Após
as ações de praxe, café da manhã, arrumar as coisas, check-out, etc., etc.,
etc., saí para cambiar uma graninha. Não consegui estacionar em um lugar
seguro, voltei ao hotel e sai a pé para resolver esse problema. Passei antes no
banco para tirar R$ 500,00 que no câmbio local valeram perto dos 5.000 pesos
uruguaios ou os tradicionais 2 x 1 = U$ 250,00.
Não
foi tão simples assim, eu estava carregado, pedi uma informação à polícia e não
obtive o retorno esperado. Tive de retrabalhar só porque eles não se dignaram a
dar um apoio. Então pensei:
“Se
como brasileiro recebo essa força da polícia brasileira, como deverá ser no
Uruguai?”
Me
lembrei da viagem anterior quando não havia sido bem recebido já na aduana.
Indignado
voltei ao hotel, peguei a moto e saí para passar pela última vez, na fronteira,
na direção Brasil - Uruguai, nesta viagem.
Mais
poucos metros reparei em um pequeno marco que me deixou em dúvida de qual deles
é o verdadeiro. Não tive tempo de perguntar, o processo de cambiar também foi
irritante e eu estava mais era a fim de sair fora.
Mas
havia outro assunto à resolver. Passar na aduana uruguaia, o que poderia
significar mais problemas. Pude estacionar a frente do pequeno prédio, entrei
sem maiores problemas da mesma forma em que permaneci por aproximadamente 15
minutos e saí.
Diferente
de meus conterrâneos, dessa vez os uruguaios me trataram muito bem. Só faltaram
dizer:
“Somos
pobres, mas somos limpinhos.”
E
é verdade, como irão ver nos próximos relatos a diferença de civilidade deste
povo. O que comprova que havia sido infeliz na viagem anterior e que riqueza
não tem nada a ver com educação.
Subi
novamente na moto, coloquei a GPS no suporte, alimentei-a com as coordenadas
enquanto batia um papo com um segurança da aduana e um transeunte ambos querendo
saber detalhes da viagem.
Enfim,
parti. Segui em frente e após o cemitério dobrei à direita para entrar na Ruta
5 com 23.425 quilômetros rodados.
Esperava
mais uma reta sem fim, entretanto, não foi bem assim. Como o dia anterior,
havia algumas boas curvas e o asfalto se revelou de boa qualidade durante todo
o trajeto. Há um pequeno, mas importante problema. De vez em quando surgia, no
sentido longitudinal, marcas de fresamento. Não entendi o motivo, pois o
asfalto não precisa de recapeamento. O problema é que essas marcas
desestabilizam a moto tornando o pilotar inseguro. E foi assim até o final da
Ruta 5.
A
paisagem eclética era o diferencial desta etapa da viagem. Uma mistura de
pampas, com florestas de pinheiros, vegetação tipo serrado, etc. As margens da
ruta, além do acostamento tem uma faixa de afastamento “inconstruível” onde o
que poderia ser mato é um gramado bem aparado. O gado que imaginava ser
numeroso não aparece com muita frequência.
Sem
mais nem menos apareceram uns morros que parecem ter sido cortados os cumes.
Muito estranho e bonito. Isso deve ter um nome, mas não faço a menor ideia de
qual seja.
A
temperatura num decrescente até atingir aos 14,5 graus e a chuva que se
mostrava em gotas minúsculas formavam uma dupla de matar. Mas consegui
resistir.
Abasteci,
com nafta, é como chamam gasolina por aqui, em dois pontos como programado,
Tacurembó e Duranzo. Pequeno e médio vilarejos, respectivamente. Foi próximo ao
segundo que passei por um dos poucos rios que cruzam a ruta.
E
foi lá também que ao pedir informações sobre como melhor chegar em Colônia. Um
casal de um pouco mais do que meia idade saltou de sua moto, mostrou no meu
mapa e deu a dica do caminho que passei a seguir. Também recebi, educadamente,
informações quando necessitei em um cruzamento mal sinalizado adiante.
Segui
viagem, agora com a certeza de que estava no caminho certo.
Passei
por Trinidad e em busca do melhor caminho, parei em uma bonita e bem instalada
tienda de equipamentos e acessórios para motos, imaginando que seria o lugar
perfeito à tirar minha dúvida. Aguardei minha vez de ser atendido. A única atendente
não soube dar a informação, mas foi educada. Saí, montei na moto para ir
perguntar em outro lugar. Ainda calçava as luvas quando o guri que estava sendo
atendido antes de mim perguntou o que eu queria. Após me ouvir ele se ofereceu
e em sua moto, me guiou por alguns quilômetros até o cruzamento da Ruta 3.
