O café da manhã não foi dos melhores. Sem frutas, ovos, apenas 3 tipos de pães e o mesmo número de frios. Suco de laranja, leite, café, iogurte e água, os líquidos. Conta paga e rua, melhor, estrada!
O
sol brilhava em quase todo seu esplendor, mas seus raios eram fracos, não
traziam conforto, seu calor era insuficiente e facilmente subjugado pelo frio
da manhã. Eram pouco mais de 9 graus célsius e caindo.
Ele
passou quase todo o dia à minha esquerda, mesmo próximo do meio dia, gargalhava
de meu sofrimento. Uma parada não programada foi a solução para amenizar o
frio. O café como em todo Uruguai não é o que esperava, morno e fraco, não
ajudou muito. Demorei mais do que devia tentando recuperar a temperatura do
corpo, mãos principalmente.
O
frio era tanto que chegava a renguiar cusco. As crianças encasacadas se
encolhiam pelos cantos tentando fugir do “infugivel”.
A
estrada, ainda a Ruta 1, não apresentava novidades, as retas se multiplicavam
em meio a poucas curvas e a educação dos poucos passantes permanecia. O volume
do trânsito aumentava a cada quilômetro rodado, a proximidade com a capital do
país era o motivo.
E foi próximo a ela que resolvi saciar minha fome. O esteio oriundo do fraco café há muito havia perdido sua força. O frio auxiliara na decisão. Era o “Parador El Caiman” (Parada o Jacaré), um modesto restaurante administrado pela sogra, sua nora e provavelmente sua filha mais nova. Fui muito bem recebido e antes de mais nada, acrescentar mais uma camada de proteção contra o frio foi minha primeira providência. O banheiro limpo permitiu instalar o forro da calça de viagem. Isso feito, ainda sem o casaco, luvas e capacete, permitido pelo forte aquecimento do lugar, fiz minha escolha.
Carboidrato
era a necessidade e a massa feita no local a solução. Havia duas grandes peças
de queijo da região à mostra e em quanto esperava o prato principal, pedi uma
prova. Serviram um prato com os queijos em cubos e uma cesta de pães e Galleta Marina;
uma espécie de bolacha de água e sal os acompanhava. O líquido pedido foi uma
jarra de vinho da casa. Tudo ótimo.
Agora,
vocês sabem o motivo da foto abaixo postada no Facebook.
Montevidéu é uma grande Copacabana, porém menos movimentada, bem mais limpa e de arquitetura mais bonita.
Mais
adiante, os prédios dão lugar a belas e espaçosas casas.
Claro
que me perdi no Centro e as informações foram precisas. Contornei o litoral
onde vi preciosidades arquitetônicas:
Segui
para a estrada com destino à Punta Del Este. O cenário mudou um pouco e para
melhor.
E
foi indo para Punta que descobri que o Uruguai com toda a sua civilidade, com
quase nada produzido não é tão diferente do Brasil. Aqui também tem isso aí...
Ou
isso...
A
primeira vista Punta não difere muito de Montevidéu. É uma cidade moderna, com
seus prédios de arquitetura contemporânea enfileirados pela orla.
Mas
é menor e tem um lado mais estilo cidade balneária de classe alta. Não vou
discutir gosto, mas tanto os prédios quanto as casas e construções comerciais
são luxuosas. A cidade é limpa e o comércio variado atende a
todas as necessidades. Entretanto, como todo balneário possui construções que
remetem ao passado.
As
casas são de uma suntuosidade única e traduzem perfeitamente o nível das
pessoas que ali passam férias e/ou feriados. Conversando com alguns, descobri
que, em números redondos, 40% dos proprietários são brasileiros; o restante é
de argentinos e alguns uruguaios, claro.
Foi
rodando pela praia que enfim conheci a famosa “Mão que Segura as Américas”. Na
realidade são duas, uma em Punta outra no Chile, não faço a menor ideia de onde.
Procurei no Google e não achei o nome, autor, nem a localização da segunda mão.
Deve ser um problema entre a cadeira e o notebook, com certeza.
Para
tirar essa foto tive de passar pelo lugar várias vezes. Havia muitos turistas sentados
nos dedos, alguns com problemas de próstata e gostando pois não largavam o
osso, melhor dedo.
São
duas mãos que, conforme me disseram, estão estrategicamente instaladas com o
intuito de segurar as Américas. Considerando-se a atual situação do Brasil,
países adjacentes e outros da América Central; um par de mãos apenas não é o
suficiente.
No
check-in, conversando com o recepcionista do Hotel ele havia dito que a noite
começava tarde, novidade, resolvi comer alguma coisa. Rodei a parte comercial
da cidade e com poucas opções, o frio intenso e o pouco movimento não
justificava mais. Acabei indo no tradicional. Carboidrato era necessário e
rolou essa pizza aí embaixo. Trata-se de uma “Marguerita”, mas eles colocam
tudo embaixo da mozzarella. Estava ótima, porém, gordurosa.
Depois,
baseado na informação do recepcionista, fui descansar para dar uma volta no
cassino e quem sabe recuperar um pouco da grana gasta na viagem. Ledo engano,
deitei para descansar e acordei lá pelas 3 horas da madruga com frio. O
aquecedor havia pifado. Fiquei rolando até a hora de levantar.
Café,
etc., etc., etc. e rodas na estrada. Continuava frio, mas nem tanto.
Podia
ir por dentro, mas obedeci ao planejado e segui pelo litoral. Diferente de
nossas belíssimas praias a vegetação que cresce nas areias é abundante, espessa
e não tão bonita. Com a ajuda das dunas, forma uma barreira quase
intransponível tanto física quanto visual não me permitiu ver a cor do mar
nesse trecho. Sem problemas.
Continuando
à uma velocidade condizente com o local, cheio de quebra-molas, segui em frente, passei por La Barra e o
cenário realmente só foi mudar quando passei por uma ponte cuja pista em forma
de ondas, passa sobre o Arroyo Maldonado. Não havia como tirar uma foto melhor,
mas a ponte está bem ao fundo desta.
Segui
passando por Laguna Blanca, El Chorro até chegar à José Inácio. Após a
tradicional consulta de localização, entrei à esquerda em uma estradinha
secundária, muito simpática.
O
Camino Sainz Martinez é cercado por uma vegetação um pouco diferente do que
havia visto até então. São
aproximadamente 10 quilômetros de tranquilidade e belas paisagens até chegar a
Ruta 9, direção norte para o Chuí e assim voltar a pisar território Tupiniquim.
Não estava ansioso e sim apreensivo. Havia me despido de quase toda natural
defesa a nossa civilização, portanto, tinha de relembrar padrões possivelmente
esquecidos. Paciência.
Precisava
“descambiar” os Pesos Uruguayos, como não houve muitas opções de gasto,
sobraram mais pesos que o que gostaria. Não precisava ter gasto tantos dólares
como gastei em combustível e hospedagem. Sim, eu pagava a nafta e hotéis com
dólares preservando os pesos para pequenas despesas. Por motivos óbvios, não
queria fazer despesas no cartão a não ser o estritamente necessário.
Não
estava previsto pernoitar no Chuí e destrocar essa moeda seria um prejuízo
desnecessário. Eu tinha aproximadamente 800 pesos para torrar. Não era nada
demais, mas precisava resolver esse problema.
Parei
no que parecia ser o último posto Del Uruguay enchi o tanque e comi umas
porcarias com refrigerante.
Mais
alguns quilômetros e chego no Brasil.
Na
aduana, passei direto. Minha primeira viagem internacional de moto havia sido
um sucesso. Zero de stress e problemas a não ser o frio e chuva que pela época “escolhida”
para essa pequena jornada já era esperado.
Parei
e entrei na “Duty-Free”, escolhi uma garrafa de Jack, para beber com a turma
boa de Caxias do Sul e Garibaldi e mais outras “cositas mas” perfazendo 10
“reaus” à mais. Problema resolvido. Rumo a Pelotas onde resolvi pernoitar já
que havia combinado com os de Caxias do Sul e Garibaldi nos encontrar em Santa
Cruz do Sul para o fim de semana.
Passando
na Polícia Federal me enrolei com os cones e o caminho a seguir. Indo devagar,
fiquei olhando se pediam para parar. Ficaram olhando, mas sem sinal. Resolvi
parar.
“O
senhor comprou alguma coisa no Uruguai?”
“Só
uma garrafa de whisky para combater o frio e mais nada de significativo.”
Ela
era uma gata e respondeu:
“Ok!
Pode seguir.”
“Obrigado.”
Entrava
na famigerada reta do Taim. Uma reserva florestal sem curvas, sem bares, sem
naf, ops! Gasolina.
UMA
MERDA!
Relaxei,
meditei e parei no último posto antes da reserva. Isso é importante, pois
muitos desavisados param com pane seca no Taim; tanto na ida quanto na volta.
O
cara da Harley que ultrapassei nesse intervalo parou em seguida e batemos um
bom papo. Ele também vinha do Uruguai. Ele partiu antes e ao contrário do que
pensei, não o vi mais. Pensava que iria ultrapassá-lo com facilidade, mas algo
me fez rodar tranquilo admirando a paisagem.
O
céu foi ficando cinza e a temperatura caiu um pouco. Até pelotas não há muito o
que dizer, então cheguei fiz check-in e antes de subir, passei no posto para
lavar os bauletos por fora para não sujar o hotel com o barro acumulado.
Ia
apenas pernoitar, quarto executivo standard a pedida. Espaçoso com 3 camas de
solteiro.
UMA MERDA!!!!
Mofado,
tudo velho, o banheiro antigo precisando de reforma, etc. Estava cansado, não
ia reclamar, descer com os 3 bauletos, a mala do tanque e o capacete para outro
quarto. Liguei o foda-se e a televisão simultaneamente e após o banho, uns
goles de whisky e alguns bons minutos escrevendo saí para jantar.
Procurando,
perguntei e verifiquei que estava quase tudo fechado nas redondezas devido a
passeata em favor de um Brasil melhor e mais honesto. Fiz meu dever cívico e
acompanhei os milhares até a principal praça da cidade.
Aguardei
o desenrolar das atividades e como nada mais ia rolar fui correr atrás de onde
saciar minha fome.
Vale
um registro. HOMOFOBIAS DEIXADAS DE LADO, vi uns viadinhos sim, mas muito pouco
para a fama que a cidade carrega. Tinha muita mulher bonita isso sim.
Sem
opções, voltei ao hotel a fim de comer um sanduba. Para minha surpresa havia
uma espécie de pub e uma taberna tipo italiana no térreo e ambos com certo
movimento. Pedi um Filé à Brasileira, a possibilidade de comer ovo frito
misturado com arroz foi o motivo. Arroz misturado com ovo trás excelentes
recordações.
Subi
para o merecido descanso. A previsão para o dia seguinte era de chuva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário