sábado, 24 de abril de 2010

SUELLEN E MIGUELZINHO


Quem não gostaria de ter um cão como companhia? Poder brincar, correr ou andar, jogar coisas, ele pegar e trazer de volta, apresentar para as(os) gatinhas(os) ou simplesmente sentar no chão e ver televisão juntos.

Muitos não podem e os motivos são vários: casa pequena, não têm paciência, medo, sem saco para levar a fazer as necessidades todos os dias, etc.

Sim pessoal ter um cão é fantástico, se bem tratado ele é sincero, obediente, leal, justo, amigo, etc., mas como tudo têm seus problemas, principalmente se não os tratamos como se deve.

Antes de adquirir meu cão procurei me informar sobre qual seria a raça que melhor se adaptaria aos meus desejos, disponibilidade e espaço. Depois li alguns livros sobre adestramento. Sugiro que faça o mesmo.

Não sou nenhum expert, mas aprendi muito convivendo com meu cão e outros que encontro pelas ruas da cidade.

São coisas simples que podemos por em prática para uma vida social agradável tanto dentro como fora de casa, na convivência com outros cães e seus donos.

O cão, como seus descendentes os lobos, vivem em matilhas sendo assim, considera os membros da casa onde vive como tal. E como toda matilha essa também deve ter um líder e o líder nunca deverá ser ele. Embora ele faça tudo para sê-lo. Cuidado, rsrsrs.

Pronto, só nesse parágrafo aprendemos duas coisas;

1 – O cão é um animal e deve ser tratado como tal, ou seja, não deve ser tratado com frescura, lacinhos, roupinhas e afins;

2 – Ele não é criança, mas devemos impor limites como se fossem.

Os cães se conhecem (socialização) pelo cheiro, não é a toa que o faro é seu sentido mais aguçado, depois a audição, etc. e sua boca é o equivalente a nossa mão. Por isso ele coloca tudo dentro dela como nós fazemos com nossas mãos nas lojas, exposições, supermercado, etc.

3 – Aprendemos então o motivo de eles estarem sempre nos cheirando e quase sempre parecerem querer nos morder.

Outro dia estava no ParCão (parque para cães localizado as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas – RJ/RJ) quando chegou uma matilha composta pela dona (que para facilitar vou chamar de Maria), a irmã da dona, irmão da dona, namorada dele e a cadelinha da raça Poodle que chamarei de “Suellen”.

Suellen estava lindamente trajada com seu vestidinho rosa xadrez, lacinhos vermelhos como sua coleira pink. Só faltavam os sapatinhos. Maria ficou com Suellen na guia esticada impedindo-a de cumprir o processo natural de reconhecimento dos demais animais que ali estavam. A cada cão que se aproximava para cheirar Suellen Maria puxava mais ainda a guia deixando a cadela quase sem ar. Como se não bastasse, Maria ainda emitia uns sons estranhos entremeados por frases como:

“Vem cá Suellen, meu amorzinho!”
“Tadinha da Suellem, todos querem agarrar ela!”
“Ai meu Deus, tadinha da Suellen!”

Maria transmitia toda a sua insegurança para a cadela, não só por palavras, mas também através de sua ligação física, a guia esticada.

Ela se superou ao puxar Suellen pela guia pendurando-a até segurá-la no colo.

Pronto, os demais cães detectaram que Suellen era o brinde do dia e pularam em cima de Maria que apavorada, junto com os demais membros de sua matilha, começou a gritar vários absurdos indo embora correndo, lógico com os outros cães atrás.

Suellen com certeza, com a repetição desses atos, passará a odiar passeios e cães.

Quantas vezes você não viu alguém sendo puxado, as vezes quase arrastado, por seus cães. Independente de raça e/ou tamanho, já vi coisas engraçadíssimas. Uma delas foi um cara com quase dois metros de altura por outros tantos de largura sendo carregado por seu York Shire em plena orla de Ipanema. Imaginem.

4 – O dono (líder) não deve andar com a guia esticada, muito menos sendo puxado pelo cão. Nos primeiros passeios a vontade do cão de puxar (liderar) a guia deve ser desencorajada por leves, porém firmes, puxões da mesma, mostrando-o que seu lugar é ao lado do líder.

5 – O mesmo procedimento deve ser observado ao cruzar/encontrar com outro cão.

