domingo, 5 de agosto de 2012

O PARAÍSO NÃO É ALÍ, MAS DEVE ESTAR PERTO


Um sábado qualquer de certo mês e ano.

Com a tradicional necessidade de partir sem destino pelas estradas e a vontade de ver pessoas queridas me fez pegar a 040, mais uma vez.

Há muito a melhor estrada do estado do Rio de Janeiro. Graças aos milionários investimentos beirando os R$ 0,00 que nossos governantes fazem em nossa malha viária. E vocês continuam votando nessa corja.

Duas pistas para ir e duas para voltar, asfalto de boa qualidade, curvas de todos os tipos, ângulos e comprimento. A paisagem é bonita, não é deslumbrante, mas transmite tranquilidade e prazer.

Para Juiz de Fora, são aproximadamente 100 quilômetros depois de Itaipava onde quase sempre faço uma parada estratégica para um Cachorro de Linguiça ou ao menos um expresso para me manter acordado.

Saindo do Rio até lá, uns 80 quilômetros onde a serra para Petrópolis é a melhor atração. Curvas fortes e em sequência. Pena o piso gasto e mal tratado pelo passar dos anos e caminhões. O visual é lindo e a umidade aliada ao friozinho trazem resquícios de lembranças passadas em lugares distantes. Só falta a neve.

SAUDADES!

Foram algumas férias passadas nos Estados Unidos, França e Chile. Tudo branco da neve que caia quase sempre à tardinha e continuava caindo noite à dentro.

Temperatura agradável, próximo dos 10º negativos. Vestindo roupas apropriadas, era só curtir as manobras ladeiras abaixo, sem medo de ser feliz.

Verdes, azuis, vermelhas e pretas as cores das pistas indicando seu grau de dificuldade não eram restrições a não ser às com “bumps” (pequenos morrotes) haja pernas e joelhos para superá-los.

Momentos que provavelmente não voltarão devido ao medo de avião. Afinal, se fosse para voar eu teria nascido com asas.

Já voei muito, passei mais de 10 anos pulando pelo Brasil à dentro. São Paulo, Salvador, Brasília, Curitiba, Manaus e Fortaleza; diversas vezes para cada uma dessas cidades. Sem levar em consideração os voos de férias.

Após abastecer e discutir o que fazer, decidimos e partimos de Juiz de fora com destino a Lima Duarte. Alguns poucos quilômetros ainda na BR 040 para então chegar a MG 267.

Uma estrada estadual simpática em mão dupla cujo asfalto despreza outros de importantes e famosas rodovias federais.

Curvas de grandes raios entremeadas por retas de média distância; conjunto que permite velocidade e emoção andarem juntas em doses generosas de prazer seguro. Tudo isso entre montanhas e vales, sob o céu turquesa com base laranja do fim de tarde.


A cidade, nada a considerar a não ser a decoração que previa a festa junina da noite.

Seguimos nosso destino até o início do caminho para o Paraiso.

De terra batida quase deserta. As vezes aberta as vezes cercada de mato ou sob um túnel de vegetação nativa.

Fazia tempo que não pilotava nessas condições e era a primeira em moto de tamanho, peso e cilindrada dessa estirpe.


Um pouco mais de 200 quilos (fora este pretenso escritor e bagagem) sendo empurrados pelos 85 cavalos e meus mais nostálgicos desejos. Desejos e prazeres dos tempos de “trilheiro”.


No início o receio de anos desambientado, mas logo a qualidade da moto aflorou trazendo tranquilidade e segurança. Pensei em desligar o ABS para uma pilotagem mais agressiva, mas o receio cultivado pelos anos passados, me fez recuar.


E foi exatamente o ABS que me deu a segurança de “enroscar” o punho despejando combustível nos dois cilindros resultando em potência, tração, velocidade e deleite.

Meia hora de curvas, freadas, buracos, retas, aceleradas, subidas, descidas, saídas de traseira, saltos, poeira e suor.


Prazer na sua mais pura versão. Tudo isso proveniente da sinergia simbiótica formada por homem e máquina.

Cheguei uns 20 minutos antes do pessoal que estava de carro. Parei à porta da primeira pousada à esquerda e ali fiquei vislumbrando a paisagem enquanto aguardava os outros.


Sim, ela estava toda “suja” de barro. Vermelho como a base do céu do qual o sol se escondia, atrás das montanhas verdes agora escuros.

A cidade simples é cortada pelos altos e baixos das ruas estreitas de calçamento rústico ou terra batida, emana uma aura de tranquilidade com um toque de esoterismo. As construções nada rebuscadas denotam conforto mesmo com o frio que começava a cortar nossas almas.

Banho tomado, roupas limpas e quentes seguimos em busca de alimento. A noite estrelada iluminava nosso caminho. Pessoas agasalhadas ao extremo compartilhavam deste cenário.

A variedade de restaurantes e bares confunde os desejos.

Escolhemos um de massas. Estava frio e carboidrato quente seria muito bem vindo.

Lasanha
 

e pizza foram as pedidas.


Mas antes iniciamos com um caldo de feijão fervendo que mais parecia sopa devido a quantidade.


Tudo muito gostoso, o menos bom foi a pizza cuja massa era muito seca, mas o recheio...

Acordamos cedo, coisas na mala, mala na moto e mão na estrada. Cheguei ao Rio em 3 horas das quais talvez mais que a metade gastas em lembranças do curto tempo passado próximo ao paraíso.


2 comentários:

  1. Geraldo,

    Belo texto, retratando o sentimento puro de um homem e uma motocicleta.
    Abraços Amigo!
    Marcos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é amigo, está se tornando um vício. Só espero ter saúde para manter.
      Apareça.

      Forte abraço.

      Excluir