domingo, 6 de abril de 2014

O JAVALI


Manhã de sábado como outra qualquer, seria mais um bate-volta dos muitos que fazemos quase todos os sábados. Mas dessa vez os Flecha de Prata que haviam decidido dar um pulo em Penedo para degustar e comprar algumas trutas, mudaram o itinerário por conta de um deles que iria passar o fim de semana com os irmãos e famílias.

Dei a ideia de irmos junto por um caminho maior e mais agradável, ele iria para a casa do irmão e nós almoçaríamos em um bom restaurante já conhecido.

Às 22 horas da sexta anterior soube que havíamos sido convidados para o almoço na casa. Como sempre, eu não sou o do contra, quando não gosto de algo falo, mas aceito numa boa o que a maioria decide.

Nos encontramos na manhã de sábado, como sempre às 8 horas, no posto próximo a entrada do Túnel Rebouças, nosso tradicional ponto de encontro. Éramos três, os de sempre, o quarto maior frequentador de nossas viagens respondeu a mensagem do celular com um:

“Tenham uma boa viagem!”

Partimos então após um rápido papo acompanhado de um saboroso cappuccino.

Tanques cheios, pneus calibrados e rodas na estrada. Destino? Angra dos Reis.

Adentramos o Túnel Rebouças depois a Linha Vermelha a fim de pegar a Via Dutra que leva à Sampa que fica no lado feio da rodovia.

Todos sabem que não sou afeito às retas, acho-as monótonas mesmo sendo mais seguras. Esse é o motivo por não ter nenhum desejo em fazer as tradicionais viagens ao Deserto do Atacama e/ou Terra do Fogo, etc. É muita reta para pouco prazer.

E seriam alguns bons quilômetros nesta situação até a subida da curta, mas deliciosa Serra das Araras. E lá chegamos rápido e em segurança. Dessa vez eu estava calmo. Geralmente tomo a dianteira e sigo na frente um pouco mais veloz do que os demais, curtindo o liso asfalto com suas curvas dóceis. A adrenalina fica por conta dos caminhões e demais motoristas que insistem em andar lentos pela esquerda. Ultrapassá-los é tarefa árdua e as vezes perigosa.

Dessa vez acompanhei o ritmo dos demais e dessa forma consegui admirar a paisagem, que desde os tempos em que viajávamos toda família para Sampa de fusquinha, não via.

Foi ótimo, algumas lembranças passaram mesmo a estrada não sendo a mesma daquela época.

Como sempre faço, de vez em quando paro para tirar uma foto para ilustrar os textos e gravar as viagens e procurei uma “imagem” que sempre vejo algum tempo depois da serra. Sempre quis, mas nunca parei para a foto, pois curtir as curvas subsequentes era mais atrativo. Desta vez seria diferente.

E foi mesmo!

Estava mais lento e mesmo assim a imagem não apareceu. Trata-se do lago formado no Rio Paraíba do Sul. Uma visão que sempre se mostrava deslumbrante e surgia de repente após uma curva degustada velozmente.

O lago estava lá, mas não como eu sempre vi em outras viagens.

Parei onde deu e a foto que tirei foi essa aí em baixo. Não é a “imagem” que sempre vejo, mas foi o que rolou.


Segui em frente, puxando um pouco mais da velocidade a fim de alcançar meus amigos.

Em alguns poucos quilômetros chegamos à entrada de Barra Mansa e à esquerda entramos, sem parar.

Fomos fazê-lo após alguns quilômetros onde comi uma empada de frango maravilhosa. Comi duas. Hehehe!!!

A estrada, já conhecida, apresentou-se sinuosa, agradável e inserida em um cenário impar. Curti, mais uma vez, na mesma velocidade que os demais, o asfalto estreito e liso das duas mãos.

Ao lado direito nos acompanhava, como se estivesse tomando conta de nós, um estreito e belo rio. Pedras apareciam de vez em quando assim como pequenos lagos e cachoeiras.

Essa foi a foto que consegui.


Pouco depois a mata fechou semiescondendo o sol e aumentando a humidade. A temperatura baixou tornando a viajem mais agradável ainda. Passamos pelos dois túneis ainda com calçamento em paralelepípedos da época do Brasil Colônia, molhados pela água que escorre pelas paredes, um enorme perigo.


No entroncamento com a BR-101 dobramos à direita em direção a um dos condomínios “PORTO...”.

Chegamos!

As tradicionais apresentações quando fomos muito bem recebidos pela cunhada e seus filhos.

Um bom e rápido papo nos colocou à vontade. Roupas mais leves e seguimos para o gramado entre a casa e o ancoradouro de barcos. Belos barcos são a tônica. Normal.


Chegam o dono da casa e o cunhado. Quem é frequente aqui no blog sabe que não gosto de usar o nome das pessoas. Então, na terceira dose de whisky, vamos tentar botar ordem nessa bagunça, são:

3 irmãos sendo uma irmã;
1 cunhado, marido da irmã;
2 cunhadas, uma não foi, a do meu amigo motociclista.

Os irmãos? Gaúchos do interiorsão do Rio Grande.

Tudo certo? Então vamos nessa que tem muita história aqui.

Tá cansado, paciência vale a pena ler. Vai aprender algo neste texto. Melhor que ficar no Face Book escrevendo besteira. Hehehe!!!

Para encurtar, não vou escrever que fomos à emergência de um posto médico, suas causas e consequências.

Voltamos para casa e o cunhado iniciou os preparativos do churrasco.

Claro, queria o quê?

Feijoada?

Tá de sacanagem né?

Costelinha bovina, filé suíno e linguiça também suína; esse era o menu.

Gente finíssima, como todos, o cunhado tem um dom e a carne saiu maravilhosa, as fotos falam por si.




Estava tudo ótimo. Carne macia, de excelente qualidade, tempero único e cerveja.

Sim, cerveja. Estava programado dos três que foram dois voltarem no mesmo dia, mas um convite para pernoite e algo fora do comum nos fez ficar.

Estava tudo ótimo. Excelente papo, acolhida maravilhosa e comida idem qualquer coisa a mais seria sonho.
.
Enquanto isso...

Nos bastidores era temperada, curtida e assada em forno à lenha um enorme pernil de javali.

Não era qualquer javali.

Antes, uma breve historinha é aqui que você começa a aprender:

É sabido que a carne do javali é deliciosa e nos pampas andaram criando essas feras. Importadas da França, algumas matrizes foram colocadas em uma enorme fazenda para criação e comércio. Acontece que os órgãos “competentes” resolveram dar trabalho e os responsáveis encheram o saco de tanta burrocracia e resolveram soltar os animais. Se multiplicaram e alguns andaram comendo umas porcas, fazendo nascer os famosos porcos selvagens e hoje são como pestes cuja caça é permitida.

Esse, especificamente, foi caçado de forma diferente. À noite o caçador fica em cima de uma torre a espreita do feroz charfudador. Ao avistá-lo, um tiro certeiro lhe tira a vida. A diferença dessa para a caça tradicional é que o animal não sabe que está sendo caçado, não há estresse pela perseguição por cães, etc. e assim não há adrenalina e nem líquidos danosos percorrendo veias e vasos tornando a carne tenra.

Foi temperado com esmero e descansou por horas sob um molho que não ousei perguntar como fora feito. Regado em limão antes de...


Ser coberto por cravos, antes de..


colocado no forno à lenha. A causa incomum de nossa permanência em Angra, sem desmerecer a ótima acolhida, assou por aproximadamente cinco horas.

Estava fantástico e a tradicional polenta fez a companhia ideal. Tenro, o resultado do molho no ponto. Nada à acrescentar só saborear.



O excelente papo seguiu e teve como combustível a mais a visita de um amigo da família, com suas histórias engraçadas.

Alguns bons minutos o sono bateu forte e ao saber o local de dormir só me restou seguir para este destino.

Sono pesado.

Café da manhã saboroso, todos dormiam quando voltamos à estrada.

Não pude agradecer a acolhida. Agradeço agora.

A estrada tinha suas curvas cheias como em todo domingo de sol. A direita a vista do litoral recortado pela bela e rara mata e lindas ilhas. Uma parada para abastecer, outra para um café e chegamos ao Rio sem problemas ou novidades.

Nas lembranças o carinho da família e o javali cuja repetição vai ser difícil.

Obrigado e até aproxima. Que seja breve.


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