O parceiro de viagem foi o mesmo da anterior, Reinaldo (Rei), amigo de 30 anos nas trilhas, na última viagem e eventos sociais diversos. Grande garoto, irmão de fé.
O roteiro elaborado e com previsão de desfrute para setembro de 2022, há muito teve origem em sugestões de outros parceiros motociclistas que me convenceram experimentar as estradas mineiras e capixabas, que, segundo eles, seriam de boa qualidade tanto no que se refere ao piso como sinuosidade; sem falar na hospitalidade do povo e sabor da comida dessa região. Afinal, cachaça, torresmo pururuca, porquinho, linguicinha e seus acompanhamentos mineiros somados aos frutos do mar capixabas e uma cervejinha gelada, se bem feitos, merecem idolatria. Mas foi adiado devido a fr4ud3mi4 na época em franca atividade. Como Reinaldo tem amigos e eu parentes em Brasília, inseri no roteiro sugerido passar por lá e por Goiânia. E cá estamos, apenas em 2023.
Eram 06:30 da manhã de uma segunda feira de céu nublado e temperatura agradável. Um belo início que prometia bons momentos.
No caminho, entre as duas serras, paramos para abastecer e um bom lanche no Graal de Resende. Ali o calor já se fazia presente e nos acompanhou por todo o dia.
No meio da segunda serra o GPS deu o mesmo problema da viagem anterior, “solicitando” desvio do roteiro programado. Conhecendo o problema e a pista, desliguei e seguimos até São Lourenço onde religuei o equipamento e o problema ficou para trás.
É impressionante como o passar dos anos traz diferenças no que senti nas primeiras viagens e no que senti nesta, incluindo a readaptação a moto. Talvez porque antes fazia muitos bate e voltas entre as grandes viagens e dessa vez isso não foi possível.
Em assim sendo, mesmo após percorridas as duas serras não me sentia confortável como antes. Isso me deixou tenso o que prejudicou um pouco a pilotagem. Perdi em técnica, mas não em vontade. A solução, reduzir a velocidade e seguir em frente tentando aprimorar os sentidos a fim de atingir a simbiose ideal para então tentar retomar as velocidades de outrora.
Após 281 km, na periferia de São Lourenço, água, rápido descanso, reforço nas informações do roteiro e seguimos contornando a cidade iniciando a parte desconhecida da viagem. Destino? Varginha, onde estava previsto o primeiro pernoite (parece que é no masculino mesmo, qualquer coisa, culpem o corretor do Word e o dicionário do Google), passando por Três Corações, cidade onde nasceu Edson Arantes do Nascimento – Pelé, paramos para uma foto.
A estrada possuía um zig zag satisfatório, porém com alguns buracos que conseguíamos ver com certa antecedência que possibilitou desviar sem muitos problemas. Apesar do calor, a viagem permanecia agradável e seguimos tranquilos até Conceição do Rio Claro.
Uma cidade bastante agradável, limpa e organizada. Muitas casas de arquitetura moderna e muito bem construídas. Como era segunda-feira, semana de feriado e final do dia, poucas pessoas circulavam pelas calçadas. Achamos um hotel no GPS e resolvemos pernoitar nele. Diária de R$ 50,00 vocês imaginam...
Estávamos cansados, com calor e eu estava muito a fim de beber uma cerveja gelada. Como disse, era segunda-feira, semana de feriado, talvez esses sejam os motivos para quase tudo estar fechado. Mesmo assim encontramos um bar aberto. Entramos e começamos a conversar com os presentes. A minerada bastante solicita, como de praxe. As opções Skol, Brahma ou Antarctica. Lógico que escolher a última era a única possibilidade e estava geladíssima.
E o menos sóbrio dos mineiros se animou a tagarelar…
Papo vai papo vem o dono do bar sugeriu que déssemos um pulo até um mirante próximo; Serra da Tormenta. E assim fizemos. Cansados da viagem, após uma subida um pouco difícil, grande parte do caminho em terra, conseguimos chegar ilesos. À vista maravilhosa e pôr do Sol indescritível. Ficamos por alguns momentos tiramos algumas fotos e voltamos para o hotel para um banho e descansar antes do jantar.
