sábado, 29 de junho de 2013

14º, 15º E 16º DIAS - PELOTAS - STª CRUZ – GARIBALDI


O café da manhã foi a melhor coisa de Pelotas. Ao contrário do quarto o café estava maravilhoso. As diversas opções me fizeram gastar alguns minutos na escolha do que comer e muitos para degustar as iguarias.


Nem pelas frutas que estavam muito doces nem pelos pães e frios que eram muitos, mas sim pelas diversas geleias e bolos variados.

Dona Maria, a chefe da cozinha do hotel, é uma senhora bastante simpática, educada e feliz com o que faz e o resultado disso. Ao receber meus elogios se emocionou, não se conteve e contou seu segredo na confecção de seus quitutes. Pediu para mantê-lo como está e em respeito a sua confiança assim ficará e como não sou de doces, provavelmente esquecerei com o tempo.

O atendimento da recepção não foi dos melhores e sair de Pelotas foi um alívio.

A chuva e o frio foram companheiros durante quase toda a viagem. A estrada estava ótima, mas molhada e no começo, cheia de caminhões. Estava puto. Não podia relaxar para ao menos curti-la. Afinal, esse é o principal objetivo da viagem. Andar de moto pelas estradas do sul e adjacências.

Rever amigos também está neste nível de prioridades, mas outros objetivos são secundários. Conhecer lugares, novas experiências, etc. são itens de segundo plano. Importantes, sim, mas o mais importante é pilotar de forma segura em duas rodas e de preferência em pista sinuosa.

Não, não estou fazendo desfeita apenas colocando cada item em seu lugar nas prioridades deste grande rolê.


Quanto mais rodava e via a persistência da chuva, mais chateado ficava. A estrada era daquelas que gosto, asfalto confiável, poucas retas e boas curvas.

Cabe aqui uma observação; pelo menos até agora, poucos foram os trechos mal conservados. O problema é a insegurança das pistas duplas e irresponsabilidade de alguns motoristas.

Outra observação é que como no Uruguai, as concessionárias do Rio Grande do Sul não cobram pedágio de motos e olha que moto é o que não falta nessas bandas do país. Grande parte da população, principalmente os chamados trabalhadores se locomovem em duas rodas; inclusive no interior.

O sul sempre ensinando ao resto do país e o resto do país insiste em desconsiderar tais ensinamentos. Hehehe!!!

E foi assim até que a chuva deu um refresco. Tinha de esperar a pista secar, mas já era muito bom não ter água batendo na viseira. Com isso, a temperatura subiu poucos e agradáveis graus.


E quando já vislumbrava alguns momentos de prazer a chuva voltou, e forte. Junto com ela o frio.


E foi assim, nesse chove, molha, não chove, mas não seca que cheguei em Santa Cruz do Sul. Apesar de concentrar a indústria tabagista, é uma cidade bonita, bem movimentada, com boas e belas casas. Como verão, passei poucos momentos na cidade, mas me pareceu bastante acolhedora e o contato com as pessoas honesto.

A chuva ainda caia quase imperceptível. Parei em frente a catedral cujas torres alcançam os 80 metros ou mais. Lembra e muito as grandes e famosas construídas na Europa. Belíssima.


Estava 24 horas adiantado então resolvi ligar para Marcelo a fim de saber de um bom hotel. Durante a conversa, prevendo que a chuva não ia me largar sugeri que, já que era meu caminho, eu continuar para Garibaldi. Não havia motivo para ele, Marcos e as respectivas saíssem de suas casas debaixo de chuva. Iríamos nos ver em Garibaldi.

Subi na moto, abasteci em um posto próximo e retomei a estrada.

O cenário permaneceu o mesmo uma pista maravilhosa, mas molhada.


Eu congelava, mesmo com o aquecedor de punho o frio nas mãos era insuportável. As luvas molhadas e quase congeladas pela natureza não permitiam que a tecnologia fizesse efeito. Os pés estavam secos, mas o frio passava através do couro da bota, o neoprene da meia a prova d’água e o algodão da meia interna. Estava em uma situação muito ruim. A fome veio com força e o entardecer só piorava a coisas.

