Complementando
as informações do post anterior, o jantar de ontem foi realizado na CIC –
Câmara da Indústria e Comércio de Garibaldi, o nome do evento era: “Homens na
Cozinha” e no jantar, além da Vaca Atolada (Ensopado de Carne de Gado e
Mandioca) e do rocambole de carne citados no post, rolou uma salada básica de
tomate, alface e palmito e um Risoto de Ervas. Como disse no referido post,
tudo estava ótimo.
Antes,
ao chegar na casa do Marcos, havia no ar o cheirinho de bolo recém retirado do
forno. Trouxe recordações.
Café
da manhã com frutas e bolo foi o máximo! Tinha mais, mas não precisava só o
bolo resolveria. Comi vários pedaços.
Conversando
sobre os planos do fim de semana, no jantar de ontem, tinha dito a Marcos que
gostaria de visitar uma vinícola artesanal e por coincidência, havia entre os
convidados um amigo dele proprietário de uma Micro-Champanharia. Marcos então
marcou com ele para irmos conhecê-la.
Estava
frio, fomos de carro. Encontramos com Gilberto Pedrucci no local marcado e após
as apresentações pegamos uma estrada secundária com destino a Presidente
Soares. Durante o percurso, aproximadamente 20 quilômetros, ele contou sua
história.
Enólogo
ha muito de uma grande vinícola de espumantes, resolveu produzir seu próprio
espumante e após procurar, descobriu e se interessou por uma velha vinícola
desativada que estava à venda. Após as negociações de praxe ele conseguiu
arrematá-la. É claro que não foi tão simples assim, maiores detalhes lá no site
da vinícola.
A
paisagem peculiar mostrava vinhedos vazios devido a entressafra. Nesta época as
parreiras hibernam economizando energia e nutrientes para a época de produção
de folhas e frutos. Mesmo assim, o vale iluminado pelo sol que eficientemente
afastara as nuvens, mostrava toda sua exuberância.
A
simpática estrada de terra remete a época em que o transporte era precário e a
maioria dos vinicultores morava e laborava no mesmo lugar. O conjunto de
propriedades era religiosamente guarnecido por capelas ou pequenas igrejas,
muitas construídas pelas mãos hábeis desses trabalhadores do vinho.
Após
agradáveis bons minutos chegamos à vinícola.
Uma
construção dos tempos da imigração italiana, erguida em pedras lavradas cujas
dimensões quase iguais permitiram perfeito assentamento dando beleza e
segurança a construção. Pedrucci teve de reformar o imóvel e nesse trabalho
procurou preservar o máximo possível do existente
Com
o apoio de apenas um empregado ele administra, cria e produz seus espumantes
nesse único ambiente.
Foram
muitas informações para apenas uma manhã e provavelmente vou esquecer alguma
coisa, mas em resumo o vinho é colocado em um grande barril de aço inoxidável e
ali fica por um determinado tempo em um processo químico natural.
Depois
é engarrafado e descansa por mais tempo após o qual, com a garrafa de boca para
baixo (rémuage), passa por um processo de resfriamento (fermentação) em que
todo o resíduo é concentrado e congelado junto a boca (método Champenoise –
fermentação na garrafa). Este Método
Champenoise é utilizado na elaboração dos sempre famosos Champagnes.
Pelo método Charmat, são feitos
os espumantes de menor qualidade.
A
etapa seguinte, Dégorgement, é tirar
a tampa provisória para que esse resíduo seja expulso pela pressão do gás
carbônico formado no processo. A finalização do espumante é colocar a rolha, a
grade de segurança (esqueci o nome) e os rótulos do pescoço e barriga da
garrafa.
Foi
uma aula em que nota-se a emoção e boa vontade de Pedrucci em nos passar todas
as informações, esclarecer dúvidas e matar curiosidades.
Mostrar
que nossos produtos quando bem feitos podem e são muito bem qualificados no
exterior também fez parte dos ensinamentos. Há pelos vinhos e espumantes
nacionais uma boa quantidade de prêmios que com certeza nossos enólogos têm
conhecimento, mas infelizmente poucos ajudam a divulgar deixando-se levar pela
doutrina de que o que vem de fora é sempre o melhor.
Apenas
para ilustrar, em um evento relacionado com a mais importante exposição do
setor na região, foi servido vinho importado.
