sábado, 23 de abril de 2011

O PALADAR DA COMIDA CASEIRA




Carnes – Peixes – Vinhos

Venha conhecer nosso Tropeiro na panelinha e degustar nossos deliciosos caldos

Tel.: (24)3365-0281

Servimos variedades de refeições

Horário de funcionamento de Seg. a Dom. a partir de 11:30

“Rua Pedro Eugênio de Oliveira, 72 – Bonfim – Angra”




É assim que está escrito no cartão.

Não, não se trata de propaganda, trata-se apenas de reconhecimento.

Há tempos meu filho vinha falando em acampar com os amigos. Estava animadíssimo e não era raro ouvi-lo dissertar sobre seus planos:

Perguntei: Onde?

“Cabo Frio, Búzios, talvez Ilha Grande.”

Com quem?

“Não sei ainda pai, mas será uma boa turma. Empresta o carro? Mas só se não for para Ilha Grande, não faz sentido eu ficar com o carro parado o feriado inteiro.”

(Muito inteligente esse meu garoto. Hehehe!!!)

Foram semanas, meses, até decidirem por Ilha Grande.

Não sou nenhum expert, mas já acampei algumas vezes e repassei algumas dicas que lembrava e outras que havia ouvido ao comentar sobre com um colega de trabalho:

- Verifique onde nasce o sol e procure não montar a barraca de cara para o nascente;

- Tente montá-la sob uma árvore de boa sombra, mas que seja resistente, a fim de evitar acidentes com galhos ou frutos caindo;

- Arme a barraca de preferência em um platô evitando, se chover, que você acorde nadando em um lago;

- Faça uma calha no solo em torno da barraca e a “estique” até o terreno mais baixo, para direcionar a água da chuva que cai sobre a barraca.

- Etc.

Antevéspera do feriado, ele se lembrou que não havia comprado a passagem. Na internet, não encontrou a empresa correspondente. Ligou para uns amigos, pegaram um ônibus e foram comprar as passagens na rodoviária. Não conseguiram comprar para a data e hora planejada e tiveram que antecipar em 24 horas para então dormir uma noite em Angra (que chato) onde pegariam a autorização para acampar do outro lado da ilha em uma área que exigia limite de pessoas.

- Aproveite para carregar a bateria do celular.

Quarta à tarde, como programado, tudo certo. “Partiu!” Como eles falam. De acordo com o combinado ele ligou ao chegar na rodoviária, ao pegar o ônibus e quando chegou a Angra. Estava feliz. Eu, apreensivo. Não por ele, mas pelo contexto da coisa toda. Seriam cinco dias.

Ele deveria ligar todo dia de manhã, essa era a única exigência, o resto já havíamos conversado durante os quase dezenove anos de sua vida e isso basta.

Na quinta feira não havia noticias. Fui jantar com minha filhota uma comidinha japonesa no shopping Leblon. Perguntei, tentando disfarçar minha preocupação, e ela respondeu que ele não havia ligado.

Saber da possível dificuldade de a nossa maravilhosa telefonia celular em funcionar naquela região era um alento, mas era um camping deve ter como se comunicar com a civilização.

Se não ligar até amanhã quando eu acordar, vou até lá.

Mal dormi.

Às nove já estava na estrada. Boris foi esvaziado às sete.

Fui pela Barra da Tijuca passando por Campo Grande (estrada péssima), até Santa Cruz onde, sem opção, dobrei a direita até a Avenida Brasil. O trânsito estava bom até então, com exceção do Centro de Santa Cruz que, como qualquer outro Centro estava insuportável, mesmo sendo feriado.

Já na estrada, o movimento era grande, porém sem retenções até chegarmos a Polícia Rodoviária onde nossos Nobres Homens da Lei resolveram interditar meia pista a título de ... Não consegui saber. Eles se faziam presente de forma tradicional, estavam invisíveis. Isso me fez presumir que haviam tomado chá de sumiço no café da manhã, mas não se esqueceram de deixar a sua marca. Resultado, uma bela cagada sob o sol tórrido de Primavera do Rio de Janeiro. Sorte que eu estava de moto e consegui me desvencilhar sem maiores problemas.

Aproximadamente meia hora depois parei para um gole de água e um café preto e forte como prevenção.

Uma passadinha rápida no banheiro e (Claro! Não podia ser em outra hora!) toca o telefone.

Era minha filhota, com voz de sono avisando que o irmão havia ligado, que estava tudo bem e que não ligou antes porque o celular não pega direito onde eles estão.

Aliviado, resolvi continuar. Iria curtir a viagem para almoçar em Angra ou Paraty.

Subi na moto, e iniciei a parte prazerosa da viagem. Foi preciso rodar meia dúzia de quilômetros para perceber que o dia estava lindíssimo, sem uma única nuvem no céu azul puxado para o anis. A temperatura se tornara agradável em função da velocidade dentro do limite.

A temperatura diminuía um pouco quando passava na sombra das raras arvores que compõem o pouco que resta da Magnífica Mata Atlântica. Como fomos capazes de tamanha ignorância?

@BorisStaford é que está certo, ele sempre pergunta:

“Quem é o animal?”

Ao subir na moto, sem querer apertei o “botão” dos fones de ouvido que atende a ligação e descobri que dessa forma também posso fazer tocar as músicas. Apesar de não ser correto, deixei rolar. Estava precisando.

