segunda-feira, 24 de junho de 2013

11º DIA –SANTANA DO LIVRAMENTO/RIVERA – COLÔNIA DEL SACRAMENTO


Após as ações de praxe, café da manhã, arrumar as coisas, check-out, etc., etc., etc., saí para cambiar uma graninha. Não consegui estacionar em um lugar seguro, voltei ao hotel e sai a pé para resolver esse problema. Passei antes no banco para tirar R$ 500,00 que no câmbio local valeram perto dos 5.000 pesos uruguaios ou os tradicionais 2 x 1 = U$ 250,00.

Não foi tão simples assim, eu estava carregado, pedi uma informação à polícia e não obtive o retorno esperado. Tive de retrabalhar só porque eles não se dignaram a dar um apoio. Então pensei:

“Se como brasileiro recebo essa força da polícia brasileira, como deverá ser no Uruguai?”

Me lembrei da viagem anterior quando não havia sido bem recebido já na aduana.

Indignado voltei ao hotel, peguei a moto e saí para passar pela última vez, na fronteira, na direção Brasil - Uruguai, nesta viagem.


Mais poucos metros reparei em um pequeno marco que me deixou em dúvida de qual deles é o verdadeiro. Não tive tempo de perguntar, o processo de cambiar também foi irritante e eu estava mais era a fim de sair fora.


Mas havia outro assunto à resolver. Passar na aduana uruguaia, o que poderia significar mais problemas. Pude estacionar a frente do pequeno prédio, entrei sem maiores problemas da mesma forma em que permaneci por aproximadamente 15 minutos e saí.

Diferente de meus conterrâneos, dessa vez os uruguaios me trataram muito bem. Só faltaram dizer:

“Somos pobres, mas somos limpinhos.”

E é verdade, como irão ver nos próximos relatos a diferença de civilidade deste povo. O que comprova que havia sido infeliz na viagem anterior e que riqueza não tem nada a ver com educação.

Subi novamente na moto, coloquei a GPS no suporte, alimentei-a com as coordenadas enquanto batia um papo com um segurança da aduana e um transeunte ambos querendo saber detalhes da viagem.

Enfim, parti. Segui em frente e após o cemitério dobrei à direita para entrar na Ruta 5 com 23.425 quilômetros rodados.


Esperava mais uma reta sem fim, entretanto, não foi bem assim. Como o dia anterior, havia algumas boas curvas e o asfalto se revelou de boa qualidade durante todo o trajeto. Há um pequeno, mas importante problema. De vez em quando surgia, no sentido longitudinal, marcas de fresamento. Não entendi o motivo, pois o asfalto não precisa de recapeamento. O problema é que essas marcas desestabilizam a moto tornando o pilotar inseguro. E foi assim até o final da Ruta 5.


A paisagem eclética era o diferencial desta etapa da viagem. Uma mistura de pampas, com florestas de pinheiros, vegetação tipo serrado, etc. As margens da ruta, além do acostamento tem uma faixa de afastamento “inconstruível” onde o que poderia ser mato é um gramado bem aparado. O gado que imaginava ser numeroso não aparece com muita frequência.


Sem mais nem menos apareceram uns morros que parecem ter sido cortados os cumes. Muito estranho e bonito. Isso deve ter um nome, mas não faço a menor ideia de qual seja.


A temperatura num decrescente até atingir aos 14,5 graus e a chuva que se mostrava em gotas minúsculas formavam uma dupla de matar. Mas consegui resistir.

Abasteci, com nafta, é como chamam gasolina por aqui, em dois pontos como programado, Tacurembó e Duranzo. Pequeno e médio vilarejos, respectivamente. Foi próximo ao segundo que passei por um dos poucos rios que cruzam a ruta.


E foi lá também que ao pedir informações sobre como melhor chegar em Colônia. Um casal de um pouco mais do que meia idade saltou de sua moto, mostrou no meu mapa e deu a dica do caminho que passei a seguir. Também recebi, educadamente, informações quando necessitei em um cruzamento mal sinalizado adiante.

Segui viagem, agora com a certeza de que estava no caminho certo.

