sexta-feira, 14 de outubro de 2011

6º e 7º DIAS – FOZ DO IGUAÇÚ – PR – CAÇADOR - SC - LAGES - SC


Café da manhã tomado, uma hora para montar o quebra cabeças, corrente lubrificada, já vestido com a calça contra chuva, as polainas e o céu mais que cinza prevendo a chuva. Pista úmida e movimento razoável. Já estou acostumado.

Em menos de meia hora tive que parar. A chuva engrossou, o céu escureceu mais me obrigando a vestir o casaco contra a chuva.

Tudo pronto, um papo interessante com o modesto e simpático frentista do posto, as fotos e mão na estrada.

Chovia como nunca nessa viagem e o pior, logo no início. Todos dizendo que seria o dia todo e o pior, no dia seguinte também.

Se não tem remédio remediado está.

“Pau na máquina!”

Como diria meu amigo e companheiro de trilhas Reinaldo. E foi isso que fiz, mas em baixa velocidade. Não tinha como ser diferente.

Estava na PR 277 (para Curitiba) e entrei à direita em Santa Teresa e peguei uma estrada secundária em direção a Lages passando por Realeza, José Beltrão, Pato Branco, Palmas, Caçador e Lebon Regis. Não tem nada a ver com o que havia planejado. Nas diversas consultas feitas obtive trajetos distintos e este me pareceu mais simples e rápido. Só posso dizer que foi sinistro!

Até Pato Branco a estrada era totalmente esburacada daquela que os caminhões desviam invadindo a pista contrária. Soma-se a isto a chuva forte, que fazia os buracos se esconderem sob a água e a falta de sinalização.

Foram umas 04 horas só nessa brincadeira. 04 horas para percorrer apenas 225 km. Foi nesse trajeto que eu fiz a confirmação de um celebre ditado:

“O pior dia pilotando moto é bem melhor que o melhor dia trabalhando.”

Aquela situação não era tão ruim assim. Eu estava aprendendo muito e tendo a oportunidade de conhecer melhor a minha companheira de viagem. Sem prestar atenção na situação crítica comecei a reparar em como a minha moto estava se comportando. Ela estava trafegando de forma limpa, sem sustos. Ela transmitia uma segurança incrível e respondia sem pestanejar a todas as minhas solicitações. Em nenhum momento desse dia ou dos anteriores, que também não foram fáceis, ela me colocou em risco. Pista úmida, molhada ou esburacada ela se mantinha firme na trajetória imposta por meus comandos; mesmo quando esses eram arriscados. Ela estava em minhas mãos e estávamos felizes.

Parei para almoçar em Pato Branco. Agradeci a Deus pelos bons momentos em segurança e por breves segundos a admirei agradecendo sua fidelidade.

Falta-lhe um nome. Nada vem a cabeça. Sugestões?

Novamente fugi a regra e comi um feijão com arroz, aipim cozido e frango. Estava ótimo. Abasteci e segui em frente.

A estrada melhorou sensivelmente e a chuva diminuiu, mas não nos abandonou. Pude aumentar a velocidade média e conseguimos percorrer os demais 330 quilômetros com tranqüilidade e certa rapidez recuperando minutos preciosos. Chegamos a Caçador. Era planejado ir mais longe, mas não ia arriscar mais, além disso, a cidade se mostrava simpática.



Moto abastecida, já no hotel semi novo, um banho quente de uma ducha forte. Ar condicionado funcionando assim como o aquecedor. Malas escancaradas a fim de o ar refrigerado retirar a umidade. Aqui outro ditado foi comprovado:

“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”

Em se tratando de equipamento para motos ou motociclistas não acredite quando disserem que é impermeável.

Uma cerveja geladíssima com um pouco de amendoim do saquinho que estava sobre a bancada.

“DELÍÍÍÍÍÍÍÍÍÍCIA!!!”

Não tinha o plug adaptador da tomada então, fui dormir prevendo acordar às 21 h para jantar.