Já no hotel dormimos com a programação de acordar 5:30 a fim de tomarmos o café da manhã às 6:30 e assim partir para o segundo dia da viagem. Apesar das instalações pouco confortáveis a noite foi agradável. Com certeza o cansaço ajudou nisso.
Beto estava certo quanto ao ambiente a receptividade e o sabor da comida. O porco fica por dias em um panelão de banha sendo cozido em fogo baixo. É dos deuses e o almoço servido pela excelente e simpática cozinheira, tinha a carne do porco, arroz, feijão, ovos fritos, couve, aipim frito, torresminho pururuca etc. Uma delícia!!! Tudo regado com cerveja geladíssima. Claro que repeti, duas vezes.
Encontramos Beto e um amigo na porta do “Bar do Megeta” que estava assando um churrasco em espetos de bambu, em uma pequena churrasqueira de ferro.
Um motorista de vã nos orientou para não irmos pela rodovia que nosso “novo” roteiro previa pois estava com muitos e grandes buracos, mas avisou que indo pelo caminho sugerido, o trajeto seria um pouco maior. Conversamos e decidimos aceitar a sugestão e seguimos em direção a Uberlândia, onde tenho um primo, para pernoitar.
Ao chegar em Uberlândia fizemos uma reserva em um hotel no Centro pelo celular. Ao fazer a reserva perguntei se havia garagem e a resposta foi positiva. O calor era forte e o cansaço já nos consumia mais do que o esperado. Ao chegar no hotel, a recepcionista informou que a garagem estaria bloqueada devido ao palanque destinado ao prefeito para o desfile de 7 de setembro no dia seguinte. Surtei.
“Eu perguntei e a mocinha havia confirmado o que significa que estaria tudo ok!”
“Senhor, ela errou, é funcionária nova, peço desculpas por isso.”
Diferente de outros tempos vi que discutir não ia resolver nada. Mas saí possesso, Reinaldo veio atras e rapidamente decidimos seguir para Araguari (Beraba, Berlândia e a Bosta de Araguari; é assim que falam, só estou repetindo).
Seriam mais uns 40 km, valia o esforço porque isso nos faria iniciar o dia "dentro" do roteiro original, inserido no GPS na época do planejamento, o que reduziria em muito futuros problemas de trajeto.
Faço meu roteiro dividido por pernas diárias. Uso coordenadas e não o nome dos lugares, incluindo hotéis e demais onde desejo parar. Quando estou montando as pernas, eventualmente acrescento coordenadas de pontos intermediários antes e depois de algo que posso errar na hora, entradas e saídas de cidades, cruzamentos, bifurcações, pontes, viadutos, etc. Isso dá muito trabalho, mas na hora não tem erro, da tudo certo. O problema é você ter que mudar ou acrescentar pontos novos ou desvios (como o acima). Quando tenho tempo e acesso as coordenadas eu faço uma perna paralela que inicio onde estou, passo pelo desvio e termino em um ponto do roteiro original. Se não tenho acesso as coordenadas, vou por cidade mesmo.
É preciso outra pausa aqui. Geralmente em meus textos dou certa ênfase as estradas, sua qualidade, beleza e quantidade de curvas, mas até agora elas, apesar de estarem com o piso em boa qualidade, não continham curvas em quantidade e qualidade que merecessem algum comentário extra. Ao contrário do esperado, estavam sendo normais, agradáveis e apenas isso. O lado bom é que, até aqui, não houve grandes e enjoativas retas.
Em Araguari, nos informamos e conseguimos um excelente e barato hotel “Big Executive”. E com garagem! Exaustos, fomos para os quartos deixar as coisas e fui dar um mergulho na piscina. A água limpa, com temperatura agradável, um “cigarrimdipaia” e uma cervejinha foram o remédio ideal para esquecer os problemas recentes. Depois tomei um banho, e partimos em busca do jantar.