Demorou a aparecer um local agradável para tentar recuperar calor e energia. Foi em um típico da região que procurei abrigo, que vendia os chamados produtos coloniais que consegui.

Estava vazio, mas fui muito bem atendido. O ambiente era grande e não estava quente. Pedi um sanduiche de queijo com salame em um pão tipo italiano. Para beber, pensei em uma vodca, mas pedi uma taça de vinho da casa.


Liguei para Marcos e nos encontramos no seu escritório. Um bom papo com recordações da viagem de dois anos atrás.

Fomos para sua casa. Um banho e fomos a um jantar realizado a cada dois meses cujo menu é escolhido e feito por oito chefs ou pretensos, residentes na cidade. Não lembro todo o cardápio, mas tinha uma salada, um rocambole de carne e a famosa Vaca Atolada. Muito bom,


Voltamos para casa e cama, cada um na sua, lógico.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

12º E 13º DIAS - COLÔNIA - MONTEVIDÉU - PUNTA DEL ESTE - PELOTAS



O café da manhã não foi dos melhores. Sem frutas, ovos, apenas 3 tipos de pães e o mesmo número de frios. Suco de laranja, leite, café, iogurte e água, os líquidos. Conta paga e rua, melhor, estrada!

O sol brilhava em quase todo seu esplendor, mas seus raios eram fracos, não traziam conforto, seu calor era insuficiente e facilmente subjugado pelo frio da manhã. Eram pouco mais de 9 graus célsius e caindo.

Ele passou quase todo o dia à minha esquerda, mesmo próximo do meio dia, gargalhava de meu sofrimento. Uma parada não programada foi a solução para amenizar o frio. O café como em todo Uruguai não é o que esperava, morno e fraco, não ajudou muito. Demorei mais do que devia tentando recuperar a temperatura do corpo, mãos principalmente.

O frio era tanto que chegava a renguiar cusco. As crianças encasacadas se encolhiam pelos cantos tentando fugir do “infugivel”.

A estrada, ainda a Ruta 1, não apresentava novidades, as retas se multiplicavam em meio a poucas curvas e a educação dos poucos passantes permanecia. O volume do trânsito aumentava a cada quilômetro rodado, a proximidade com a capital do país era o motivo.


E foi próximo a ela que resolvi saciar minha fome. O esteio oriundo do fraco café há muito havia perdido sua força. O frio auxiliara na decisão. Era o “Parador El Caiman” (Parada o Jacaré), um modesto restaurante administrado pela sogra, sua nora e provavelmente sua filha mais nova. Fui muito bem recebido e antes de mais nada, acrescentar mais uma camada de proteção contra o frio foi minha primeira providência. O banheiro limpo permitiu instalar o forro da calça de viagem. Isso feito, ainda sem o casaco, luvas e capacete, permitido pelo forte aquecimento do lugar, fiz minha escolha.

Carboidrato era a necessidade e a massa feita no local a solução. Havia duas grandes peças de queijo da região à mostra e em quanto esperava o prato principal, pedi uma prova. Serviram um prato com os queijos em cubos e uma cesta de pães e Galleta Marina; uma espécie de bolacha de água e sal os acompanhava. O líquido pedido foi uma jarra de vinho da casa. Tudo ótimo.


Veio a massa, levíssima e o molho bem temperado completaram e muito bem o fraco desjejum da manhã.


Gostos facilmente distinguidos mesmo com a rusticidade dos ingredientes.

Agora, vocês sabem o motivo da foto abaixo postada no Facebook.


Montevidéu é uma grande Copacabana, porém menos movimentada, bem mais limpa e de arquitetura mais bonita.


Mais adiante, os prédios dão lugar a belas e espaçosas casas.


