Prezados,
Houve o tempo em que se ouvia aos
quatro ventos:
“É desde pequeno que se torce o
pepino!”
Não sei o que uma coisa tem a ver
com a outra, mas significa que é desde criança que se educa o indivíduo.
É nessa época que o ser humano
começa a aprender e esse aprendizado é facilitado pelo fato de o cérebro ainda
estar literalmente vazio.
Lembro-me de meus pais e alguns
outros pais nos ensinando a ser gente. A dividir os brinquedos com nossos
amiguinhos e ceder quando os deles eram mais atrativos e vice-versa.
Ou quando nos mostravam que os
mais velhos assim como as autoridades mereciam respeito.
Da mesma forma que os brinquedos
de nossos amiguinhos de pracinha, os bens de nossos semelhantes também deveriam
ser respeitados.
Não eram poucas as vezes em que
gritavam quando não atendíamos (entendíamos?) seus conceitos e não se furtavam
a usar da “violência” para ter nossa atenção e consequente compreensão.
Para essa árdua tarefa nossos
pais recebiam o APOIO das escolas na pessoa sempre enérgica ou carinhosa de
nossas professoras. Autoridades que chamávamos de Tias.
Estudávamos em escolas públicas,
instituições sérias e muito bem administradas pelos Governos e seus
funcionários, que com isso cumpriam seu dever de dar ensino de qualidade
àqueles cujos pais labutavam produzindo frutos, parte dos quais eram
direcionados ao sustento desta engrenagem na forma de impostos em um moto
contínuo satisfatório.
E foi nesse cenário que eu e
muitos de meus contemporâneos crescemos.
Procuramos fazer o mesmo com
nossos filhos. Mesmo separados lhes demos estrutura sócio econômica e
principalmente familiar mostrando à eles as opções de caminhos a seguir e
corrigindo-os quando necessário. A escola pública já não tão eficiente nos fez
optar pela particular e depois de terminado o ciclo da menor idade verificamos
que a escolha fora acertada.
Hoje eles estão iniciando sua
vida profissional ainda como estudantes de universidades particulares.
Eu estava viajando e em 17 de
junho havia chegado na fronteira com o Uruguai. À noite, no jantar, vi um dos
canais de TV aberta acompanhando ao vivo e a cores as manifestações que
aconteciam em várias capitais do país. No Rio, era a primeira. O pau comia
solto em frente a Câmara dos Vereadores. Alguns vândalos, que depois vieram
chamar de infiltrados, quebravam o que viam pela frente amontoando os destroços,
ateando fogo.
E a polícia, corretamente,
baixava a porrada sem dó nem piedade.
Os demais manifestantes, curiosos
que são, mantinham-se em volta da bagunça estupefatos.
Preocupado eu me perguntava onde
poderiam estar meus filhos, já imaginando a resposta. Após várias tentativas
consegui a confirmação. A contragosto sabia que não haveria outro lugar para
eles estarem naquele momento e que só me restava pedir para que nada de ruim
acontecesse.
Ao mesmo tempo, via crescer um
sentimento de patriotismo nunca visto em meus mais de 35 anos de vida. O povo,
pequena parte dele, deixava o conforto de seus lares para estar nas ruas defendendo
seus direitos há muito deflorados pelo extrativismo, ganância, arrogância,
estupidez e egoísmo de uma corja instalada no poder desde 1500. O Pavilhão
Nacional tremulava ao sabor dos ventos do Movimento.
Foram semanas, de preocupação,
mas também de satisfação, pois via cair por terra uma a uma cada uma das palavras
proferidas por mim inúmeras vezes na frase:
“Nós somos um povinho de merda!”
Como eu havia esperado por isso.
Como eu desejara essa demonstração de comprometimento na luta pelos nossos
direitos assim como a demonstração de que conhecemos nossos deveres ao ver a
maioria se afastando e/ou delatando aqueles cujos rostos cobertos pela vergonha
haviam sido comprados para provocar desordem e com isso desestabilizar o
Movimento.
Em uma valoração nunca vista e
nunca obtida pelos vis investidores, reles vinte centavos adquiriram valores
estratosféricos transformados em luta contra a corrupção, melhorias no sistema
de segurança e no transporte público; investimentos na saúde e na educação;
melhores condições de trabalho para diversas classes; melhorias na infraestrutura
do país e demais inerentes.
