Café da manhã melhor do que o esperado e barato,
bagagens acondicionadas e rodas na estrada. Destino? Curitiba passando pela
tradicionalíssima Serra do Rastro da Serpente.
O dia claro e ensolarado prometia novidades. Seria
minha 3ª vez no estado, sobre duas rodas.
A SP 075, Santos Dumont, até pouco depois de
Sorocaba, é uma estrada muito bem pavimentada com duas pistas para cada lado e curvas de raio longo; foram 71 km sem nenhuma novidade.
Em Itapetininga, paramos para abastecer e um
lanche. Encontramos um grupo de motociclistas. Um bom , mas não muito longo,
papo voltamos para a estrada e em minutos já rodávamos na Serra do Rastro da
Serpente.
Reza a lenda que são 1.200 curvas em pouco mais de 200
quilômetros e eu estava ansioso para percorrê-las.
No primeiro trecho a pista deixava a desejar, mesmo
assim, iniciamos nosso relacionamento com o pé direito. Receoso, gerenciei com
parcimônia a intensidade com que rosqueava o acelerador. O asfalto deteriorado
pelos anos e/ou pelas obras inacabadas preocupava. Tanto que em um dado momento
errei a curva e, se não estivesse bem equipado seria chão, na certa. A
pilotagem moderada permitiu apreciar a vista que é fantástica.
Estava me acostumando com as dificuldades,
entretanto a responsabilidade e o pequeno susto me mantiveram do lado da razão.
Era uma maneira nova de curtir as curvas que se tornavam cada vez mais traiçoeiras
devido a sua sinuosidade. Eu me resistia com dificuldade, na realidade queria
aumentar a velocidade e bailar com elas.
Chegamos em Apiaí e eu não estava satisfeito, tinha
sido agradável mas queria mais. Tinha mais adrenalina para gastar.
Uma parada para a tradicional foto sob a placa que
nomeia a serra, um saco de pipoca de Dona Sandra, a rápida consulta com um
motociclista que vinha em direção contrária e rodas na estrada.
E as informações dadas pelo motociclista começaram
a se confirmar. Pista lisa, asfalto limpo e clima ameno foram os insumos para
ótimas emoções. As muitas derradeiras das 1.200 curvas foram consumidas sem
cerimônia e a minha destreza e tecnologia da moto foram postas a prova mais uma
vez. Acelerando bem próximo do meu limite e gastando cada milésimo possível de
borracha das laterais dos pneus, não foi raro encostar os pés no chão. A cada
curva conquistada as lembranças de outras passadas vinham e eu sorria na
solidão de meu capacete.
Ouvir o ronco grave do motor a cada descida de
marcha para as retomadas pós-curva era como se fosse um rock progressivo do
Pink Floyd. Eu estava em êxtase e era para isso que eu estava ali...
Longas, curtas, subindo, descendo ou não,
entremeadas por curtas retas, ou não, as curvas não acabavam e o corpo mal
preparado começava a dar sinais de cansaço. Mais duas paradas para fotos foram
a desculpa para me recompor e seguir em frente e em estado de graça. Eu estava
feliz, muito feliz e queria que não terminasse nunca.
Em Curitiba, hotel, banho e um jantar com o irmão
de Cláudio. Simpático casal que me recebeu muito bem e nos levou a uma pizzaria
tradicional da cidade.
Após excelente papo, falamos até de negócios,
entradas fantásticas e uma pizza dos deuses voltamos para o justo descanso.
Dormi contando as curvas que a serpente deixou nas montanhas a oeste de
Curitiba. Ela devia estar com pressa.
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