Claro que me perdi no Centro e as informações foram precisas. Contornei o litoral onde vi preciosidades arquitetônicas:


Segui para a estrada com destino à Punta Del Este. O cenário mudou um pouco e para melhor.

E foi indo para Punta que descobri que o Uruguai com toda a sua civilidade, com quase nada produzido não é tão diferente do Brasil. Aqui também tem isso aí...


Ou isso...


A primeira vista Punta não difere muito de Montevidéu. É uma cidade moderna, com seus prédios de arquitetura contemporânea enfileirados pela orla.


Mas é menor e tem um lado mais estilo cidade balneária de classe alta. Não vou discutir gosto, mas tanto os prédios quanto as casas e construções comerciais são luxuosas. A cidade é limpa e o comércio variado atende a todas as necessidades. Entretanto, como todo balneário possui construções que remetem ao passado.


As casas são de uma suntuosidade única e traduzem perfeitamente o nível das pessoas que ali passam férias e/ou feriados. Conversando com alguns, descobri que, em números redondos, 40% dos proprietários são brasileiros; o restante é de argentinos e alguns uruguaios, claro.


Foi rodando pela praia que enfim conheci a famosa “Mão que Segura as Américas”. Na realidade são duas, uma em Punta outra no Chile, não faço a menor ideia de onde. Procurei no Google e não achei o nome, autor, nem a localização da segunda mão. Deve ser um problema entre a cadeira e o notebook, com certeza.


Para tirar essa foto tive de passar pelo lugar várias vezes. Havia muitos turistas sentados nos dedos, alguns com problemas de próstata e gostando pois não largavam o osso, melhor dedo.

São duas mãos que, conforme me disseram, estão estrategicamente instaladas com o intuito de segurar as Américas. Considerando-se a atual situação do Brasil, países adjacentes e outros da América Central; um par de mãos apenas não é o suficiente.

No check-in, conversando com o recepcionista do Hotel ele havia dito que a noite começava tarde, novidade, resolvi comer alguma coisa. Rodei a parte comercial da cidade e com poucas opções, o frio intenso e o pouco movimento não justificava mais. Acabei indo no tradicional. Carboidrato era necessário e rolou essa pizza aí embaixo. Trata-se de uma “Marguerita”, mas eles colocam tudo embaixo da mozzarella. Estava ótima, porém, gordurosa.


Depois, baseado na informação do recepcionista, fui descansar para dar uma volta no cassino e quem sabe recuperar um pouco da grana gasta na viagem. Ledo engano, deitei para descansar e acordei lá pelas 3 horas da madruga com frio. O aquecedor havia pifado. Fiquei rolando até a hora de levantar.

Café, etc., etc., etc. e rodas na estrada. Continuava frio, mas nem tanto.

Podia ir por dentro, mas obedeci ao planejado e segui pelo litoral. Diferente de nossas belíssimas praias a vegetação que cresce nas areias é abundante, espessa e não tão bonita. Com a ajuda das dunas, forma uma barreira quase intransponível tanto física quanto visual não me permitiu ver a cor do mar nesse trecho. Sem problemas.


Continuando à uma velocidade condizente com o local, cheio de quebra-molas,  segui em frente, passei por La Barra e o cenário realmente só foi mudar quando passei por uma ponte cuja pista em forma de ondas, passa sobre o Arroyo Maldonado. Não havia como tirar uma foto melhor, mas a ponte está bem ao fundo desta.


Segui passando por Laguna Blanca, El Chorro até chegar à José Inácio. Após a tradicional consulta de localização, entrei à esquerda em uma estradinha secundária, muito simpática.


O Camino Sainz Martinez é cercado por uma vegetação um pouco diferente do que havia visto até então.  São aproximadamente 10 quilômetros de tranquilidade e belas paisagens até chegar a Ruta 9, direção norte para o Chuí e assim voltar a pisar território Tupiniquim. Não estava ansioso e sim apreensivo. Havia me despido de quase toda natural defesa a nossa civilização, portanto, tinha de relembrar padrões possivelmente esquecidos. Paciência.

