quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

7ª VIAGEM – 18/10/24 À 01/11/24 – RIO – URUGUAI

 


Caros escassos e inteligentes leitores, mais uma. Sim, mesmo com os problemas que assolam e muito, nosso país e muito mais por conta deles, é necessário algo que nos tire, mesmo que por alguns dias seguidos, das agruras da vida e desses absurdos que nos afligem.

Viajar, para a grande maioria, é uma delas e não é diferente para mim então, vamos nessa.

Sendo assim, aliado aos motivos do porquê coloco as rodas nas estradas; pilotar em rodovias de boa qualidade, com muitas curvas, inseridas em visual agradável e com tempo bom (lembrem-se que tempo bom significa céu nublado, temperatura baixa, sem chuvas e principalmente sem transtornos durante o trajeto); inicio mais um texto.

Dessa vez começo este após finalizado o roteiro, pois, como quase sempre, minhas viagens tem em seu primeiro dia o mesmo trajeto. Isso permite antecipar algumas linhas.

Tinha em mente fazer essa viagem em julho e com destino ao nordeste a fim de visitar parentes queridos. Estou devendo isso faz anos e como não voo, voava quando tinha medo, hoje tenho pavor; então, só resta a moto.

Cheguei a elaborar um roteiro, mas a extrema insegurança da região me fez pensar duas vezes. Não há como atravessar a Bahia atualmente sem ser em bando e bando não é seguro e são muitos a discutir caso seja necessário alguma modificação de roteiro, o que não tem sido raro em minhas viagens. Já ouvi alguns relatos de perrengues passados por alguns motociclistas que se aventuraram por lá nos últimos anos e eu não tenho paciência, dinheiro nem estômago para viver tais situações então, atualmente o Brasil se restringe as regiões sul, sudeste e centro-oeste. Como o centro-oeste carece de montanhas e serras, mesmo com seus muitos atrativos, não me apetece rodar em duas rodas por tais belezas. Sendo assim, sobram as regiões sul e sudeste e para mim está muito bom. Há muita coisa boa para ver e viver por lá.

Também já disse antes que fazer aquelas viagens de poucos dias e muitos quilômetros com destino ao sul da Argentina ou norte do chile não são meu foco. Atacama, Los Caracoles, Ushuaia, Machu Picchu etc. são lugares que gostaria de conhecer, mas chegar até lá é necessário percorrer infindáveis retas e isso é desanimador. Além disso, também tenho ouvido poucas e boas de quem rodou pela Argentina nesses últimos anos e imagino que mesmo agora com um governo descente ainda seja complicado andar por esses lugares. Quem sabe na próxima, afinal parece que o mundo está caindo na real e enxergando as verdades de narrativas a décadas contadas por uma mídia vendida e desonesta. Então, rodo satisfeito pelas serras e estradas do sul/sudeste do Brasil. Assim mesmo, ainda percorro algumas enjoativas retas. E nessa viagem não vai ser diferente ainda mais se formos percorrer o litoral do Uruguai como está previsto pois, para chegar lá teremos de percorrer os belos, porém enjoativos pampas gaúchos e uruguaios.

Ainda preciso tomar algumas providências: trocar os pneus é uma delas. Os que estão na moto ainda rodam uns bons 3.000 km portanto, estou pensando em fazer essa troca no meio da viagem.

Londrina, onde hoje Mora Claudio, que esteve comigo em minha terceira viagem, é a primeira opção. De bom o fato de ele com certeza conhecer um lugar confiável para esta troca e onde eu poderia mandar entregar os pneus que comprarei pela internet. De ruim é que serão apenas mais 1.200 km a rodar. A segunda opção, 2.400 km, seria Uruguaiana que não conheço, portanto, não sei onde mandar entregar os pneus e muito menos um lugar confiável para a troca.

Outra providência é fazer a revisão. Gosto de iniciar as viagens com ela “zerada” com todos os óleos, demais líquidos, velas, filtros, etc. em dia. Costumo fazer isso com no mínimo 15 dias da viagem para dar tempo se surgir algum imprevisto pós revisão.

O início desta foi reagendado para 01/10/24, mas até lá, dependendo do andar da carruagem pode haver adiamentos. Estar aposentado permite essas coisas.

Mais uma vez não será uma viagem solo, Reinaldo estará comigo desfrutando das estradas e serras da região pela segunda vez nessa nossa terceira viagem.

O roteiro prevê mais de 6.900 km com destino a Montevideo contornando todo o litoral do Uruguai, incluindo a volta. Será a maior delas até agora e no primeiro dia iremos sair do Rio de Janeiro para pernoitar em Pirassununga, SP. Serão 541 km dos quais até Pouso Alegre, MG. 410 km serão estradas já percorridas em outras ocasiões e que até dois anos atrás estavam em bom estado. São poucas retas, muitas curvas e duas serras que permitem uma perfeita readaptação ao equipamento já que têm sido raríssimos os bate-voltas de fins de semana que tenho feito nesses últimos anos. Pouco tenho andado em minha moto de viagem a não ser curtos tiros pela cidade para mantê-la em movimento e principalmente a bateria carregada. Mesmo assim, em 29/02/24 tive de instalar uma nova. A anterior durou uns três anos, tempo mais que suficiente para a duração desse item. Está bom demais.

Sim, estou iniciando esse texto em 01/03/24 e acabei de fechar o roteiro. Como veem, com bastante antecedência. Mais uma das vantagens de estar aposentado.

O GPS já sairá do Rio alimentado com todas as coordenadas do roteiro. Elas serão divididas pelos dias da viagem que previ serem 15.

Repito esse início com frequência pela qualidade das estradas, suas curvas e o fato de serem conhecidas, o que permite errar menos e se houver erros de pilotagem e/ou readaptação, facilita “consertá-los”.

Hoje, 10/10/24 ainda estamos no Rio. O novo adiamento se deve a acontecimentos de cunho particular que surgiram inesperadamente. Sendo assim, a data de início será 18/10/24.

Devido esse novo adiamento, pensei em desistir. A temperatura está aumentando com a proximidade do verão e isso não me agrada em nada. Mas conversamos e acordamos que vamos mesmo sair dia 18 e seguir até onde nossos humores permitirem.

O bom é que a distância temporal gerada pelo adiamento permite mais melhorias nas condições das estradas afetadas pela recente tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul; ainda mais porque percorreremos as serras deste estado apenas na volta.

As motos já estão devidamente revisadas com seus pneus trocados e “lixados”, mas surgiu um pequeno problema, na troca dos pneus foi diagnosticado que as pastilhas do freio dianteiro foram pro saco e eles não tinham em estoque estou aguardando a chegada, mas já estou vendo outras duas opções para obtê-las. Resolvido isso, só falta fazer a “mala” e partir.

Já estou começando a sentir aquela agradável ansiosidade pré-viagem

Mas chega de enrolação e vamos nessa... prever o futuro. 

Encontro no posto BR do Humaitá, dia 18 de outubro de 2024, com motos abastecidas e GPS ligado na rota 01, serão viradas as chaves. Tripi 01 e Trip 02 serão zerados, as primeiras marchas engatadas, os aceleradores acionados, soltaremos as embreagens e daremos início, às 05:30 h aproximadamente, a mais uma aventura.

Destino: já disse, Uruguai. Objetivo: percorrer algumas das inúmeras serras do sul e sudeste e conhecer alguns atrativos naturais ou culturais pelo caminho.

Céu nublado, temperatura amena, é tudo que se espera. A primeira parcial será em diagonal à oeste a fim de ao final do quinto dia pernoitarmos em Barra Quari, a 1 km da fronteira sudoeste com o Uruguai.

Cumpriremos o roteiro planejado para esta parcial. Dutra (BR-116) até um pouco depois de Itatiaia e acessando a BR-354 com destino à São Lourenço - MG. Só aí serão duas serras (Araras e a de acesso a São Lourenço) que juntas servirão para nossa readaptação as motos em estradas.

