo com toda sua sabedoria e experiência o antigo Rei sucumbiu às falácias de seu amado filho, Arthur.

Apenas Merlin sabe o motivo dessa morte, mas não fala. O agora Rei Arthur o tem em suas mãos. Ele sabe que Merlin havia sido o amante de sua mãe adotiva, há anos morta pelas mãos de seu pai ao descobrir a traição através de um exame de DNA. Merlin escapou ao enganar o laboratório com seus poderes, mas a morte do antigo Rei não o livraria das masmorras e morte, pois essa é a única lei radicalmente cumprida no Reino. Cobiçar a mulher do próximo é crime hediondo, inafiançável e a pena era capital.

É o mesmo que manter um animal silvestre em cativeiro.

O povo após os dias de luto mostrava sua alegria. A cada esquina viam-se pessoas alegres, andando sem medo de represálias, a Guarda Real mostrava-se mais educada.

Arthur criou vários programas sociais. Criou jogos e muita diversão. Criou projetos assistenciais, a economia caminha a todo vapor. Camponeses sem terra recebem partes de fazendas dos amigos de seu falecido pai, os quais jazem nas masmorras antes ocupadas pelos presos políticos ora soltos que agora recebem um soldo pelo que sofreram.

O povo, iludido, vibra com os subempregos criados. Com isso a popularidade do novo Rei beira os 100%.

Os escândalos que acontecem na corte não abalam a confiança que o povo deposita em Arthur. São anos de “crescimento” anos de falcatruas e o Rei está cansado.

Ele não tem filhos; Guinevere, devido a sua vida mundana, perdera a possibilidade de tê-los. A diferença de idade entre os dois torna-se cada vez mais latente. O Rei envelhece rápido, enquanto que as poções de Merlin a mantém linda e atraente.

Vislumbrando a proximidade de sua morte Arthur a convencera a substituí-lo no poder. Para não demonstrar ser este seu grande desejo ela desdenhou, mas concordou em nome do povo que aprendera a idolatrá-la por indicação do Rei.

Está tudo caminhando como planejado, enquanto Merlin ministra doses homeopáticas de veneno ao Rei, sua amante, Guinevere trabalha no submundo para ser a próxima Rainha.

Outros também querem o poder e um plebiscito vai resolver quem será o futuro Rei.

Aguardem, o primeiro turno está próximo e quem viver verá.

Mas não votem no menos ruim. Vocês têm feito isso há anos e não deu certo. Se não encontrarem um candidato descente, votem nulo, mas nunca em branco.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

MAIS ALGUMAS DA TURMA DO PODER


Passam dias, semanas, meses, anos, décadas e nada muda.

Hoje estava vendo um dos jornais da TV quando ouvi que haviam assaltado uma escola do Rio de Janeiro. A reportagem dizia que esse era o oitavo assalto em menos de três meses, no mesmo estabelecimento de ensino. Dessa vez, se entendi bem, vinte e quatro horas após o sétimo, roubaram, pasmem, a merenda dos alunos.

E o Prefeito fazendo “Choque de Ordem” pela cidade a fora. Sem falar nas UPPs do Governador.

Mas não para por aí, ontem a noite estava indo jantar com meu filho e imerso no trânsito insano dessa cidade dita Maravilhosa ouvíamos a Hora do Brasil. Sim, é verdade. É um dos programas mais engraçados do rádio nacional.

Como assim?

Ora basta mudar o foco. Ouça imaginando o que realmente são aqueles políticos.

Mas não é sobre isso que quero escrever.

Ouvíamos que um desses “Políticos” havia apresentado uma lei para que as universidades pudessem receber doações das empresas. Ele alegava que na Europa é assim que funciona.

O cara se esquece que lá, diferentemente daqui, os políticos são sérios, as leis são seguidas pela maioria das pessoas e, aquelas que resolvem desobedecê-las, quando pegas, são julgadas e presas. Dessa forma, os empresários sabem que dificilmente o dinheiro doado não será gasto onde deve ser gasto.

E o programa continuou. Dessa vez outro desses apresentava outra lei parta incentivar a construção de campos de várzea para a prática do futebol. Alegava que o pífio desempenho de nossa Seleção na Copa da África do Sul fora causada por essa deficiência.

O cara se esquece que temos outros problemas mais importantes para resolver. Problemas sérios como a deficiência na gestão de nossos impostos, a deficiência no cumprimento das promessas feitas em época de campanha eleitoral, da deficiência da justiça ao julgar aqueles que participam de esquemas como Mensalões, aumentos dos próprios salários, criação de verbas auxiliares, contratação de aspones (assessores de porra nenhuma) e afins.

Esquece também que a existência dos “empresários” e “dirigentes” de clubes que negociam, para o exterior, jogadores em tenra idade é uma das verdadeiras causas da baixa qualidade em que se encontra o nosso futebol.

Estamos a poucos meses das eleições. Cabe a nós agirmos para tirar esse tipo de “cidadão” do poder. Sei que as opções que a princípio são muitas na realidade são poucas, quase nulas, mas procure bem, quem sabe você não encontra um que satisfaça seus anseios. Mas se não encontrar, não vote no menos ruim, vote nulo, mas não vote em branco.