O povo se multiplicava nas ruas
não só das capitais como em diversas outras cidades e estradas do país.
Estimados em pouco mais de dois
milhões de “combatentes” apartidários mostraram a cara e sua insatisfação por
um período próximo dos sessenta dias.
A estes somavam-se os que
postados nas janelas ou em frente as TVs, admiravam e incentivavam o Movimento.
Número maior de manifestantes era
“visto” nas redes sociais.
Brancos, negros, católicos ou
não, homossexuais, ricos (nem todos, claro), pobres, amarelos, heterossexuais,
estudantes, trabalhadores, Flamengos, arco-iristas, etc. uniram-se como:
“Nunca na História Deste País!”
Neste período a força desse
conjunto de vozes fez tremer os alicerces de cada prédio público, construído, principalmente
aqueles onde estão instalados os membros da corja governante; seja ela
municipal, estadual ou federal e seus asseclas.
Aparentemente acuados reuniram-se
e desse conluio quatro pseudo importantes decisões foram tomadas:
- Os 20 centavos acrescidos às
passagens foram retirados;
- A PEC 37 que em poucas palavras
impediria o Ministério Público de conduzir investigações criminais, foi
rejeitada em plenário;
- A corrupção foi considerada Crime
Hediondo
- Será realizado um Plebiscito a
fim de verificar a opinião dos brasileiros com relação a assuntos de seu
interesse.
Nesse mesmo período, como em uma
terra de contos de fadas, a Copa das Confederações acontecia.
Pão e Circo.
Utilizaram estádios construídos
ou reformados a custos estratosféricos com o dinheiro surrupiado do povo por um
Ali Babá e seus mais de 40 ladrões. Estádios, que como castelos, poucos
deixarão de se tornar grandes e brancos elefantes por falta de um Hobin Wood ou
outro herói qualquer. Estádios que tal qual a carruagem virarão abóboras a
serem devoradas pelos ratos que sob a alcunha de Concessionárias os
administrarão, com certeza deixando em 2º plano aquilo para o qual foram
construídos, o futebol.
Estádios que podem cair como as
casas dos Porquinhos sob o sopro do imenso Lobo Mau.
E foi como os porquinhos, que
derrotaram o lobo mau que conquistamos o torneio.
Não demorou muito e as ruas se
esvaziaram, restando apenas as palavras compartilhadas nas frágeis trincheiras eletrônicas
das redes sociais ou pequenas manifestações promovidas por partidos, sindicatos
ou outros reles iguais se aproveitando do momento. Como sempre. Tudo isso em
troca de uns “reaus” e um sanduba safado e frio.
VERGONHA!
Muito pouco para quem pretendia acordar
o Gigante.
Das quatro decisões oriundas do
conluio as quatro nada mais são, como as Bolsas Assistencialistas, medidas
paliativas com o único e sórdido objetivo de calar e amansar os que se
insurgem.
Ou não? Vejamos:
- Os 20 centavos é um item lógico
que auto se explica;
- A PEC 37 impedia o Ministério
Público de investigar crimes? O que importa? O importante é que os crimes sejam
investigados e de maneira séria, na forma da lei; o que não ocorre neste país
desde 1500 e quando o são, ninguém é preso. Joaquim Barbosa que o diga.
- Crime Hediondo? É como a lei da
ficha limpa, não é necessária. Necessário é identificar o criminoso e colocar
na cadeia. Simples assim. O que tem que acontecer é acabar com as artimanhas
jurídicas que mantém os corruptos nas ruas e nisso, é claro que a Corja
governante não se interessa. Enquanto isso, ladrões de galinha são amontoados
nas cadeias do país.
- Plebiscito? Vocês estão de
sacanagem. Esse já adiaram para o ano que vem e ano que vem, é ano de Copa do Mundo
então, até lá, vocês povinho sem memória, já terão esquecido e estarão nas
arquibancadas ou nas ruas ao som do Olodum cantando:
“EU, SOU BRASILEIRO, COM MUITO
ORGULHO, COM MUITO AMOR...”
Ridículos.
Nossa pobre história está repleta
dessas tramoias e a postura de nosso povo não muda, mesmo a dos poucos que à
leem em condições de discernir. Todos agem como ovelhas de um rebanho sem
personalidade.