Antes, no Graal de Resende, RJ. Faremos um pequeno lanche e reabasteceremos as motos pela primeira vez.

A fim de não perder tempo costumamos fazer o máximo possível na mesma parada, abastecer, banheiro e alimentação, não será diferente nessa.

Em São Lourenço, reabasteceremos pela segunda vez, almoçaremos e partiremos para Pouso Alegre passando por Santa Bárbara do Sapucaí. Novo lanche e reabastecimento.

Daí, sairemos com destino a Pirassununga, passando por Poços de Caldas...

Pronto, agora é aguardar nosso retorno para os demais relatos da viagem.

Até lá.

E assim foi...

 

A VIAGEM

 


Como chegamos cedo em São Lourenço, adiamos o almoço e ao parar para abastecer, conhecemos um casal de motociclistas muito simpático. Estavam de carro e sugeriram que almoçássemos em Lambari. Seguimos em frente atrás deles.

Almoçamos no Paladar Mineiro, um quilo honesto e muito barato – R$ 20,16. Comida simples, porém, gostosa. Estávamos em Minas, como ser diferente. O papo foi excelente, conversamos animadamente sobre a região, um pouco de sua história e da atual situação precária do país. 


Seguimos viagem por estradas até então desconhecidas, muito bem pavimentadas e excelentes curvas. A readaptação às motos tinha sido atingida com sucesso nas duas serras anteriores. Estávamos rodando com tranquilidade, sem erros e muito prazer. O clima estava ameno e o céu nublado, condições ideais para o que estávamos fazendo. Os novíssimos pneus Michelin Road 6 estavam tendo performance sublime, proporcionando segurança mais do que o esperado, antecipando ousadias previstas para dias mais à frente.

Isso tudo trazia para mim sentimentos há muito vividos e pouco previstos para essa viagem devido a já citada proximidade com o verão.

Hoje posso dizer que foi um dos melhores dias dessa viagem, no que se refere a pilotagem. Momentos de intensidade única. Estrada vazia, curvas de raio curto, asfalto liso e recém pavimentado e pneus novos com performance surpreendente.

Não seria exagero dizer que meu desempenho foi um dos melhores entre tantos outros vividos em todas as minhas viagens. Estava surpreso com a simbiose readquirida em tão pouco tempo, lembrem-se, estávamos no primeiro dia e tudo isso me fazia acreditar que essa seria uma grande viagem. Isso fez diminuir a prévia de desconfiança na qualidade desta.

Paramos próximo a São Sebastião da Bela Vista, MG, para abastecer, beber uma água e breve descanso; eram duas e pouco da tarde. Trocamos informações com frequentadores do posto e seguimos.

Estava tudo indo muito bem, as curvas em asfalto de primeiríssima se acumulavam prazerosamente.

O previsto seria dormir em Pirassununga, mas faltando uns 50 km para chegarmos em Poços de Caldas a chuva começou a cair. Ela veio forte solicitando que parássemos para vestir os impermeáveis. Porém a estrada não oferecia lugar seguro e coberto para essa tarefa, até aparecer um posto meia boca onde paramos e fomos informados que Poços de Caldas não estava longe e como já estávamos iguais a dois gatos escaldados, não havia motivo para perder tempo vestindo os impermeáveis.

Ainda chovia quando chegamos na cidade e após três hotéis lotados encontramos um que se mostrou bem ruinzinho – Hotel Guarany. Para vocês entenderem, em um determinado momento a simpática atendente estava fazendo chapinha enquanto nos atendia informando que os quartos não tinham ar condicionado.

Levamos as bagagens para nossos quartos e voltamos para levar as motos ao estacionamento distante uns 500 metros. Quando voltamos ao hotel a chuva ainda mantinha nossos corpos molhados e nossos humores em declínio.

Ao entrar no box, descobri que o chuveiro elétrico, apesar de boa pressão, não funcionava e o banho foi nessa temperatura mesmo porque não ia me vestir para fazer a reclamação, esperar uma possível troca de quarto ou conserto do chuveiro. Eu estava cansado, molhado e com fome em demasia para acumular mais um problema, uma das vantagens de estar só, decidir sem discutir. Tudo compatível com o valor do pernoite; R$ 80,00. 


Jantamos uma boa pizza na Cantina do Araújo. Espaço amplo e agradável com atendimento de primeira, feito pelo simpático garçom. E fomos dormir.
 


Após um café da manhã maroto, buscamos as motos, acomodamos a bagagem e seguimos até os arredores de Pirassununga onde paramos para um pequeno lanche. Seguimos até Santa Rita do Passa Quatro, SP, onde abastecemos. Passamos pelos arredores de Bauru, reabastecemos, arredores de Ourinhos, e chegamos em Cambará, já no Paraná.

O número de retas aumentou nesse trajeto, mas as curvas ainda eram em quantidade satisfatória provendo prazer suficiente, mantendo o astral em alta. Ainda eram estradas novas, de boa qualidade e o tempo, apesar do chuvisco no início do dia, se firmava agradavelmente nublado com temperatura amena.

Em Cambará abastecemos e nos indicaram o Hotel Bourbon. 


O hotel, de excelente qualidade fazia jus aos R$ 249,00 mais R$ 101,00 de despesas, pagos na manhã seguinte. O delicioso jantar oferecido arrematava o conforto do quarto.

Em contraste com o anterior, dessa vez o café da manhã foi digno e revigorante.


Partimos cedo, em direção a Londrina onde estava previsto encontrar e almoçar com Cláudio, parceiro da minha 3ª viagem, hoje residente nessa cidade.

As estradas permaneciam de boa qualidade e as curvas voltaram em maior quantidade. A chuva caía em volume razoável e o comportamento dos pneus nesse ambiente se mostrou notável. A velocidade, apesar de menor do que nas viagens anteriores ainda oferecia muito prazer e o objetivo de pilotar em estradas sinuosas estava sendo cumprido à risca e sem riscos.

Estávamos bem e a chuva já havia sido deixada para trás quando Reinaldo sinalizou para pararmos. Ele já havia citado sua preocupação com o nível do líquido de arrefecimento de sua moto e após nova verificação sua preocupação aumentou. O reservatório auxiliar de expansão estava vazio, o normal é estar entre as marcações de limites inferior e superior do mesmo. Sem opção, decidimos seguir e parar na concessionária em Londrina.

Em resumo, Reinaldo teve um problema com o radiador dessa moto – BMW GS 850 -há um ano atrás. Tecnicamente o problema havia sido resolvido, mas houve uma batalha jurídica em paralelo, pois esse problema tem acontecido com frequência nas motos desse modelo. Existem vários vídeos na internet sobre isso e a BMW ainda não abriu o recall para solucionar; apesar de algumas concessionárias já fazerem a troca gratuitamente. A substituição foi feita, porém, ele teve de arcar com os custos.  Acionou a justiça e venceu a causa sendo restituído integralmente. 


Enquanto ele era atendido, contatei Cláudio que nos encontrou na concessionária menos de uma hora depois.

Humberto, o chefe dos mecânicos, bastante atencioso, como todos os demais com quem tratamos, mostrou que o reservatório estava cheio, além do limite superior por isso parecia vazio para um leigo. Esclareceu o funcionamento do sistema, fez os procedimentos e testes que julgou necessários e entregou a moto. 


Permanecemos mais um bom tempo na concessionária conversando com Cláudio. Grande figura que hoje abandonou as estradas. Pilota uma Triumph Bonneville e pega estrada apenas para ir a Curitiba visitar familiares. O papo foi excelente onde colocamos em dia histórias de nossas vidas desse tempo em que não nos víamos, desde nossa viagem... 


Saímos da concessionária, abastecemos e seguimos em direção a Campo Mourão onde estava previsto nosso 2º pernoite. Havíamos perdido um dia com chuvas e essa parada, porém, dormir em Campo Mourão nos colocaria dentro das rotas diárias previstas inicialmente.