Por indicação do recepcionista fomos a pé até uma hamburgueria gourmet a “Home Burger”. Ao menos por onde andamos, a cidade não se mostrou nada de mais, tanto na limpeza como na arquitetura e demais inerentes. O sanduiche foi de excelente qualidade, não deixando nada a dever aos bons que temos aqui no Rio. A limpeza do lugar, o bom atendimento e o Rock dos anos 70 de fundo, foram um tempero a mais e saímos bastante satisfeitos. Eu comeria outro se houvesse espaço.
Devido ao intenso movimento e por ser uma pista de mão dupla e sem acostamento, passamos alguns perrengues. Há sempre uns idiotas fazendo ultrapassagens arriscadas e em dois momentos quase que não estaria aqui escrevendo esse texto; tive que reduzir com certa rapidez e me espremer entre o limite da minha pista e esses idiotas, não havia acostamento, um absurdo! Agradeci por ser uma estrada com poucas curvas.
Em Goiânia, entramos na cidade que claro, estava vazia, e procuramos nos informar sobre um restaurante, de boa qualidade, que estivesse aberto. Nos indicaram o “Junior Restaurante” e para lá seguimos. Estava lotado, mas sem fila. Um ambiente amplo e bem decorado, com farta quantidade de opções, não só para os pratos principais como para as sobremesas. Reinaldo foi no self service e chegou à mesa com um belo prato onde se destacavam grandes camarões. Eu fui de massa, na bancada estilo Spoleto. Estava muito bom. Consultamos uma senhora e depois um garoto de mesas próximas, sobre onde nos hospedar. Enquanto comíamos, verificamos que haviam funcionárias circulando pelos salões empurrando um tipo de carrinho, alto com um computador sobre cada um deles. É como são feitos os pagamentos. Você chama a garota, ela para do seu lado, entrega o card de plástico onde são registradas as despesas feitas, ela escaneia e informa o valor que você paga nas várias maneiras existentes. Não há filas, a não ser as dos bufes de comidas e você sai da mesa direto para a saída já de posse de seu comprovante de pagamento.
Com as informações de opções de hotéis, arriscamos um que não recomendo e fomos parar em uma região não muito segura. A fachada e a recepção, recém reformadas, escondiam o real estado dos apartamentos, mas o calor não permitiu que procurássemos outro melhor. Em nossos quartos, um banho e poucos momentos para recarregar as energias.
À noite, sem muitas opções, fomos ao Shopping Famboyant jantar. De arquitetura tradicional, com alguns detalhes peculiares, nada a acrescentar ao que já é conhecido em termos de shoppings. Beto, lá de Delfinópolis, havia nos indicado o restaurante “Piquiras Famboyant “. Fica do lado de fora com acesso direto do estacionamento e da rua.
Para chegar ao hotel foi outro suplício. Em dado momento, fomos parar na Asa Sul quando o hotel fica na Norte. E quando lá chegamos, não conseguíamos encontrar. Sabíamos que estávamos perto, mas não conseguíamos chegar, mesmo com orientações de residentes consultados. O Wase mostrava que era logo alí e o logo ali não chegava. Após muita luta conseguimos e vimos que realmente estávamos logo ali. Foram três horas para conseguir tirar as fotos e chegar ao hotel. Eu estava possesso.
Fomos amavelmente recebidos por Natividade que nos levou a mesa onde o garçom serviu alguns petiscos tradicionais da casa. Uma delícia! Manoel chegou logo depois e nos acompanhou enquanto estivemos por lá. Casal simpaticíssimo, com muitas histórias e fotos. A comida estava ótima um Filé a Manoelzinho para mim com algumas excelentes cervejas geladas. Reinaldo degustou o mesmo. Foi oferecido, mas estava muito quente para vinho. Voltamos para o hotel.
09/10/23 - De manhã Bruno (meu primo), seu sócio e esposa, passaram para nos levar e conhecer as casas que eles constroem em Luisiana. Um belo Projeto de média renda com grande sucesso na região.