Precisava “descambiar” os Pesos Uruguayos, como não houve muitas opções de gasto, sobraram mais pesos que o que gostaria. Não precisava ter gasto tantos dólares como gastei em combustível e hospedagem. Sim, eu pagava a nafta e hotéis com dólares preservando os pesos para pequenas despesas. Por motivos óbvios, não queria fazer despesas no cartão a não ser o estritamente necessário.


Não estava previsto pernoitar no Chuí e destrocar essa moeda seria um prejuízo desnecessário. Eu tinha aproximadamente 800 pesos para torrar. Não era nada demais, mas precisava resolver esse problema.

Parei no que parecia ser o último posto Del Uruguay enchi o tanque e comi umas porcarias com refrigerante.

Mais alguns quilômetros e chego no Brasil.

Na aduana, passei direto. Minha primeira viagem internacional de moto havia sido um sucesso. Zero de stress e problemas a não ser o frio e chuva que pela época “escolhida” para essa pequena jornada já era esperado.

Parei e entrei na “Duty-Free”, escolhi uma garrafa de Jack, para beber com a turma boa de Caxias do Sul e Garibaldi e mais outras “cositas mas” perfazendo 10 “reaus” à mais. Problema resolvido. Rumo a Pelotas onde resolvi pernoitar já que havia combinado com os de Caxias do Sul e Garibaldi nos encontrar em Santa Cruz do Sul para o fim de semana.

Passando na Polícia Federal me enrolei com os cones e o caminho a seguir. Indo devagar, fiquei olhando se pediam para parar. Ficaram olhando, mas sem sinal. Resolvi parar.

“O senhor comprou alguma coisa no Uruguai?”

“Só uma garrafa de whisky para combater o frio e mais nada de significativo.”

Ela era uma gata e respondeu:

“Ok! Pode seguir.”

“Obrigado.”

Entrava na famigerada reta do Taim. Uma reserva florestal sem curvas, sem bares, sem naf, ops! Gasolina.

UMA MERDA!


Relaxei, meditei e parei no último posto antes da reserva. Isso é importante, pois muitos desavisados param com pane seca no Taim; tanto na ida quanto na volta.

O cara da Harley que ultrapassei nesse intervalo parou em seguida e batemos um bom papo. Ele também vinha do Uruguai. Ele partiu antes e ao contrário do que pensei, não o vi mais. Pensava que iria ultrapassá-lo com facilidade, mas algo me fez rodar tranquilo admirando a paisagem.


Não sei que paisagem, mas estava relax.

O céu foi ficando cinza e a temperatura caiu um pouco. Até pelotas não há muito o que dizer, então cheguei fiz check-in e antes de subir, passei no posto para lavar os bauletos por fora para não sujar o hotel com o barro acumulado.

Ia apenas pernoitar, quarto executivo standard a pedida. Espaçoso com 3 camas de solteiro.

UMA MERDA!!!!

Mofado, tudo velho, o banheiro antigo precisando de reforma, etc. Estava cansado, não ia reclamar, descer com os 3 bauletos, a mala do tanque e o capacete para outro quarto. Liguei o foda-se e a televisão simultaneamente e após o banho, uns goles de whisky e alguns bons minutos escrevendo saí para jantar.

Procurando, perguntei e verifiquei que estava quase tudo fechado nas redondezas devido a passeata em favor de um Brasil melhor e mais honesto. Fiz meu dever cívico e acompanhei os milhares até a principal praça da cidade.


Aguardei o desenrolar das atividades e como nada mais ia rolar fui correr atrás de onde saciar minha fome.

Vale um registro. HOMOFOBIAS DEIXADAS DE LADO, vi uns viadinhos sim, mas muito pouco para a fama que a cidade carrega. Tinha muita mulher bonita isso sim.

Sem opções, voltei ao hotel a fim de comer um sanduba. Para minha surpresa havia uma espécie de pub e uma taberna tipo italiana no térreo e ambos com certo movimento. Pedi um Filé à Brasileira, a possibilidade de comer ovo frito misturado com arroz foi o motivo. Arroz misturado com ovo trás excelentes recordações.

