terça-feira, 27 de setembro de 2011

COISAS DA MÚSICA

Caros escassos leitores,

Parece coisa de maluco, a faixa de erro não passa de mais ou menos 05 minutos.

Ninguém merece acordar quase todo dia exatamente uma hora antes do despertador. Não conheço ninguém, por mais insano que seja, que tenha como meta vencer a corrida contra essa geringonça dos infernos.

Alguns não se importam em chegar junto, afinal esse é o objetivo. Mas maioria prefere ser derrotado e de preferência que a derrota seja humilhante.

Eu sou um deles, gostaria muito de acordar, horas após ele ter tocado, olhar para o sacana e com um sorriso de canto murmurar entre os dentes semi serrados:

“Me venceu novamente, seu grande idiota! Valeu!”

O pior é que motivos não têm faltado para isso acontecer, mas não é o que está rolando.

O que tem rolado é eu acordar, olhar pro despertador e verificar sua cara de sacana com um sorriso de canto murmurando entre os dentes semi serrados:

“Você venceu novamente, seu grande otário!”

Não tenho dificuldades em me adaptar a esse tipo de coisa. Não é ruim quando tenho um compromisso (registre-se, compromisso interessante) que me obrigue a esse tipo de exagero. Mas convenhamos, se não é necessário, por que acontece? E exatamente por essa maldita facilidade, estou começando a me acostumar.

E hoje foi uma dessas manhãs. O mesmo ritual.

Acordei às 04:32 da madrugada. Sem alternativa, enrolei na busca de pelo menos uma soneca, mas a lembrança de que tinha menos de uma hora para tal me desanimou.

Sei de gente que daria muito por apenas 05 minutinhos de acréscimo, mas comigo não rola.

O cérebro inicia sua jornada diária em velocidade de carro esporte. Vai de 0 à 100 em menos de 10 segundos e não pára mais.

Como muitos, quando não estou só, fica mais fácil passar o tempo, mas nem sempre isso é possível.

Hoje foi desses dias, mas estava inspirado, talvez devido aos momentos da pré-noite anterior onde muitos de meus amigos virtuais postaram links de bandas de vários estilos. Algumas desconhecidas.

A galera estava a mil, tinha desde jazz, rock, pop, progressivo, blues, alternativo, eletrônica, baladas, etc. Tinha coisa boa e coisa ruim.

Isso me trouxe lembranças...

Cena 1 – Há alguns poucos anos quando na aborrecência freqüentava festinhas em casa de amigos. Eram na maioria festas da turma com algumas poucas novidades como as meninas amigas de nossas irmãs ou primas de amigos(as) em férias na Cidade Maravilhosa.

Começava com músicas mais rápidas para os primeiros passos e a turma se acostumar com o clima. Pouca luz e Cuba Libre (coca com rum) que ajudavam nessa tarefa.

Os mais desinibidos saiam dançando e os tímidos ficavam olhando morrendo de vontade de estar no meio da bagunça.

Passado um bom tempo rolavam as músicas lentas, as hoje baladas, quando dançávamos abraçadinhos, sentindo o perfume; os pretextos para após uns carinhos rolar o tão esperado beijo. E a noite seguia.




Wild Horses - Rolling Stones



Cena 2 – Fim de tarde, após a praia, banho tomado e almoço ingerido, quarto fechado, deitado na cama e o som nas alturas. Na maioria Rock Pesado (hoje metal). Alguma coisa mais leve também fazia parte do repertório e o progressivo ainda não havia me conquistado. Ouvia, conhecia, mas não me dizia nada, eu gostava era de barulho, muito barulho.

Meu pai ficava puto, mas convencido por minha santa mãe, engolia em seco e saia de casa antecipando seus afazeres. Meu espaço era respeitado assim como os deles; eu cumpria razoavelmente bem as minhas obrigações e a sorte era uma aliada poderosa no cumprimento dessas tarefas.



Iron Man - Black Sabbath


Cena 3 – Período entre o pré faculdade e a própria. A mistura de antigos com novos amigos e amigas, novos horizontes e perspectivas (não é a mesma coisa?). O vestibular subjugado foi a carteirinha que deu acesso a essa nova vida.

As antigas cobranças viraram história, a liberdade havia sido conquistada. Brilhantemente conquistada com a ajuda de minha inseparável companheira e confidente Dona Sorte.

