quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

UM DIA PARA NÃO SE ESQUECER


Hoje o Rio de Janeiro foi a verdadeira imagem do caos.

Sinais quebrados foram a tônica e puseram a Cidade Maravilhosa de pernas para o ar.

Sair da zona Sul em direção à Barra da Tijuca foi tarefa para monge, para o Centro então, só espíritos de boa luz.

Já estive no Centro após o fechamento definitivo da Perimetral e era impossível se entender alguma coisa; imaginem hoje como deve ter sido.

Eu tinha um dia com tarefas à cumprir. Meu roteiro pré-definido seria, sair de casa, atravessar todo o bairro de Botafogo, e fazer uma primeira parada na Rua Farani, no limite entre Botafogo e Laranjeiras. Não foram necessários muitos minutos.

As ruas empesteadas de carros, ônibus e caminhões dirigidos por muitos motoristas mal educados, espertos, egoístas ou boçais, munidos de suas buzinas, ira, celulares e grosserias temperavam a manhã ensolarada e quase fresca deste 19 de fevereiro de 2014 que para mim vai ficar na história.

Fiz o que tinha de fazer e parti para meu próximo destino, a rua Gago Coutinho, próximo ao Largo do Machado. Menos minutos foram gastos e outros poucos para fazer o que tinha de fazer.

Voltei para a Lagoa Rodrigo de Freitas, próximo a Igreja de São José, aquela que chamam de Igreja de Vidro. O trajeto foi cumprido em poucos minutos, também. O Túnel Rebouças parado.

Não foram raros os momentos em que tive de me esgueirar entre os carros, ônibus ou caminhões cujos motoristas, desprovidos de um mínimo de bom senso impediam nossa passagem como se fossemos os vilões causadores da bagunça.

Segui para o Leblon, junto ao Colégio Santo Agostinho e após terminar o que tinha que fazer lá, voltei para casa.

Também não eram poucos os motoqueiros que abusavam das leis de trânsito ignorando a diferença entre rua e calçada entre outras barbáries.

Cruzamentos eram trancados, os sinais perderam a função e passaram a ser meros acessórios piscantes como se estivéssemos no Natal.

As disputas por espaço passaram a ser ações de ruborizar qualquer soldado de legiões romanas, troianas, gregas ou bárbaras.

Eu parava nos sinais e observava a ira dos engravatados em suas SUVs, assim como as madames ou seus motoristas.

Confesso que estava gostando daquilo.

Ver os egoístas enfiados em seus enormes e beberrões carros 4x4 de não sei quantos cilindros, quantas cilindradas e cavalos; todos paradinhos um atrás do outro por horas enquanto eu e minha magrela de apenas um cilindro e pouco mais de 20 cavalos, seguíamos nosso caminho sem muitos percalços.


Não foram poucas as vezes em que me peguei com meu tradicional sorriso de canto de boca.

O prazer que aquele cenário me propiciava era algo que não havia experimentado ainda.

Estava adorando ver todos os espertalhões em um nó colossal formado pelas últimas mudanças no trânsito da Cidade aliado a pane nos sinais de trânsito.

Me sentia melhor quando ouvia os poucos inteligentes reclamarem do governador, prefeito, Copa do Mundo ou Olimpíadas.

E eu respondia baixinho com meus botões:

“Ué! Não foram vocês que votaram nesses caras?”

“Ué! Não foram vocês que torceram para que esses dois eventos fossem aqui no Rio?”

“Ué! Não foram vocês que acreditaram que haveria um legado após cada um deles?”

“Ué! Não foram vocês que acreditaram que tudo ia ser bancado pela iniciativa privada, sem uso de um mísero centavo público?”

“Tolinhos!”

E seguia meu caminho, cumprindo minhas tarefas rindo de soslaio de cada encrenca que deixava para trás.

Era pouco mais de 11 horas e meu dia havia terminado. Foi quando lembrei que tinha de entregar um documento em Ipanema. Passei em um cartório para cópia e autenticação. Parti para Ipanema, fiz a entrega e quando cheguei de volta em casa eram 12 e pouquinho. Então meu dia tinha realmente acabado.

Uma ducha gelada, uma cerveja idem e fui fazer as tarefas administrativas e financeiras da empresa. Em pouco tempo estava tudo em ordem.

Às 18:30 horas estava novamente em duas rodas em direção a Barra da Tijuca e, pior do que sempre, estava tudo parado. Foram poucos minutos até chegar a meu destino. Um bom papo com um grande companheiro de viagens sobre duas rodas e poucos minutos após às 21 horas estava no caminho de volta.

A massa de veículos parada em todos os sentidos era enorme. Imaginava os engravatados esgotados e putos dentro de suas reluzentes SUVs sem previsão de chegar em casa e eu aqui na minha, acompanhado de outra cerva gelada escrevendo esse texto.

Não tem preço mesmo.

O prazer que sinto é indescritível e saber que poucas e pequenas atitudes de civilidade e inteligência resolveriam tudo isso potencializa esse prazer em muito.

A nota triste é que muitos que realmente necessitam de um atendimento de emergência ou algo similar sofrem por conta desses milhões de palhaços, egoístas e espertos.

Boa noite! Isso para quem conseguir chegar em casa ainda hoje.


2 comentários:

  1. Gerald, esse sentimento que você experimentou pode ser chamado de "schadenfreude". Trata-se de uma palavra de origem alemã (mais recentemente usada também em outras línguas) para designar o sentimento de alegria ou prazer pelo sofrimento ou infelicidade dos outros. Nada contra os alemães, mas nada mais alemão do que uma palavra como essa... kkk

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    1. Caro Eduardo,

      Não tenho prazer no sofrimento dos outros, meu prazer é pelo sofrimento daqueles que são a causa do sofrimento, é bem diferente.
      Abraço.

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