Em fim, voltei.
Não posso mentir e dizer que estava ruim. Já esteve, no começo era complicado.
Estar longe de casa, longe dos que gosto, longe do que gosto estava realmente sendo muito ruim.
Mas com o passar do tempo soube reconhecer as coisas boas da Terra da Garoa e mesmo não vivendo muitas delas aprendi que são incontáveis.
Resumindo, a ponta feia da Via Dutra tem seus atrativos.
Chegou o momento em que o pior era ir e vir. O ônibus, mesmo sendo leito e confortável, estava sendo uma tortura. Mas não era o ônibus e sim a espera para embarcar.
Em ambas as cidades saía lá pelas 23 e muito horas e aos domingos para ir e às quintas para voltar. Essa espera era muito ruim. No Rio ficava em casa vendo televisão, com muito sono. Em sampa era pior, pois ficava perambulando pela cidade fazendo hora, muitas vezes só.
E de cada uma dessas idas e vindas ganhava uma miniatura do ônibus da empresa. Guardei todas.
Estar lá não era ruim, jantava em restaurantes variados com amigos recém conquistados e riamos muito na troca de besteiras, brincadeiras e sacanagens. Em muitas noites sopa.
Hotel, pelo menos para mim, não era problema, ao contrário.
No trabalho o ambiente era muito bom. Relacionava-me muito bem com todos com quem convivia, com raras exceções e aqueles com quem não tinha convívio. O maior problema que tive foi definir a temperatura do aparelho de refrigeração de ar. Em alguns momentos quase rolou tapa.
Eu gosto de frio, portanto, quanto mais baixa a temperatura melhor. Mas havia os que sentiam muito frio e para eles eu dizia:
“Tá com frio, veste o casaquinho.”
Uns riam outros não, mas tudo numa boa.
Afinal resolver calor é mais difícil do que resolver frio. O primeiro, se for muito forte, não se pode tirar a roupa, mas no segundo é só “vestir o casaquinho.”
Estive trabalhando em três prédios da empresa Contratada e no último e definitivo as instalações não eram excelentes, mas eram suficientes.
São sete andares mais o térreo e cobertura que foi fechada para se tornar uma grande sala de reunião com equipamento de vídeo conferência.
Ali, em algumas reuniões, o pau come de verdade, mas em outras salas menores não era diferente. Natural pela magnitude do Projeto e vontade da galera.
Com exceção dos andares extremos, os demais têm cada um uma máquina de café. Com algumas opções, puro, com leite, longo, curto, etc., o produto que elas oferecem pode ser tudo, menos café.
É ruim bagarai!
Tanto que nós os técnicos do cliente, a fiscalização que fica no quarto pavimento, pedimos e conseguimos uma garrafa térmica com café normal renovado quatro vezes ao dia.
É feito a moda antiga, no “cuador”, como o paulista gosta e como muitos deles acham que no “cuador” é mais forte; assim ficou.
A solução foi pedir uma garrafa com água quente para enfraquecer o café forte de sampa.
O quarto andar, talvez por ser o nosso, clientes, é mais agradável e com o mobiliário mais claro, combinando com a tinta das paredes, parece ser mais amplo. Portanto, parece ser mais bem cuidado.
Minha estação de trabalho tinha uma CPU com dois monitores o que permitia “abrir” vários arquivos ao mesmo tempo, com maior conforto visual. A única personalização que fiz foi agrupar as 119 miniaturas do ônibus da empresa em que viajava. O resto era igual para todos.
Mas o que mais deixou marcas foram os amigos e momentos em que passamos juntos. São poucos, mas sinceros recém conquistados amigos.
Foram papos em torno de mesas de bares e restaurantes. Bebendo socialmente ou com certo exagero, mas sempre com muita festa. Degustamos desde pasteis e pizzas,
até espetinhos diversos.
A ida à Arena Barueri ver o Mais Querido foi um marco.
São a parte boa disso tudo que vai deixar saudades.
Mas recebi uma boa proposta e como era para voltar para casa não pensei duas vezes e escrevi o seguinte texto como despedida:
Não sabia como começar.
