terça-feira, 21 de maio de 2013

A CASA DA NAÇÃO?




Prezados,

Ontem por necessidade da obra em que estou lotado, precisamos definir método construtivo e materiais a serem utilizados nos vestiários que irão atender aos mais de 5.000 trabalhadores durante a vigência da concessão do estaleiro.

E daí Geraldo?

E daí que força do destino eu estava presente quando foi decidido que o melhor lugar para a pesquisa seria nada mais nada menos que o Estádio Mário Filho, o popular Maracanã ou popularíssima CASA DO FLAMENGO.

“Vai?”

“Claro que vou!”

Durante o trajeto as lembranças povoavam meus pensamentos. As inúmeras vitórias, poucos empates e raras derrotas não me deixavam prestar atenção no caminho. Acabei informando errado e em vez de subir o viaduto em frente a estação São Cristóvão do Metrô, passamos por baixo.

À esquerda o majestoso, ainda com suas feridas abertas devido as obras por terminar.

Mas ele estava lá, imponente cujas formas, mesmo que mexidas ainda carregam o DNA do maior de todos.

Um retorno também à esquerda, em frente a estação Maracanã do metrô e retornamos em direção à tradicional Praça da Bandeira, que nos dias de chuva é mais conhecida como Aquário Municipal.

Dobramos à direita e seguimos em direção à Rua General Canabarro, onde estacionávamos o carro nos dias de jogos. E foi em uma transversal que estacionamos ontem.

Fizemos a pé o caminho de sempre enquanto eu relembrava a multidão de Rubro-Negros trajando o Manto em romaria em direção ao Templo. Pais, filhos, pais e filhos, malandros, negros, brancos, azuis, amarelos, roxos, ricos, pobres e tudo o mais que compõe a mescla da Nação.

Consegui ver os inúmeros ônibus das torcidas organizadas entupidos de torcedores e bandeiras bicolores ao sabor dos ventos em Preto e Vermelho.

Entramos pelo antigo estacionamento de motos e seguimos por ali até atingirmos a rampa monumental por onde subia de peito aberto entoando os cânticos que embalavam a nós e aos jogadores nas noites de quartas ou quintas e tardes de sábados ou domingos.


E por ela subimos. Meus quatro colegas, dois que vieram comigo e os dois que nos guiavam. Eles iam à frente, conversando e trocando informações e eu, atrás, um pouco distante conversando com minhas memórias.

Via meus compatriotas vestindo o Preto e Vermelho de diversas formas, subindo e cantando. Alguns corriam, outros pulavam, outros tiravam fotos e todos sorriam ansiosos na expectativa do jogo.

Subimos todos juntos em harmonia até a metade quando lá de cima vislumbrei a Estátua do Belini. O jogador viceino mais importante e talvez único citado em nossa imensa História.


Citado apenas por estar lá, segurando a Taça Julis Rimet que meia dúzia de safados e sem noção surrupiaram dos frágeis cofres da CBF e derreteram para vender por ninharia.

É nessa praça onde a Nação se reunia antes de transpor os portões para serem teletransportados para a nave da felicidade.

Portões que daqui há poucos dias farão 33 anos, daquele 01 de junho de 1980, em que mesmo com o ingresso na mão tive de pular para poder assistir os 3 x 2 que fizemos na galinha mineira para conquistarmos nosso primeiro dos até agora  SEIS INCONTESTES campeonatos Brasileiros.

Continuamos subindo...

Até atingirmos o andar mais alto. A passarela de acesso aos degraus mais altos ainda em obras foi pouco visitada por mim. Entrávamos pela passarela de baixo.


Visitamos os banheiros, tiramos nossas dúvidas e o lado profissional veio à tona para detectar a qualidade e acabamento dos serviços feitos. Talvez pelo pouco tempo ou mesmo coisas que só acontecem no Brasil, o resultado técnico do que vi é muito ruim. Temos de considerar também a qualidade de nossa mão de obra que não é das melhores e os detalhes construtivos deixam muito a desejar na funcionalidade.


Frequento o Maraca desde meus 8 anos quando ainda acompanhava meu pai por essas bandas. Não foi difícil perceber entre outras coisas, que colocar os bebedouros no corredor de acesso aos banheiros foi uma tremenda burrice, assim com também o foi colocar os painéis fotovoltaicos (captam a energia solar) no teto da rampa de acesso inferior. São de vidro ou similar e servirão de alvo aos civilizados torcedores brasileiros.

O descaso com o dinheiro público é notado quando se vê o revestimento de pastilhas dos camarotes VIP sendo coberto pelo revestimento de madeira.

Outros detalhes de colocação de revestimentos mal acabados e a fragilidade de alguns materiais utilizados me fizeram ver que a manutenção vai ser frequente e dispendiosa.

As instalações me pareceram bem feitas, porém, é necessário um pé atrás para essa afirmação.

Espero sinceramente estar errado e com todo respeito aos profissionais que atuaram e ainda permanecem e considerando todo valoroso esforço desses arquitetos, técnicos, engenheiros e operários, eu não coloco minha mão no fogo.

Não me espantarei se em poucos anos verificarmos que teremos na cidade dois estádios interditados.

Não, não tirei fotos desses detalhes, achei que ninguém mereceria ver isso.

Vimos o que fomos lá para ver e começamos nossa visita.

Sim, o trabalho se transformou em visita sim! Garanto que você faria o mesmo. Ninguém iria perder essa oportunidade ainda mais os dois que estavam comigo que por serem de outro estado, nunca haviam estado lá.

