Mais bolo, ainda delicioso, as coisas na moto e fomos beber um café na cidade. O derradeiro papo e rodas na estrada. Ao parar em um dos poucos sinais da cidade reparei, no reflexo do carro à frente, que meu farol estava queimado. Tenho uma sobressalente, mas a preguiça em desfazer a bagagem e pegar no fundo da mala me fez aguardar chegar em Floripa.
O
céu cinza deixava cair as já tradicionais e inócuas gotículas de chuva. O chove
molha, não chove, mas não seca retornou com força e a estrada, apesar de
convidar ao prazer estava molhada e insegura.
Foram
poucos quilômetros, nem a metade do previsto. A chuva forte abreviou o
planejamento. Procurei um hotel e o que indicaram era muito ruim. Mais um!
Preciso rever meus conceitos sobre como e onde me hospedar. Não sou nem um
pouco exigente, mas minhas últimas escolhas tem sido horríveis.
Chovia
muito e um banho quente, mesmo em um quarto vagabundo parecia ser mais atrativo
do que “rearrumar” as coisas na moto para sair, debaixo de chuva, em busca de algo melhor.
Deixei
as coisas no quarto e saí para o supermercado ao lado a fim de comprar algo
para substituir o jantar que já havia decidido não degustar.
Acordei
cedo e após o café da manhã, fechei a conta, coisas na moto e estrada. Quanto
antes saísse daquele inferno melhor.
Continuava
chuviscando o que já não era mais um problema. Isso me fez desistir de descer
a Serra do Rio do Rastro, não havia sentido para isso. Peguei a rota mais
simples iniciando por uma enorme reta depois da qual se sucederam curvas convidativas,
mas ainda molhadas.
Apesar
da chuva a paisagem mudava agradavelmente.
Mudava...
Parei
para me esquentar e comer algo além da barra de proteínas. Foi em um beira de
estrada que pedi um queijo quente bem torrado e um refrigerante. Lá fora
permanecia frio e a chuva caia sem cerimonia. Sem mais nem menos um motorista
de caminhão puxou assunto. Estranhei o modo como me encarava até que entendi.
Segundo ele eu era muito parecido com um grande amigo que não via há tempos.
Vendo que eu não era, conversamos um pouco sobre a viagem e pedi informações da
estrada à frente. Ele foi muito prestativo.
Peguei
as luvas que estavam secando embaixo do balcão quente do bufe de comidas, paguei
a conta, comi a barra de proteínas, uns goles de água e fui embora.
Os
quilômetros foram passando, a chuva diminuindo, a temperatura subindo, o céu
clareando e a pista secando. As curvas surgiam em maior quantidade iniciando
seu flerte. A mão direita ainda deixava se controlar pela razão e permanecia
mantendo o acelerador em velocidade morna.
A
situação permaneceu nesse processo crescente. A estrada em uma sinuosidade
inesperada continuava secando aos primeiros raios do sol e juntos me convidavam
a uma nova dança.
Na
esperança de bons momentos, deixei de lado o planejado e decidi dar ao sol mais
tempo e parei em um pequeno, mas aconchegante bar de estrada. Pedi um queijo
quente no pão da casa e enquanto aguardava pedi um pastel de forno de frango;
depois me arrependi. Não pela qualidade e sim quantidade.
Fiquei
ali proseando dando tempo ao tempo de clarear e aquecer o dia e assim secar a
pista. Previa emoções.
Um
casal fumava lá fora, mas toda a fumaça invadia o ambiente. As pessoas
realmente não se tocam.
O
último gole de refrigerante, conta paga, joelho vazio e rodas na estrada.
Como
descrever esses últimos mais de 50 quilômetros?
Seguimos
os quatro, sol, estrada, moto e eu, como se nos conhecêssemos há anos. Fazia
alguns dias que não me sentia tão bem sobre a moto e isso foi fantástico.
Precisava disso. Os dias nas estradas entre cidades não têm sido nada
agradáveis.
