terça-feira, 1 de novembro de 2011

LIÇÕES APRENDIDAS



Esse post é destinado àqueles que possam querer fazer alguma coisa parecida com o que andei fazendo nos últimos 23 dias.

Você pode achar chato, pois conterá informações técnicas e/ou aprendizados obtidos nessa aventura. Nesse caso, pode ser que não queira ir até o final do texto. Isso é compreensível ainda mais se você for uma menina e detesta esse tipo de coisa.

Mas pode ser também que eu me inspire e consiga transformar essa chatice em um texto interessante até mesmo para você que não está nem aí para esse assunto, mas gosta de dar umas boas risadas ou até está a fim de aprender coisas novas. Nesse caso, se você não for até o final não vai poder saber se consegui ou não.

Caso eu não consiga e você fique aborrecido(a) no final, ainda pode fazer suas críticas nos “comentários” e assim me xingar a vontade. Apenas lembro que já sou bem grandinho para assumir meus atos e omissões, portanto, tudo que escolhi, fiz, escrevi e disse depois de 10 de janeiro de 1972 foram minha culpa, minha máxima culpa. Sendo assim, minha progenitora não tem nada a ver com isso.

Nem todos vocês sabem que essa viagem teve origem em outra maior na qual teria a companhia de outros motociclistas que no decorrer do planejamento foram tirando da reta um a um a cada passo dado.

Pois foi nesse planejamento que tive a ajuda de Marcos um motociclista com vasta experiência nesse tipo de viagem e conhece como poucos nossa América do Sul.

LICÃO 1 - Posso dizer que a maioria dos procedimentos que utilizei como alimentação, intervalo entre as paradas, estadia, combustível, etc. foi informação obtida com ele. E a mais importante delas todas foi com relação ao conforto. Até agora não citei nada sobre o assunto nos textos que escrevi.

Trata-se de um acessório simples, um pouco caro, mas de extrema utilidade. Afirmo sem dúvidas de errar que foi a informação mais importante em todo o processo de consulta em que estive com ele.

Lembro bem que entre os 02 dias de conversa, decidindo o roteiro, falando sobre alimentação, trâmites legais, reservar ou não hotéis, segurança, etc. num dado momento ele elevou o tom de voz como se lembrando de algo importantíssimo e disse mais ou menos assim:

“Geraldo, você tem que comprar o Air Hawk! Você não pode deixar de levar esse acessório! Você vai ver como ele é importante! É um conjunto de gomos tipo câmaras interligadas ...”

E desandou a tagarelar maravilhas do produto. Eu estava preocupado, pois algo tão importante assim deveria custar os olhos da cara e meu orçamento em comparação com o dele era e ainda é bastante limitado.

Ele pegou o telefone e continuou:

“Não, você não vai comprar eu vou encomendar agora, vou ligar para um amigo de uma loja em sampa e você fala com ele e já acerta a compra.”

Fiquei sem opção e só 03 dias depois quando chegou é que pude ver exatamente do que se tratava. É uma almofada que você mesmo enche (com o ar da boca), mas não muito e ela se molda de tal forma que você chega a seu destino, mesmo após pilotar muitos quilômetros, inteiro, sem nenhum desconforto ou dor.


Foram 23 dias em que encontrei vários motociclistas e todos, sem exceção, reclamavam de dores pelo tempo que passavam sentados pilotando e quando viam a minha almofada tiravam fotos e faziam perguntas sobre o resultado, o preço e onde encontrar.


Se você vai viajar não deixe de adquirir esse equipamento. Sabendo do resultado eu pagaria bem mais do que os R$ 450, que paguei.

LICÃO 2 - Ainda sobre conforto, minha moto é uma “Big Trail” e por isso a postura de pilotagem é menos agressiva do que a de uma “Bike” (tipo de corrida onde o piloto fica desconfortavelmente deitado sobre o tanque de gasolina). Lembro que indo de Sampa para Curitiba encontrei em um posto com uma turma e um deles estava com as costas no chão com as pernas apoiadas em uma parede urrando de dor nas costas. Ele estava com uma “Bike” e não tinha nenhum equipamento para proteger/apoiar as costas.

Marcos me falou de uma cinta em forma de “T” invertido onde a parte horizontal “te abraça” na altura da base da coluna e a parte vertical acompanha a espinha até a base do pescoço.


Eu já tinha uma cinta, para segurar os órgãos abdominais, que uso quando faço trilhas de moto e a utilizei com excelente resultado nesta viagem. É bom salientar em alguns momentos tenho dores nas costas e nesses 23 dias nada parecido foi sentido.