Fomos a Praça dos Três Poderes, passamos na Esplanada dos Ministérios e seguimos até o QG do Exército. Lá encontramos uma pessoa (que por motivos óbvios, para facilitar vou chamar de SeverinE) remanescente do acampamento dos Patriotas. Fizemos amizade e aos poucos SeverinE foi se sentindo segurE entre nós e contou o que aconteceu durante os 70 dias que lá esteve. Como tudo funcionou, a limpeza, a organização dos espaços, os eventos criados para manter as pessoas em atividade, as barracas de alimentação e sua logística de abastecimento, preparação, cocção e distribuição dos pratos, os sanitários químicos, o descarte de resíduos, a postura dos militares, os infiltrados que lá estavam, os caminhoneiros etc. Só não falou do dia 08 de janeiro porque não participou desse evento. A cadeira de rodas foi o impeditivo. Em certos momentos seus olhos marejavam, mesmo assim SeverinE foi excepcional e paciente nos relatos, nas respostas a nossa curiosidade e, mesmo estando em sua cadeira de rodas, ao nos acompanhar por toda a enorme área onde era o acampamento. Ele estava e tenho certeza que permanece, orgulhoso com o que fez e por ter ajudado a construir essa belíssima página de nossa História
E ainda há os que os chamam de terroristas... Uma vergonha..
Agradecemos a emocionadE SeverinE e saímos cabisbaixos e calados. E assim permanecemos até chegarmos ao Shopping Brasília para jantar. Depois, minha prima foi embora e nós fomos para o hotel.
Pegamos a BR-040 e a pista começou a apresentar uma maior e melhor sinuosidade a união desta com a temperatura agradável nos fez aumentar a velocidade o que nos ajudou a rodar os 484 km de maneira bastante prazerosa.
Não sei Reinaldo, mas os sentidos e lembranças de antigas viagens começaram a brotar em minha mente e as boas se faziam reais a cada curva conquistada. Tardiamente iniciava-se um processo crescente de êxtase que há muito não sentia. Estava quase em casa, me deliciando com o bom asfalto, as boas curvas, o entorno rasteiro da vegetação do serrado e a velocidade que aumentava quilômetro a quilômetro até atingir o limite estabelecido pela minha razão. Os pneus em meia vida, comprados para a viagem anterior, junto com a eletrônica embarcada compunham o conjunto de segurança e força que permitiam tudo isso.
Eu variava dos 140 aos 160 km/h (não raro mais) atento e sentido crescer a tão desejada simbiose homem/máquina.
E que máquina! Dizem e confirmo que esse tipo de moto quanto mais rodada melhor fica. É que nem panela velha...
Exatamente em setembro nosso casamento faz dez anos de boas viagens e passeios. Durante esses mais de 70.000 km não houve uma única DR entre nós. Zero problema que me faz ter a certeza da eternidade dessa relação e que o fim só se dará no dia em que eu não conseguir mais aguentar seus mais de 200 quilos, os 125 cavalos e 12,75 kgf de qualidade, segurança, volúpia e consequente prazer.
No meio da estrada, logo após Paracatú, MG, por indicação de um frentista do posto onde abastecemos, paramos para almoçar no que parecia ser um agradável restaurante. Entramos na “Casa de Concesa”, lá fora o calor já era forte e nos deparamos com uma boa fila de residentes da cidade vizinha em torno do fogão a lenha repleto de gostosuras mineiras. O cenário mostrava o que vinha pela frente. E tudo se iluminou ao ouvir uma voz estridente encher o grande e repleto salão. Era Dona Concessa, bem humorada, com a voz aguda, se mostrando presente de maneira mineiramente inconfundível.
Depois, um tradicional e aguado café mineiro e um “cigarrimdipaia” no alpendre... Morram de inveja!!! KKKKK!
Chegamos, como previsto, em Três Marias, no final da tarde e logo encontramos o “Três Marias Hotel”, um ótimo hotel de bom custo benefício. Deixamos as coisas e fomos até o grande e belo lago da represa homônima a cidade. Demos uma volta por ali, tiramos algumas fotos e paramos no “Grande Lago Restaurante” para beber uma cerveja que estava gelada. A temperatura agradável ao som das Araras que passavam em coloridos rasantes era o cenário do belo por de sol... E que cenário!
Já nos arredores de Belo Horizonte paramos em no “Pic Nic Posto de Combustível” para abastecer, fazer um lanche e nos informar sobre o trajeto e onde nos hospedar. A loja de conveniências é ampla e percebi que vários objetos antigos faziam parte da decoração. Pequenos rádios de mão, discos de vinil, disquetes de computador, latas de produtos da época, imagens de propagandas conhecidas, fotos etc. Fato que trouxe várias e boas recordações. O lanche? Um Cheese-Salada honesto sob um excelente atendimento tanto das atendentes quanto dos frentistas.
No quarto, após comer um dos sanduiches desci para um reestabelecedor banho de piscina; Reinaldo fez o mesmo.
“Ok, vamos sim, obrigado, até mais.”.
“Assim não dá, vocês não me deixam dormir, vou ter que descer para ajudar a acabar com o churrasco mais cedo e eu poder dormir novamente.”
“Kkkkk! Desce aí!”
Avisei a Reinaldo, que estava no quarto ao lado e desci. Ele desceu minutos depois e ficamos conversando, comendo e bebendo um pouco. Nada de exageros afinal, não havíamos contribuído com nada. Ali ficamos papeando por bons momentos, ela se recolheu quando o assunto enveredou para o futebol. Ficamos mais alguns minutos, a temperatura caia rápido, ele começou a desmontar a bagunça, ajudamos e subimos para dormir.
12/09/23 - Acordamos sem pressa. Um bom café da manhã preciosamente preparado pela simpaticíssima Dona Creusa, única funcionária da pousada esses dias de pouco movimento. No salão outros três simpáticos hospedes com quem conversamos um pouco e fomos até Brumadinho para ver se conseguimos ver alguma coisa da tragédia ocorrida em 25 de janeiro de 2019. Os pouco mais de 30km da estrada são de razoável qualidade e têm um traçado interessante, porém, o bom movimento, aliado a terra derramada pelos caminhões da mineradora impediram ousadias. Não conseguimos ver nada de consequência do evento a não ser uma ponte que teve seu vão central arrancado pela força da lama. Reparem na altura dela e imaginem o horror que com certeza foi a tragédia.
Pegamos, sem querer um caminho diferente, mais longo, limpo, pouquíssimo movimento, asfalto liso e boas curvas, muitas delas. Conjunto que nos fez aumentar o peso da mão direita aumentando a velocidade e a adrenalina.
Essa estrada nos deixou bem em frente ao “Madeira Velha”, que desta vez estava aberto e cheio. Ambiente amplo e agradável, comida típica mineira de excelente qualidade e barata, mas aquém em relação a “Casa de Concessa”. Sem problemas. Mais porquinho, mais torresminho pururuca, mais couve, arroz, feijão, aipim e, agora sim, por estarmos muito perto da pousada, uma muito bem vinda cervejinha gelada...
“Acabei de sair do restaurante distraído. Tá aqui atrás no baú. Vou pegar.”
Eles foram embora antes de eu colocar o capacete. Foi aí que vi que estava no caminho errado. Fiz o retorno e em minutos os avistei no estacionamento do “Madeira Velha”. Mostrei que estava com o capacete, eles fizeram sinal de positivo e segui para pousada.
Havia combinado com Reinaldo passar no mercado e comprar carne para repor o pouco que comemos e o muito que planejávamos comer mais tarde, com o casal de mineiros. A picanha bovina estava com preço impeditivo (faz o “L”) então, comprei uma peça de picanha suína e um pacote de linguiça toscana.
Chegamos e o casal de mineiros estava lá, mais uma vez comendo um churrasquinho e bebendo cerveja à beira da piscina. Entreguei as carnes, ficamos um pouco, bebi uma cerveja, batemos um papo, um mergulho na piscina e subimos para descansar a fim de estarmos inteiros para o churrasco à noite.
