Prezados,
Ontem por necessidade
da obra em que estou lotado, precisamos definir método construtivo e materiais a
serem utilizados nos vestiários que irão atender aos mais de 5.000
trabalhadores durante a vigência da concessão do estaleiro.
E daí Geraldo?
E daí que força do
destino eu estava presente quando foi decidido que o melhor lugar para a pesquisa
seria nada mais nada menos que o Estádio Mário Filho, o popular Maracanã ou
popularíssima CASA DO FLAMENGO.
“Vai?”
“Claro que vou!”
Durante o trajeto as
lembranças povoavam meus pensamentos. As inúmeras vitórias, poucos empates e
raras derrotas não me deixavam prestar atenção no caminho. Acabei informando
errado e em vez de subir o viaduto em frente a estação São Cristóvão do Metrô,
passamos por baixo.
À esquerda o
majestoso, ainda com suas feridas abertas devido as obras por terminar.
Mas ele estava lá,
imponente cujas formas, mesmo que mexidas ainda carregam o DNA do maior de
todos.
Um retorno também à
esquerda, em frente a estação Maracanã do metrô e retornamos em direção à
tradicional Praça da Bandeira, que nos dias de chuva é mais conhecida como
Aquário Municipal.
Dobramos à direita e
seguimos em direção à Rua General Canabarro, onde estacionávamos o carro nos
dias de jogos. E foi em uma transversal que estacionamos ontem.
Fizemos a pé o
caminho de sempre enquanto eu relembrava a multidão de Rubro-Negros trajando o Manto em
romaria em direção ao Templo. Pais, filhos, pais e filhos, malandros, negros,
brancos, azuis, amarelos, roxos, ricos, pobres e tudo o mais que compõe a mescla
da Nação.
Consegui ver os
inúmeros ônibus das torcidas organizadas entupidos de torcedores e bandeiras
bicolores ao sabor dos ventos em Preto e Vermelho.
Entramos pelo antigo
estacionamento de motos e seguimos por ali até atingirmos a rampa monumental
por onde subia de peito aberto entoando os cânticos que embalavam a nós e aos
jogadores nas noites de quartas ou quintas e tardes de sábados ou domingos.
E por ela subimos. Meus
quatro colegas, dois que vieram comigo e os dois que nos guiavam. Eles iam à
frente, conversando e trocando informações e eu, atrás, um pouco distante
conversando com minhas memórias.
Via meus compatriotas
vestindo o Preto
e Vermelho de diversas formas, subindo e cantando. Alguns corriam,
outros pulavam, outros tiravam fotos e todos sorriam ansiosos na expectativa do
jogo.
Subimos todos juntos
em harmonia até a metade quando lá de cima vislumbrei a Estátua do Belini. O
jogador viceino mais importante e talvez único citado em nossa imensa História.
Citado apenas por
estar lá, segurando a Taça Julis Rimet que meia dúzia de safados e sem noção surrupiaram
dos frágeis cofres da CBF e derreteram para vender por ninharia.
É nessa praça onde a Nação se
reunia antes de transpor os portões para serem teletransportados para a nave da
felicidade.
Portões que daqui há
poucos dias farão 33 anos, daquele 01 de junho de 1980, em que mesmo com o
ingresso na mão tive de pular para poder assistir os 3 x 2 que fizemos na
galinha mineira para conquistarmos nosso primeiro dos até agora SEIS INCONTESTES campeonatos Brasileiros.
Continuamos
subindo...
Até atingirmos o
andar mais alto. A passarela de acesso aos degraus mais altos ainda em obras foi
pouco visitada por mim. Entrávamos pela passarela de baixo.
Visitamos os banheiros,
tiramos nossas dúvidas e o lado profissional veio à tona para detectar a
qualidade e acabamento dos serviços feitos. Talvez pelo pouco tempo ou mesmo
coisas que só acontecem no Brasil, o resultado técnico do que vi é muito ruim.
Temos de considerar também a qualidade de nossa mão de obra que não é das
melhores e os detalhes construtivos deixam muito a desejar na funcionalidade.
Frequento o Maraca
desde meus 8 anos quando ainda acompanhava meu pai por essas bandas. Não foi
difícil perceber entre outras coisas, que colocar os bebedouros no corredor de
acesso aos banheiros foi uma tremenda burrice, assim com também o foi colocar
os painéis fotovoltaicos (captam a energia solar) no teto da rampa de acesso
inferior. São de vidro ou similar e servirão de alvo aos civilizados torcedores
brasileiros.
O descaso com o
dinheiro público é notado quando se vê o revestimento de pastilhas dos
camarotes VIP sendo coberto pelo revestimento de madeira.
Outros detalhes de
colocação de revestimentos mal acabados e a fragilidade de alguns materiais
utilizados me fizeram ver que a manutenção vai ser frequente e dispendiosa.
As instalações me
pareceram bem feitas, porém, é necessário um pé atrás para essa afirmação.
Espero sinceramente
estar errado e com todo respeito aos profissionais que atuaram e ainda
permanecem e considerando todo valoroso esforço desses arquitetos, técnicos,
engenheiros e operários, eu não coloco minha mão no fogo.
Não me espantarei se
em poucos anos verificarmos que teremos na cidade dois estádios interditados.
Não, não tirei fotos
desses detalhes, achei que ninguém mereceria ver isso.
Vimos o que fomos lá
para ver e começamos nossa visita.
Sim, o trabalho se
transformou em visita sim! Garanto que você faria o mesmo. Ninguém iria perder
essa oportunidade ainda mais os dois que estavam comigo que por serem de outro
estado, nunca haviam estado lá.
