Havia
tensão misturada a ansiedade na noite anterior.
Desta
vez o planejamento havia sido mais detalhado de por isso mais tempo foi
necessário. A pressa devido ao escasso tempo proveniente da antecipação da
viagem, misturado com a velocidade com que o tempo voa quando estamos de bem
com a vida havia deixado marcas.
Achar
no Google Maps todos os mais de 50 pontos, identificar suas coordenadas,
lança-las em uma planilha a fim de montar o Roteiro Detalhado, mesmo com a
preciosa ajuda de Jeff, não foi fácil. Adicionar as excelentes dicas dos
amigos, encontrar os primeiros hotéis, contatá-los, receber as respectivas
respostas e inseri-las em outra planilha fez o tempo diminuir. Receber as dicas
dos amigos de passeios, restaurantes e melhores estradas então, nem se fala.
Imaginem concatenar isso tudo com o calendário.
Não
vou nem falar do fazer as malas, ação para a qual sobraram menos de 24 horas.
Mas
valeu muito. Estava feliz e os resquícios da má notícia que fez antecipar tudo
estavam se esvaindo.
E
apesar do cansaço, como na primeira viagem, não dormi bem a noite anterior à
partida.
Os
três bauletos laterais mais a case do tanque estavam fechados e com as coisas
dentro faltava apenas o top case onde colocaria os itens a serem utilizados
antes da partida.
Já
descobri itens esquecidos. Espero não precisar de óculos reserva. A idade
realmente é uma merda.
Antes
de dormir, encher o tanque, a penúltima esvaziada de @Boris Staford que dessa
vez não foi para o hotel, colocar os dois bauletos laterais na moto, um banho,
o jantar e descobrir que tinha que descer para pegar o bauleto onde estava a
caixa com os carregadores e demais itens eletrônicos.
Tinha
que carregar o celular e o intercomunicador.
MERDA!
Coloquei
as coordenadas do primeiro dia no GPS e em fim, dormi?
“PORRANENHUMA”
rolei na cama alguns minutos antes disso. Quando o despertador tocou eu já
estava com @Boris Staford na rua para sua última esvaziada. O Zona Sul ainda
fechado me fez ir ao Pão de Açúcar para comprar o pão e o suco do café da
manhã; no Rio quase não existe mais padarias. Apenas dois caixas e a quantidade
de gente para ser atendida me fez desistir.
Um
sanduba de queijo com mortadela (gosto muito!) no horroroso pão integral sem glúten
de minha mãe foi a solução que misturada com água, o café da manhã.
Últimos
itens nos respectivos lugares, roupa trocada e com o auxílio de meu filho
acondicionei os cases na moto.
GPS
no lugar, intercomunicador ligado, todos os bips ouvidos, assim como as
primeiras informações do GPS, parti.
Túnel
Rebouças, Paulo de Frontin, Linha Vermelha e a doce voz da moçoila do GPS
estava muito distante. Minha dificuldade com a tecnologia se mostrava. Eu não
conseguia lembrar qual o botão para aumentar o som. Os dois possíveis foram acionados
e o volume do tráfego fez sumir o raro som da moçoila.
Parei
no Alemão da Dutra, mas não ajudou. Lógico que fiquei puto. Havia testado tudo
em um bate e volta no fim de semana anterior e tinha ficado feliz com o
resultado; mesmo sabendo que o problema do mau funcionamento desde o dia da
compra fora causado por um defeito irreversível no pino que conecta os
autofalantes e microfone no aparelho principal e que a peça estava
descontinuada (não fabrica mais).
A
estrada estava ótima, sem muito movimento, eu estava atrasado. Mas a voz da
moçoila fazia falta. Já imaginava passar toda viagem sem sua companhia.
Primeiro
pedágio, R$ 5,00. A já conhecida serra das Araras com seu asfalto liso e
sinuosidade das curvas convidava à velocidade dos primeiros passos da dança.
Era a primeira e ainda não havia me acostumado com o peso da moto carregada com
os bauletos cheios. Toda atenção foi necessária para que pudéssemos ao menos
bailar descentemente. Não fizemos feio.
Ainda
estava na dúvida se todo o trabalho na localização e inserção das coordenadas
no GPS havia sido bem feito e consequentemente, se seria confiável. A ausência
da maçoila me fazia olhar mais para o aparelho em busca da informação da
primeira parada. E ela veio em Resende, como programado.