E o convite não veio...
13/09/23 – Acordamos cedo, café da manhã da Dona Creusa e partimos para estar no máximo as 9:30 h na porta do Instituto, como planejado.
O estacionamento já estava cheio. Paramos as motos, pegamos as pulseiras na cor azul, que “autorizam” aos carrinhos elétricos, pegamos o mapa do parque e seguimos para a enorme fila de pessoas que aguardavam a liberação de acesso. Havia todo tipo de gente, desde uma turba de estudantes de vários colégios, hipongas, famílias diversas e viajantes como nós. Dada a largada com exceção dos estudantes o resto iniciou, cada grupo, o seu destino.
Segundo o folder, são 147 hectares, com 7 jardins temáticos, 4.500 espécies botânicas, 2 restaurantes, uma hamburgueria e uma loja de suvenires. O Instituto já recebeu mais de 3.000.000 de visitantes e 500.000 estudantes. Possui 4 lagos, diversas alamedas bem definidas de piso em concreto ou terra batida. Por algumas delas circulam os carrinhos elétricos que ligam os pontos definidos provendo conforto e rapidez aos que deles se utilizam. Muitos preferem ir a pé demandando mais de um dia para conseguir ver tudo. Dessa forma, para quem gosta e tem tempo, deve ser bastante prazeroso. As alamedas que vemos em amarelo no mapa, não podem ser percorridas pelos carrinhos, portanto, devem ser percorridas a pé.
O imenso parque é extremamente bem cuidado, portanto, limpo e muito bonito. A vegetação é quase sempre semi ou totalmente fechada o que traz ao complexo muita tranquilidade e uma grande quantidade de sentimentos. Em torno dos lagos se revelam espaços generosos de liberdade.
Em torno de cada ponto de destino dos carrinhos ou no percorrer das alamedas, encontram-se as atrações. Peças ao relento ou em ambientes fechados de arquitetura impar ou ainda elementos naturais agrupados de forma a criar peças de arte, estão espalhados por todo o parque e com ele formam um conjunto, provavelmente, jamais visto no planeta.
Voltamos para Casa Branca degustando as curvas de um terceiro trajeto.
À noite, saímos para jantar e no caminho do “Madeira Velha”, no centrinho da cidade passamos por um pequeno grupo de restaurantes e bares e resolvemos testar um deles. Sentamos à mesa do mais cheio, o “Curral Carnes e Empório”. Trata-se de um restaurante onde, além dos pratos do menu, o cliente pode escolher o corte de carne para ser feito na hora ou, pode comprar os temperos e o chope engarrafado ou, outra bebida que desejar e levar para fazer e degustar em casa. O ambiente é aconchegante e tem mesas na “varanda”. Fomos muito bem atendidos por Rosa a proprietária. Ela nos apresentou a casa, seus vários quitutes e de todos os aparentemente deliciosos escolhemos como entrada um item composto de um naco de torresmo pururuca aderido a carne de barrica e outro da mesma forma só que mais profundo pois vinha acompanhado da costela em que estava naturalmente aderido. Dos deuses!!!
E em êxtase chegamos à Ouro Preto. O prazer era tanto que, ao menos para mim, parar na cidade tornou-se secundário e descartável.
E paramos. Enquanto abastecíamos o indesejado sol ressurgia com certa força. Nos dirigimos em direção ao centro histórico e pelas redondezas almoçamos em um restaurante universitário, à quilo, mais ou menos. Seguimos para o centro histórico tiramos algumas fotos e entramos no “Museu da Independência”, outrora sede do movimento.
Na altura de Rio Casca, ainda em Minas, paramos para abastecer e como o céu iniciava seu natural processo de escurecimento, decidimos pernoitar por ali. Nos informamos sobre onde fazê-lo e ao chegar no hotel de beira de estrada indicado, nos surpreendemos com o tamanho e qualidade dos espaços comuns e dos quartos. O “Hotel Morada do Sol”, teve a terceira mais cara das diárias da viajem e coincidentemente igual a média delas, R$ 190,00.