Almoçamos em Maringá na Lanchonete Paraiso e seguimos para Campo onde pernoitamos no Santa Maria Business Hotel. De boa qualidade, mas um pouco caro para o que oferece; R$ 245,00 o pernoite.

A cidade é tranquila. Como era uma 2ª feira, estava vazia e quase tudo fechado. Encontramos o Casarão Petiscaria. Simpático e agradável. Comemos bem, mas nada de extraordinário, porém, a cerveja estava ótima, geladíssima.

E foi aí que, conversando, descobri que não havia levado o passaporte para entrar no Uruguai. É sabido que para atravessar a fronteira é necessário o passaporte ou uma carteira de identidade atualizada; não serve a carteira de habilitação, como alguns pensam. A CNH só serve como identidade aqui no Brasil. Mais um problema.

A Carta Verde, outro documento necessário, iríamos adquirir em Uruguaiana, RS.

Mudando o roteiro, decidimos seguir até Pato Branco e de lá voltar para leste em direção a Serra do Rio do Rastro e depois as serras gaúchas. De bom seria passar pelas Serras Catarinenses o que não estava previsto no roteiro inicial.

Verificamos também que os preços no Uruguai estão proibitivos então, com a gasolina custando R$10,00 o litro; a mudança não seria tão ruim assim. Com isso, deixaríamos de percorrer os pampas gaúchos e uruguaios providos de detestáveis retas e mais retas. Ponto para a mudança.

Voltamos para o hotel, dormimos e após um bom café da manhã, ao chegar no estacionamento do hotel para colocar as bagagens nas motos, me deparei com a seguinte imagem... 


Ao ver me aproximando, nosso amiguinho voou para uma viga do telhado e lá ficou nos observando completar os procedimentos logísticos. Seguimos viagem.
 


Partimos rumo a Pato Branco conforme decidido. E 129 km depois, pegamos à direita em uma bifurcação para acessar uma estrada que, na época da elaboração do roteiro, pareceu ser bastante sinuosa. Restava saber o estado da pavimentação.

Não nos decepcionamos, a estrada era maravilhosa. Recém pavimentada, curvas em profusão, quase sem retas, pouco movimentada, tempo meio nublado e temperatura agradabilíssima. O que queríamos mais?

Bailamos em êxtase por excelentes mais de 120 km onde a simbiose entre homem, máquina, pneus e asfalto, em alguns momentos, aproximou-se ao limite do risco.

E assim foi até chegarmos em Laranjeiras do Sul onde abastecemos e fizemos um breve descanso, hidratação e um bom papo com os frequentadores do posto que falaram da recente pavimentação desse e de outros trechos que o estado do Paraná fez e está fazendo em suas estradas.

E qual não foi nossa surpresa ao verificar que ainda havia mais prazer a desfrutar. Após mais 60 km, nos arredores de Saudade do Iguaçu cruzamos o Rio Iguaçu. Paramos na ponte para apreciar o entorno... 






A estrada até Pato Branco, onde almoçamos, permanecia igual tanto no que se refere a sinuosidade como qualidade e o tempo seguia como antes, foi um dia glorioso até chegarmos nessa cidade.

Após o almoço, seguimos a fim de pernoitar em Caçador, já em Santa Catarina. Seria uma rota não prevista no roteiro inicial e a ausência de um computador dificultou a elaboração do novo.

Pernoitar em Caçador fez parte da minha primeira viagem. Não aconteceu nada de diferente quando estive lá, mas essa passagem me deixou algumas boas lembranças que me pedem revê-las sempre que elaboro novo roteiro pelo sul.

Porém, a ideia de dormir em Caçador não durou muito. Próximo de Palmas a pista a nossa frente estava com tráfego literalmente parado. Seguimos pela esquerda, em velocidade reduzida, evitando os que vinham na direção contrária, ultrapassando os carros, ônibus e caminhões parados até chegar à frente de todos; a vantagem de viajar de moto. Estavam trocando a pavimentação para concreto. Muita areia e confusão.

Descemos das motos e fomos conversar com o rapaz que controla o trafego. A duração da parada seria de mais de uma hora e após nossa chegada seria quase uma hora de espera. Além do rapaz, já estava lá um professor de história falador de papo agradável. Estava em uma Honda 250 seu meio de transporte até para viagens. Contou boas histórias. Minutos depois chegou outro que é motorista de uma empresa fornecedora da obra. Também com excelente humor. Ficamos os quatro conversando enquanto o primeiro fazia seu trabalho. Apesar do calor, o sol já dava o ar de sua graça, a conversa fez o tempo voar. Nos despedimos e cada um seguiu seu caminho.

Em certo momento da conversa o motorista disse que se fossemos para Caçador iríamos encontrar outra parada igual àquela, conversamos e resolvemos pernoitar em Palmas.

Poucos quilômetros depois chegamos à cidade. Paramos em uma loja em uma esquina para nos informar sobre hotéis. O proprietário, muito atencioso, ofereceu água e café. 


E nos mostrou sua BMW GS 1200 Edição Especial, comemorando os então 5 anos da inauguração da linha de montagem em Manaus, que eu não conhecia. Linda, conservada e pouco rodada. 


Conversamos bons minutos e após a indicação do hotel, partimos com esse destino no Wase.

O Hotel De Fratelli – R$ 150,00 - fica quase na saída oposta da cidade. Agradável, boas instalações onde, após o banho, jantamos. A comida honesta foi o suficiente para atender as necessidades do momento. 


Após check-in, malas no quarto e um bom banho, desci e Reinaldo já me aguardava para o jantar. Comemos no hotel, um variado bufe sem restrições de quilo bastante saboroso. Depois, saímos, fumamos um “cigarrimdipaia” e nos deparamos com o seguinte... 



E subimos para nossos quartos para dormir. 


No dia seguinte, após um bom café da manhã, fechamos a conta e fomos levar a bagagem para as motos. A garagem estava mais iluminada e nos deparamos com essa maravilha...
 


Um antigo caminhão Mercedes Benz L 312 em excelente estado que estava na garagem e não tínhamos visto quando chegamos na noite anterior.

Bagagens nas motos e seguimos em direção a São Joaquim, SC. Após 104 km paramos em um posto em Água Doce, onde fizemos um lanche rápido e abastecemos as motos. Mais 157 km, paramos em São José do Cerrito e novo abastecimento. O tanque da moto de Reinaldo é menor do que o da minha por isso tantas paradas para abastecimento. 


A estrada percorrida nessa manhã estava em ótimo estado, mas chovia um pouco e a lama deixada pelos caminhões que a acessavam, oriundos das fazendas e sítios do entorno, prejudicaram um pouco o desenrolar do início dessa perna da viagem. Estávamos nas Serras Catarinenses e em dado momento, quando a sujeira ficou para trás, conseguimos retomar velocidades esperadas. A sucessão de curvas e poucas retas em asfalto de qualidade percorridas nessas velocidades confirmaram a excelente qualidade dos pneus recém instalados.

Em poucos dias já havíamos atingido a confiança necessária nesses pneus e nossa pilotagem fluía na simbiose do “tetravirato” formado por homem, máquina, pneus e estradas. A chuva que lavava o caminho acrescentava mais prazer devido a performance fantástica dos pneus. Nessas condições eles se comportaram de forma primorosa, com aderência impar proporcionando segurança estrema, permitindo ousadias nunca vividas, ao menos por mim, em piso molhado. Nós estávamos em êxtase mais uma vez.

Obrigado Senhor!

Quero deixar aqui registrados meus elogios à Michelin pela evolução constante de seus produtos principalmente no que se refere a pneus para motocicletas. Desde que comecei a rodar em estradas sobre duas rodas utilizei algumas versões desse produto, desde o Anakee 3; já se passaram mais de 15 anos nessa brincadeira. Além disso, tenho certo conhecimento com alguns funcionários e sei da preocupação desta empresa em estar sempre à frente das demais. Posso estar errado afinal, não sou nenhum expert, mas não vejo nos concorrentes produtos similares.