Tanque
cheio, um copo de água, um expresso muito mal servido por uma atendente mal
humorada, a primeira barra de proteína e mais uma tentativa de descobrir o porquê
da ausência de quem seria minha única companheira, além da moto, por toda a
viagem.
Verifiquei
a ligação não recebida que havia solicitado ao meu filho para um derradeiro
teste. Não estava nada feliz. Até que, com enorme receio de fazer merda,
mexendo nos botões detectei que o bluetooth do GPS estava desligado. A voz que
ouvira era do autofalante do mesmo e não dos autofalantes dentro do capacete.
Abri
um sorriso após ouvir o doce som da gata e fiz a ligação para meu filho. Tudo
funcionava bem, menos minha cabeça consumida pela idade.
Paciência.
De
volta à estrada passei alguns momentos sorrindo a cada instrução de minha guia.
Um
pouco depois de Itatiaia, pego à direita na rodovia 345 e em alguns quilômetros
começo a matar as saudades das curvas da estrada visitada há 13 meses. O
asfalto liso, a mata fechada formando túneis que escondiam o brilho do sol e o
início da queda da temperatura em contraponto com a elevação do nível eram os
instrumentos da orquestra que embalava nossa segunda dança. A melhora na
coordenação dos movimentos era latente, mas há muito que melhorar e para isso,
tenho mais de 6.000 quilômetros de pista de dança pela frente.
Uma
parada rápida no Restaurante Sobradinho para descobrir suas coordenadas,
impossíveis de serem identificadas no Google Maps (-22.34586,-44.81455) para
futuras visitas.
Almoçamos
lá há 13 meses e a comida típica mineira é uma delícia e o tratamento
excelente.
Uma
boa prosa com o dono (acho, esqueci-me de perguntar), um cafezinho minerim e um
copo de água. Uma prova de um parmesão feito na região não foi suficiente; tive
que repetir. Prometi voltar com a turma e levar um. Não vai ser difícil cumprir
essa.
Retomei
a segunda parte da segunda dança mais confiante.
O
planejado almoço em São Lourenço foi simples. Um filé de peito de frango
grelhado no alho acompanhado de uma saladinha banhada no azeite, salpicada de
alho torrado. Preciso cuidar da saúde e alho é um excelente remédio além de ser
uma delícia.
A
alimentação durante a viagem deve ser leve. Lembram? Por isso as barras de proteína,
café e água durante as paradas. Se não, dá sono e aí...
Mesmo
com as coordenadas no GPS, bebendo um expresso e conversando com o dono da
cafeteria (a mesa de há 13 meses), resolvi mudar o roteiro. A estrada que havia
escolhido passava por Lambari e era boa, mas segundo ele, tinha uma melhor,
passando por Cristina, Itajubá (Célia, lembrei-me do seu casamento com meu
primo) e por fim, Santa Rita do Sapucaí para então pegar a Fernão Dias 21
quilômetros à frente do planejado.
Toda
a estrada em muito bom estado, quase nenhuma mata fechada, muitos pastos e
morros baixos. O sol á minha direita ofuscava a visão em certos pontos, mas
nada complicador. Os caminhões é que são mais agressivos e encontra-los nas
curvas de mão dupla demandava atenção redobrada. As curvas mais abertas conferiam
prazer à terceira dança.
Após
alguns quilômetros na Fernão Dias, em Estiva, outra parada estratégica. Um pão
de queijo, café, água e a barra de proteína foram o acompanhamento da análise
do roteiro.
Como
deixei de passar por Lambari, minha companheira recalculava o trajeto
frequentemente tentando me convencer a voltar para cumprir o planejado. Vocês
sabem que mulher quando cisma com alguma coisa é complicado.
Como
não identifiquei as coordenadas (preciso perguntar isso para meu guru de GPS,
Jeff), estava difícil achar os números de Lambari para extirpá-la do roteiro e
assim convencer a GPS que diferente das demais, nessa nossa relação quem manda
é o homem, PORRA!
Após
alguns bons minutos concluí a operação. Novamente na estrada, não reabasteci,
pois o tanque estava cheio e a Fernão Dias tem muitos bons postos não seria
necessário me preocupar. Mais uma parada só para fazer eu não chegar muito cedo
a Campinas o que seria bom já que meus anfitriões só estariam em casa após as
19 horas. Não estava a fim de ficar rodando à toa e cansado por uma cidade que
não conhecia.