LICÃO 3 – Essa é minha mesmo. Certa vez, logo quando peguei a moto, eu não estava acostumado com seu peso e ela tombou. Eu não quis largar e fui fazendo um esforço enorme para amortecer a queda a fim de reduzir ao máximo os danos. Consegui, mas todo o peso incidiu sobre meu pulso direito e depois disso ele nunca mais foi o mesmo. É engraçado que quando você tem uma parte do corpo “danificada” todo esforço diferente incide sobre ela e é isso que está acontecendo com meu pulso e por causa disso sempre que estou de moto eu utilizo munhequeiras nos dois pulsos. Isso tem ajudado bastante a não piorar o direito e nem danificar o esquerdo.

LICÃO 4 – Alguns meses antes faça um trabalho para melhorar suas condições físicas. Exercícios específicos para os braços e pernas são importantes assim como para melhorar sua condição aeróbica. Aqui cabe um agradecimento especial ao Samuel.

LICÃO 5 – Hidratação – Nesse tipo de viagem você estará vestindo uma roupa especial, pesada com proteções semi rígidas internas nas articulações, capacete, luvas, botas, meias, segunda pele, etc. Em muitos momentos estará sob sol as vezes escaldante. É necessário que se preocupe com a hidratação, mas não vai querer ficar parando toda hora. Leve um recipiente próprio (como uma mochila) para água e ao enchê-lo faça-o com pedras de gelo e só depois acrescente a água e de preferência estupidamente gelada.


Não encha e coloque no congelador, pois o gelo expande e pode rasgar o recipiente que é de plástico. Também não deixe na metade e coloque no congelador, ele pode grudar e você vai ter que desligar a geladeira para soltar, pois se tentar puxar pode rasgar. Aconteceu comigo em Curitiba, mas eu não puxei, desliguei a geladeira.




LICÃO 6 – Está em um dos textos, mas não custa lembrar. Você vai comprar luvas, casaco, calça, botas, malas, etc. impermeáveis. Vai exigir que sejam intransponíveis e vai sair das lojas convencido que comprou o equipamento correto e ao pegar a primeira chuva vai ver que não é nada disso. E não é mesmo! O material pode até ser impermeável, mas existem costuras e/ou emendas que não há controle de qualidade, por melhor que seja, que te garanta essa estanqueidade. Aconteceu comigo. Peguei uma chuva forte de São Paulo para Curitiba, outra de Curitiba para Foz do Iguaçu e outra pior ainda de Foz para Caçador – SC. Resultado, em Curitiba comprei um conjunto de capa, calça e polainas contra chuva (mesmo assim passou água) e passei a utilizar saco de lixo para cobrir a mala de roupas.

Portanto, se você não vai utilizar aqueles bauletos rígidos (eu não comprei porque não teria onde guardar aqui em casa) não se envergonhe de envolver sua bagagem com um bom e preto saco de lixo.

LICÃO 7 – Ao chegar a seu destino (parcial ou não), posto de serviços, restaurante, cidade, etc. não se esqueça que mesmo que não pareça você provavelmente estará de alguma forma cansado. Abra o descanso da moto apóie no chão e só depois de se certificar que ela está bem apoiada desmonte e só depois, se desejar, a coloque no descanso central.

Foram umas 04 ou 05 vezes em que eu fui estacionar a moto ou colocá-la no central e ela tombou. Eu sentia que ela ia tombar, mas não tinha forças nem raciocínio para segurá-la, muito doido isso. A última delas foi no Chuí e isso me custou a entrada no Uruguai. Não perca oportunidades por besteira.

LICÃO 8 – Não se prenda ao planejado, alguns imprevistos ruins ou bons podem fazê-lo repensar. O roteiro é um deles, foi o que aconteceu comigo depois de Foz do Iguaçu quase tudo foi diferente. Os motivos foram vários, bons e ruins e ninguém está livre disso.

LICÃO 9 – Defina bem o objetivo de sua viagem. Lembre-se você não é o Super homem nem a Mulher Maravilha. Se você pretende ir para a balada vá, mas saiba que no dia seguinte não deve pegar estrada. Reserve um dia para recompor as energias da noite anterior. A relação é um dia para cada noite na gandaia.

LICÃO 10 – Nunca se esqueça que a moto é sua companheira de viagem. Ela que vai te levar ao objetivo e levar você de volta são e salvo para casa. Ninguém mais vai fazer isso por você. Trate-a muito bem. Cuide dela como se fosse a única. Periodicamente veja a calibragem (a frio, antes de rodar) e estado dos pneus, verifique a folga e lubrifique a corrente a cada 300 km rodados ou a cada perna viajada, verifique o nível do óleo e as lâmpadas.

Combustível, sempre o melhor possível se não for possível, certifique-se da procedência para isso, abasteça a cada meio tanque dessa forma você consegue diluir a gasolina de procedência duvidosa caso seja a última opção.