A pizzaria era o único funcionando. Casa meio cheia, show de um sertanejo nascido na cidade, Galeto, boa voz, bom violão, só os dois. Aturei até onde deu e foi pouco. Voltei ao hotel, pois o dia seguinte prometia não ser diferente.

Acordado pelo despertador? As coisas começaram a mudar. O céu ainda estava nublado, mas o sol aparecia timidamente. O quebra cabeças tinha mais peças, pois havia tirado quase tudo das malas para secar



Tudo pronto, café da manhã de qualidade, água e gelo no reservatório, conta paga, itinerário mudado, mais uma vez e confirmado e hotel de Lages reservado.

Parti atrasado em função das mudanças de itinerário e a montagem do quebra cabeças.

Conforme os quilômetros iam sendo conquistados e eu ia me afastando do Paraná os ares iam mudando, mudando para melhor. Nada contra o Paraná, mas que lá foi brabo foi!

O sol ia se mostrando aos poucos o azul do céu se tornando maioria. As estradas mais sinuosas que antes aumentavam o prazer da “tocada”.

Em Lages uma parada para informação e abastecimento. Um grande grupo de motociclistas partia restando 05 de outro grupo.



Vinham do sul voltando para casa. Perguntas diversas sobre o mesmo tema. Seguimos nossos caminhos.

Estava em busca de um ponto específico. Passar pela Serra do Rio do Rastro constava do roteiro da viagem que faríamos inicialmente até Bariloche.

Permaneceu no desta viagem e estávamos perto. Vislumbrava o prazer que teria ao trafegar por aquelas curvas de sinuosidade impar. Curvas com ângulos próximos dos 180º.

Mas o prazer já se fazia presente e com muita intensidade. As curvas da estrada que antecede a serra são maravilhosas.



A ligação que estamos conquistando nesses dias de convívio quase que íntimo, superando situações diversas, adversas ou tirando prazer de outras fazem dessa relação quase que uma simbiose.

A segurança que sinto ao ousar na inclinação e velocidade no início, meio e fim de uma curva fazem dessa relação algo incomum.

A cada comando docilmente obedecido por ela me dá a segurança necessária para testar limites.

O medo que tinha de percorrer curvas está se dissipando em doses latentes.

A aproximação de uma curva já não é mais motivo de preocupação e sim deleite.

Ao final de cada reta, o fechar dos alicates em intensidades e tempos distintos. O da direita, por alguns segundos, para reduzir com a pressão de uma freada a velocidade. O da esquerda, em seqüentes micro segundos, para baixar e depois subir marchas. Esse conjunto de comandos permite que a entrada, meio e fim de uma curva sejam sentidos como um arrepio.

E estávamos apenas nas preliminares. Eu gosto das preliminares e nesse caso estavam sendo perfeitas.



Ao chegarmos à serra todo o prazer se multiplicou. A distância reduzida entre as curvas fez aumentar a quantidade dos movimentos de vai e vem na troca das marchas. Para cima acelerando e para baixo reduzindo. A inclinação cada vez maior (ou seria menor?) permitia o prazer de raspar dos bicos das botas na estrada como se fazendo-lhe carinho, em uma traição concebida. Éramos três em um “menage“ sem precedentes. Eram múltiplos cada curva um.

Chegamos ao fim exaustos. Um descanso breve e a volta mais íntima. Por estarmos subindo, a gravidade se transformou no quarto elemento dessa prazerosa tarde inesquecível. Com ela as conseqüências de um improvável acidente se reduziam a quase zero ampliando os limitas.

Se a descida nos fez conhecidos com certeza a subida nos fez amantes.



Fica a saudade e a sensação de quero mais. A distância dificulta o reencontro, mas ele acontecerá, eu não tenho dúvidas.

Estou em Lages no Hotel

Até o próximo.

2 comentários:

  1. As imagens são impressionantes, a serração, as curvas e o clima deve ser inesquecível passar por um lugar assim.

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  2. Não tenha dúvidas que sim. Espero poder voltar,

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