quinta-feira, 2 de setembro de 2010

COM MUITO PRAZER

Ela estava lá, desfilando charme com seu vestido branco com detalhes em rosa. Era uma festa muito bonita com tudo o que tinha direito. A decoração estava compatível com a idade, que não vamos revelar, pois ela não iria gostar. Buffet completíssimo cujos quitutes eram de botar água na boca de qualquer gourmet. As bebidas muito bem escolhidas para a ocasião.

O local, um dos mais tradicionais da cidade do Rio de Janeiro, bastante agradável não só pela vista proporcionada pela proximidade da Lagoa Rodrigo de Freitas como pelo clima ameno e ensolarado como a maioria das delicadas manhãs de outono.

Sua mãe estava nervosa e caminhava pra lá e pra cá verificando todos os detalhes da decoração. As bolas em branco e rosa, para combinar com o vestido da aniversariante, foram penduradas criteriosamente uma a uma a fim de ficarem harmoniosamente eqüidistantes.

A toalha da mesa principal, a do bolo, era branca com babados rosa em dois tons, estava impecavelmente passada e delicadamente disposta de maneira que a brisa a acariciasse fazendo sua barra decorada por lindos gatinhos brancos, balançar graciosamente.

Disposto no ponto mais nobre do espaço, o bolo de confeito branco com detalhes também em rosa era a peça mais importante da decoração. Encimado por uma obra artesanal de extremo bom gosto feita sobre tecido cujo motivo, pintado a mão, mostrava uma gata branca, provavelmente a mãe dos gatinhos, com feições alegres compatível com o evento.



Suellen recebia carinhosamente seus convidados, que traziam presentes de diversas cores e tamanhos, beijando-os um a um. Muito educada, dispunha de tempo equivalente para cada um deles sem distinção.

Igualmente bem trajados, todos em roupas de grife os convidados iam ocupando o espaço de forma ordenada sem grandes confusões.

Tudo corria as mil maravilhas, os convidados e seus responsáveis se serviam educadamente. A música de fundo tocava suave e quase imperceptível. O repertório fora escolhido criteriosamente a fim de não destoar do tom do evento.

Todos se divertiam, os assuntos abordados nas rodas que se formavam pareciam interessantes, pois não se via um único rosto insatisfeito.

Suellen revia as amigas freqüentes assim como aquelas que não via há algum tempo. Todas faziam comentários elogiosos e sinceros a graciosidade de seu traje.

Seus amigos, respeitosamente, sussurravam admirados de sua beleza deixando seu namorado lisonjeado.

E o tempo ia passando, os freqüentadores divertiam-se como nunca.

Tudo seria normal, uma festa de aniversário, bem servida, bem decorada, realizada em um lugar agradável, bem escolhido, com convidados alegres, em uma manhã de outono.

Sim, nada de mais, seria a coisa mais normal do mundo se não fosse por um detalhe. Um pequeno e insignificante detalhe. Nada que invalide a comemoração, afinal, aniversário é para ser comemorado mesmo.

Ao se comemorar um aniversário estamos valorizando o período de aprendizado, de crescimento, de construção da personalidade e índole do aniversariante, proporcionando um momento de convivência com amigos e parentes queridos, outros nem tanto ou simplesmente comemorando mais um ano.

Tudo mais que normal. E essa festa seria normal, como milhares de outras, mas não era. Não era simplesmente por ser o aniversario de uma cachorra.

Sim, no alto de seus quase vinte centímetros de altura, Suellen é uma cachorra. Uma Maltês branca e serelepe, assim como a maioria seus convivas.



Eu consigo entender o amor que se adquire por um cão ou outro animal de estimação. Eu tenho um e sei o quanto ele é importante. Dá um trabalho cão, mas é fiel, honesto e carinhoso. Eles estão sempre do nosso lado independente de nosso nível sócio econômico cultural. Nos recebem com alegria mesmo depois de dias de ausência e não exigem satisfações. Tudo isso em troca de carinho, uma tigela de ração e outra de água. E nem precisa ser fresca.

Concordo que a dedicação que têm com seus donos deve ser premiada sempre que possível, mas com ações que eles compreendam, utilizando a linguagem que eles estão acostumados. Um suculento osso, petiscos diversos, eventuais pequenos pedaços de salsicha de frango ou carne moída misturados em sua ração, etc. Até um passeio diferente dos que ele está acostumado é uma boa idéia, mas vesti-los com roupinhas engraçadinhas, chapeuzinhos e outros penduricalhos ridículos só servem para deixá-los inquietos e as vezes agressivos.

Isso é uma tremenda idiotice! Serve apenas para descarregar a frustração de seus donos devido a alguma rejeição, ou algo similar de seu passado escondido nas profundezas de seu subconsciente.

Ou seja, UM ABSURDO!!!

Cachorro é cachorro, independente de raça, cor, tamanho e sexo; e deve ser tratado como tal. Ele gosta de se sentir querido, adora carinho e uns bons tapinhas, mas também gosta quando impomos limites, quando não o deixamos nos puxar pela guia ao passear, quando não o deixamos passar pelos vãos de porta primeiro ou brigamos com a voz firme sem gritos, etc. O ideal seria lambê-lo de vez em quando, como eles fazem com a gente, ele ia adorar! Mas aí seria idiotice demais. Hehehe!!!

Resumindo, ele adora quando nos impomos como verdadeiros líderes da matilha ao qual ele respeita, obedece e venera, com prazer, MUITO PRAZER!!!

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