Estávamos em Lages, na frente do Vidal Restaurante onde almoçamos. 


O atendimento foi ótimo, comida excelente cuja carne estava macia e suculenta. A tradicional salada de batatas junto com a deliciosa polenta frita arremataram o prato. Repeti, bebi um café e fomos para a varanda fumar um “cigarrimdipaia” e apreciar a constância da garoa.

Faltavam 71 km para São Joaquim, local previsto para o próximo pernoite.

A estrada, já conhecida, não deixa nada a desejar em relação as anteriores o que completou o excelente dia agora meio ensolarado.

Na solidão do excelente capacete LS2 adquirido há poucos meses na KPA7, loja especializada no Città América, na Barra da Tijuca, no Rio, cujo dono, Fernando, bastante atencioso, conhecedor do assunto e de excelente papo, atende muito bem. Indico sem receios.

Lembrando: para a minha antepenúltima viagem havia comprado, em outra loja, um Norisk que me incomodou por toda a viagem. Na penúltima voltei a usar meu Schubert que havia comprado para minha segunda viagem e quebrou na última em uma ida à Brasília para um compromisso profissional.

E agora no LS2 eu ouvia o baixo zunir do vento que emoldurava meus pensamentos entremeados pela voz familiar do GPS avisando dos radares e lombadas.

Até então foram cinco dias de aprimoramento da simbiose em estradas, na maioria desconhecidas, porém, prazerosíssimas. Estava feliz com a parte do roteiro previamente escolhido e também da parte modificada que, tirando os pequenos problemas, faziam dessas escolhas 100% aprováveis por qualquer motociclista.

Em São Joaquim paramos em um posto para abastecer e obter informações sobre hotel. Conhecemos Eder, motociclista que estava trocando o óleo do carro. Conversamos bons longos minutos. Ele ligou para um amigo cujo hotel já estava lotado, sugeriu outro que também estava lotado. O terceiro, bem no centro, tinha vaga – R$ 140,00.

O dono, bastante atencioso nos recebeu muito bem. Informou não haver ar condicionado nos quartos porque em São Joaquim isso é desnecessário devido ao clima frio durante quase todo ano. Subimos, banho, um descanso rápido e saímos para procurar um lugar para jantar.

A bela cidade tinha suas ruas limpas e vazias, provavelmente devido a garoa que voltou a cair. Passamos pela tradicional praça, por um restaurante que ainda estava fechado e chegamos a uma pizzaria que iniciava o movimento da noite. 


Era cedo, entramos, pedi uma cerveja e disse que não estávamos com pressa e iríamos esperar aumentar o movimento (o forno aquecer) para fazer o pedido. Sentamos e comecei a reparar na decoração do espaço. Rustica e aconchegante.

Qual não foi nossa surpresa ao ver Eder adentrar ao recinto. Ele é o proprietário da Plátano Pizzaria. 


Sem que percebêssemos mandou trazer como cortesia uns pequenos cubos de pães caseiros e torrados para serem mergulhados em um molho delicioso. Nada sobrou enquanto conversávamos sobre a vida. Momentos depois pediu licença e foi tratar de suas tarefas, mas não deixou de passar de volta alguma vezes enquanto degustávamos a deliciosa e surpreendente levíssima pizza que escolhemos.

Era uma 4ª feira chuvosa, mas o movimento na pizzaria estava muito bom. Em um canto especialmente destinado a crianças, às 4ªs feiras, o pizzaiolo as ensina a fazer pequenas pizzas e degusta-las. Elas estavam se divertindo muito, os pais consumindo e babando por cada movimento de seus filhotes mestres cucas. Tudo isso sob um valor simbólico de R$ 35,00, fora o consumo dos pais embebecidos. Jogada de mestre. 


Voltamos debaixo da insistente garoa, para o hotel, satisfeitos e cansados.
 


Ao adentrar no recinto do café da manhã, vi uma mesa com frutas, sucos, pães e algumas guloseimas tradicionais da região que a simpática responsável (esposa do dono) explicou cada um deles com orgulho de seus feitos culinários. Como vinha fazendo diariamente, iniciei com mamão e melão, depois ovos mexidos, pão com manteiga, presunto e queijo, suco e finalizei com um copo de iogurte de morango com granola. Excelente. Claro que nesse caso acrescentei uma das guloseimas apresentadas, uma delícia.

Seguimos em direção a Serra do Rio do Rastro que Reinaldo conhecia, mas ainda não havia percorrido em nossa primeira viagem porque estava fechada devido a obras nas encostas.

Estradas também já conhecidas e agora recapeadas acompanharam a sinuosidade e qualidade das anteriores, foram quase 50 km mantendo nosso astral em nível elevadíssimo. No caminho paramos na Churrascaria da Cascata, que conheci em minha primeira viagem e sempre que vou ao sul passo por lá. O dono, também motociclista de longas viagens, nos recebeu muito bem, como sempre. Era cedo e eles estavam iniciando as atividades do dia. Bebemos café, água e conversamos quase uma hora. Jaime, recém pai de gêmeos estava radiante com seu feito. 



Ao voltar para as motos reparei que a coifa da ponta do cardã estava solta. Fizemos um gatilho com esparadrapo e como fiquei preocupado com a possibilidade de ter entrado lama nas engrenagens, resolvi passar em uma concessionária para verificar e resolver o problema. Criciúma, fica no caminho e é a mais próxima.

Como eu na 1ª vez, Reinaldo estava maravilhado com as curvas da Serra do Rio do Rastro, era sua primeira vez. Para mim era a 4ª e apesar da beleza do entorno acho as curvas muito fechadas que aliadas a humidade da região e da pista me dão certo receio, ainda mais descendo. Dessa vez fui devagar apreciando o visual.

Paramos em Lauro Muller para reabastecer, um lanche e verificar o endereço da concessionária em Criciúma. A esposa de Jaime havia trabalhado lá antes de ter os bebes e ele falou para citá-los pois assim iríamos ser muito bem atendidos.

Em Criciúma, demoramos um pouco para chegar na concessionária. Fomos muito bem atendidos e a moto logo foi para o elevador para os procedimentos. Acompanhamos tudo de perto e o mecânico respondia a todas as nossas dúvidas com paciência. Executou o serviço com maestria e presteza.



Em dado momento informou que ali, no atendimento ao recall para troca do eixo cardã é praxe a troca das coifas em motos acima de 60.000 km. A minha estava com aproximadamente 78.000 na época do atendimento ao recall e aqui no Rio não fizeram essa troca e eu fiquei com o problema.

Citei Jaime e sua esposa apenas ao pedir para fecharem a conta e com isso recebi um desconto, paguei R$ 900,00. Tudo pronto o mecânico ainda mandou fazer uma lavagem rápida antes de sairmos. Saí de lá cogitando fazer minhas próximas revisões lá. O Atendimento é tão bom como aqui no Rio, mas, depois de tantas viagens ao sul, adquiri a certeza de que os serviços, de qualquer área, de uma maneira geral, são mais bem feitos nessa região; deve ser assim para motos também.

Quando íamos seguir viagem caiu um toró dos grandes, aguardamos até diminuir e saímos sob chuva com destino ao próximo pernoite, Torres, já no litoral do Rio Grande do Sul.

Quase 100 km na monótona, cheia de pedágios e lotada de radares BR-101 depois, chegamos a cidade. O hotel escolhido fica a dois quarteirões da praia e depois de feito o check-in, ainda com as roupas da viagem dei um pequeno rolê pela avenida litorânea a fim de verificar as mudanças realizadas desde a única vez que estive no local. Prédios altos e em profusão destoam com o que vi há mais de 40 anos atrás, previsível, mas surreal. 


