terça-feira, 12 de abril de 2016

O CABIDE


Como disse no anterior, com a situação do jeito que está e as perspectivas que se apresentam o pensar em ir embora se tornou constante companheiro. Mais que meu cachorro Boris, mais que qualquer outro ou outra.

Destino, Alemanha sem dúvida. Não por conta dos 7 x 1, mas não vou esconder que o fato de vestirem Rubro-negro nesta ocasião de gala corrobora.

Então, porque esse país?

Ora meus caros membros do Povindemerda, não sou melhor do que ninguém, mas gosto de ordem. Gosto de ver as coisas funcionando próximos de um relógio suíço. Gosto de saber que o fruto de meus impostos será doce, tenro e saboreá-lo será ao menos satisfatório.

Muitos perguntariam por que não França, Itália, Inglaterra ou até mesmo Portugal por conta da língua? Já que meu Inglês é triste e a “refratariedade” com línguas é enorme, inclusive o Português brasileiro.

Meus textos são a maior prova disso.

França e Itália são lindos países, mas entendo que seria o mesmo que morar no Rio de Janeiro, você está tão engajado na vida profissional, social e econômica que se esquece de aproveitar a cidade. Qualquer turista de fim de semana aproveita o Rio melhor do que muitos nativos. Até porque o estado de calamidade em que a cidade se encontra é de doer.

O Rio de Janeiro encontra-se na fila da UPA pelo SUS faz tempo.

Inglaterra chove muito e quando não chove tem o fog é melhor ser turista. Portugal seria uma opção, mas falta grana, aliás, grana é um fator primordial que reduz minhas opções de exílio forçado a zero. Não sou como alguns que se sujeitam a subempregos só para morar no lugar dos sonhos. Aqui, em seu país, sua pátria, não fazem isso, têm vergonha, rsrsrs.

Por que essa lenga-lenga toda?

Mais uma vez lendo as páginas amarelas da Veja (nº 2472, não se preocupem, essa não é minha única fonte de consulta, há outras, poucas confesso, mas há), me espantei com o fato do entrevistado, o Sr. Bruno Speck, cientista político alemão, ter trocado sua terra natal pelo Brasil, para residir. O espanto tornou-se menor ao verificar que o fato ocorreu há 20 anos, época bem distinta da atual. O Brasil tinha comportamento sutilmente positivo no cenário econômico mundial e com boas perspectivas de futuro. Internamente as coisas começavam a entrar nos eixos, a maioria dos brasileiros estava empregada, comia e se vestia razoavelmente bem e o PT era só mais um bando de loucos na oposição.

Então, não seria nada demais essa troca. Ainda mais se o cara se derretesse todo ao ver uma afrodescendente; o que convenhamos, é quase uma tradição por lá.

Com certeza não veio entregar pizza ou fazer faxina em casa de madame, veio lecionar na Unicamp e depois na USP.

Ele defende a tese de que o dinheiro injetado nas campanhas políticas fortalece a democracia, mas que é preciso reduzir o percentual do incentivo de origem privada. Depois ele diz que tanto na Alemanha como no Brasil, no início, quando era privilégio só da elite disputar um pleito eleitoral, as campanhas eram custeadas pelo bolso dos candidatos e que o caixa de campanha era gasto no transporte do fiel eleitorado até o local de votar.

Esquece-se Bruno que há uma grande diferença entre a Alemanha e o Brasil. Lá, mesmo que haja uma parcela do povo com caráter duvidoso, esta parcela é ínfima, a lei é justa e soberana ao investigar e julgar o réu que, se condenado, vai para a cadeia e lá permanece por grande parte da pena.

Ele, por estar aqui a tanto tempo já devia saber que as coisas funcionam de maneira diferente, que o Jeitinho Brasileiro é o soberano e o caixa de campanha dividiu-se em dois e era gasto em pés de sapatos, meias dentaduras e afins. Hoje esses itens foram substituídos pelas famigeradas bolsas assistencialistas que são ofertadas a muitos ao custo dos impostos pagos por poucos e que por isso, dão margem ao caixa de campanha ser desviado para o bolso ou cueca da corja corrupta do país. Quando não vai para suas contas no exterior.

Na entrevista, o jornalista pergunta:

“Se as doações privadas são a solução, por que então estão relacionadas a tantos casos de corrupção?”

Bruno responde que não acredita em mágica e que defende a melhoria do sistema de fiscalização, na capacidade punitiva desse sistema e na informática para melhorá-lo. Diz ainda que em todos os países democráticos existem escândalos, etc.

Perfeito!

Se estivéssemos na Alemanha.

Aqui as leis existem, o sistema é que é falho, é corrupto assim como a política e outros setores socioeconômicos. Sendo assim, não adianta melhorar o sistema se quem vai fazê-lo rodar é podre, são todos membros do povindemerda inculto, muitos dos quais desdentados, esfomeados, mas espertos “bagarai”.

É um ciclo vicioso que interessa aos mesmos manter o povo como gado marcado, mantido a pão e circo, feliz com samba, cerveja, futebol, Funck, Facebook e Big Brother.

