domingo, 27 de março de 2011

VOLTANDO AS ORIGENS



Eu já devo ter escrito isso em algum lugar. No livro, Papo de Cozinha, com certeza. Sou descendente de mãe nordestina e pai paulista, não, não é repetição, fiquem tranqüilos, ainda tenho algumas coisas na cabeça para serem escritas sem que haja essa necessidade; ainda.

Por várias vezes, sempre de férias, voltava à minhas origens. Com uma passada em sampa para deixar minha irmã com sua madrinha ou muitas vezes com ela, em três ou quatro vezes fomos de fusquinha para Fortaleza.

A fácil manutenção do automóvel (aí é sacanagem, vamos chamar de carro, ok?) era feita por meu pai. A desmontagem e limpeza do carburador (hoje substituído pela injeção eletrônica), a troca das velas, platinado, condensador, filtros e óleo eram tarefas fáceis naquela época e eu ajudava meu pai a fazê-las. Era muito divertido, mas não tanto quanto as brincadeiras que me tiravam do posto de auxiliar sem cerimônia.

O valente carrinho com seu limitado motor 1200 cc, refrigerado a ar agüentava as aventuras sem reclamar.

Lembro-me muito bem. Acordávamos cedíssimo, três, quatro horas da manhã. As malas prontas desde o dia anterior eram levadas para a garagem e colocadas no carro.

Meu pai voltava para o apartamento em mais um incentivo para nos apressarmos, fechava as janelas da casa, deixava aberta a porta da geladeira, já vazia e lavada para evitar mau cheiro, desligava o que seriam os disjuntores da época e nós esperávamos no elevador enquanto ele passava inseticida na casa e trancava a porta.

Já no carro, eu e minha irmã baixávamos o banco de traz fazendo como que uma cama enquanto ele ligava o carro não sem antes colocar seu chapéu de gangster (não que o fosse; ao contrário) cinza.

As estradas não eram muito diferentes das de hoje, cheias de buracos, mas naquele caso por ainda estarem em construção. Será que já estiveram prontas?

Por diversas vezes o valoroso fusquinha atolava e com o auxílio de tratores desatolava. Outras vezes um dos pneus furava. Eram horas e quilômetros para encontrar um borracheiro.

Para dormir era complicado. Não sei como faziam para decidir onde seria só lembro que sempre eram instalações humildes, era o que havia na região.

E assim íamos aos trancos e barrancos pelas estradas Brasil a dentro na companhia de raros carros e muitos caminhões.

Passados alguns dias chegávamos a Fortaleza que ainda pequena restringia-se ao bairro de Aldeota. Algumas vezes ficávamos na casa de meus avós onde, além deles, viviam minha madrinha e a namorada de um primo, o mais velho de nós todos.

No quintal, algumas galinhas, patos e uma pequena horta.

A casa foi vendida com o falecimento de nossos avós então passamos a nos hospedar na casa de meu padrinho que com seus cinco filhos ficava bastante animada.

Além de nós oito haviam mais três do Rio, oito de Brasília e a caçula que viria a nascer bem depois, em 1978.

Resultado de nossas origens e criações, tínhamos diferentes costumes. Por exemplo, enquanto uns iam à praia de sunga, maiôs e biquines outros iam de roupa.

Devido ao clima da região, a praia era o programa preferido. De Rural – aquela camionete da Willis – verde e branca (parecida com essa da foto aí em cima), saíamos cedo, depois da confusão natural. A seca, como hoje, era uma constante.

Passávamos o dia na deserta praia do futuro, entre outras, correndo atrás de caranguejos, jogando bola e caindo no mar quente sob o sol escaldante ao sabor dos ventos.

Às vezes íamos visitar tias e tios ou amigos de nossos pais.

Chegávamos em casa um banho com a valiosa água doce, jantar, de vez em quando uma pipoquinha, um baralhinho, e ficávamos até tarde fazendo bagunça, jogando conversa fora ou ouvindo música.

O ritual se repetia todos os dias durante um mês inteiro com exceção em raríssimos dias quando ficávamos no quintal brincando sob a rara e forte chuva.

Fomos crescendo e seguindo cada qual o seu caminho. Voltávamos, nem sempre todos, a nos reunir em alguns aniversários e casamentos Brasil a fora. Eu, por exemplo retornei de férias por mais duas vezes a última casado com um filho e a trabalho por mais quatro vezes, mas nesses casos sempre por dois dias apenas.

Hoje somos arquitetos, advogados, militares engenheiros administradores, jornalistas diplomatas etc., pais e mães de filhos que quando possível se encontram mas não é a mesma coisa devido aos novos tempos e oportunidades.

SAUDADES!

3 comentários:

  1. Posso falar? Esta foi a introdução de uma lembrança de férias, com um breve desenvolvimento... Quando acabou senti falta do teu sarcasmo, do teu olho junto (leia-se piadar (sim, piadar) em circusntâncias não engraçadas.
    Não brigue comigo, acostumei-me a ler, a ler-te, e fiquei com sede. Eu acredito que "Voltando as origens mereça uma parte 2"
    Ah... riquíssima em detalhes, como a parte 1.

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  2. Também achei q faltou algo e deve ser isso mesmo q vc escreveu. Não posso acertar sempre. Ainda bem q tenho um livro lido de frente, posso errar muito ainda. Hehehe!!!"
    aleu pelo retorno.
    Apareça.

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  3. legal! acho que sempre é bom recordar, pois é verdade que recordar é viver, é lembrar das origens, das aventuras, da família, das paisagens bonitas que conhecemos, dos diversos momentos vividos que serviu de aprendizado para outros momentos , enfim é lembrar que estamos aqui e já pecorremos uma estrada repleta de emoções, paixões, conquistas e realizações que tornaram a pessoa que somos . eu adoro a famíla" Mascarenhas". nossa história , nossos pais, nossos avós , formam uma turma ímpar. essa rural tem história! e a casa da mamãe , essa era da bagunça. no seu papo de cozinha, voce tem que lembrar de receitas para bebê e crianças, pois nós já estamos na quarta geração , já estamos sendo avós, eu e Maria Isabel ,estamos repasando agora essa historia para nossos netos. isso é maravilhoso. da prima etinha

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