Estávamos cansados devido as atividades do trecho percorrido e a tensão nele acumulada. No quarto, um demorado banho em um chuveiro de ducha forte. Olhei pela janela do box a fim de vislumbrar o que de lá podia se ver do terreno do hotel e vi uma paisagem arborizada e muito bem cuidada. Havia também uma extensa área de lazer com churrasqueira, bar e uma generosa e atraente piscina. A curiosidade me fez esquecer os momentos de descanso desejados para antes do jantar a fim de apreciar esse oásis de perto. Passei pelo quarto de Reinaldo avisando que iria descansar em uma das convidativas espreguiçadeiras em torno da piscina. Passei por outros amplos, confortáveis e muito bem decorados ambientes do complexo, sim era um complexo. Na piscina havia uma cachoeira artificial que não enxerguei da janela, o que aumentou a vontade de um mergulho. Fiquei na vontade, estava meio frio e a preguiça venceu. Sentei em uma das espreguiçadeiras, acendi um cigarrimdipaia e ficamos papeando por alguns momentos.
Montamos nas motos e partimos com destino à Pedra Azul. Seriam pouco mais de 220 km. No início não nos decepcionamos. Foram 85 km de puro prazer. Não demorou muito para rever o degustado no dia anterior.
Mais curvas, poucas retas, subidas e descidas em meio a exuberante vegetação verde oliva das montanhas do entorno, percorridas com verdadeiro fascínio. O reduzido movimento nos deixava quase que sozinhos em meio a isso tudo e quando surgia um comboio lento acontecia em ótimos pontos de excelente visibilidade que permitiam ultrapassagens seguras e quase sempre imediatas. Era como estar meditando em zigue-zague sobre duas rodas. O alto nível da simbiose atingida no dia anterior estava presente. O vento que zunia ao fundo do capacete era a sinfonia que emoldurava o cenário. A baixa temperatura gerada devido ao escondido do sol pelas lindas e providenciais nuvens cinza, compunham o contexto desse perfeito cenário. Tudo isso sustentado pelos poucos milímetros dos excelentes pneus Michelin que ligavam a simbiose à lisa pele do asfalto frio.
Para mim, o verdadeiro estado de pura arte em pilotagem de moto. Não sei Reinaldo, mas eu havia atingido o real objetivo principal da viagem. E tinha mais por vir...
Ouso em afirmar que viajar de moto nessas condições deveria ser incluído no trio obrigatório de vida: “plantar uma árvore, escrever um livro e ter filhos”.
Com certeza quem nunca andou em uma moto não entende esse sentimento e encontra exagero inocente em minhas palavras, só posso dizer o seguinte:
Experimente e surpreenda-se, vale o risco e muito!
E assim foi, mesmo com as minúsculas gotas que começaram a cair e nos fizeram reduzir, um pouco, todo esse enorme leque de sensações.
Quando próximo ao octogésimo quinto quilômetro percorrido, um pouco antes de Manhuaçú, ainda em Minas, começaram a aparecer as primeiras cicatrizes abertas pelo uso, na pele da, até então, perfeita pista. Íamos reduzindo mais a cada buraco ultrapassado e o verificar do aumento no volume de veículos que ultrapassávamos.
Não foi raro o “acostamento” virar pista. Foram pouco mais de horrorosos 20 km onde o descaso da administração pública se mostra com toda a sua incompetência. Buracos, quebra-molas e radares em profusão aliados ao intenso movimentos de carros, ônibus e caminhões...
Quando o cenário voltou a permitir devaneios e ousadias fizemos mais uma parada para descarregar as energias negativas acumuladas nesse, ainda bem, pequeno, mas desgastante trecho. Só assim poderíamos aproveitar com excelência o retorno ao estado da arte anterior. E assim foi.
Mais do adorado mesmo em 115 km de prazeres múltiplos até chegarmos em uma nublada Pedra Azul. Estávamos no Espírito Santo onde inesperadamente as estradas se mostraram em alto nível de conservação e qualidade. E dá-lhe curvas `a tangenciar em um frenético descer e subir de marchas, acelerando na conclusão de cada uma delas. Reiniciava-se um quase eterno processo de aquecimento das bordas dos seguros e competentes pneus.