Diante disto, eu gostaria de fazer
umas perguntinhas e para que esse Papo de Cozinha continue produtivo, é
necessário que sejam sinceros e concisos nas respostas.
1 - Vocês realmente pensavam que
iam conseguir algo além dessas migalhas?
2 – Vocês acham que só porque
meia dúzia de gatos pingados foi para as ruas a Corja ia ter uma sincope e
sucumbir à consciência de que estão no poder pelo povo, em nome do povo e para
o povo?
Foram aproximadamente 2 milhões
nas ruas, um pouco mais de 2 % dos 180 milhões de espertos que compõem nossa
população, portanto, número irrisório que não decide “porranenhuma”. Menos que os
6% que conseguem discernir.
3 –Em que mundo vocês vivem, onde
estavam os outros 98%??
Como disse, somos o país dos
espertos, posso afirmar sem medo de errar que uma grande porcentagem de nosso
povo é egoísta e desprovido de civilidade. São vários os exemplos e a
reportagem de capa da Vejinha desta semana é a mais nova e clara imagem desta
nossa pobre história.
E como poderia ser diferente se
até vocês que têm condições de discernir não abrem mão de sua zona de conforto para
um bem maior e melhor.
4 - Senão, quantos de vocês, por
exemplo, deixariam o conforto de seu lar para sair às ruas em passeata?
5 – Quantos deixariam sua SUV em
casa ou ao menos a dividiriam oferecendo carona a seus semelhantes?
7 - Quantos de vocês passariam a
ir de moto, bicicleta ou taxi, já que utilizar metro e/ou ônibus é
impraticável, para comparecer a seus compromissos.
8 - Quantos de vocês em vez de
“chamar” mais de um elevador, se daria ao trabalho de olhar o marcador,
“chamaria” o mais próximo e esperaria pacientemente por sua chegada?
8 – Quantos de vocês gastariam ao
menos alguns poucos minutos diários pensando em uma forma EFETIVA de fazer com
que as coisas aconteçam realmente.
É ruim heim!
9 - Ora meus caros, se nós não
abrimos mão de algo como querer que a Corja imunda abra mão de suas benesses?
Ah! Vocês vão falar da justiça,
leis e demais ferramentas criadas para manter a Ordem.
Tolinhos!
É público e notório que a
corrupção corroeu e ainda corrói todos os seguimentos de nossa pobre sociedade,
ou vocês se esqueceram:
- De quem faz os CDs piratas;
- Dos restaurantes que em vez de
cobrarem os 10% de praxe passaram a cobrar 13% ou 15%;
- Dos que furam filas;
- Do mal atendimento dos SACs da
vida;
- Dos que ultrapassam pelo
acostamento;
- Dos médicos e/ou enfermeiros que
roubam itens dos hospitais públicos sob a desculpa de salario indireto devido
aos baixos vencimentos que foram de seu conhecimento quando da sua contratação
- Dos que estacionam sobre as
calçadas ou em vagas de deficientes e não o são;
- Dos arquitetos que especificam
materiais de empresas que pagam 10% por conta disso;
- Dos engenheiros que utilizam
material de segunda em suas obras ou compram materiais com notas superfaturadas
nas obras por administração;
- Dos jornalistas que se vendem
em reportagens caluniosas e sem fundamento;
- Dos advogados que se valem de
sua condição para obter vantagens;
- Dos motoriatas que não
respeitam as leis de trânsito e fecham os cruzamentos;
- Dos que vão ao banheiro e não
lavam as mãos;
- Dos administradores de ONGs
fantasmas;
- Dos que pedem para não ter a Carteira
Profissional assinada para se valerem das diversas bolsas assistencialistas ou
seguro desemprego;
- Etc., etc., etc.
10 – Quem desses aí em cima tem hombridade
para julgar e prender alguém, se até nosso valoroso Joaquim Barbosa ainda
(espero) não conseguiu?
E tem gente animadinha que vai
votar nele para presidente achando que só isso vai resolver “aporratoda”.
BOBINHOS!
Meus caros desculpem tanta
incredulidade, mas não consigo ver os acontecimentos com os mesmos olhos que
vocês. A criação que relatei no início deste texto é a verdadeira responsável
por isso.
Sinceramente eu gostaria de estar
errado nas palavras acima e com isso não poder afirmar que o Gigante ainda
adormece em berço esplêndido e ao som do mar e a luz do SONO profundo.