Subi para o merecido descanso. A previsão para o dia seguinte era de chuva.


segunda-feira, 24 de junho de 2013

11º DIA –SANTANA DO LIVRAMENTO/RIVERA – COLÔNIA DEL SACRAMENTO


Após as ações de praxe, café da manhã, arrumar as coisas, check-out, etc., etc., etc., saí para cambiar uma graninha. Não consegui estacionar em um lugar seguro, voltei ao hotel e sai a pé para resolver esse problema. Passei antes no banco para tirar R$ 500,00 que no câmbio local valeram perto dos 5.000 pesos uruguaios ou os tradicionais 2 x 1 = U$ 250,00.

Não foi tão simples assim, eu estava carregado, pedi uma informação à polícia e não obtive o retorno esperado. Tive de retrabalhar só porque eles não se dignaram a dar um apoio. Então pensei:

“Se como brasileiro recebo essa força da polícia brasileira, como deverá ser no Uruguai?”

Me lembrei da viagem anterior quando não havia sido bem recebido já na aduana.

Indignado voltei ao hotel, peguei a moto e saí para passar pela última vez, na fronteira, na direção Brasil - Uruguai, nesta viagem.


Mais poucos metros reparei em um pequeno marco que me deixou em dúvida de qual deles é o verdadeiro. Não tive tempo de perguntar, o processo de cambiar também foi irritante e eu estava mais era a fim de sair fora.


Mas havia outro assunto à resolver. Passar na aduana uruguaia, o que poderia significar mais problemas. Pude estacionar a frente do pequeno prédio, entrei sem maiores problemas da mesma forma em que permaneci por aproximadamente 15 minutos e saí.

Diferente de meus conterrâneos, dessa vez os uruguaios me trataram muito bem. Só faltaram dizer:

“Somos pobres, mas somos limpinhos.”

E é verdade, como irão ver nos próximos relatos a diferença de civilidade deste povo. O que comprova que havia sido infeliz na viagem anterior e que riqueza não tem nada a ver com educação.

Subi novamente na moto, coloquei a GPS no suporte, alimentei-a com as coordenadas enquanto batia um papo com um segurança da aduana e um transeunte ambos querendo saber detalhes da viagem.

Enfim, parti. Segui em frente e após o cemitério dobrei à direita para entrar na Ruta 5 com 23.425 quilômetros rodados.


Esperava mais uma reta sem fim, entretanto, não foi bem assim. Como o dia anterior, havia algumas boas curvas e o asfalto se revelou de boa qualidade durante todo o trajeto. Há um pequeno, mas importante problema. De vez em quando surgia, no sentido longitudinal, marcas de fresamento. Não entendi o motivo, pois o asfalto não precisa de recapeamento. O problema é que essas marcas desestabilizam a moto tornando o pilotar inseguro. E foi assim até o final da Ruta 5.


A paisagem eclética era o diferencial desta etapa da viagem. Uma mistura de pampas, com florestas de pinheiros, vegetação tipo serrado, etc. As margens da ruta, além do acostamento tem uma faixa de afastamento “inconstruível” onde o que poderia ser mato é um gramado bem aparado. O gado que imaginava ser numeroso não aparece com muita frequência.


Sem mais nem menos apareceram uns morros que parecem ter sido cortados os cumes. Muito estranho e bonito. Isso deve ter um nome, mas não faço a menor ideia de qual seja.


A temperatura num decrescente até atingir aos 14,5 graus e a chuva que se mostrava em gotas minúsculas formavam uma dupla de matar. Mas consegui resistir.

Abasteci, com nafta, é como chamam gasolina por aqui, em dois pontos como programado, Tacurembó e Duranzo. Pequeno e médio vilarejos, respectivamente. Foi próximo ao segundo que passei por um dos poucos rios que cruzam a ruta.


E foi lá também que ao pedir informações sobre como melhor chegar em Colônia. Um casal de um pouco mais do que meia idade saltou de sua moto, mostrou no meu mapa e deu a dica do caminho que passei a seguir. Também recebi, educadamente, informações quando necessitei em um cruzamento mal sinalizado adiante.

Segui viagem, agora com a certeza de que estava no caminho certo.

Passei por Trinidad e em busca do melhor caminho, parei em uma bonita e bem instalada tienda de equipamentos e acessórios para motos, imaginando que seria o lugar perfeito à tirar minha dúvida. Aguardei minha vez de ser atendido. A única atendente não soube dar a informação, mas foi educada. Saí, montei na moto para ir perguntar em outro lugar. Ainda calçava as luvas quando o guri que estava sendo atendido antes de mim perguntou o que eu queria. Após me ouvir ele se ofereceu e em sua moto, me guiou por alguns quilômetros até o cruzamento da Ruta 3.

A Ruta 3 é uma duplicata da Ruta 5, mas havia um diferencial considerável, havia parado de chover e a temperatura subira um pouco. Foram pouco mais de 90 quilômetros até São José de Mayo para, após conferir com um educadíssimo policial rodoviário, entrar à direita. Foram poucos quilômetros durante os quais precisei tirar a água do joelho. Parei em um retão, desci na faixa “inconstruível” e atrás de uma árvore resolvi meu problema admirando a paisagem em frente.


Outra coisa que me impressionou foi a pouca quantidade de carros ou caminhões. O Uruguai não é um país rico; pouco produz. A população gira em torno dos 3 milhões dos quais quase 2 milhões está em Montevidéu.

Não é rico, mas a educação é uma prioridade assim como a saúde. Como a nossa, a televisão é de péssima qualidade e os uruguaios sabendo disso gastam seu tempo trabalhando, com a família ou lendo bons livros e com isso adquirem insumos para alimentar sua civilidade.

Esta civilidade é latente no trato entre si e com os forasteiros, não só no atendimento nas tendas, hotéis e postos de nafta como na estrada.

Raros são os carros novos cujos motoristas ao perceberem minha presença pelo retrovisor não se furtavam à abrir espaço para minha passagem. Mesmo os camioneiros. Algumas vezes eles se utilizavam do acostamento a fim de abrir caminho para mim.

Lembrem-se, eu estou de MOTO e em estradas 80% retas.

Encontrava com alguns nos postos e reparava que não deixaram de ser homens por terem sido civilizados. Vale como ensinamento.

Ao entrar na Ruta 1, o sol já se fazia presente, porém o frio  era intenso. Duas estradas paralelas separadas por um relativamente largo gramado cada uma com duas pistas. Os retornos se multiplicam a cada 200 metros e a paisagem continuava bonita e agora mais devido a luz do sol.


Tavez a mais importante ruta do país devido a qualidade do asfalto e infraestrutura. Próximo a Colônia Del Sacramento a ruta leva um banho de loja e o que já era agradável torna-se mais bonita. Duas enormes alamedas ladeadas por palmeiras em uma simetria indescritível como se estivessem nos protegendo ao mesmo tempo em que nos dão boas vindas.


Achei um hotel com garagem, mas não fiz o check-in, apenas confirmei que voltaria. Como havia a possibilidade de eu sair no dia seguinte, resolvi dar uma volta pela cidade antes do sol ir embora.

Colônia é uma bela cidade. Bem cuidada e limpa, possui uma mescla de construções de várias épocas. Belas casas em pedras contratam com outras de arquitetura moderna, algumas ousadas. Os uruguaios conservam a parte histórica assim como mantem a unidade nas novas construções.


Como toda cidade de litoral, tem na beira do rio suas mais belas casas e é em suas calçadas que o povo se diverte ou faz exercícios.

A linda Plaza de Toros, apesar de desativada, é um marco dos tempos áureos da cidade


Completei meu tour satisfeito com o que vi e voltei ao hotel para um banho, descanso e depois procurar um bom lugar para jantar.

Na garagem, largado em um canto estava um carro fúnebre. Motivo de uma briga judicial entre familiares estava todo empoeirado. Um belo carro, provavelmente dos anos 40 ou 50, tem como maior atrativo o trabalho realizado em sua lataria. Talvez em madeira, a foto, mesmo que escura, de baixa qualidade devido aos meus escassos recursos (eu havia procurado uma máquina fotográfica na família antes de viajar, mas ela não chegou a tempo estou me virando com o celular mesmo), fala melhor do que as palavras que poderia escrever.



Tudo pronto, saí para o jantar. O frio e os raros turistas fazem diminuir a quantidade de opções e aceitar a sugestão do pessoal do hotel foi minha escolha. Uma “Parrillada”, espécie de churrascaria, com inúmero de cortes, tipos e maneiras de servir as carnes. Em um dos melhores produtores de carne do continente, essa fica sendo sempre a primeira opção.

Dessa vez fiquei com o “Lombo com Mayonese de Papas”.



quarta-feira, 19 de junho de 2013

10º DIA – CAXIAS DO SUL - SANTANA DO LIVRAMENTO/RIVERA


Eram 6 horas. Acordei cedo, como planejei. Vesti-me com a roupa da viagem. Lá fora estava escuro e frio. Meia hora depois Marcelo já estava acordado fazendo o café da manhã.

Quando iniciei, não chovia, por isso guardei a roupa de chuva no top-side. Eu estava quase pronto quando ele disse que a previsão era que a fina chuva que agora caia permanecesse até o fim do dia. Tive de pegar e vestir quase tudo que tinha direito: 2ª pele, pele, meias à prova d’água e calça para chuva. Com isso, atrasei tudo inclusive ele que como todo trabalhador tinha hora.  O casaco para chuva e a pescoceira deixei à mão no top-side. Fiz o mesmo com a GPS, as luvas, celular e demais itens necessários para a viagem. Terminei de arrumar as coisas engoli como pude o café da manhã e saímos correndo.

Na garagem, pendurei os bauletos, o top-side e a bolsa de tanque na moto, me despedi e fui para um posto acabar de me arrumar.

Aqui cabe um agradecimento ao casal Marcelo pela hospedagem e ao casal Marcos pelo almoço. Não há palavras para descrever tanta amabilidade.

Até Santa Cruz, na volta do Uruguai.

No posto terminei de colocar o casaco de chuva e as luvas. O celular e os documentos nos respectivos bolsos, a GPS na base e iniciei o processo de colocar as coordenadas do dia. Já fiz isso no dia anterior e deu zebra; agora só faço no dia.

O posto não podia vender o café, pois o sistema havia caído; ainda bem que o tanque estava cheio desde o dia anterior. Liguei a moto e saí fora.

Ela me guiava corretamente, mas havia tensão no ar. As ruas molhadas e a moto pesada eram o motivo, não podia vacilar.

Sempre que paro por algum motivo, sinal, esquina, posto, etc. se há alguém por perto que julgo confiável peço informação para verificar se está tudo certo. Há inúmeras histórias que o GPS levou as pessoas para roubadas e eu não estou a fim de me aborrecer. Estava tudo bem.

Segui como pude em uma velocidade bem inferior ao “normal”. Aquilo era estranho para mim e ao adentrar a primeira rodovia vi que estava vazia então liguei o som pela primeira vez. Não gostei, o som não é nítido mas permaneci a fim de acalmar estava acelerado devido a confusão da manhã. As curvas passavam lentamente sob os pneus, eu desejando usufruir delas e a chuva não permitindo. Frustrante!


Segui em frente ao não tão doce som das músicas as vezes interrompidas pelas instruções precisas de minha companheira. A temperatura girava em torno dos 17 graus, mas a sensação térmica era bem menor. Já havia enfrentado 14 graus sem maiores problemas.