O
pequeno número de veículos circulando aumentavam a segurança.
Não
foi necessário muito tempo para me readaptar e a parte da viagem em estradas voltava
a ser prazerosa. Curvas e mais curvas se sucediam. Subidas, descidas ou em
nível. A vegetação que as emoldurava tinha um tom verde musgo devido as
recentes chuvas e sorriam diante dos mornos raios de sol.
E
permanecemos assim, nesse grande baile à luz do dia até poucos quilômetros
antes do encontro com a BR 101.
Ela
estava cheia devido a proximidade com a capital de Santa Catarina e cada vez
mais a medida que nos aproximávamos do litoral. Atravessamos a ponte, entrei à
direita para em alguns metros chegar à concessionária. Trocar a lâmpada era o
objetivo.
Simples.
Sim, mas nem tanto. Há muito havia trocado as lâmpadas por mais fortes e o
calor emanado por esse tipo de lâmpada é maior que o das normais. Resultado,
derreteu o soquete. Ia precisar de mais tempo para a troca.
“Gostaria
de fazer o test drive da moto nova. É possível?”
“A
moto não está aí, mas está chegando. Foram encher o tanque. Se desejar
esperar...”
“Espero!”
E
ela chegou. Linda, branco e cinza claro eram as cores predominantes.
“Vou
aproveitar e fazer o check-in no hotel, pois não fiz reserva e isso pode demorar um pouco.”
“Sem
problemas. Vai tranquilo.”
O
som do motor era conhecido do dia de lançamento ainda no Rio de Janeiro. O peso
da moto era menor, o peso do acelerador também.
Eu sorri. Os poucos que estavam no pátio de acesso à concessionária
estavam atentos.
Primeira
e em segundos estava no topo da rampa de acesso à rua. Estava vazia. Agora
éramos apenas nós dois.
Eu
sabia a direção do hotel. Seria o mesmo de dois anos atrás. Estava enganado,
mas me perder não foi tão ruim. Peguei a beira mar e acelerei. Depois peguei o
miolo do centro e acabei caindo em uma alameda com algumas curvas. A moto
respondia sem reclamar. Os 15 cavalos à mais mostravam a que vieram. Após
consulta cheguei ao destino. Tinha vaga, Fiz o check-in e voltei à
concessionária.
Os
alemães conseguiram melhorar e muito o que já era bom. O conjunto de inovações mecânicas
implementadas na 1200 GS 2013 transformaram a velha senhora em uma linda donzela.
Não,
eu não esqueci que houve modificações tecnológicas, mas no test-drive não houve
como conhece-las. E isso só podia significar uma coisa, o ótimo poderia ser
ainda melhor.
De
brincadeira fiz a seguinte pergunta:
“Quanto
vocês voltam na minha em troca de uma nova?”
Voltei
à noite para o lançamento nacional do novo Mini. As manifestações políticas esvaziaram o
evento, mas foi legal. O carro é bonito.
Retornei ao hotel e, como há dois anos, no dia seguinte não foi possível conhecer o sul da ilha.
Retornei ao hotel e, como há dois anos, no dia seguinte não foi possível conhecer o sul da ilha.
Desta
vez foi por um bom motivo. Enquanto aguardava os trâmites voltei ao centro para
tentar consertar o óculos que havia afrouxado as fixações devido a uma queda.
Esse sistema de fixação é relativamente novo. São como rebites segurando as
lentes em vez de parafusos e não são todas as óticas que tem equipamento para
conserto. A primeira ótica indicou a segunda que pediu ao menos 1 hora.
“Ok,
então, vou almoçar.”
Não
estava enxergando direito, precisava comer algo que não necessitasse enxergar
direito. Burguer King, Mac Donald’s ou Bob’s eram as opções. Na falta do
primeiro, escolhi o segundo que era mais perto eu estava sem óculos e andar
também não ia ser confortável.
Tudo
resolvido, voltei para o hotel, arrumei as coisas e fui dormir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário