Outro dia estava levando Boris para esvaziar quando
ocorreu uma insólita confusão.
Perto da minha casa há um cruzamento que foge todas
as regras de trânsito. Os carros circulam em quase todas as direções e é
preciso muita atenção aos que passam por ali. Principalmente dos pedestres que
raramente são respeitados nessa luta desleal e diária contra as bicicletas,
motos, carros, ônibus e caminhões.
Eu aguardava pacientemente minha vez de atravessar
quando uma senhora com seus quarenta e poucos anos, em seu carro importado, mesmo me vendo quase no
meio da rua continuou em frente buscando, onde não existia, espaço para passar
entre mim e a calçada. Assustei-me e como aquele não havia sido um bom dia
despejei parte da minha ira sobre a dita cuja, porém sem utilizar palavras de
baixo ou alto calão.
A discussão pouco durou, mas o curioso é que um
motorista dessas vans que transportam crianças para a escola resolveu se meter
tomando as dores da madame. Com este fui menos polido, mas nem tanto. O pior
adjetivo que utilizei para qualifica-lo foi:
“Ignorante!”
A discussão terminou quando ela apontou o carro para a
garagem de um prédio próximo e eu segui em frente, chateado.
Chegando em casa, após o banho e as devidas tarefas
caseiras, sentei no sofá e enquanto aguardava mais um jogo do meu querido
Flamengo revi toda a história e verifiquei que daria um belo texto.
Redigi as seguintes palavras com a intenção de deixar
na portaria daquele prédio para ser entregue a dita cuja.
“Senhora,
Após o pequeno imbróglio em que estivemos
envolvidos e ainda surpreso com suas palavras resolvi voltar a cena do “crime”
a fim de verificar se eu estava errado como você insistiu em dizer. Chegando lá
constatei o que não era novidade já que passo por ali quase todos os dias,
alguns deles duas vezes para levar meu cão Boris para esvaziar.
Trata-se de um cruzamento de vias atípico, pois os
carros surgem de várias direções e exatamente por conta disso há placas e
faixas de “PARE” em todas as direções; o que ilustra o alto grau de
periculosidade do local. Essa periculosidade se agrava, pois não há em nenhuma das direções sinal
luminoso ou faixa para a travessia de pedestres o que é surpreendente já
que por lá passam diariamente, além dos moradores, algumas centenas de
trabalhadores que labutam na região. Região que dispõe de inúmeras empresas, de
vários portes entre elas dois supermercados, vários restaurantes além de alguns
prédios das organizações Globo.
Ou seja, gente é o que não falta.
Na situação em que estivemos envolvidos eu aguardei
a passagem dos carros e quando achei seguro iniciei minha travessia. Foi aí que
a senhora surgiu e mesmo me vendo insistiu em passar entre mim e a calçada. Assustei-me
e recuei ficando exposto aos demais carros que vinham de outra direção.
Encurralado e vulnerável, o que justifica o tom de voz bastante
alterado, porém tentando não ser mal educado, entre outras coisas citei a lei
de que o pedestre por ser mais fraco tem a preferência, assim como bicicletas,
motos e carros a têm entre si na relação menor x maior. Ou seja, o mais fraco
tem a preferência.
Básico!
A senhora insistiu argumentando que isso não
existia e ainda recebeu o apoio de um motorista de van escolar a quem chamei de
ignorante por também não conhecer tal lei.
Argumentou ainda que era moradora de um prédio próximo, como se este fato a abonasse das besteiras que faz ao volante ou a pé. Eu repliquei citando o óbvio, eu também moro na região e nem por isso fico fazendo besteiras por lá.
Em casa fui ao pai dos burros, o Google e em poucas
tecladas achei o seguinte texto, grifos meus:
A preferência ao pedestre não é absoluta, como alguns pensam. Embora exista uma regra de responsabilidade, segundo a qual os
condutores de veículos são responsáveis pela segurança dos pedestres
(artigo 29, § 2º, do CTB), o próprio Código também prevê as situações em que,
efetivamente, os pedestres terão a prioridade de passagem na via: quando
estiverem realizando a travessia nas faixas delimitadas para esse fim (as
faixas de travessia de pedestres, zebradas ou paralelas, são tipos de marcas
transversais, constantes da sinalização horizontal de trânsito, conforme
previsão do item 2.2.3.d. do Anexo II do CTB).