Pensei em plagiar nosso ex-presidente e iniciar com:
“Brasileiros e Brasileiras”
Mas no Projeto tem muitas nacionalidades, em ordem alfabética para não iniciar uma terceira guerra mundial; americanos, brasileiros, chineses, italianos, japoneses e provavelmente outros que nem sabemos.
Então resolvi ir pelo tradicional:
Senhoras, Senhores, Senhoritas e “Senhoritos”,
É chegada a hora.
Após um pouco mais de dois anos tenho que partir.
Os motivos não são os de costume:
- Não estou insatisfeito com o trabalho;
- Não acho que ganho pouco (mas também não é muito. Hehehe!);
- Não arrumei confusão com chefe ou colega;
- Não recebi uma proposta melhor;
- Niente.
Apenas, devido a desmobilização que está havendo no Rio de Janeiro, não mais será possível sair de Sampa e trabalhar na Cidade Maravilhosa nas sextas, como vinha fazendo.
Como muitos sabem, se eu voasse não haveria problema, mas infelizmente, após anos tentando (voando Brasil adentro), não consegui me livrar e o medo que não me impedia de fazê-lo tornou-se pavor e hoje, mesmo achando voar o máximo, não piso dentro de um avião nem por milhões.
Ops! “Guenta” aí! Por milhões eu penso duas vezes. Ok?.
O racional sabe muito bem que o avião é o 2º meio de transporte mais seguro, o 1º é o elevador (eu já acho o navio), mas o emocional, nesse caso, venceu de goleada, sem acréscimos nem roubo de juiz.
Fica muito desgastante fazer essas idas e vindas de ônibus, como vinha fazendo até agora, mesmo sendo ônibus leito. Saía domingo à noite e voltava sexta de madrugada. Mas estava conseguindo e não estava sendo tão ruim assim, afinal Sampa tem seus atrativos. Mas de domingo à sábado a coisa complica.
É meu problema, vocês com certeza têm os seus.
Vida que segue.
Em tempos de frases de efeito vou citar uma do célebre filósofo croata, Jay Tho Hindu:
Antes uma breve história:
Jay seria um excelente terrorista, treinou muito para se tornar um dos melhores e por isso o mais querido entre seus iguais. Assim foi até que na sua primeira missão descobriu que tinha medo de avião. A missão foi um fracasso. Tornou-se lenda entre os seus ao proferir as palavras abaixo, após as quais rumou para as montanhas e nunca mais foi visto.
اجنحة ليطير مع تكون قد ولدت كان لي أن إذا”
Traduzindo, segundo o Google:
“Se fosse para eu voar teria nascido com asas.”
Todos sabem que o Flamengo é o Mais Querido e mais odiado, sendo assim, mexe com 100% da população deste enorme Brasil.
35% sofrem quando o Flamengo perde e 65 % (a Torcida Arco-Íris, invejosa e mal vestida) ficam felizes. Desta forma, no inverso é o inverso.
Com a minha saída será parecido, mas não de forma tão contundente, todos ficarão felizes.
Antes de acharem que estou perdendo o juízo e me achando “o cara”, explico:
Alguns gostarão por saber que vou ficar feliz em poder ir para casa todos os dias e estar com meus filhos e cachorro que tanto fazem falta por aqui em Sampa. Outros, pelo fato de eu estar saindo do Empreendimento.
Tudo bem, é natural, se nem Zico, Garrincha, Pelé ou Perna Longa foram unanimidade, quem sou eu, cara pálida, para ser? O importante é que todos estarão felizes e o mais importante eu também.
Pra onde eu vou?
Continuarei na Petrobras embora em outro empreendimento. Não vou falar que será um novo desafio, essas coisas, pois vou fazer o mesmo que faço em quase 10 anos da casa.
Além do local, o que permite rever antigos amigos mudará as pessoas e isso será ótimo por proporcionar novas trocas e conhecimentos.
Quando lá chegar, o que poderei dizer com relação a isto é:
“Cheguei para me integrar da melhor forma com a equipe para assim formarmos um team e sinergicamente rumaremos para um grandioso fim de Projeto quando atingirmos a dead line.”