As curvas se sucediam ao som de Pink Floyd (Shine on You Crazy Diamond) e depois outras.

O movimento aumentava de acordo com a proximidade das cidades e, com atenção eu conseguia passar pela maioria. Sempre tem um gaiato ou desligado que “fecha a porta” quando você está ultrapassando.

Quando é que essas bestas vão entender que respeitando os motociclistas, o veículo se torna seguro, mais pessoas se utilizarão dele e teremos mais espaço nas ruas e estradas? Consequentemente menos trânsito.

E assim fui. Admirando a mata, a vista e com atenção nas instigantes curvas e retas cheguei a Angra.

Cada viagem que faço mais prazerosas elas se tornam. Dá vontade de largar tudo e sair por aí tipo “Easy Rider”



Parei em um posto, bebi uma água e sentei em uma das cadeiras que os frentistas usam enquanto aguardam um cliente. Conversamos um pouco, esclarecimentos sobre a moto e informações sobre a distância. Fiz as contas e decidi não seguir para Paraty. Não queria retornar à noite.

Liguei para um amigo que mora em Angra. Não atendeu, provavelmente estava velejando. Nos falamos depois.

Decidi dar uma volta pela cidade e procurar um lugar para almoçar. Continuei na direção sul, pelo que deve ser a rua principal, até o Colégio Naval.

Perguntei o que havia mais a frente. Praias, pousadas e restaurantes.

Segui feliz por não ser um daqueles pracinhas de guarda em pleno feriado de sol intenso.

A estrada de mão dupla, estreita como artéria, corta a mata sinuosamente trazendo emoção e prazer.

Passei por o que deve ser um pequeno bairro e uma placa chamou minha atenção. Uma seta indicando à esquerda o restaurante Quintal da Zezé. Pensei em parar, mas segui movido pela curiosidade para ver o que havia no fim daquela simpática estradinha.

Diversos carros mal estacionados próximos a acessos de praias reduziam ainda mais o espaço. Segui até uma praia cuja areia era lamacenta. Não demorei mais que segundos, a fome castigava, e já estava no caminho inverso.

Em poucos minutos lá estava a placa. Dessa vez mandando dobrar a direita e assim o fiz.

Espaçoso e simples o restaurante era composto pelo quintal e varanda de uma modesta casa. As mesas estavam distribuídas de maneira organizada e peixes nadavam fixos em uma das paredes. O cheiro da comida sobre o fogão a lenha indicava o caminho como que um convite ao sabor. Feijão, frango ensopado, carne (talvez lombo) de porco na panela, farofa, entre outras iguarias.

Mas eu queria algo do mar. Pedi a bebida e o menu.

A cerveja chegou gelada e assim permaneceu durante toda a sua vida. Queria mais, mas a prudência me fez recuar. A simpática atendente me entregou um cardápio organizado.

Como faço algumas vezes, decidi pedir um aperitivo e um ou dois acompanhamentos. Fiquei entre as lulas ao alho e óleo e as à doré. Depois de muito pensar escolhi a segunda. Como acompanhamento resolvi sair das regras e pedi arroz com feijão. Ele, o feijão, estava muito cheiroso e convidativo.

Não me decepcionei. O feijão estava daquele jeito, caldo consistente com sabor de feito por avó e o arroz não ficava atrás do preto. As lulas, em grande quantidade, estavam saborosíssimas. Crocantes, macias e consistentes. Uma pitada de sal acertou o passo.

No som tocavam músicas diversas e em uma eletrônica me lembrei de uma grande amiga (@JosiLemos).

No meio do prazer conheci a simpática Dona Zezé. Carinhosa ficou desconfiada com o elogio, depois agradeceu e foi até uma mesa de conhecidos.

Só não comi mais por medo do sono, mas a vontade era repetir. Pedi a conta, preço honesto, mas não tinha café.

Sem problemas Dona Zezé, a simplicidade e amor que deve ter dentro daquela cozinha compensam essa falta.

A volta, foi tranqüila.

Não costumo ir a Angra, mas com certeza se voltar será lá que vou fazer minhas refeições.

Quem for não se esqueça de dizer para a Dona Zezé que foi aqui que soube da existência do restaurante, ela não vai te tratar melhor por isso, mas ficará feliz em saber.

Obrigado e bom apetite.

3 comentários:

  1. O dia estava convidativo a um passeio belo e de ceu azul, ao fundo as verdes matas desbravadas pela estrada entrecortadas por suas curvas e montanhas, perfeito ou quase perfeito!? faltou mesmo foi chamar sua amiga aqui nem tão amigona mas que adora eletronico, e tiraria umas belas de umas fotos que agora estariam postadas e admiradas, e nada como ficar sozinho, mas a companhia desta amiga para dividir o chopps e a lula daria um que de graça e alegria na viagem,
    viu e eu sou excelente fotografa bjo

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  2. Li teu livro TODO rsrs. Não posso comentar sobre as receitas pois ainda não as testei. Ficou no ar um cheirinho gostoso... da vida saboreada em seus pequenos detalhes e lembranças...
    Parabéns Geraldo...gostei muito...é bonito viver assim.
    Bjs
    *que bom que vc gosta da minha feijoada...e da couve? Quando vc vai experimentar o Bobó de Abóbora com Camarão?

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  3. Obrigado pelo elogio.

    Quanto aos demais pratos da "Antigamente" o pessoal está combinando degustá-los em breve.

    Aguarde.

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