Era
um Hotel Ibis, o café da manhã, pago separado como os demais Ibis, estava
razoável. Nada de especial. Nesta viagem, comi melhores e piores. Estava bom
para o que se propunha.
O
céu parecia estar abrindo. Resolvi acreditar no sol, arriscar e mudar a
estratégia de sair vestido com a calça a prova de chuva e com o casaco à mão no
topo da mala. Agoora ambos estariam no topo da mala.
A
temperatura subia.
Check-out,
tudo pago, segui com o carrinho de malas em direção ao lado de fora da portaria
onde deixaria com um dos garagistas enquanto ia pegar a moto. Procedimento
padrão.
Havia
dois caras conversando aguardando a chegada do carro. Ocupavam a calçada
toda. Ao que reparou minha chegada, o
outro estava de costas, solicitei em voz baixa;
“Gente
boa, dá para dar uma chegadinha prá lá?”
Ele
disse algo ao outro que se virou, olhou para o carrinho, para mim e não se
mexeu.
“PORRA
TU VAI FICAR OCUPANDO A CALÇADA TODA? TU NÃO É DONO DO MUNDO! CACETE!”
“Eu
não ouv...”
“NÃO
OUVI MESMO! NÃO FALEI COM VOCÊ! FALEI COM SEU AMIGO, ELE QUE FALOU COM VOCÊ!
PORRA! VOCÊ ATÉ OLHOU PRA TRÁS E FEZ ESSA CARA DE VIADINHO!
“Você
é muito gros..”
“GROSSO
É O CACETE! FIQUEI DEPOIS QUE VOCÊ DEU UMA DE BABACA! VAI SE FODER!
Ele
deu espaço resmungando. Deixei as coisas na calçada, pedi em voz baixa e
educadamente à um dos garagistas para dar uma olhada e desci para pegar a moto.
Voltei,
coloquei tudo na moto, agradeci o apoio do garagista, perguntei a direção à
seguir e fui embora.
Não
andei muitos quilômetros e puto, ainda na cidade, tive de parar em um posto para
vestir a roupa de chuva.
Tudo
pronto, errei na rotatória e mais puto refiz o caminho para então sair na
direção certa. A GPS não estava errada, apenas confundi, pois eram muitas
saídas da rotatória.
Alguns
poucos quilômetros e estava na BR 116 rumo a Terra da Garoa.
A
Regis Bittencourt já foi uma estrada traiçoeira. Chamada de Rodovia da Morte devido aos
inúmeros acidentes, a maioria com mortos. Era em mão dupla onde os camioneiros
se transformavam em verdadeiros animais. Tanta era a agressividade com que
dirigiam nesse pedaço de rodovia que não havia no país outra com maiores
índices negativos quanto esse trecho da BR 116.
Ainda
em processo de duplicação, são anos nisso, posso dizer que fora o trânsito no
trecho sinuoso ainda por duplicar, a Regis Bittencourt é hoje uma estrada
confortável, bonita e segura. Tem um bom grau de sinuosidade não possuindo
aquelas retas enjoadas que levam horas para serem transpostas. Vira e mexe rios
cruzam sob suas pontes e as montanhas estão sempre presente.
Com
exceção da emoção vivida nas Serras Gaúchas, essa foi uma das melhores etapas
da viagem. Temperatura amena, sem chuva (sim, só de sacanagem, em pouco tempo a
filha da puta parou de cair), estrada limpa, asfalto liso, curvas em profusão,
moto na mão, o que mais iria querer depois de tantos dias debaixo d’água e
frio?
E
assim foi até que reparei estar em ascendente com bom aumento na sinuosidade
das curvas. Estava subindo uma pequena serra, com no máximo 10 quilômetros que passou
como um raio sob meus pneus. E a sensação de quero mais me fez pegar o primeiro
retorno, descer até o início, mais outro retorno e começar tudo novamente. Esse
seria o objetivo da viagem se não fossem tantas chuvas.
Revi
excelentes amigos, conheci belos lugares, provei boas comidas, bebi excelentes
vinhos; tudo ótimo e maravilhoso, mas estar na estrada sobre duas rodas dessa
forma, não tem preço.
Repeti
agora, fiz o mesmo nas Serras Gaúchas e na Serra do Rio do Rastro à dois anos e
farei novamente em próxima e breve oportunidade.
Cheguei
à Sampa sem chuva e cansado. Direto para o apart-hotel, banho e cama. Após
poucas, mas revigorantes horas de descanso desci para o jantar. Nada de
sofisticado. Um filezinho a parmegiana com arroz e fritas. Estava honesto. O
vinho, a única meia garrafa, um Santa Helena safado e bem ruinzinho. Não notei
na hora da primeira degustação... dancei.
A
noite de um sábado chuvoso e frio não conseguiu me tirar do hotel.
Acordei
tarde e saí para um rolê à pé na avenida Paulista. Vazia e molhada pela
insistente garoa não me era estranha, mesmo depois de quase um ano separados
nos entendemos bem. Achei o que queria com facilidade quase como um legítimo
paulistano.
O
MASP continuava o mesmo e me chamou a atenção seu mau estado de conservação.
Manchas de vazamentos entre outros indícios corroborando com os maus tratos
reservados as nossas cidades pelos governantes corruptos. Cambada de safados.
Estava
em casa. Um café expresso na Haddock Lobo quase esquina com a Alameda Santos,
alguns metros distante de onde veria o jogo da “selecinha” na final da Copa das
Confederações.
A
chuva foi o que me fez voltar ao hotel. Escrever e ver televisão foram meus
passatempos enquanto aguardava a hora do jogo. E esta chegou.
Entrei
na Cantina do Piero il Vero e enquanto a pelada rolava na televisão, pedi uns
petizes que consumi junto a um Gato Negro.
O
pão Italiano, a manteiga, a berinjela desfiada, as azeitonas pretas e a pasta
que esqueci o nome duraram todo o jogo, mas deixaram um bom espaço para um belo
filé que esqueci de tirar a foto de tão bom que estava.
No
dia seguinte acordei cedo para levar a moto fazer revisão. Perdi a manhã toda
nessa brincadeira e mais uma vez a chuva me fez voltar ao hotel. Desta vez o
almoço não poderia deixar de ser uma massa.
À
noite, reencontrei uns amigos da época em que laborava na cidade. Fomos à um
Mexicano onde íamos com certa frequência. Alguns nachos e doses de tequila
foram os adereços para o bom papo e excelentes risadas relembrando tempos não
tão distantes.
Na
manhã seguinte, entrei na Dutra ainda cedo, mesmo não tendo me preocupado com a
hora. A chuva havia parado e o sol me fez companhia quase que a viagem inteira.
Essa parte da viagem não há muitos atrativos nem muita coisa para contar. Tive
a oportunidade em reparar em trechos interessantes que não havia dado atenção
em passagens anteriores.
A
chuva voltou com certa força poucos quilômetros antes da serra o que me fez
reduzir consideravelmente o ritmo. Estava chegando e até lá não havia nada a
fazer que já não fosse conhecido.
Queria
chegar em casa.
E
cheguei.
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