quinta-feira, 11 de julho de 2013

25º AO 28º DIAS - CURITIBA - SÃO PAULO – RIO


Era um Hotel Ibis, o café da manhã, pago separado como os demais Ibis, estava razoável. Nada de especial. Nesta viagem, comi melhores e piores. Estava bom para o que se propunha.

O céu parecia estar abrindo. Resolvi acreditar no sol, arriscar e mudar a estratégia de sair vestido com a calça a prova de chuva e com o casaco à mão no topo da mala. Agoora ambos estariam no topo da mala.

A temperatura subia.

Check-out, tudo pago, segui com o carrinho de malas em direção ao lado de fora da portaria onde deixaria com um dos garagistas enquanto ia pegar a moto. Procedimento padrão.

Havia dois caras conversando aguardando a chegada do carro. Ocupavam a calçada toda.  Ao que reparou minha chegada, o outro estava de costas, solicitei em voz baixa;

“Gente boa, dá para dar uma chegadinha prá lá?”

Ele disse algo ao outro que se virou, olhou para o carrinho, para mim e não se mexeu.

“PORRA TU VAI FICAR OCUPANDO A CALÇADA TODA? TU NÃO É DONO DO MUNDO! CACETE!”

“Eu não ouv...”

“NÃO OUVI MESMO! NÃO FALEI COM VOCÊ! FALEI COM SEU AMIGO, ELE QUE FALOU COM VOCÊ! PORRA! VOCÊ ATÉ OLHOU PRA TRÁS E FEZ ESSA CARA DE VIADINHO!

“Você é muito gros..”

“GROSSO É O CACETE! FIQUEI DEPOIS QUE VOCÊ DEU UMA DE BABACA! VAI SE FODER!

Ele deu espaço resmungando. Deixei as coisas na calçada, pedi em voz baixa e educadamente à um dos garagistas para dar uma olhada e desci para pegar a moto.

Voltei, coloquei tudo na moto, agradeci o apoio do garagista, perguntei a direção à seguir e fui embora.

Não andei muitos quilômetros e puto, ainda na cidade, tive de parar em um posto para vestir a roupa de chuva.

Tudo pronto, errei na rotatória e mais puto refiz o caminho para então sair na direção certa. A GPS não estava errada, apenas confundi, pois eram muitas saídas da rotatória.

Alguns poucos quilômetros e estava na BR 116 rumo a Terra da Garoa.

A Regis Bittencourt já foi uma estrada traiçoeira.  Chamada de Rodovia da Morte devido aos inúmeros acidentes, a maioria com mortos. Era em mão dupla onde os camioneiros se transformavam em verdadeiros animais. Tanta era a agressividade com que dirigiam nesse pedaço de rodovia que não havia no país outra com maiores índices negativos quanto esse trecho da BR 116.


Ainda em processo de duplicação, são anos nisso, posso dizer que fora o trânsito no trecho sinuoso ainda por duplicar, a Regis Bittencourt é hoje uma estrada confortável, bonita e segura. Tem um bom grau de sinuosidade não possuindo aquelas retas enjoadas que levam horas para serem transpostas. Vira e mexe rios cruzam sob suas pontes e as montanhas estão sempre presente.


Com exceção da emoção vivida nas Serras Gaúchas, essa foi uma das melhores etapas da viagem. Temperatura amena, sem chuva (sim, só de sacanagem, em pouco tempo a filha da puta parou de cair), estrada limpa, asfalto liso, curvas em profusão, moto na mão, o que mais iria querer depois de tantos dias debaixo d’água e frio?

E assim foi até que reparei estar em ascendente com bom aumento na sinuosidade das curvas. Estava subindo uma pequena serra, com no máximo 10 quilômetros que passou como um raio sob meus pneus. E a sensação de quero mais me fez pegar o primeiro retorno, descer até o início, mais outro retorno e começar tudo novamente. Esse seria o objetivo da viagem se não fossem tantas chuvas.

Revi excelentes amigos, conheci belos lugares, provei boas comidas, bebi excelentes vinhos; tudo ótimo e maravilhoso, mas estar na estrada sobre duas rodas dessa forma, não tem preço.

Repeti agora, fiz o mesmo nas Serras Gaúchas e na Serra do Rio do Rastro à dois anos e farei novamente em próxima e breve oportunidade.

Cheguei à Sampa sem chuva e cansado. Direto para o apart-hotel, banho e cama. Após poucas, mas revigorantes horas de descanso desci para o jantar. Nada de sofisticado. Um filezinho a parmegiana com arroz e fritas. Estava honesto. O vinho, a única meia garrafa, um Santa Helena safado e bem ruinzinho. Não notei na hora da primeira degustação... dancei.


A noite de um sábado chuvoso e frio não conseguiu me tirar do hotel.

Acordei tarde e saí para um rolê à pé na avenida Paulista. Vazia e molhada pela insistente garoa não me era estranha, mesmo depois de quase um ano separados nos entendemos bem. Achei o que queria com facilidade quase como um legítimo paulistano.

O MASP continuava o mesmo e me chamou a atenção seu mau estado de conservação. Manchas de vazamentos entre outros indícios corroborando com os maus tratos reservados as nossas cidades pelos governantes corruptos. Cambada de safados.


Estava em casa. Um café expresso na Haddock Lobo quase esquina com a Alameda Santos, alguns metros distante de onde veria o jogo da “selecinha” na final da Copa das Confederações.

A chuva foi o que me fez voltar ao hotel. Escrever e ver televisão foram meus passatempos enquanto aguardava a hora do jogo. E esta chegou.

Entrei na Cantina do Piero il Vero e enquanto a pelada rolava na televisão, pedi uns petizes que consumi junto a um Gato Negro.


O pão Italiano, a manteiga, a berinjela desfiada, as azeitonas pretas e a pasta que esqueci o nome duraram todo o jogo, mas deixaram um bom espaço para um belo filé que esqueci de tirar a foto de tão bom que estava.

No dia seguinte acordei cedo para levar a moto fazer revisão. Perdi a manhã toda nessa brincadeira e mais uma vez a chuva me fez voltar ao hotel. Desta vez o almoço não poderia deixar de ser uma massa.


À noite, reencontrei uns amigos da época em que laborava na cidade. Fomos à um Mexicano onde íamos com certa frequência. Alguns nachos e doses de tequila foram os adereços para o bom papo e excelentes risadas relembrando tempos não tão distantes.

Na manhã seguinte, entrei na Dutra ainda cedo, mesmo não tendo me preocupado com a hora. A chuva havia parado e o sol me fez companhia quase que a viagem inteira. Essa parte da viagem não há muitos atrativos nem muita coisa para contar. Tive a oportunidade em reparar em trechos interessantes que não havia dado atenção em passagens anteriores.




A chuva voltou com certa força poucos quilômetros antes da serra o que me fez reduzir consideravelmente o ritmo. Estava chegando e até lá não havia nada a fazer que já não fosse conhecido.

Queria chegar em casa.

E cheguei.


Nenhum comentário:

Postar um comentário