Um banho e descemos para o jantar. Fiz contato por Whats App com Jeff, motociclista, membro dos Flecha de Prata, grande amigo e parceiro de vários bate e voltas entre Rio e São Paulo, que recém havia estado em Torres e indicou um restaurante de frutos do mar não muito próximo. Reinaldo estava cansado então fomos a uma hamburgueria do outro lado da rua do hotel. Excelente atendimento e para mim divino hamburguer. Gosto muito desse tipo de comida. Depois, voltamos para o hotel.

Com garagem, quarto espaçoso, aconchegante, confortável, com ar condicionado e café da manhã farto, tudo por R$ 170,00. 


Foi no salão do excelente café da manhã que vi um quadro de Torres na época em que lá estive...
 


A diferença é gritante. Recordei bons momentos lá vividos há quase 40 anos em férias de verão passadas no Rio Grande do Sul.

Mais 45 km de tediosa BR-101 até entrarmos à direita, na altura de Terra de Areia, em direção a Caxias do Sul. Era nossa primeira vez subindo por esse lado das serras gaúchas. Nas outras vezes eu saí da BR-116 passando por Vacaria. O novo caminho começou com pequenas retas e curvas de raio longo até chegarmos ao pé das serras. Visual interessante com a estrada relativamente cheia. Na subida as curvas se tornaram mais frequentes e as retas bem menos. Subíamos com a desenvoltura adquirida e desenvolvíamos uma boa velocidade. Reparei que, diferente da nossa, na pista de sentido contrário havia uma elevação longitudinal devido ao desgaste. Isso me manteve alerta por todo o trajeto, pois poderia haver o mesmo à frente. Apesar da preocupação seguíamos com segurança desfrutando o visual e as curvas. Até que em certo momento, após uma curva fechada, do nada, estava em um túnel. A falta iluminação e o susto aliado a sub-viseira escura que usava, me fez apertar com parcimônia o freio dianteiro e um calafrio subiu pela espinha.

Detalhe: minha moto, como várias outras big-trails possui um sistema eletrônico auxiliar de frenagem que balanceia a intensidade da frenagem em 70% na dianteira e 30% na traseira. Isso faz com que seja necessário frear apenas o dianteiro que o sistema faz o resto.

A preocupação era além dos carros a frente, Reinaldo que vinha atrás, poderia reagir diferente e ...

Poucos quilômetros depois, mais um túnel, nas mesmas condições. Passamos ilesos mais uma vez.

Mais uns poucos quilômetros e paramos em um grande recuado à direita onde há um grande restaurante e algumas barracas onde vendem guloseimas e bugigangas da região; delícias que o pouco espaço na bagagem não permite trazer. Fizemos um lanche e fomos apreciar a linda vista do mirante. O local estava relativamente cheio e conhecemos um motociclista da região com uma Triunph Tiger 900 que vinha em sentido contrário. Da região, solícito, que prefere fazer trajetos off-road. Informou que não havia mais túneis à frente e passamos a trocar informações gerais sobre viagens enquanto desfrutávamos de um “cigarrimdepaia” e do visual.

 



Nos despedimos e seguimos em frente. Entre as serras as retas se tornaram mais frequentes e as curvas com seus raios maiores. E assim foi até Caxias do Sul onde paramos em um posto para contatar Fernando, outro membro dos Flecha de Prata e parceiro de bates e voltas como Jeff.

Grande cara, gaúcho que morava no Rio e mudou-se para Caxias sua cidade de origem. Eu e Reinaldo o conhecemos há alguns bons anos no Postinho da Lagoa no dia em que tínhamos ido à Barra da Tijuca pegar minha primeira GS 1200, ano 2008, que havia comprado de um colega da empresa em que trabalhava. Paramos no posto e Fernando estava lá, com sua KTM 99 Adventure laranja, conversando com Luiz, outro membro dos Flexa, com sua BMW GS 1200, branca. Conversamos por um bom tempo e dias depois comecei a fazer bates e voltas com o grupo por vários anos, conhecendo os demais membros do grupo. 



Deixamos as motos na garagem de Fernando e fomos almoçar em uma galeteria que ele frequenta. O papo estava ótimo, com várias boas e hilárias recordações daquela época.

O atendimento de primeira nos apresentou um sistema de rodízio tradicional da região que oferece uma deliciosa sopa, uma excelente salada de folhas com pequenos pedaços de bacon, uma salada de batatas dos deuses, polenta frita recheada com queijo da região ou sem recheio, ambas torradas a perfeição portanto deliciosas e o galeto em pedaços generosos que mais pareciam pedaços de frango. 


A conversa sobre aqueles bons tempos aliada a saborosa comida me trouxe fortes e emocionantes saudades.

Voltamos para pegar as motos e seguir viagem em direção a Guaporé. Destino escolhido para o pernoite devido a sinuosidade da estrada que o Maps mostrou na elaboração desta perna. Bento Gonçalves e Garibaldi já eram conhecidas de outras viagens; resolvemos apenas passar por fora.

A estrada, agora conhecida, permanecia como nas outras vezes, asfalto de boa qualidade, curvas generosas e visual deslumbrante. Dobramos à esquerda no acesso a Guaporé, pegamos uns 800 metros de paralelepípedo, depois mais uma sinuosa estrada, desta vez de qualidade inferior, que em dado momento tinha a sua direita um rio de largura considerável.

Reduzimos o peso da mão nos aceleradores e passamos, estarrecidos, a observar o entorno. Às margens do rio via-se as árvores caídas ou inclinadas na direção da correnteza do rio. Estávamos em uma região bastante afetada pela recente enchente ocorrida entre abril e maio desse ano. Das casas nas margens só se via o terreno, pedaços de fundações e piscinas o resto, acima disso havia sumido. Não eram poucas as casas nessa situação que aliadas a precariedade de trechos da estrada e as pedras que caíram da encosta à esquerda formavam um cenário desolador.





Eu estava imaginando não só o prejuízo como o número de vidas humanas ou não perdidas apenas naquele trecho de aproximadamente 60 km. Outros trechos dessa viagem que ainda iríamos passar encontram-se na mesma situação. E pensar que o que está sendo feito para minimizar o ocorrido não tem a participação do governo federal é desanimador. Fica aqui registrada a resiliência do povo gaúcho que com a ajuda de empresas locais estão recuperando o possível.

Durante nossa passagem pelo Rio Grande do Sul, sempre que pertinente, falamos a consternação que nós cariocas de bem sentimos e ainda sentimos pela situação em que os bravos gaúchos passaram e ainda passam; citando as várias campanhas para angariar mantimentos e donativos que fizemos, para enviar à região afetada. Eles agradeciam, alguns com os olhos marejados. Nosso espanto era quando entrávamos em locais providos de televisão que estavam sintonizadas naquele canal nefasto e desumano, a #GloboLixo, cujos jornalistas e atores pouco ou nada fizeram para auxiliá-los.

E em determinado momento, vimos uma pequena fila de carros e caminhões. Aguardavam a balsa para atravessar o rio (uns 30 metros de largura) pois a pequena ponte havia sido levada pela enchente.


Estávamos tristes e espantados com tanta desgraça.

Chegamos em Guaporé cujos hotéis estavam lotados, pois naquele fim de semana haveria uma corrida no autódromo de Tarumã, próximo.

Ainda era cedo e resolvemos seguir até a cidade mais próxima a fim de encontrar um hotel com vagas. Em poucos quilômetros vimos um motel e pegamos dois quartos, R$ 70,00 cada. A vantagem, aprendida com Jeff é, não só o preço como a proximidade da moto, do lado do quarto, assim como a certeza de haver ar condicionado, banheiro limpo e cozinha funcionando 24 horas. Nesse caso não havia comida, a cozinha estava em obras e como o acesso era de terra, pedras e em subida ficamos receosos de sair para jantar e ter de voltar por ali. Ficamos com os poucos salgadinhos, chocolate, cerveja e água do frigobar.