Seguimos pela passarela superior, entramos nos bares que agora terão cozinha e em fim, após atravessar um vão, onde na última reforma foram instalados os camarotes, vislumbramos o gramado.


Eu estava exatamente na direção onde nos últimos anos assisti aos embates históricos do Mais Querido. Na quina da bandeirinha de corner, nas cadeiras amarelas entre a Urubuzada e a Flamanguaça.

Lindo! Verdinho, como um tapete, ainda sem as marcas de cal que dão moldura a “arte” da bola. As traves e os mastros das bandeiras de escanteio mostram a redução do campo; um pecado. Em volta da grama natural a sintética, outro absurdo.

As cadeiras coloridas em amarelo, azul, verde e branco, espalhadas pelos degraus formam um belo mosaico só superado pelo que a Nação montará brevemente.


A unificação dos níveis e inexistência de um anel inferior trouxe a ilusão de que o maior de todos perdeu volume e com ele o respeito mundialmente adquirido nos seus mais de 60 anos de vida.

A distância entre a torcida e o campo diminuiu e a Nação, com certeza, vai saber se aproveitar disso.

Descemos em direção aos camarotes VIP depois de passar pelo seu luxuoso acesso. Ali o acabamento é esmerado e o conforto latente.


O espaço destinado ao acesso e bar não fará falta, mas aquele utilizado nos camarotes e adjacências, aliado ao luxo levam a crer que o futebol deixará de ser do povo.

O reservado a Presidência da República é um escândalo em termos de espaço. Mais de 150 metros quadrados de área foram destinados aos que menos trabalham e mais gastam no pais.


Isso para a área coberta onde provavelmente serão servidos caviar, salmon e demais apetizes. Tudo regado ao melhor champanhe e/ou vinho francês.

E o povo comendo pão com mortadela.

Sem contar com a área da “varanda” onde ficam as cadeiras para assistir aos jogos.


Mais portas e circulações até chegarmos as cabines de televisão e de controle dos sistemas do estádio; ambos onde o luxo e conforto são o DNA. E como não poderia deixar de ser, a visão é ampla geral e irrestrita. Galvão Bueno e sua “enturrage” vão se esbaldar.

Descemos e chegamos ao auditório onde os técnicos e jogadores darão entrevistas após os jogos. De dimensões respeitáveis, muito bonito e confortável.


Mais duas portas e os vestiários. Modernos espaçosos e confortáveis. Com uma grande sala com grama sintética para aquecimento dos chinelinhos, muitos chuveiros e duas grandes banheiras de hidromassagem cada uma com capacidade para 4 deitados e dois sentados. Não sei como os jogadores farão para se acomodar ali.


De lá, após passarmos por um grande corredor, cinza e mal acabado, chegamos ao campo e ali as lembranças voltaram com força.


As recordações foram surgindo sem cronologia como um caleidoscópio de imagens e com elas inúmeras emoções.

Vislumbrei a Nação em êxtase com a entrada do time em campo e segundos depois formando o mosaico de 2009 uma semana antes da conquista do HEXA, com as palavras:

“A MAIOR TORCIDA DO MUNDO FAZ A DIFERENÇA”

Minutos depois a via enlouquecida com um dos muitos gols de Zico,

Em 1978, o cruzamento que culminou o gol de Rondinelli e a conquista do Campeonato Carioca;

A falta batida em 2001 por Pet em mais outra conquista Carioca;

As arrancadas e os riscos e rabiscos de Uri Gueller entortando as pernas dos laterais;

A alegria de Junior com os braços abertos como seu sorriso após aquele belo gol no Brasileiro de 1992;

O gol de Obina na conquista de nossa segunda Copa do Brasil em cima de nossos eternos vices em 2006.

A genialidade de Leandro desfilando dribles e cruzamentos para diversos gols importantes nas décadas de 70 e 80.

O Autógrafo de Zanata, então meu ídolo em meu primeiro Manto número 5, lá pelos idos de 1969;

As diversas defesas de Marco Aurélio, Renato, Cantarelli, Ubaldo Fillol, Raul, Zé Carlos, Gilmar e Júlio Cesar;

A simples elegância de Geraldo o Assobiador;

A técnica de Mozer, a simplicidade de Figueiredo, a elegância de Aldair e demais companheiros de zagas;

O histórico gol de Nunes que nos presenteou com nosso primeiro título nacional em 1690;

A Raça de Liminha, Reyes, Paulo Henrique, Rodrigues Neto, Buião, Caldeira, Rondinelli, Merica e Luizinho Tombo, entre muitos outros que mesmo sem muita técnica ou quase nenhuma, honraram o Manto Sagrado;

As jogadas, passes, jogadas pela ponta esquerda e o terceiro gol de Adílio no Brasileiro de 1983;

A cadência de Andrade e o sexto gol devolvendo em 1981 uma injustiça...

Quando acabei de tirar essa foto, da trave onde tremem os goleiros rivais por estarem de frente para a Nação...


“Geraldo! Vamos!”

A volta a realidade veio com uma ponta de saudade, outra de tristeza e a certeza que em breve esses momentos se repetirão em progressão geométrica dando números frios da matemática a essa imensa paixão.

Com isso, retomei velhos conceitos e, corroborando o último post no Urublog, de Arthur Muhlenberg, nas palavras de Pedro Trengrouse, de que mesmo com a volta do Maraca, o Flamengo precisa ter o seu estádio.

Saudações.


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