MORRE A ARQUITETURA BRASILEIRA

Prezados,

Ontem, 05/12/12, encerrou-se um ciclo.

O falecimento de Oscar Niemeyer à dez dias de completar seus mais do que bem vividos 105 anos é o derradeiro segundo desta era e um marco na História de nosso país.

Profissional de qualidade mundialmente reconhecida hoje tem sua face, croquis e fotos de parte de seus muitos projetos estampados em várias páginas dos jornais espalhados pela Terra.

Hoje, homenagens mais do que merecidas pipocaram em torno do planeta.

Comovidas demonstrações de carinho, saudades e talvez adoração ao Grande Mestre.

Eu sou um dos que reconheço entre seus feitos, principalmente aqueles que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, verdadeiras obras de arte traduzidas em formas arrojadas, insinuantes, elegantes e muitas vezes sensuais.

Coincidentemente as minhas preferidas estão localizadas em nossa capital Brasília, aquela que muitos pensam idealizada por Oscar, mas na realidade foi outro Grande Mestre, Lucio Costa, quem a projetou.

A Catedral é de uma singularidade espantosa, simultaneamente simples e arrojada tem dimensões que mostram a seus frequentadores sua verdadeira insignificância perante o Criador, seu “proprietário”; dando-lhes a oportunidade de humildemente reconhecer tal circunstância.

Reduzindo e muito o nível de importância do “proprietário” mesmo que por apenas 4 anos, o Palácio do Planalto com suas colunas simétricas e de formas insinuantes refletidas em seu imenso espelho d’água, mesmo que há muito construído, me traduz insegurança pela sua esbeltes. Insegurança que me atrai e inerente as decisões ali tomadas pelos muitos egocêntricos que o frequentam.

Como se isso fosse possível, reduzindo ainda mais o nível de importância dos “proprietários” pelos mesmos 4 anos, outros 8 anos; temos o Congresso Nacional. Onde reúne-se a nata da corja do povo brasileiro que, diga-se de passagem, os merece a cada pleito concluído.

As duas torres unidas por uma singela passarela e ladeadas por duas cúpulas formam um conjunto cuja forma deixa no ar a certeza de que diuturnamente estamos sendo violentados por um pênis de igual tamanho, pelas decisões e conchavos ali acertados.

Desse raciocínio talvez tenha a origem a frase que dizem proferida pelo Grande Mestre (mas eu creio que se alguém falou esse foi o Lucio Costa, por motivos óbvios:

“Se soubesse que Brasília ia dar no que deu, eu não teria projetado a cidade num formato de avião, mas sim de um camburão.”

De seus projetos, a maioria une forma e função de maneira agradavelmente única. Outras a forma subjuga a função como se esta não fosse tão importante. Normal, ninguém é perfeito, nem mesmo o Grande Mestre.

Sua ousadia muitas vezes, para desespero de Sir. Isaac Newton, pôs em dúvida a lei da gravidade. Mas para isso, até mesmo os Mestres precisam de coadjuvantes de qualidade. Nisso Oscar Niemeyer não foi diferente. Teve em seus calculistas, especialmente o grande Sussekinde, o apoio (na exata concepção da palavra) sem o qual muitas de suas grandes obras ainda estariam em repouso nas folhas de papel manteiga escondidas em alguma gaveta esquecida do escritório.

Ainda desbancando Sir Isaac Newton e nesse caso também ao Pink Floyd, Oscar Niemeyer fez do branco sua cor predileta. Talvez porque mesmo que segundo o nobre cientista para quem esta reúne todas as cores, para Oscar, elas são desnecessárias diante da plasticidade de suas formas.

Não só de grandes projetos vivia Oscar. Objetos também foram objeto de sua criatividade. As cadeiras, poltronas e divãs eram alguns deles e a internet, que ele viu nascer e crescer possui um vasto acervo de imagens de todos os seus feitos.

Outra frase que dizem proferida por ele:

“Nem meus amigos que me ajudaram muito, como o JK, entendiam. As pessoas viam os projetos e diziam: 'Que bonito!', mas não estavam entendendo nada.“

Essa eu a trago para mim, sem parafrasear:

“Nem todos os que leem meus textos entendem. As pessoas leem, poucos dizem: ’Que bonito!’, muitos: ‘Que porcaria!’, mas a maioria não entende nada.”

E porque isso?

Ora meus caros escassos e insistentes leitores! Titulei o texto “Morre a Arquitetura do Brasil”, não foi? Isso tem um motivo diáfano nas palavras ali alinhadas, se não vejamos:

Somos hoje mais de 180 milhões de brasileiros. Destes, segundo meus cálculos apenas 6% têm condições de discernir; 11 milhões. Destes, milhares são arquitetos.

Certo?

Mas apenas um deles é e permanecerá sendo mundialmente conhecido e considerado. Fato!

E eu pergunto:

“Será que entre esses milhares de arquitetos só existe um realmente capaz?”

“Acho difícil.”

Ora caras pálidas, no país dos concursos não os há para os projetos públicos. Os grandes projetos sempre foram destinados ao Grande Mestre. Mesmo os que não são públicos.

Os demais profissionais da área não têm oportunidade de mostrar se são capazes ou não de substituir, concorrer ou até mesmo superar o Grande Mestre.

Quando a oportunidade aparece são “concurlecos” (Nada haver com o Tatu da Copa, por favor, não venham me arrumar confusão.) de esquina de pouca ou nenhuma relevância ou repercussão.

Quando os têm, são convidados profissionais de outros países que desconhecem nossos costumes, clima e tradições, insumos inerentes a boa Arquitetura e trazem consigo os seus, impondo suas características em forma de toscas fachadas reluzentes, admiradas por leigos e copiadas por ignorantes.

O CREA e agora o CAU o que fazem para mudar a mulher do sapo?

(ESSAPORRA é a mulher do sapo)

Em vez de ajudar no surgimento de novos talentos, apenas enriquecem com a cobrança de suas anuidades e taxas por projeto.

Órgãos que foram criados para regularizar a profissão, mas que não apoiaram nem apoiam em nada na formação e desenvolvimento dos profissionais, seus afiliados obrigatórios.

Órgãos que fiscalizam aqueles que conquistaram, com seu suor e expensas, a habilitação técnica necessária, mas não fiscalizam os verdadeiros projetos e obras de risco como as que compõem 100% (CEM PORCENTO) das comunidades que anualmente escorrem morro abaixo a cada “chuveca” (olha, não é o Tatu!) que ocorre.

Sim meus caros por pouca ou nenhuma visão daqueles que decidem, nossa arquitetura tão, difundida no planeta, morre junto com seu único arquiteto.

Oscar, seja bem recebido pelo Criador.

Brasil, meus pêsames!