LICÃO 11 – Atenção à sinalização, não ache que é conhecedor de tudo e dono do mundo, ela é muito importante. Tenho certeza que num certo dia eu tive muita sorte, pois poderia ter sofrido um acidente grave.


Foi indo para o Chuí, quando passava na Reserva de Itaim. Eram várias placas indicando que poderia haver animais atravessando a pista.


Eu vi vários mortos inclusive uma enorme capivara, todos estavam ou no meio da estrada ou na beira dela. Lembro que por ser uma reta enorme estava me dando sono. Não havia onde parar para beber um café ou algo que tirasse o sono. Não tendo o que fazer só me restou “brincar’ com a velocidade. Tudo certo se não fosse a possibilidade de aparecer um bicho atravessando a pista. Minha sorte é que não apareceu nenhum pois nessa “brincadeira” eu cheguei a rodar a 200 km/h. E pegar uma capivara de frente a essa velocidade não deve ser muito legal.

Essa placa aí embaixo deve ser muito importante. Na BR 116 são duas. Não me perguntem o motivo, mas estão colocadas na entrada e na saída do Rio Grande do Sul.


LICÃO 12 – Sob o casaco viaje com uma camisa de “dry-fit” ela é fácil de lavar e seca muito rápido. Em caso de frio, use a 2ª pele diretamente sobre o corpo e sobre ela a camisa de “dry-fit”. Lave as duas. A 2ª pele pode não secar então tenha uma reserva.

No caso da calça, a minha tem um forro e esse forro é removível, fácil de lavar e seca muito rápido.

Leve uma ou duas barras de sabão de coco elas fazem milagres.

Sob a bota, use meia de cano longo, essas de futebol e dobre a barra sobre o cano da bota. Você vai evitar pequenos ferimentos do roçar da borda do cano da bota com sua canela.

Lave a meia com o sabão de coco acima e tenha um segundo par de reserva. Você pode e DEVE lavar outras coisas dessa forma.

LICÃO 13 – Essa, depois da almofada é a melhor de todas. A mulherada vai adorar! Como planejado, enquanto estava nas estradas fazia paradas a cada 01:30 horas aproximadamente e em cada uma delas eu me alimentava com uma barra de cereais e bebia um café. Raras as vezes em que saía dessa rotina para comer um feijãozinho com arroz caseiro.


Pois bem, eu saí do Rio pesando redondos 100 quilos e cheguei pesando redondos 94 quilos. Foram 06 quilos perdidos em 23 dias sem esforço. Quando digo sem esforço é porque em nenhum momento pensei nessa possibilidade e em nenhum momento deixei de comer o que queria por conta disso.

O melhor é que diminuiu exatamente onde precisava, ou seja, o pneu de caminhão que me acompanhava e já estava incorporado e bem assumido se transformou em nada mais nada menos que um simpático e singelo pneuzinho de bicicleta.

Sendo assim, principalmente vocês meninas, revejam esse negócio de que moto é isso, é aquilo. Moto é sinônimo de emagrecer e isso é fato.

Acho que é isso, se lembrarem de mais alguma dúvida ou sugestão coloquem nos comentários.

Até.

5 comentários:

  1. Desculpe meu caro, mas achei de péssimo gosto ficar "zoando" do povo gaúcho, que te acolheu e tratou com respeito e hospitalidade.

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  2. Geraldo,

    Excelentes reflexões da viagem. Importante nivelar estes aprendizados, principalmente para quem quer pegar a estrada ou para aqueles que ainda tem muitos mitos sobre as viagens em duas rodas. Teu texto é leve, engraçado e informativo, é você. É "PAPO RETO, CURTO, IRÔNICO, AS VEZES GROSSO, MAS NUNCA MAL EDUCADO. LÊ AÍ E DÊ SUA OPINIÃO E QUE SEJA SINCERA, POIS DE GENTE BOAZINHA O INFERNO ESTÁ CHEIO". Abraços! Marcos Mazzutti de Castro.

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  3. PS: não entendi sobre aquela placa na BR 116.....

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  4. César e Marcos,
    Entendo e respeito sua crítica. Saiba que desde que cheguei, em vários textos e oportunidades que tenho para falar da viagem comento da acolhida que recebi de vocês. Isso é fato e estará na memória como marco desta viagem.
    Quanto a zoação, é como você mesmo disse, é pura e simples zoação que não deve ser levada a sério, afinal mesmo com a hospitalidade recebida também fui zoado em outros momentos da viagem e aceitei numa boa. Faz parte. Se formos levar a sério tudo que ouvimos ou falamos teremos de viver em um mundo cartesiano e sem graça. Espero que isso não altere a amizade conquistada.
    Abraço

    Marcos,
    Agradeço os elogios.

    Abraço

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  5. Geraldo,

    é claro que é zoação contigo agora, ehehehehh!!!

    Grande abraço!

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