Tornei-me bom aluno e estudo deixou de ser um tormento para se tornar a mensalidade a ser paga na renovação de minha liberdade e ausência de cobranças.

O primeiro carro que dividia com minha mãe. O primeiro e duradouro amor. Não durou tanto, melhor assim.

As viagens começaram a acontecer e com elas o blues e o progressivo também eram novidade.

As festas, eram embaladas por disco-music. Dois grandes amigos, um no som e outro nas luzes formavam uma equipe de festas e juntos montavam nossas e outras. Eram bons e o produto de seu trabalho produzia altas festas.

Mas no recanto de meu quarto ou carro só tocava rock nas suas diversas variações.



Bohemian Rhapsody - Queen


Cena 4 – Fim de semana, após a praia, trabalho da faculdade para entregar na segunda. Papéis, esquadros, lapiseiras, escalímetro, borracha e demais necessários para finalizar os desenhos da apresentação. Sobre a prancheta (aquela mesa grande e alta) plantas, cortes, fachadas e alguns detalhes eram elaborados ao som de muito progressivo a todo volume.

As idéias fluíam como brisa em um ensolarado dia de outono. O whisky passou a ser o aliado da vez.. O consumo era moderado, mas o suficiente para, unido a capacidade deste então postulante a arquiteto, se traduzir em notas e conceitos nunca atingidos em outras épocas.

Eu gostava do que fazia, era apaixonado pelo “poder” de transformar desejos em espaços e formas desejadas. Eu tinha esse dom; pelo menos estava convencido que tinha. Isso era extremamente gratificante.

As viagens com a turma e/ou namorada ou não eram freqüentes. O rock pesado ou não assim como o blues eram companheiros inseparáveis. Mas o progressivo era a estrada de muitas dessas viagens dessa turma.

Como disse o poeta eu era exatamente aquele que queria provar que não precisava provar nada para ninguém. E conseguia.



Confortably Numb - Pink Floyd


Cena 5 – O progressivo continuava presente assim como o blues, o metal, etc., mas as circunstâncias e oportunidades me fizeram deixar de ser a emoção do arquiteto para virar a razão do engenheiro. A quase que obrigação de prover me tornou um quase workaholic e isso me afastava da música durante a semana. Nos fins de semana era diferente, mas com menos intensidade. Os filhos eram pequenos e as prioridades outras, mas aproveitava bastante os momentos de solidão dentro do carro.

As viagens tornaram-se escassas, mas aconteciam, o destino é que havia mudado. A estrada? Nem tanto.

Os tempos foram mudando, o gosto musical das gerações subseqüentes caindo o que ainda está sendo acompanhado pelos músicos de hoje afinal se o consumidor aceita qualquer coisa, por que fazer coisa boa. Claro que no universo musical ainda podemos encontrar qualidade, mas não é isso que o mercado quer.

Meu filho me apresenta a novas bandas, umas muito boas cujos shows fomos juntos e suas músicas habitam meu i-pod numa miscigenação de sons e vozes, outras nem merecem comentários de tão ruins.



Holyday - Green Day


Ele e muitos de sua geração ouvem o que ouço e gostam muito.

Sem novas alternativas ainda ouço as mesmas músicas, o inglês que insiste em ser de qualidade duvidosa me permite passar incólume por aquelas letras pouco criativas. Sim, no rock elas também estão presentes.

Eu ouço a música e as palavras unidas pelos diversos tipos de pontos, vírgulas, pontos e vírgulas ou dois pontos. Todos cirurgicamente dispostos pelo texto transformando em melodia àquela que poderia não sê-la se daquela forma não estivessem sido postos.



Simple Man - Lynyrd Skynyrd

E isso me dá prazer pelo presente de ter tido o passado que vivi, o presente que ouço e o futuro que ouve.

2 comentários:

  1. Wild horses continua sendo a melhor música dos Stones. Conheci graças ao Bebeto que era doente pelo Mick Jagger, lembra? Stones + Pink Floyd + Queen + Black S... quantas lembranças de um tempo em que eu era só emoção. Foi muito gostoso ouvir todos juntos. Preciso frequentar mais o seu blog. Bjs

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  2. Concordo plenamente!

    Lógico que lembro dele, uma figuraça!

    Sem dúvidas precisa sim.

    Beijo

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