segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

DE NOVO, NOVAMENTE, OUTRA VEZ?




“Vamos dar a primeira do ano? Já que a última de 2011 foi há muito tempo.”

“Pô você que não atendeu ao telefone!”

“Não importa, já discutimos isso. Você ligou e não tocou aqui. Coisas dos celulares. Tenho uma amiga que não acredita que essas coisas acontecem, acha que estou enrolando. Mas deixa prá lá! Vamos ou não vamos amanhã?”

“Vamos sim, eu te ligo.”

“Ok! Anota o fixo, não dou esse número para ninguém, normalmente não atendo a não ser quando combino antes como agora.”

“Pode deixar. Vamos para Terê e depois fazemos a volta por Petrópolis, como na última vez?”

“Nunca! Não quero ver desgraça! Tô a fim de andar de moto.”

“Ok! Tem razão. Amanhã decidimos.”

Fiquei com Teresópolis na cabeça. Mais um ano, início de, e algumas coisas permanecem as mesmas. De novo, novamente, outra vez chovia bagarai aqui na Cidade Maravilhosa (até quando?) e já temos nas páginas dos jornais e meias manchetes de telejornais nossas mais que conhecidas enchentes. As notícias ainda não chegaram às primeiras páginas, pois ainda não desbarrancou nenhum morro, as cidades ainda não estão tão inundadas e ainda não morreu muita gente. Mas não se preocupem, isso é apenas uma questão de tempo.

Só quem não sabe disso, ou não está nem aí para isso, são justamente aqueles que deveriam ter acabado ou ao menos minimizado o problema.
Quem são?

Ora meus escassos leitores, são os safados em quem alguns de vocês e a maioria da população votou (e vêm votando há tempos) nas últimas eleições em troca de alguma benesse. Sim meus caros porque para votar nessa corja só mesmo em troca de alguma coisa e não pode ser pouca!

Eu, outros poucos de vocês e a minoria da população, que continuamos na mesma situação socioeconômica desde antes da última eleição, que votamos corretamente e infelizmente não elegemos ninguém, só estamos aguardando os números das tragédias que estão por vir.

No último texto, eu errei e errei feio ao dizer que só tinha duas certezas para o ano novo. Na realidade são quatro: as duas que citei e a de que o estado do Rio de Janeiro terá duas tragédias uma por conta das chuvas de verão e outra por conta da Dengue.

São eventos que já podem ser inseridos no calendário turístico de nossa cidade.

Já imagino os panfletos de propagando lá no exterior:

(...) e conheçam a vida em um país do terceiro mundo. Vejam que mesmo com um crescimento econômico elogiável os nativos ainda sofrem com problemas há muito desconhecidos para nós. Será uma inesquecível lição de antropologia que você terá orgulho em contar para seus amigos, filhos e netos. Não percam essa grande oportunidade de conviver com opostos tão claros. (...)

(...) você poderá viver a experiência de rolar morro abaixo dentro de uma habitação típica de uma comunidade nativa e ainda passar horas soterrado em seus escombros (...)

(...) poderá ser picado por um legítimo mosquito transmissor da Dengue e de quebra ser tratado em uma UPA pelo SUS (...)

E a tendência, é piorar, pois da forma como estamos tratando nosso planeta, desperdiçando recursos e emitindo lixo; as alterações climáticas serão cada vez mais fortes.

Mas, como eu não posso fazer nada de efetivo a não ser continuar pagando meus impostos e votando corretamente, vamos mudar de assunto que dá mais certo.

Consegui dormir.

Domingo, 08 de janeiro, acordo com o despertador das 06:30 h que havia programado, fazendo fé de que a chuva não iria virar a noite e acordar molhando o chão. Deu certo. O céu estava nublado, melhor que isso, só um ventinho, mas aí é querer muito.

Levanto, acordo @Boris Staford para o passeio matinal. Um copo de água e descemos para um passeio maior do que o de costume, pois dessa vez não iria levá-lo ao ParCão.

Cachorro vazio, Ok!

Café da manhã, Ok!

Mais uma olhada no relógio e nada dos telefones tocarem.

Não importa a idade, quando ganhamos um brinquedo novo queremos brincar de qualquer maneira e eu queria muito estrear o meu. Presente adiantado recebido pelo meu aniversário.

Não resisti e liguei

“Alô?”

“Fala mermão! Meu filho disse que você havia ligado, mas não sabia se tinha sido sonho. Disse que você marcou o encontro na feira. O moleque só pode estar viajando!”

“Liguei não! Mas já ia ligar. Vamos para Miguel Pereira ou Paulo de Frontin?”

“Muito perto, vamos para Penedo e se der, para Mauá (Visconde de)?”

“Ok! Nos encontramos na primeira polícia da Linha Vermelha”

“Ok! Quem chegar primeiro cuidado com as balas perdidas. Hehehe!”

O tempo nublado me fez vestir a roupa da viagem. Quente e pesada, mas o risco de chuva não me deixou alternativa. Ainda levei a capa de chuva.

Enquanto me vestia imagens da viagem passavam como filme. Muitas saudades. Para quem não sabe foram 20 dias de moto até o Chuí, no Rio Grande do Sul. Dias inesquecíveis, mas que em breve se somarão a outros em novas travessuras.

Tudo pronto, capacete, luvas, carteira, documentos e chaves da moto e de casa. CamelBack? Não! Vai ser só um bate e volta. Simbora!