Fernando ligou e depois de saber que havíamos chegado bem, passou para um amigo, outro motociclista conhecedor da atual situação da região, que nos indicou o melhor trajeto para o dia seguinte irmos para Nova Petrópolis, como planejado. Teríamos que voltar quase até Caxias do Sul o que irritou Reinaldo que não queria voltar e sim seguir em frente. Mas foi convencido pelo amigo que havia informado que nesse caminho haveria duas ou três pontes caídas que obrigavam os veículos aguardarem até horas para atravessar, já que as novas pontes provisórias permitiam a passagem de apenas uma fila (ida ou volta) por vez e que isso iria tomar muitas horas de nossa viagem. 


Acordamos cedo para não ultrapassar o limite da hora de estadia e sem café da manhã. Saímos com destino a Nova Petrópolis sendo mais de 100 km em sentido contrário ao percorrido no dia anterior. O sol dava o ar parcial de sua plenitude e a temperatura estava amena. Passamos pelos arredores de Bento Gonçalves, Garibaldi, Carlos Barbosa, São Vedelino, Feliz, Vila Cristina, e pegamos a BR-116 para o destino; percorrendo os 165 km previstos.

No meio disso, avistamos e paramos em um belvedere abandonado cuja vista...


O plano era tomar café nos arredores de Garibaldi e assim fizemos. Paramos em um grande posto, abastecemos, tomamos um bom café da manhã e ao sair da loja de conveniência conhecemos dois motociclistas que estavam indo trocar uma das Harley por um modelo 0 km recém comprada. Bom papo e boas risadas depois, eles, assim como nós, partiram.

Estávamos do outro lado das serras gaúchas. Boa pista, boas curvas, poucas retas e pouco movimento. Rodávamos redondo aproveitando ao máximo o que aquele cenário nos oferecia. Adrenalina em nível prazeroso e seguro.

Poucos quilômetros antes do destino atravessamos o rio por uma ponte provisória instalada ao centro do caos provocado pela inundação. 



Seguimos em frente e chegamos em Nova Petrópolis na hora do almoço. Achamos uma pousada com as duas ultimas vagas, fizemos o check-in com previsão para duas noites. Na recepção havia um simpático casal com quem trocamos algumas palavras e nos indicou onde almoçar. Subimos para nossos quartos, um banho e vestindo roupas limpas, fomos almoçar onde indicado. Estava cheio e o casal já estava na fila de espera. Conversávamos animadamente quando foram chamados. Minutos depois chegou nossa vez. Sentamos à mesa e quem estava ao nosso lado? O mesmo casal. Continuamos a conversa e à mesa do outro lado sentou a mãe e sua filha. A mãe, uma senhora bastante simpática, após saber que éramos motociclistas em viagem, contou de suas estripulias a cerca de motocicletas. Fã ardorosa desse meio de transporte nos mostrou fotos e vídeos de eventos motociclísticos que ainda hoje frequenta.

O amplo ambiente cheio e agradavelmente barulhento. Na entrada um grande e variadíssimo bufe e ao lado uma área fumegante de assados. A comida estava deliciosa, salada, carne, linguiça apimentada ou não, salada de batatas etc. Claro que repeti. Depois, um belo e saboroso pudim de leite e depois musse de chocolate. Não precisava mais nada.

Depois das despedidas de praxe, saímos para dar uma volta na cidade...

Na saída do pequeno shopping havia mais um motociclista e sua Harley. Conversávamos por bons minutos quando ele nos indicou a Tenda do Umbu. Local tradicional de reunião de motociclistas, próximo da cidade. Resolvemos dar uma passada antes de ir para Gramado no dia seguinte. 




Voltamos para o Hotel para um descanso. À noite saímos para jantar e passamos por um local destinado a grandes eventos. O Natal na região começa cedo, outubro, e a cidade é tradicionalmente decorada... 



Naquela noite o prefeito entregou a chave da cidade ao Papai Noel...
 



Ficamos por ali, vendo o movimento e conversando com algumas pessoas da região que, de alguma forma, participavam do evento. Era uma pequena, mas bem movimentada feira com muitas barracas vendendo artesanato, comidas típicas etc. Depois fomos a um restaurante alemão na esperança de degustar algo tradicional dessa culinária, mas o menu só oferecia pizza, alguns tipos de carne bovina e galináceas ou massa. Pedi um Carbonara e Reinaldo um filé que segundo ele estava ótimo. Meu Carbonara tinha a massa misturada com bacon e ovos mexidos, nada a ver com o tradicional prato italiano, mas estava muito bom. Na volta passamos no local onde o prefeito entregou a chave da cidade ao Papai Noel que, em contraste com o movimento da cidade, ainda estava relativamente cheio.


Na manhã seguinte, um excelente café da manhã. E seguimos para a Tenda do Umbu. Um grande posto de gasolina que fica a aproximadamente 20 km de Nova Petrópolis, no sentido contrário de Gramado. Tradicional local de reunião de motociclistas que fica lotado aos fins de semana e feriados. Conhecemos dois novos amigos, Julian e Marquinhos e com eles ficamos conversando por longos e bons momentos e apreciando as motos que iam e vinham. 



Uma grande lanchonete oferece lanches e pasteis diversos e um espaço destinado a comercialização de equipamentos para motociclistas. Luvas, capacetes, botas, casacos, camisas e demais acessórios... Bebi apenas um café e água, pois o plano era ir almoçar em Gramado.

Quando começaram as “exibições” de alguns poucos idiotas com acelerações desnecessárias, empinos arriscados e demais manobras sem noção eu falei:

“Rei, vamos embora, não estou a fim de ver um provável acidente.”

“Vamos nessa”

Respondeu enquanto um de nossos amigos disse:

“É, vamos também. Não é raro um acidente quando começam a fazer essas babaquices.”

E saímos em direção à Gramado enquanto eles iam encontrar suas famílias para um tradicional churrasco gaúcho.

Escrevendo esse texto, com o auxílio do Google Maps vejo que poderíamos ter seguido em frente e feito um caminho maior e talvez melhor, em vez de voltar por Nova Petrópolis para ir para Gramado, mas como ninguém levantou essa possibilidade então...

Mas estávamos nas serras gaúchas sendo assim, muitas curvas e poucas retas foi o cenário. Mais algumas obras em função da tragédia já citada... 


Chegamos e iniciamos a procura pelo restaurante à quilo que nossos amigos haviam indicado, que esqueci o nome. Ambiente agradável, meio rústico, bem frequentado, com excelente comida da região que logicamente repeti. Tudo arrematado com uma excelente musse de chocolate que também repeti.

É de conhecimento geral o excelente nível da culinária do Rio Grande do Sul. De origem italiana e alemã cujos sabores são conhecidos mundo a fora. E não poderia ser diferente quando a união dessas duas culturas se junta a nossa e a tradicional simpatia, bom humor e excelente atendimento oferecidos por seus descendentes. Alia-se a isso o fato de estar desfrutando férias ou afins. Você esquece das preocupações da vida inclusive do custo das coisas que está consumindo nesses momentos. Uma união de fatos e sentimentos únicos e inesquecíveis.

Saímos, atravessamos a rua e entramos em uma cafeteria. Um expresso e um segundo porque o atendente entendera que Reinaldo queria um. As sacanagens a cerca de futebol de praxe, muito bem recebidas por ele e seu colega de função, mais uns minutos de bom papo, pagamos e fomos para a rua em direção às motos fumando um “cigarrimdipaia”.

Voltamos às curvas em retorno para Nova Petrópolis para abastecer as motos, um revigorante banho e descanso antes do jantar.

Por indicação da atendente do hotel, andamos poucos metros até chegarmos no Restaurante Deck. Amplo como uma belíssima decoração rústica, possui lareiras de metal no seu interior para aquecer os comensais em tempos de frio. Entre outros, o lugar oferece fondues variados e outros pratos. Escolhemos o Carnes na Pedra. Bons pedaços de entrecôte bovino, filé de alcatra, filé de frango e filé suíno, sobre uma pedra de granito quente, acompanhados de molhos da casa em pequenos potes. Excelente pedida que supriu bem nossos objetivos. O atendimento, como de praxe, foi muito bom. A cidade permanecia quase que totalmente deserta...