A estrada era conhecida, passei por Garibaldi, como Marcelo havia dito. Estava tranquilo e confiando na minha companheira. Resolvi parar para abastecer e ao me informar, verifiquei que havia errado. A GPS me mandou para o caminho mais curto porém de menos qualidade. Consertei a rota passando por Montenegro e continuei.

O “novo” caminho era enrolado e constantemente parava para perguntar. No final, deu tudo certo e consegui chegar na baixada. O bonito cenário dos pampas gaúchos informava que a etapa das grandes e monótonas retas havia chegado.


O tempo estava firme, ou seja, céu cinza e frio bagarai.

Não havia opção a não ser voltar e isso, eu não ia fazer. Relaxei na espera das famigeradas retas. E elas vieram, mas para minha surpresa havia algumas boas curvas entre elas o que fez essa temida parte da viagem bem melhor do que aquela de 2 anos atrás, no Taim, entre Porto Alegre e o Chuí.


Imaginava que além das retas teria pela frente pastos e mais pastos e nada mais que pastos para ver. Entretanto, a natureza nessa parte do país traz muitas surpresas e com isso a viagem ficou bem menos monótona.


Não estava no planejamento inicial, mas foi incluído, pois ainda precisava adquirir a Carta Verde, documento necessário para entrar em alguns países da América do Sul. Com o papo rolando e os passeios, o documento ficou esquecido até a noite anterior a minha saída de Caxias do Sul e uma busca na internet encontramos duas seguradoras, mas precisava chegar antes das 16 horas quando os bancos fecham. Escolhi Rosário do Sul por estar mais perto do que Santana do Livramento, a outra opção, onde corria o risco de não chegar há tempo.

O Sr. Ávila – 55-9928-21-42 – é uma pessoa muito simpática. Ele não só providenciou o documento, como contou algumas histórias e deu algumas dicas sobre seguros. Outra facilidade é que não precisei ir ao banco para pagar a taxa. Ao lado de seu escritório fica uma espécie de banca de revistas que também recebe contas a serem pagas. Documento no bolso, junto ao passaporte, segui viagem com o último problema resolvido.

Tanque cheio, a barra de proteínas após o café, um pouco de água e rodas na estrada.

O cenário não mudou muito, apenas o frio me acompanhava e chegar em Santana do Livramento não foi difícil.

Check-in feito, banho tomado e o início deste texto. À noite, antes das 19 horas, quando as lojas fecham, saí para o jantar.

Livramento é uma feia cidade de fronteira. O cheiro de lenha queimada vindo dos restaurantes é muito forte, assim como o de óleo queimado proveniente dos carros mal regulados. Brasileiros e uruguaios transitam pelos dois lados da fronteira sem problemas e junto com o movimento de turistas e sacoleiros transforma a cidade em um grande formigueiro, mesmo no inverno.

Desci por uma das ruas principais até cruzar a fronteira e chegar a Rivera, uma repetição de Livramento só que com as lojas de importados. Segui a sugestão de Marcelo e comprei uma garrafa de whisky. Ia para o Uruguai no dia seguinte e como lá não tem Lei Seca, o álcool bem administrado ia ajudar a conter o frio.

Segui em frente em busca da praça onde estariam as barracas de “Panchos” e “Chivitos”. Achei a indicada por Marcos e Marcelo; sentei-me à mesa e fiz meu pedido. Um Pancho contendo: alface, tomate, ervilha, milho, maionese, ketchup, mostarda e queijo. Seria este o Podrão del Uruguai? Com a palavra os experts. Estava ótimo!


Isto não saciou minha fome e em minutos já tinha feito o segundo pedido. O “chivito” demorou a chegar, mas estava delicioso. Um hamburgão com bife de filé cujos acompanhamentos eram: alface, tomate, ovo cozido, presunto, mozzarella e maionese. Maravilhoso.


Após esse banquete a volta ao hotel sob frio intenso e um sono bem sonhado; tinha mais de 500 quilômetros a fazer no dia seguinte, precisava estar bem e não sei se estaria depois desse excesso.