Além disso,
faz-se a ressalva de que, nos locais em que existir sinalização semafórica,
tanto o condutor do veículo quanto o pedestre devem atender às luzes
respectivas, para alternar o direito de passagem (neste aspecto, destaca-se que
a sinalização semafórica tem como função, justamente, controlar os
deslocamentos – item 4.1. do Anexo II). Como prevê o parágrafo único do
artigo sob comento, caso o pedestre já
tenha iniciado a travessia, os condutores deverão aguardar que ele chegue com
segurança até o passeio, mesmo após a mudança do sinal semafórico,
liberando a passagem dos veículos.
A
desobediência ao artigo 70 pode configurar uma das infrações de trânsito
previstas no artigo 214, que amplia o
direito de passagem do pedestre também ao condutor de veículo não
motorizado, nas seguintes situações:
I – que se
encontre na faixa própria;
II – que não
haja concluído a travessia mesmo que ocorra sinal verde para o veículo;
III –
portadores de deficiência física, crianças, idosos e gestantes;
IV – quando houver iniciado a travessia, mesmo que não haja sinalização;
V – que esteja atravessando a via transversal
para onde se dirige o veículo.
Ou seja, eu estava correto em quase tudo que disse
e onde não estava o bom senso, a educação, a civilidade e o respeito substituem
em muito a ausência de uma lei especifica citando o absolutismo da preferência.
Sua arrogância insistindo em um possível erro de
alguém não a autoriza a mata-lo.
Sim, afinal quem joga o carro sobre um pedestre não
pode estar querendo fazer outra coisa a não ser mata-lo e mesmo que tenha razão
em seus argumentos isso é crime.
Substitua o carro por uma arma...
Provavelmente eu não estaria aqui escrevendo...
Provavelmente eu não estaria aqui escrevendo...
Até por que, a senhora não deve ser o suprassumo da
ordem e obediência às leis, como todo o brasileiro não o é. Assim como seu
comparsa (quem apoia assassino é o que?) motorista da van, também abusado,
ignorante e arrogante. Ele, de nós três provavelmente é o que mais infrações
comete. Só no embarque e desembarque das crianças, parando quase que 80% das
vezes em local proibido, fila dupla, muitas vezes tripla diariamente em frente aos prédios e
escolas da cidade.
Mas não para por aí! Supondo que seu argumento de que por morar no local está isenta de se submeter à lei e da ordem, informo que sou proprietário na região faz mais de 30 anos, provavelmente mais tempo do que a senhora e mesmo que não, não é um e sim DOIS imóveis que sou proprietário nesta rua sendo assim, se não for por longevidade, será por mais posses que, nesta absurda lei criada pela senhora, tenho mais direitos.
Provavelmente a senhora e seu comparsa passam bons momentos preocupados
com o rabo dos outros criticando, por exemplo, a corja de políticos e
empresários que usurparam e ainda usurpam nossas riquezas, ou à segurança do estado (que estão contribuindo para piorar) sem reparar no
próprio rabo.
Seu comportamento e de seu comparsa ilustram bem a
tese de que o brasileiro é um povinhodemerda que só sabe viver sob o cinismo do
jeitinho, câncer que corroe as entranhas deste maravilhoso e rico país.
Resumindo, a senhora ao volante é mais contundente do que uma bala perdida e pior, não é a única e ainda por cima, vota.
Resumindo, a senhora ao volante é mais contundente do que uma bala perdida e pior, não é a única e ainda por cima, vota.
Passar bem!”
Prezados e escassos leitores, não sei se a missiva
chegou a seu destino, vou aguardar os próximos capítulos e se houver novidades
retorno para mantê-los atualizados.
Obrigado pela paciência!
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