Um gado que se, por exemplo, gasta grandes somas em tecnologia embarcada nas enormes, beberronas e inconvenientes SUVs espalhadas pelas cidades, tecnologia que raros realmente usufruem, não pode ser chamado de inteligente.

O Jornalista pergunta se apenas o financiamento público não resolveria o problema. E Bruno responde positivamente, pois dessa forma não haveria a necessidade de retribuir o favor, mas que mesmo assim, não seria o ideal por afastar os eleitores do processo além de possibilitar a criação de carteis pelos grandes partidos.

Mais uma vez vejo que vinte anos não foram suficientes para ele alcançar a realidade dos fatos.

Estamos acostumados em identificar o problema, mas trata-lo para uma solução definitiva é uma dificuldade muito grande para nós. Os entendidos e os papagaios de pirata têm como principal ação tratar a consequência, muitas medidas anódinas são tomadas em vão, com isso, milhões são gastos e desviados, alimentando a roda da incompetência que deixa a maioria votante do povo, ignorante encabrestado pelos sem caráter.

A entrevista continua sem novidades. Em dado momento Bruno deixa claro que não é contra a doação privada desde que não se transforme em trafico de influência e consequente corrupção. Entretanto, suas pesquisas identificaram que há mais de 2 milhões de empresas registradas no Brasil, mas que apenas 20 mil fazem doações a caixas de campanha e só mil doam mais de 60% destes caixas. Ele diagnostica que limitar o montante a ser doado seria uma solução, pois reduziria o poder de influência das empresas obrigando ao partido buscar mais parceiros o que diluiria a divisão de favores.

No final Bruno diz que o sistema na Alemanha não difere muito do nosso e que a necessidade de divulgar as doações recebidas, por termos o TSE como órgão fiscalizador e por este ser independente estamos mais avançados.

Com todo respeito, mas esse rapaz é um tolinho.

Ele esquece que somos mais de 200 milhões, que 96% destes não teve oportunidade de uma vida no mínimo normal com saúde, escola de qualidade e boa alimentação e que só a metade vota . Que dos apenas 4% restantes, que têm condições de ler um texto simples e interpretá-lo de forma satisfatória, é que saem a maioria dos corruptos safados sem caráter que governam e que então resta muito pouco para manter esse imenso e rico país em trilhos seguros de Ordem e Progresso.

Sendo assim, meus raros e fiéis leitores não é a origem dos Caixas de Campanhas, não é a gestão da coisa pública ou mesmo particular que são os nossos problemas; é quem doa, quem recebe, quem gere, quem determina, quem manda, etc. Estes são os culpados. E eles não são ETs, não são entidades que surgiram do nada. São, como eu e você, membros do povindemerda e como tais, por interesse próprio, sómerdafazem.

Antônio Gois, no O Globo de 11/04/16 cita vários percentuais que, a mim pelo menos, confundem mais do que esclarecem, mas apresenta um dado interessante, diz que apenas 22% dos que chegaram ao ensino superior, têm nível proficiente de alfabetismo.

Para vocês que podem não estar nesse rol, a pessoa proficiente é aquela que lê, interpreta e consegue redigir um texto sobre aquilo que leu; ou ainda consegue interpretar gráficos e tabelas com duas ou mais variáveis.

Talvez eu não esteja nesse rol, por isso o texto de Gois não está claro para mim.

Porém, seria interessante se ele informasse quantos dos 200 milhões de brasileiros, conseguiram chegar ao nível superior e quantos deles chegaram ao nível proficiente de alfabetismo. Com esses dados, em uma simples regra de três chegaríamos ao percentual de brasileiros com nível proficiente de alfabetismo.

Pelo convívio diário que tenho tido com porteiros, vendedores, gerentes, empresários, trocadores e motoristas de ônibus, taxistas e “uberistas”, médicos, atendentes, profissionais liberais e o baixíssimo nível do ensino básico e superior que temos aqui, eu chutaria nos 4% citados mais acima ou apenas 8 milhões de brasileiros.

Se meus modestos cálculos estiverem corretos e se considerarmos o rebuscado dos textos elaborados por nossos políticos, podemos afirmar que 96% dos brasileiros não entendem porranenhuma do que esses caras dizem e escrevem.

E me pergunto, baseado em que esses 96% votam?

Acredito que, infelizmente, só nós, a parte honesta e arguta do povindemerda temos condições de mudar a porratoda, e os safados sabem disso e por isso tudo fazem para que o status quo permaneça inalterado.

Contudo, somos poucos, seria necessário que mais tivessem as mesmas oportunidades que tivemos para poderem discernir o que é melhor para o País.

Dinheiro para isso não falta, pois é sabido que somos a nação com maiores percentuais pagos em impostos, assim como também somos a nação onde mais se rouba, fica complicado resolver.


É o que chamo ciclo de interdependência que não roda porque somos espertos demais.

Mas não basta só educação, saúde e boa alimentação, é preciso caráter e isso meus caros, não é como um cabide, não se vende em supermercado, feira, mercearia, delicatessem ou na internet, isso está no DNA de poucos.



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