O
excelente asfalto e as muitas curvas, mesmo que de raio longo me fizeram
recordar, guardando-se as proporções, a BR-04, Rio Juiz de Fora, a melhor e
mais bem cuidada estrada do Estado do Rio de Janeiro.
UMA
VERGONHA!
Como
indicado no GPS, o sol se pôs às 17:25 h e o resquício dos raios do sol
mostravam um céu rosado.
Estava
chegando a Campinas.
Uma
excelente recepção do casal mais que simpático, as novidades após mais de 12
anos de distância, um banho e um jantar na casa de uma das sogras. Rever a
filha mais velha e conhecer a caçula em outra calorosa recepção, a conversa
agradabilíssima como os poucos, mas simpáticos convidados do aniversário da
sogra, um arroz de bacalhau dos Deuses e mais papo deram o tom da noite
fantástica. E o cansaço, infelizmente, então deu sinal de vida.
Voltamos
para casa, troca de informações e dicas para o roteiro e cama.
Acordei
com o despertador. Havíamos concordado que os 537 quilômetros planejados iriam
ser consumidos em estradas de mão única, de boa qualidade, por isso poderiam
ser percorridos em no máximo 7 horas e que então poderia sair mais tarde.
Após
as coisas arrumadas, tomamos um excelente café da manhã temperado com o sol que
acordara com emergia.
As
coordenadas do dia na GPS, bauletos na moto, a foto com a filha mais nova
apaixonada por carros e motos e a promessa de na próxima leva-la em uma volta
em duas rodas.
Últimas
instruções e segui após as despedidas que para mim deixarão saudades.
Minha
companheira da viagem deu o ar da graça com as primeiras instruções. A primeira
parada seria Boituva à aproximadamente 100 km para o primeiro reabastecimento
já que não queria parar em posto em Campinas.
De
repente, a GPS manda entrar à direita em uma rua estreita. Achei estranho e alertei os sentidos. Passei
por alguns motéis e à esquerda peguei uma pequena estrada de mão dupla e algum
movimento. Asfalto razoável, zero de estrutura e mato dos dois lados. Segui em
frente na esperança de um posto, bar ou algo confiável para esclarecimentos.
NADA!
Domingo,
os poucos e modestos estabelecimentos estavam todos fechados. Segui mais uns
quilômetros em baixa velocidade e parei na sombra para as duas ligações não
atendidas aos meus anfitriões.
Sem
opção, segui em frente e emparelhei com um carro.
“Boituva?
Em frente toda vida.”
Segui
a instrução, mais calmo. De repente, um aglomerado de casas e barracas, congestionamento
e muita gente circulando como um formigueiro. Fui informado que era uma feira e
que não seria bom eu ficar de bobeira por ali. Segui entre as duas pistas
paradas evitando atropelar os que atravessavam as pistas sem olhar.
Passei
incólume enquanto a GPS permanecia calada como se soubesse a merda que havia
feito.
Primeira
à direita e em fim uma rodovia civilizada. Segui até a Rodovia Castelo Branco
para parar alguns quilômetros depois, onde planejado. A primeira barra de
proteína do dia, café e água.
Sem
fotos da estrada, pois ela é uma reta enorme sem nenhum atrativo. Nenhum comentário,
não nenhuma dança.
Foram
mais de 200 quilômetros de retas e raríssimas e longas curvas; um saco!
Com
duas paradas para reabastecimento e um queijo quente:
“Bem
torrado, por favor.”
“Sim
senhor.”
“O
queijo é prato?”
“Não,
senhor, é no pão.”
“Não.
O queijo é prato?”
“Não,
senhor, é muzzarella.”
Fiquei
sem entender. Relaxei. No final estava bo.
O
asfalto de qualidade permitiu brincar com a velocidade que variou entre 140 e
220 quilômetros por hora. Só tinha isso para fazer. Era isso ou dormir.
Foi
assim até pegar uma pista secundária à esquerda. De pouca qualidade com um
pedágio salgado no valor de R$ 6,20 para as motos. Mão dupla, com alguns
caminhões e asfalto razoável, mas que não vale o preço ainda mais após saber que
seriam dois pedágios perfazendo absurdos R$ 12,40.
Melhorou
um pouco com o aumento do número de curvas e a redução da temperatura. Deu para
dançar um pouco antes de chegar a Londrina.
O
hotel é razoável e a água quente foi um alívio. Lavei o necessário das roupas
já utilizadas e aqui escrevendo enquanto faço hora para o jantar.
Até
a próxima.
Boa
noite!
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