PODE
ISSO ARNALDO?
Mas
havia mais uma etapa do complexo processo à cumprir e este, com certeza o
melhor. Degustar os espumantes Pedrucci foi para mim, que sou mais de vinhos,
uma experiência bastante agradável.
Estou
muito longe de ser um expert, mas com as dicas do enólogo consegui sentir a
diferença de sabores e aromas das amostras oferecidas, estavam excelentes.
Aqui
ficam meus agradecimentos ao casal Marcos pela oportunidade e à Pedrucci pela
aula.
Retornamos
e a paisagem mesmo que revista, novamente nos chamou a atenção. O sol estava
mais forte e a manhã cinzenta estava se transformando agradavelmente.
Voltamos
para a cidade, deixamos Pedrucci em casa e fomos almoçar em um simpático e
honesto restaurante à quilo na avenida principal. Com exceção da polenta com
queijo derretido, esqueci o nome, as demais opções não eram novidade. Estava
bom.
Voltamos
para casa e como combinado pegamos as motos para um rolé nas redondezas. Iniciamos
pela estrada em direção à Bento Gonçalves, passamos por Pinto Bandeira, uma
cidadezinha bastante simpática e seguimos a direção dos Caminhos de Pedra.
Paramos
na Casa das Massas e do Artesanato (34-3455-63-68) onde fomos muito bem
atendidos pela dona do estabelecimento.
Trata-se
de uma casa construída em madeira na época em que os italianos imigraram. Os
equipamentos da fazenda, a roda d’água, o pilão entre outros, ainda existem e
funcionam.
Além
do café quentinho provamos e adquirimos alguns biscoitos salgados, muito
saborosos. Quase todos os produtos são feitos na propriedade e os que não são,
tem origem nas redondezas. Doces, massas, geleias, molhos, etc. em diversas
texturas e sabores não nos deixavam ir embora.
Alguns
metros à frente, na casa vizinha, construída nos mesmos moldes da anterior e
diversas outras da região. Na Casa da Tecelagem (54-3455-63-93) se produz peças
fabricadas em teares rudimentares da mesma época. Com poucas modificações
devido ao desgaste do passar dos tempos. Todos estão como se estivessem sido
construídos há pouco tempo e funcionando.
Como
de praxe, fomos atendidos muito bem pelas duas funcionárias da casa. Não só
recebemos todas as explicações de funcionamento como as vimos produzir alguns
centímetros de peças que após sua conclusão estarão expostas e sendo
comercializadas na grande sala ao lado, junto com as demais.
Continuamos
nosso passeio em direção a Garibaldi, mas dessa vez passando pelo
Vale dos Vinhedos; que já conhecia da viagem anterior.
Estávamos
cansados. O por do sol na janela da casa dos Marcos estava indescritível.
Tentei registrar, mas a foto abaixo está bem aquém da realidade.
Não
houve jantar. Por opção nossa resolvemos finalizar a noite conversando,
degustando os salgadinhos adquiridos no passeio, cubos de Parmesão e rodelas de
salame, ambos também da região. Simone bebeu vinho e nós o Jack que trouxera do
lado uruguaio do Chuí.
Mais
um delicioso café da manhã cujo item principal não deixara de ser o bolo feito
por Simone, que mesmo passadas mais de 24 horas, permanecia macio e gostoso.
O
sol brilhava como há muito não se via e o calor emanado, mesmo que pouco, era
sentido com prazer.
Enquanto
aguardávamos a O Casal Marcelo para um almoço especial ligou e juntou-se a nós
os Montagna. Um casal bastante simpático e divertido que reside muito mal (hehehe!!!!)
em Gramado para onde ele transferiu sua fábrica de componentes elétricos. Uma
caipirinha para eles, uma dose de Jack para mim e com a chegada dos Marcelo nos
dirigimos, de carro, ao restaurante escolhido, evento agendado no dia anterior.
O acesso se dá pela Estrada do Sabor.
Trata-se
da sede de uma propriedade rural com, se não me engano, 10 hectares de terras
produtivas. É delas que saem os produtos servidos no restaurante comandado pela
matriarca da família.
Do
pai, falecido há alguns anos, guardam as ferramentas com que trabalhava, caçava,
sustentava e defendia sua família.