Brigas são naturais na vida de cachorros, e podem ser evitadas. Ao encontrar com outro cão, nunca o acaricie ou faça festa deixando o seu amigo de lado. Eles são ciumentos, portanto faça carinho nos dois ao mesmo tempo transmitindo segurança e tranqüilidade.

Cães do mesmo sexo devem ser respeitados, pois por natureza disputam território, matilha, etc. Faça a aproximação de forma segura, porém tranqüila, nunca demonstre medo.

Caso não consiga não tente a aproximação. Os cães sabem exatamente quando seus donos estão com medo e transferem para o outro cão o motivo, quando na realidade o motivo é o próprio dono. SEMPRE.

Não é raro eu presenciar os donos chegarem aos parques com sacolas de brinquedos, tigelas de água e saírem brincando com seus lindos bichinhos como se o parque fosse só deles. Umas gracinhas. Aí você vai falar com eles e ouve;

“Ah! Mas o Miguelzinho é tão tranqüilo. Tem cinco anos e nunca brigou. Ele é super dócil e obediente.”

Quando você vai ver, chega até a concordar, o Miguelzinho é um simples Labrador brincalhão. Mas ao ver seu brinquedo ser pego por outro cão, transforma-se na pior versão de Lúcifer partindo, sem dó, pra cima do outro.

Aí é aquela gritaria. A cachorrada que se amarra numa porrada corre não só para ver, mas para participar avidamente como se aquela fosse a última de suas vidas.

6 – Nunca leve para parques ou lugares com cães brinquedos, ossos, comida, etc. que possam servir como objeto de disputa. Muito menos peguem galhos ou afins para jogar para os cães. Mesmo se seu cão for dócil e obediente como o Miguelzinho, o outro pode não ser.

Já vi várias brigas de cães e em todas elas o culpado foi o dono.

Certa vez estava em outro parque, também na lagoa, onde entre outros estava um jovem Golden Retriver lindo brincando com a bola que seu dono insistia em jogar. Boris, ainda com menos de um ano, estava brincando com seu amigo, um Buldog Inglês, quando surgiu um Boxer branco muito bonito e forte. Sua dona estava sendo arrastada pelo líder e soltou-o da guia. Menos de trinta segundos e a porrada estava rolando. Boris que naquela época gostava de um arranca-rabo partiu pro meio do ciclone. A dona chorava o dono estático e eu tentando segurar meu cão. Os demais sem ação. Consegui segurar o meu e a porrada rolando; até que com um golpe de sorte consegui segurar o Boxer pela coleira enquanto o dono do Golden voltou a si e fez o mesmo.

7 – Nunca tire a coleira de seu cão quando estiver em um ambiente com outros cães. A técnica diz que em uma briga você deve segurar os cães pelas paras traseiras, mas eu nunca consegui. Sempre separei brigas puxando o cão pela coleira e não foram poucas que, por seus donos serem umas antas, tive que segurar os dois.

Boris gostava de uma briga até que com algumas ações consegui demovê-lo de se envolver nas que não são da sua conta. Agora ele fica quieto, olhando o pau comer, sem reação.

8 – Você é o líder então você tem que passar primeiro pelos vãos de portas, portinhas, portões e afins. Ele SEMPRE deve ser o último. A bicicleta, o carrinho do bebê, etc. passam antes.

9 – Se possível, sempre que for entrar em um ambiente com mais cães faça-o sentar e esperar você passar pelo vão. Deixe-o esperando alguns segundos, com o portão aberto, para autorizá-lo a entrar.

O cão não tem noção de tempo, portanto não se preocupe em deixá-lo algum tempo só ele não vai morrer por causa disso. Ele fica até três dias sem comer. Esse negócio de “meu cão não fica só de jeito nenhum” é frescura, a culpa é sua.

Como ele não tem noção de tempo, não adianta dar bronca por uma coisa que ele fez há mais de 10 segundos. Ele não saberá o motivo da bronca e vai ficar sem saber o resto da vida. Ou você dá a bronca na hora em que ele fez a besteira ou esqueça. Vire-se e vai limpar/arrumar a bagunça sem reclamar. De preferência sem ele ver.

Bom, foram apenas algumas pequenas dicas. Você pode não ter gostado e não seguir, mas tome cuidado para não criar uma Suellen e nem um Miguelzinho.

Um comentário:

  1. GG muito bom este texto!Gostei. Super útil! Acho que vou "contratar" você para me dar umas aulas!

    1 beijo!!!

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