Seguimos pela
passarela superior, entramos nos bares que agora terão cozinha e em fim, após
atravessar um vão, onde na última reforma foram instalados os camarotes,
vislumbramos o gramado.
Eu estava exatamente
na direção onde nos últimos anos assisti aos embates históricos do Mais Querido.
Na quina da bandeirinha de corner, nas cadeiras amarelas entre a Urubuzada e
a Flamanguaça.
Lindo! Verdinho, como
um tapete, ainda sem as marcas de cal que dão moldura a “arte” da bola. As
traves e os mastros das bandeiras de escanteio mostram a redução do campo; um
pecado. Em volta da grama natural a sintética, outro absurdo.
As cadeiras coloridas
em amarelo, azul, verde e branco, espalhadas pelos degraus formam um belo
mosaico só superado pelo que a Nação montará brevemente.
A unificação dos
níveis e inexistência de um anel inferior trouxe a ilusão de que o maior de
todos perdeu volume e com ele o respeito mundialmente adquirido nos seus mais
de 60 anos de vida.
A distância entre a
torcida e o campo diminuiu e a Nação, com certeza, vai saber se aproveitar disso.
Descemos em direção
aos camarotes VIP depois de passar pelo seu luxuoso acesso. Ali o acabamento é
esmerado e o conforto latente.
O espaço destinado ao
acesso e bar não fará falta, mas aquele utilizado nos camarotes e adjacências,
aliado ao luxo levam a crer que o futebol deixará de ser do povo.
O reservado a
Presidência da República é um escândalo em termos de espaço. Mais de 150 metros
quadrados de área foram destinados aos que menos trabalham e mais gastam no
pais.
Isso para a área
coberta onde provavelmente serão servidos caviar, salmon e demais apetizes.
Tudo regado ao melhor champanhe e/ou vinho francês.
E o povo comendo pão
com mortadela.
Sem contar com a área
da “varanda” onde ficam as cadeiras para assistir aos jogos.
Mais portas e
circulações até chegarmos as cabines de televisão e de controle dos sistemas do
estádio; ambos onde o luxo e conforto são o DNA. E como não poderia deixar de
ser, a visão é ampla geral e irrestrita. Galvão Bueno e sua “enturrage” vão se
esbaldar.
Descemos e chegamos ao
auditório onde os técnicos e jogadores darão entrevistas após os jogos. De
dimensões respeitáveis, muito bonito e confortável.
Mais duas portas e os
vestiários. Modernos espaçosos e confortáveis. Com uma grande sala com grama
sintética para aquecimento dos chinelinhos, muitos chuveiros e duas grandes banheiras
de hidromassagem cada uma com capacidade para 4 deitados e dois sentados. Não
sei como os jogadores farão para se acomodar ali.
De lá, após passarmos
por um grande corredor, cinza e mal acabado, chegamos ao campo e ali as lembranças
voltaram com força.
As recordações foram surgindo
sem cronologia como um caleidoscópio de imagens e com elas inúmeras emoções.
Vislumbrei a Nação em
êxtase com a entrada do time em campo e segundos depois formando o mosaico de
2009 uma semana antes da conquista do HEXA, com as palavras:
“A MAIOR TORCIDA DO MUNDO FAZ A DIFERENÇA”
Minutos depois a via enlouquecida
com um dos muitos gols de Zico,
Em 1978, o cruzamento
que culminou o gol de Rondinelli e a conquista do Campeonato Carioca;
A falta batida em
2001 por Pet em mais outra conquista Carioca;
As arrancadas e os
riscos e rabiscos de Uri Gueller entortando as pernas dos laterais;
A alegria de Junior
com os braços abertos como seu sorriso após aquele belo gol no Brasileiro de
1992;
O gol de Obina na
conquista de nossa segunda Copa do Brasil em cima de nossos eternos vices em 2006.
A genialidade de
Leandro desfilando dribles e cruzamentos para diversos gols importantes nas
décadas de 70 e 80.
O Autógrafo de
Zanata, então meu ídolo em meu primeiro Manto número 5, lá pelos idos de 1969;
As diversas defesas
de Marco Aurélio, Renato, Cantarelli, Ubaldo Fillol, Raul, Zé Carlos, Gilmar e
Júlio Cesar;
A simples elegância
de Geraldo o Assobiador;
A técnica de Mozer, a
simplicidade de Figueiredo, a elegância de Aldair e demais companheiros de
zagas;
O histórico gol de
Nunes que nos presenteou com nosso primeiro título nacional em 1690;
A Raça de
Liminha, Reyes, Paulo Henrique, Rodrigues Neto, Buião, Caldeira, Rondinelli,
Merica e Luizinho Tombo, entre muitos outros que mesmo sem muita técnica ou quase
nenhuma, honraram o Manto Sagrado;
As jogadas, passes,
jogadas pela ponta esquerda e o terceiro gol de Adílio no Brasileiro de 1983;
A cadência de Andrade
e o sexto gol devolvendo em 1981 uma injustiça...
Quando acabei de
tirar essa foto, da trave onde tremem os goleiros rivais por estarem de frente
para a Nação...
“Geraldo! Vamos!”
A volta a realidade
veio com uma ponta de saudade, outra de tristeza e a certeza que em breve esses
momentos se repetirão em progressão geométrica dando números frios da
matemática a essa imensa paixão.
Com isso, retomei
velhos conceitos e, corroborando o último post no Urublog, de Arthur Muhlenberg, nas
palavras de Pedro Trengrouse, de que mesmo com a volta do Maraca, o Flamengo
precisa ter o seu estádio.
Saudações.
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