Passei por Trinidad e em busca do melhor caminho, parei em uma bonita e bem instalada tienda de equipamentos e acessórios para motos, imaginando que seria o lugar perfeito à tirar minha dúvida. Aguardei minha vez de ser atendido. A única atendente não soube dar a informação, mas foi educada. Saí, montei na moto para ir perguntar em outro lugar. Ainda calçava as luvas quando o guri que estava sendo atendido antes de mim perguntou o que eu queria. Após me ouvir ele se ofereceu e em sua moto, me guiou por alguns quilômetros até o cruzamento da Ruta 3.

A Ruta 3 é uma duplicata da Ruta 5, mas havia um diferencial considerável, havia parado de chover e a temperatura subira um pouco. Foram pouco mais de 90 quilômetros até São José de Mayo para, após conferir com um educadíssimo policial rodoviário, entrar à direita. Foram poucos quilômetros durante os quais precisei tirar a água do joelho. Parei em um retão, desci na faixa “inconstruível” e atrás de uma árvore resolvi meu problema admirando a paisagem em frente.


Outra coisa que me impressionou foi a pouca quantidade de carros ou caminhões. O Uruguai não é um país rico; pouco produz. A população gira em torno dos 3 milhões dos quais quase 2 milhões está em Montevidéu.

Não é rico, mas a educação é uma prioridade assim como a saúde. Como a nossa, a televisão é de péssima qualidade e os uruguaios sabendo disso gastam seu tempo trabalhando, com a família ou lendo bons livros e com isso adquirem insumos para alimentar sua civilidade.

Esta civilidade é latente no trato entre si e com os forasteiros, não só no atendimento nas tendas, hotéis e postos de nafta como na estrada.

Raros são os carros novos cujos motoristas ao perceberem minha presença pelo retrovisor não se furtavam à abrir espaço para minha passagem. Mesmo os camioneiros. Algumas vezes eles se utilizavam do acostamento a fim de abrir caminho para mim.

Lembrem-se, eu estou de MOTO e em estradas 80% retas.

Encontrava com alguns nos postos e reparava que não deixaram de ser homens por terem sido civilizados. Vale como ensinamento.

Ao entrar na Ruta 1, o sol já se fazia presente, porém o frio  era intenso. Duas estradas paralelas separadas por um relativamente largo gramado cada uma com duas pistas. Os retornos se multiplicam a cada 200 metros e a paisagem continuava bonita e agora mais devido a luz do sol.


Tavez a mais importante ruta do país devido a qualidade do asfalto e infraestrutura. Próximo a Colônia Del Sacramento a ruta leva um banho de loja e o que já era agradável torna-se mais bonita. Duas enormes alamedas ladeadas por palmeiras em uma simetria indescritível como se estivessem nos protegendo ao mesmo tempo em que nos dão boas vindas.


Achei um hotel com garagem, mas não fiz o check-in, apenas confirmei que voltaria. Como havia a possibilidade de eu sair no dia seguinte, resolvi dar uma volta pela cidade antes do sol ir embora.

Colônia é uma bela cidade. Bem cuidada e limpa, possui uma mescla de construções de várias épocas. Belas casas em pedras contratam com outras de arquitetura moderna, algumas ousadas. Os uruguaios conservam a parte histórica assim como mantem a unidade nas novas construções.


Como toda cidade de litoral, tem na beira do rio suas mais belas casas e é em suas calçadas que o povo se diverte ou faz exercícios.

A linda Plaza de Toros, apesar de desativada, é um marco dos tempos áureos da cidade


Completei meu tour satisfeito com o que vi e voltei ao hotel para um banho, descanso e depois procurar um bom lugar para jantar.

Na garagem, largado em um canto estava um carro fúnebre. Motivo de uma briga judicial entre familiares estava todo empoeirado. Um belo carro, provavelmente dos anos 40 ou 50, tem como maior atrativo o trabalho realizado em sua lataria. Talvez em madeira, a foto, mesmo que escura, de baixa qualidade devido aos meus escassos recursos (eu havia procurado uma máquina fotográfica na família antes de viajar, mas ela não chegou a tempo estou me virando com o celular mesmo), fala melhor do que as palavras que poderia escrever.



Tudo pronto, saí para o jantar. O frio e os raros turistas fazem diminuir a quantidade de opções e aceitar a sugestão do pessoal do hotel foi minha escolha. Uma “Parrillada”, espécie de churrascaria, com inúmero de cortes, tipos e maneiras de servir as carnes. Em um dos melhores produtores de carne do continente, essa fica sendo sempre a primeira opção.

Dessa vez fiquei com o “Lombo com Mayonese de Papas”.



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