A
Ruta 3 é uma duplicata da Ruta 5, mas havia um diferencial considerável, havia
parado de chover e a temperatura subira um pouco. Foram pouco mais de 90
quilômetros até São José de Mayo para, após conferir com um educadíssimo
policial rodoviário, entrar à direita. Foram poucos quilômetros durante os
quais precisei tirar a água do joelho. Parei em um retão, desci na faixa
“inconstruível” e atrás de uma árvore resolvi meu problema admirando a paisagem
em frente.
Outra
coisa que me impressionou foi a pouca quantidade de carros ou caminhões. O
Uruguai não é um país rico; pouco produz. A população gira em torno dos 3
milhões dos quais quase 2 milhões está em Montevidéu.
Não
é rico, mas a educação é uma prioridade assim como a saúde. Como a nossa, a
televisão é de péssima qualidade e os uruguaios sabendo disso gastam seu tempo
trabalhando, com a família ou lendo bons livros e com isso adquirem insumos
para alimentar sua civilidade.
Esta
civilidade é latente no trato entre si e com os forasteiros, não só no
atendimento nas tendas, hotéis e postos de nafta como na estrada.
Raros
são os carros novos cujos motoristas ao perceberem minha presença pelo
retrovisor não se furtavam à abrir espaço para minha passagem. Mesmo os
camioneiros. Algumas vezes eles se utilizavam do acostamento a fim de abrir
caminho para mim.
Lembrem-se,
eu estou de MOTO
e em estradas 80% retas.
Encontrava
com alguns nos postos e reparava que não deixaram de ser homens por terem sido
civilizados. Vale como ensinamento.
Ao
entrar na Ruta 1, o sol já se fazia presente, porém o frio era intenso. Duas estradas paralelas
separadas por um relativamente largo gramado cada uma com duas pistas. Os
retornos se multiplicam a cada 200 metros e a paisagem continuava bonita e
agora mais devido a luz do sol.
Tavez
a mais importante ruta do país devido a qualidade do asfalto e infraestrutura.
Próximo a Colônia Del Sacramento a ruta leva um banho de loja e o que já era
agradável torna-se mais bonita. Duas enormes alamedas ladeadas por palmeiras em
uma simetria indescritível como se estivessem nos protegendo ao mesmo tempo em
que nos dão boas vindas.
Achei
um hotel com garagem, mas não fiz o check-in, apenas confirmei que voltaria.
Como havia a possibilidade de eu sair no dia seguinte, resolvi dar uma volta
pela cidade antes do sol ir embora.
Colônia
é uma bela cidade. Bem cuidada e limpa, possui uma mescla de construções de
várias épocas. Belas casas em pedras contratam com outras de arquitetura
moderna, algumas ousadas. Os uruguaios conservam a parte histórica assim como
mantem a unidade nas novas construções.
Como
toda cidade de litoral, tem na beira do rio suas mais belas casas e é em suas
calçadas que o povo se diverte ou faz exercícios.
A
linda Plaza de Toros, apesar de desativada, é um marco dos tempos áureos da
cidade
Completei
meu tour satisfeito com o que vi e voltei ao hotel para um banho, descanso e
depois procurar um bom lugar para jantar.
Na
garagem, largado em um canto estava um carro fúnebre. Motivo de uma briga
judicial entre familiares estava todo empoeirado. Um belo carro, provavelmente
dos anos 40 ou 50, tem como maior atrativo o trabalho realizado em sua lataria.
Talvez em madeira, a foto, mesmo que escura, de baixa qualidade devido aos meus
escassos recursos (eu havia procurado uma máquina fotográfica na família antes
de viajar, mas ela não chegou a tempo estou me virando com o celular mesmo),
fala melhor do que as palavras que poderia escrever.
Tudo
pronto, saí para o jantar. O frio e os raros turistas fazem diminuir a
quantidade de opções e aceitar a sugestão do pessoal do hotel foi minha
escolha. Uma “Parrillada”, espécie de churrascaria, com inúmero de cortes,
tipos e maneiras de servir as carnes. Em um dos melhores produtores de carne do
continente, essa fica sendo sempre a primeira opção.
Dessa
vez fiquei com o “Lombo com Mayonese de Papas”.
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