As
modestas instalações guardam quase tudo da época e garrafas diversas dos anos
passados. Localizada no porão da casa sede, está em bom estado de conservação e
mostra alguns itens como o fogão à lenha, o móvel aparador, a chaleira, etc.
Não
é só chegar, entrar e sentar, você tem que agendar, pois os pratos são feitos à
conta dos comensais que só podem ser no máximo 30.
A
casa também abre para eventos.
Raissa,
a caçula que administra o estabelecimento e atende ao público, explicou que o
número é reduzido para que todos recebam atendimento especial e consigam conversar
entre si ou com os que ali trabalham sem atropelos.
Formada
em turismo, ela conta histórias que não se recorda por ser muito pequena na
época, mas transmitidas a ela por sua mãe, a chef que com suas mãos elabora as
iguarias servidas, cujo maior fruto e orgulho foi ter formado suas três filhas.
A
filha do meio, que conheci após o almoço ao visitar a cozinha, é Pedagoga. Nos
fins de semana ela auxilia a mãe na cozinha junto com outra senhora contratada.
Nos dias de semana trabalha em uma escola de Garibaldi.
A
terceira, que não conheci é a que comanda os trabalhos rurais da propriedade.
Agrônoma estava em casa cuidando dos gêmeos recém-nascidos.
Todas
muito educadas e simpáticas. Se fosse dar uma nota pelo atendimento não poderia
ser menor que 10.
Iniciamos
os trabalhos espalhados pelo grande salão de pé direito baixo e piso de terra
batida. Enquanto conversávamos, a fim de abrir o apetite, degustamos três
deferentes tipos de aperitivos, uma espécie de licor artesanal nos sabores de
“Murta (fruta), Nêspera (do caroço da fruta de Nêspera) e de Nosin (casca de nozes)
Acompanhava
Polenta Brustolada que são polentas sob queijo da casa derretido e rodelas de
salame também da casa; servidos pelo pai dos gêmeos.
Após
muito papo fomos convidados a sentar à mesa. Em poucos minutos iniciou-se o tão
esperado banquete. No começo estranhei a pouca quantidade, mas depois entendi
que o motivo é para manter a comida sempre quente e por isso os pratos eram
substituídos frequentemente, mesmo não estando totalmente vazios. O limite é
sua vontade e espaço.
Primeiro
serviram uma salada com verduras frescas, rodelas de maça, gomos de tangerina,
estrelas de Carambola e lascas de queijo.
Depois,
uma espécie de sopa de capelletti ou agnollini cuja massa estava bem macia e o
sabor muito bom.
Seguiu
com a Carne Lessa que é uma carne cozida na sopa, bem saborosa.
Não
parou por aí, sem mais nem menos surgiu a minha frente um delicioso Frango ao
Molho, eleito por mim o melhor dos muito bons itens servidos. Junto veio o nhoque
com pedaços de linguiça.
Mais
uma saborosa carne feita em panela de ferro via bacon, com legumes cozidos.
Batata, cenoura e cebola.
Fechou
as opções, mas não o almoço a Fortaia, uma espécie de omelete de espinafre. Excelente,
lembrou os tempos quando conseguiram me fazer gostar dessa simples, mas
deliciosa iguaria.
Estávamos bem servidos, mas ao vislumbrar a mesa onde nos aguardavam delícias da mama, não havia como não procurar um cantinho para a sobremesa. Mesmo eu que não sou afeito a doces, achei.
Sorvete
caseiro, calda de amoras, pudim de laranja, sfregolá, figo e abóbora
cristalizada. Tudo feito na casa.
As colombinas, o nome do restaurante da Famiglia Odete Bettú Lazarri, é uma iguaria feita de massa de pão. Não faço a menor ideia do sabor, pois as guardei como lembrança, mas devem ser deliciosas com manteiga, queijo, salame ou simplesmente pura.
Se
desejarem mais informações e opções da região, consultem:
Nos
despedimos, os Montanha foram para Gramado, Os Marcelo para Caxias do Sul e nós
fechamos esta minha passagem por Garibaldi em casa, conversando e iniciando as tratativas para uma nova viagem, no máximo daqui há dois anos, para o Chile.
Antes
de dormir, fazer as malas com uma ponta de tristeza e iniciei os preparativos
para o dia seguinte pegar a estrada cedo, pois Marcos tinha um dia de labuta e
eu não queria atrasá-lo.
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