Traduzindo (desta vez sem o Google):
“Vim para somar, vou trabalhar bastante para conquistar com humildade meu espaço no time e assim fazer os gols que nos levem ao título.”
Acho que já ouvi isso em algum lugar. Rsrs!
Claro que não há como esquecer os que vão ficar. São pessoas, algumas com quem não tive nenhum contato a não ser bom dia, boa tarde ou tchau, outras contato apenas profissional e outras, profissional e social.
Algumas ótimas para trabalhar, outras ótimas para um bom papo à mesa de um bar, outras para ambos e outras nem tanto. Normal para um universo tão amplo de opções.
A todos agradeço e desejo sorte e sucesso.
Há os que gostaria de mencionar, mas tenho receio de ser injusto e esquecer alguém (também já ouvi isso).
A esses(as) fica meu agradecimento especial e a vontade de rever por aí. E já que são ótimas para beber, que seja à uma ENORME e REDONDA mesa de bar para que possa caber tanta gente.
Bom pessoal é isso. Tentei sair da mesmice ao escrever essas palavras, espero ter atingido meu objetivo sem fazer mais inimigos, rsrsrs!
Meus novos contatos? Devido aos trâmites internos de transferência, ainda não tenho esses dados, só tenho os dados particulares que por serem particulares seria incoerente distribuir no trabalho. Certo?
Como estarei fora do ar criei uma conta no GMail para esses contatos qualquer coisa sejam bem vindos:
xx.xxxxxxxx.xxxxxxx@gmail.com
Assim que tiver conhecimento dos dados profissionais definitivos, será um prazer divulgar.
Mas se mesmo assim vocês não quiserem esperar podem ler outros textos e até mesmo algumas besteiras que escrevo em:
Estou até pensando em colocar esse texto lá.
Passando por lá, estejam livres para comentar, elogiar ou criticar, mas sejam sinceros. Lá pode até dançar homi com homi e muié com muié, mas não pode xingar a mãe. Os comentários são moderados.
E para finalizar, mantendo a onda que vemos há alguns anos, pelos diversos meios:
- e-mails;
- Facebook;
- Orkut (para quem ainda tem isso);
- Twitter; - MBAs,
- Pós, Mestrados, Doutorados;
- Etc.
Na utilização de frases de efeito para ilustrar cases, e afins, deixo duas que norteiam há muito meus passos.
“A inveja é uma merda.”
&
“Viva a vida intensamente, você não sairá vivo dela.”
Forte abraço e até breve,
E então cheguei a Cidade Maravilhosa. A saudade, mesmo voltando todo fim de semana, era grande. Tanta que até hoje @Boris Stafford demonstra certo sofrimento quando saio de casa sem ele.
De meus filhos sei que não é preciso escrever nada. Estou com eles sempre que posso matando a saudade que ainda aperta meu peito.
E foi na última sexta ainda na rodoviária aguardando meu último ônibus leito que recebi a pior notícia da minha vida.
Meu filho havia sofrido um sério acidente de carro indo para Búzios com amigos. E, até saber que haviam escapado ilesos dessa tragédia, sofri durante oito horas até reencontrá-lo inteiro, são e salvo saindo do banho na casa de sua mãe.
Foi foda.
Hoje ainda me encontro em processo de readaptação, não à Cidade Maravilhosa, pois à ela não é necessário me readaptar e sim á vida que pretendo levar daqui para frente.
Hoje, no metrônibus reparei que as pessoas estavam ligadas em seus celulares entretidas lendo e-mails, ou no Face book ou sei lá mais o que. E olhando pela janela vi passar despercebido o Parque Lage, o Corcovado, as árvores da Rua Voluntários da Pátria e outras maravilhas que a cidade tem.
E ratifiquei uma decisão tomada há alguns meses:
Pretendo não esquentar a cabeça por antecipação e só vou fazê-lo se realmente for necessário. Vou procurar fazer com que a família esteja sempre em primeiro lugar e meio que deixarei a vida me levar, mas não tanto.
Espero que façam o mesmo.
Até o próximo.
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