Hotel e cama, apesar de termos rodado muito pouco nesse dia, estávamos cansados. 


Após o café da manhã, colocamos as coisas nas motos, fizemos o check out e seguimos em direção a São Joaquim a fim de descer novamente a Serra do Rio do Rastro em direção a Blumenau onde iríamos pernoitar por dois dias na casa de Eduardo, um grande amigo dos tempos de faculdade. Seriam quase 580 km que com o descanso de dois dias em Nova Petrópolis não deveriam ser problema.

A estrada, nova para nós dois se mostrou muito interessante, mesmo com a temperatura um pouco elevada devido ao sol que se fazia presente quase que na sua totalidade. Nuvens branquíssimas espalhavam-se pelo céu, mas não amenizavam em nada essa temperatura. Boas curvas de raio longo eram uma constante que junto com o enormes pastos e plantações em terrenos quase planos revelavam parte dos Pampas Gaúchos.

A gasolina era consumida com certa velocidade o que me deixava apreensivo, já que não víamos postos pelo caminho. O GPS mostrava que estávamos no caminho, mas a ausência de movimento e de sinais mínimos de civilização contribuíam com minha preocupação. Em certo momento paramos em uma construção precária para nos informarmos da distância para o próximo. Após algumas batidas na porta recebemos a resposta:

“Uns 25 km à frente.”

Aliviados, seguimos apreciando com menos parcimônia o cenário e as curvas. Mais alguns quilômetros paramos para beber água, um café e confirmar a informação anterior. Era uma casa bastante rústica encravada no meio do nada onde a simpaticíssima proprietária surgiu confirmando a informação.

Nos convidou a entrar no cômodo anexo onde havia algumas mesas como em um pequeno restaurante. Sobre uma delas haviam alguns recipientes com arroz, feijão, carnes diversas e uma linda travessa cheia de polentas fritas. Ao fundo a cozinha onde ela estava preparando seus quitutes...

Perguntei quem iria comer tanta comida e ela explicou que estava fazendo quentinhas que vendia para os trabalhadores das empresas que fazem trabalhos nas estradas e/ou propriedades da região e que apesar de não parecer, eram muitos. Não me furtei a pedir um pedaço de polenta no que fui bastante incentivado por sua simpatia. Sua jovem filha ouvia atenta nossa animada conversa.

Perguntei e ela respondeu que morar naquele isolamento todo era um sonho para ela e o marido; que estava cumprindo seus afazeres na lida da roça. Sua filha frequenta a escola regularmente e o movimento proveniente da venda das quentinhas quebravam a monotonia do lugar mesmo suas tarefas sendo as mesmas diuturnamente. Era visível sua felicidade. Poderíamos ter almoçado lá, mas ainda era cedo para isso, infelizmente.

Em poucos quilômetros chegamos a Bom Jesus onde abastecemos. A estrada continuava vazia e não era das melhores devido a sua aparente longevidade, mas o asfalto estava bom. As curvas e curtas retas eram consumidas com maior prazer devido aos tanques cheios e a certeza de estarmos no caminho certo.

Era o caminho, mas não o mais curto. Havíamos retomado o roteiro original, voltando e só nesse momento é que iríamos passar pela Serra do Rio do Rastro e descendo. Para isso, teríamos que chegar em Lages, passar em São Joaquim e pela serra. Por isso, saímos de Bom Jesus, à esquerda em direção a Vacaria o que fez aumentar a quilometragem do dia. Nesse trecho passamos por uma ponte sobre o Rio Pelotas... 




Passamos por Lages, parando apenas para novo abastecimento. Passaríamos por São Joaquim, também sem parar a fim de almoçar na Churrascaria da Cascata, do nosso amigo Jaime (o feliz recém pai dos gêmeos) antes de descer pela segunda vez nesta viagem, a Serra do Rio do Rastro.

Mas não aconteceu assim. Atravessamos São Joaquim, onde errei o caminho. Achei estranho e parei em uma descida. Avisei e Reinaldo desceu mais uns metros para se informar. Fiquei esperando. Ao ver que ele retornaria, fiz o retorno e parei no cruzamento que havíamos errado, para dobrar à esquerda. Olhei para os dois lados e saí. Não vi o carro que vinha da direita e aí nossa viagem terminou.

Não foi uma batida forte. Isso aliado aos equipamentos de proteção minimizaram bastante as consequências em meu corpo. O saldo foi de contusões sem quebra de ossos nas mãos e alguns poucos dedos e uma costela fissurada nas costas; provavelmente do choque com o baú. De sangue apenas poucas gotas de um ferimento mínimo no indicador da mão direita.

A moto, algumas quebras e arranhões na lateral direita, um radiador furado, uma canela (amortecedor dianteiro) empenado assim como a traseira do chassi que também empenou. O baú foi arrancado junto com parte da traseira onde era fixado. Outros estragos menores, tais como piscas, protetor de mão etc. se somaram a esses...

Reinaldo que vinha atras viu tudo e disse que o estrago teria sido menor se o motorista tivesse freado, mas não o fez por aproximadamente 5 metros, arrastando e arregaçando a moto junto.

Ainda no chão, comecei a me mexer com cuidado para sentir o tamanho do estrago. Conforme observava que as coisas estavam no lugar, não sentia o tradicional quente do sangue escorrendo em algum lugar e as dores não pareciam ser contundentes. Estava bem e aos poucos, com a ajuda de alguém, me sentei, ainda no chão e outro alguém me ajudou a levantar. Caminhei com dificuldade em direção a calçada voltando a me sentar encostado a uma parede. Reinaldo perguntou se estava tudo ok dizendo que a batida havia sido fraca pois estávamos em velocidade reduzida. Ele então ligou para Eder (o dono da pizzaria em São Joaquim) que chegou em seguida. Falou comigo e levou a moto embora. Eu estava tranquilo, mas chateado com o fim da viagem. 



Logo chegou a ambulância cujos paramédicos fizeram os questionamentos de praxe. Um deles perguntou meus dados e minha data de nascimento. Perguntaram como me sentia, respondi que bem. Eles queriam me colocar em uma maca e me imobilizar, mas disse que estava bem e não precisava. Entrei na ambulância e o paramédico perguntou minha data de nascimento. Respondi sorrindo dizendo:

"você já perguntou isso."

“É de propósito para ver se você está realmente bem.”

Sorri novamente em aprovação e feliz por isso.

No hospital, as radiografias de praxe, sentindo que as dores aumentavam. Mas isso acontecia em grau baixo confirmando que realmente estava bem. As radiografias não mostraram fraturas e uma injeção aliviou as dores.

E foi na pizzaria de Eder que vi o real estado da moto. Ele disse que a ciclística estava comprometida o que impediria de seguir viagem. Encerrei as tratativas com o proprietário do carro e com o seguro no final da tarde e no dia seguinte chegaria um reboque para levar a moto e um carro para mim. Reinaldo insistiu que seguiria atras; o que seria deveras entediante para ele.

Voltamos ao hotel onde pernoitamos dias antes, um banho, bons minutos de descanso e fomos jantar na pizzaria do Eder.

A dor nas costas era uma constante que se intensificava a cada movimento. Isso aliado a perda de grande parte do roteiro da viagem traziam certa tristeza, mas o fato de o acidente ter sido em baixa velocidade e dentro de uma cidade e não na estrada era um alívio e motivo de agradecimento a Deus que sempre escolheu para mim as melhores formas de passar meus perrengues. Assim foi quando fui atropelado por uma pedestre que avançou o sinal quando eu voltava da faculdade, quando eu caí em uma curva cheia de óleo na volta de uma balada, ou nas quedas de praxe nos tempos em que fazia trilhas nos morros da cidade.