Subo no brinquedo novo, minha inseparável companheira de viagem, o brinquedo do ano passado, me olha com ciúmes. Tranquilizei-a:

“Você, minha querida, é insubstituível. Sua juventude, robustez e personalidade são ímpares. Vai para São Paulo comigo e passaremos as semanas juntos. Só eu e você.”

Isso a deixou mais calma.

O som do motor é diferente, mais dócil. O engrenar das marchas mais suaves assim como a tocada. Essas foram as primeiras impressões. Ligado em como meus comandos eram recebidos pela jovem senhora quase passei direto pelo ponto de encontro.

“Mas o que é isso?”

“Meu presente de aniversário”

“Tu é maluco!”

“Cara, foi uma oportunidade única! Ano 2008, 4300 Km, com os 3 bauletos e um casaco modelo 2 Pro, o melhor do mundo. Não podia deixar escapar.”

“E a outra?”

“Como sabes estou semanalmente por 3 dias em sampa. Serão uns 2 anos. Ela vai comigo. Devo vender o carro que não estou usando e assim fica financeiramente mais leve.”

VENDO UMA MONTANA, 2008 / 2008, FLEX, POUCO RODADA (13.000 Km), PRETA, ÓTIMO ESTADO, 1.8 COMPLETA, COM SOM, PROTETOR E COBERTURA DE CAÇAMBA E APENAS 2 PEQUENOS AMASSADOS POR CONTA DE UM ENTREGADOR DE PIZZA QUE AVANÇOU O SINAL, NA CONTRAMÃO QUANDO HAVIA PASSADO APENAS UMA SEMANA APÓS A SUA COMPRA. NÃO MANDEI CONSERTAR, PARA NÃO FICAR COM A COR DIERENTE. ACEITO OFERTAS.

“É um argumento.” Parabéns! Bela máquina. Vamu nessa!”

A jovem senhora pertencia a uma pessoa cuidadosa. Tratava-a com carinho e esmero. Fez todas as revisões, utilizava combustível de melhor qualidade e a mantinha limpa e cheirosa. Desfez-se devido ao nascimento de sua primeira filhota. Uma linda garotinha com um pouco mais de uma ano.

Decidi chama-la de jovem senhora enquanto não nos tornássemos íntimos o suficiente para trata-la como merece.

Iniciamos ainda sentindo a diferença na maneira como meus comandos eram recebidos, mas feliz por notar que ela parecia estar gostando da maneira como eu a estava tratando.

Respeitando sua insegurança fui passando as marchas com cuidado, mas com firmeza.

Acelerava com parcimônia, mas sem demonstrar muito respeito. Ela havia de perceber que o trato seria doce, mas firme. Ela não podia pensar em assumir o comando. Tinha que perceber quem seria quem nessa relação que se iniciava. Ela tinha que perceber que se não se entregasse nossa convivência não seria prazerosa e a única coisa que eu queria dela era prazer e para tê-lo seria paciente.

O caminho estava livre. Saímos da Linha Vermelha e entramos na Dutra em poucos minutos. Minha atenção em seu comportamento fazia com que o tempo voasse.

As ultrapassagens eram feitas com simplicidade e as mudanças de pista, necessárias para ultrapassar veículos que insistiam em trafegar a baixa velocidade na pista da esquerda, sem tensão.

As curvas, ainda longas, eram absorvidas com prazer, antevendo o que me aguardava na subida da Serra das Araras.

Em pouco tempo o primeiro pedágio da Dutra ficou para trás. Chegamos ao tão esperado início da serra.

O pouco movimento se confirmou e em segundos estávamos como em um só corpo ao sabor das curvas sobre um asfalto liso e temperatura agradável.

A doçura com que ela aceitava meus comandos e as vezes corrigia meus erros de primeiros contatos era embriagante.

Quando possível eu exigia um pouco mais do que o necessário e ela correspondia com um leve sorriso.

Ela estava gostando e demonstrava isso com seu ronronar grave, porém suave.

Era a música que eu queria ouvir.

A serra acabou sem avisar, passou em minutos como se fossem apenas segundos.

A jovem senhora havia desabrochado para se tornar uma bela mulher.

Seguimos em uma conversa cada vez mais íntima e silenciosa até chegar ao posto para abastecer.


Conhecemos um casal também de moto com quem conversamos alguns agradáveis minutos. Voltavam das festas de fim de ano passadas na Cidade Maravilhosa.

São de Serra Negra no interior de são Paulo, próximo as estações de águas minerais. Falaram tão bem da cidade e, com as confirmações de meu amigo, decidi que iria conhecer em breve.

Trocamos contatos.

Voltamos para a estrada e Penedo não demorou a chegar. Dessa vez quem abasteceu fui eu e seguimos para um bom lanche. Eram 11 horas e alguma coisa; o sol começava a se fazer presente com timidez.

Tentei convencer meu amigo a seguir para Mauá. Não consegui. Tomamos a estrada de volta

A facilidade com que nos tornamos íntimos me impressionou. Paramos mais uma vez para reabastecer quando bebi um café tão aguado que a atendente se recusou a cobrar.

Não preciso detalhar o prazer da volta.

De novo, novamente, outra vez eu estava feliz e cada vez mais convencido que havia feito a coisa certa. Não era um exagero e sim o reconhecimento de uma conquista.

PARABÉNS!

OBRIGADO.

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