Neste caso, poderia ter sido na estrada, em um dos mais de 3.500 km, em uma curva em alta velocidade, mas ele escolheu me derrubar em uma das pouquíssimas situações da viagem em que estaria em baixa velocidade e isso tudo não me fazia pensar nos danos materiais em minha companheira de tantas viagens. Eu estava feliz por isso tanto que só fui verificar os detalhes desses danos quando cheguei no Rio. 


Depois do café da manhã, voltamos a pizzaria onde iríamos aguardar o reboque. Era uma picape S10 da Chevrolet com caçamba alongada e o motorista ofereceu que colocássemos as duas motos e seguíssemos dirigindo até o Rio e quando chegássemos ele iria buscar o veículo. Eu e Reinaldo conversamos e decidimos aceitar. Assim, não teríamos de conviver dois dias com alguém que não conhecíamos. Nada contra o motorista, até porque ninguém faz uma oferta dessas à toa e ele fez.

E assim fizemos, colocamos as motos na caçamba, fomos almoçar no restaurante à quilo do Eder, nos despedimos de todos e seguimos viagem com Reinaldo dirigindo. Eu queria me resguardar por mais um dia. 


Seguimos em direção a Lages. Rodamos pouco, 280 km, saímos de São Joaquim depois do almoço e em poucos quilômetros Reinaldo viu pelo retrovisor que uma das motos havia tombado. Paramos, mas as condições em que eu estava não permitiram que o ajudasse a fazer um trabalho descente. Tivemos que voltar para fixa-las melhor. Isso feito, retomamos a viagem que transcorreu tranquilamente em uma boa velocidade.

Entretanto, quando começou a escurecer vimos que os faróis da pick-up não acendiam, tínhamos apenas os faróis baixos. Outro problema era a dificuldade de passar a marcha ré. Precisávamos de alguns bons minutos para fazer essa marcha entrar. Isso deixou Reinaldo puto (😂😂😂) ele reclamava e eu dizia:

“Calma cara. Estamos voltando confortavelmente em ambiente refrigerado, a situação poderia ser outra.”

Paramos em Papanduva, ainda em santa Catarina, onde jantamos um delicioso hamburguer de uma bela hamburgueria local e pernoitamos em um hotel muito bom para um beira de estrada. Eram os dois últimos quartos livres e conseguimos uma vaga para o carro bem em frente a recepção que funciona 24 h.

Após um bom café da manhã seguimos viagem. Dessa vez eu estava dirigindo. Bons quilômetros depois estava tudo parado. Ao chegarmos ao fim da imensa fila, verificamos que a pista no sentido contrário estava completamente vazia e a nossa não andava; sinal de acidente que não deveria ser dos pequenos. Se fosse obra, ao menos uma das pistas estaria “andando”. Ficamos parados por quase uma hora conversando com outros motoristas. 


Recomeçamos a andar e em pouco tempo vimos um caminhão capotado e atravessado na pista que os funcionários da concessionária tinham acabado de mover abrindo uma passagem e por sorte a nossa pista foi a primeira a ser liberada.

Passamos por Curitiba quando verificamos que a mesma moto havia tombado novamente. Paramos em um posto a procura de um caminhoneiro que pudesse nos ajudar. Eu ainda sentia dores e Reinaldo sozinho não resolveria o problema.

Encontramos Marcos, muito gente boa que refez a “porratoda” com bom humor. Bebemos um refrigerante, batemos um bom papo e seguimos viagem. 


Com exceção dos problemas do carro, tudo transcorreu muito bem. Andávamos em boa velocidade, a estrada, Régis Bitencourt, duplicada e em excelente estado, um número considerável de boas curvas... Estava gostando de voltar a dirigir carro em estrada, mesmo esse carro problemático.

Passamos por São Paulo. São Paulo é aquilo, trânsito pesado, indicações nada precisas e confiáveis por isso perdemos o acesso ao rodoanel. As placas não mostram bairros ou cidades e sim ruas, avenidas, pontes, viadutos e estradas. Quem não mora lá e não souber por exemplo, que a Trabalhadores é a Ayrton Senna e que vai para Taubaté está ferrado. Eu sou um deles...

E assim fomos até chegar na boca da Via Dutra. Novamente estava tudo parado. Mais de uma hora em: primeira – ponto morto, primeira – ponto morto, primeira – ponto morto...

Mas eu estava tranquilo. Decidimos pernoitar logo que saíssemos de São Paulo; estava escurecendo e sem faróis...

À nossa esquerda uma grande obra nos acompanhava. Novas pistas viadutos etc. O governador Tarcísio está fazendo muito. Ao chegarmos na Dutra, passava apenas um carro. Imaginem...

Pegamos a rodovia e o movimento melhorou sencivelmente. Já era noite e rodamos alguns quilômetros até pararmos em um Graal em Guararema, a fim de jantar. Boa comida ambiente limpo e bom atendimento.

Não havia quartos no hotel próximo, seguimos até Jacareí onde pernoitamos. Outro bom hotel com excelente café da manhã.

E seguimos viagem até chegarmos em casa, sãos e salvos. Deixamos minha moto na concessionária e fui para casa. 


Apesar do perrengue do acidente, essa foi uma das melhores das sete viagens feitas até agora. O roteiro escolhido nos permitiu percorrer novas estradas em excelente estado de conservação. A sinuosidade das curvas e as poucas retas percorridas, neste quesito, fizeram desta a melhor de todas as viagens, mesmo sabendo que havia muito mais curvas a degustar. Afinal deixamos de passar por serras do Rastro da Serpente e Dona Francisca entre outras. Foram onze dias de tempo bom, poucas chuvas e prazeres vividos que estarão muito bem guardados na memória. Soma-se a qualidade dos pneus, as velocidades atingidas em cada trecho, as conversas com boas pessoas, o visual deslumbrante da região e a comida impar característica de cada parada; tornaram a aventura única e nos deixou a certeza de que esse será o roteiro da próxima, quando estarei pronto para iniciar um novo relacionamento com uma nova companheira que já está em vista. Aguardo apenas o fim dos trâmites referentes ao seguro.

Não estou com pressa, tenho quase um ano para conhece-la, conquista-la e iniciar o processo de simbiose necessário ao novo relacionamento.

Da anterior fica a saudade de mais de 80.000 km vividos em intensidade ímpar. Foram bate e voltas homéricos e sete longas viagens inesquecíveis que me proporcionaram momentos valorosos em que ela nunca me deixou em situação difícil. Isso tudo ratifica meu amor por duas rodas e deixa a certeza de que não irei parar tão cedo.

Desejo apenas que eu tenha saúde física e financeira para novas aventuras e que sejam muitas.


Forte abraço e até a próxima!!!


DADOS TÉCNICOS

- Dias de viagem (18/10 à 28/11/210                                       -        11 dias

- Quilômetros percorridos                                                        -         3.534 Km

- Combustível (gasolina comum - Moto)                                 -         R$ 1.132,53

- Combustível (díesel – Pick-up)                                             -         R$    681,43

- Pedágio                                                                                -          R$    181,80

- Hospedagem                                                                        -          R$ 2.108,00

- Alimentação (comida e bebidas)                                          -          R$ 1.704,84

- Outras despesas (concessionária, Uber, miudezas etc.)    -           R$    946,60

- TOTAL                                                                                 -           R$ 6.755,20

 

2 comentários:

  1. Roberto Madruga09 fevereiro, 2025

    Meu amigo Geraldo, fico feliz por você estar bem depois do susto e, mais uma vez, expresso minha admiração por sua disposição e felicidade jovial por esse tipo de aventura.
    Você precisa escrever um livro sobre suas experiências nessas viagens.
    Forte abraço.

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    1. Roberto, agradeço e informo que o livro já é um desejo de alguns anos e que está sendo escrito. Ele conterá textos de minhas viagens e uma relação de lições aprendidas nesses anos. Só não sei se será publicado.
      Forte abraço.

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