E em estado de graça chegamos a uma cinzenta Guarapari. Abastecemos e nos informamos sobre um bom hotel na cidade. Nos indicaram um que estava fechado, escolher outro no GPS, chegar no local e perceber se atenderia o mínimo de nossas expectativas seria muito cansativo. Paramos um carro e seus ocupantes nos levaram até dois próximos afirmando serem de boa qualidade. Apesar do primeiro aparentar ser melhor, escolhemos o segundo afinal, por que voltar? Estávamos na Praia das Castanheiras e cansados.
O “Hotel Corona” teve a segunda diária mais cara da viagem, R$ 253,00. Desconsiderando o preço, não é dos melhores, mas serviu bem ao propósito. Banho e saímos para uma volta pela orla húmida devido à chuva que caia fina. Ventava muito e o casaco foi utilizado pela primeira vez. Um giro rápido, algumas fotos e informações sobre onde jantar. Voltamos ao hotel para um rápido descanso.
Por indicação fomos ao “Canecão, Restaurante e Pizzaria”. Ambiente amplo bem decorado e limpo que pelo movimento pareceu ser um dos points da cidade. Reinaldo pediu um Risoto de Camarão e eu me empolguei com a imagem do “Camarão com Fritas” no cardápio. Estava em Guarapari. Não era um prato e sim um petisco. Apesar de parecer estranho, comer camarão empanado com batatas fritas, arrisquei e não me decepcionei. São 400g do primeiro item e 300g do segundo, com molho tártaro, limão e claro, um bom chope gelado. Eu gostei muito.
16/09/23 – Café honesto no terraço do hotel com uma vista deslumbrante.
Em Itaperuna paramos para um lanche que consumimos com prazer. O simplório queijo quente no pão francês se derretia a cada mordida e o refrigerante dava o toque de saudades da infância longínqua. Alguns minutos de descanso, motos abastecidas seguimos mais ainda para o interior. Muriaé, Santana do Cataguases, Cataguases, Astolfo Dutra, Rio Pomba, Barbacena e Tiradentes, o final desta penúltima perna, mantiveram o nível de emoções que não esperava. Mas entre, se não me engano, Cataguases e Rio Pomba sofremos um pouco devido a queda brusca da qualidade da estrada. Muitos buracos em aproximadamente 30 km foi a tônica desgastante, o que nos fez parar outra vez para beber água gelada, abastecer e descansar. Ali um grupo de jovens nos deu a informação preocupante de que o trecho se estenderia por muitos quilômetros, entretanto, felizmente não foi assim e logo em seguida voltamos ao normal dos últimos dias. O calor nos castigava nesse fatídico trecho e a pista única da BR-265 fechou a perna até Tiradentes, MG.
Em Tiradentes paramos no “Museu da Moto” para informações e após muitas consultas, incluindo ligação para um grande amigo motociclista do Rio frequentador assíduo da cidade, Reinaldo descobriu a excelente pousada “Bárbara Bella” de muito bom gosto e custo baixo em comparação as demais da cidade. A diária de R$318,00 contemplava tudo o que há de bom em termos de conforto. A água da piscina estava ótima, a sauna quente, a cerveja gelada, o banho quente e forte, o ar-condicionado funcionando a contento, a cama aconchegante e o café da manhã de extrema qualidade.
Jantamos no “Pandoro Restaurante e Pizzaria”, uma pizza maravilhosa, estava com saudades. Estávamos no fim da viagem e naturalmente cansados. Eu voltei para o hotel e Reinaldo foi tirar umas fotos da cidade.
Máquinas de todo tipo, idade e valor histórico. Uma Explanação dos detalhes dessa história, algumas fotos, boa conversa e partimos em direção a Itaipava onde, no bastante conhecido “Casa do Alemão”, encontraríamos Maurício um antigo amigo que há muito não via e agora motociclista como nós.
A BR-040 já foi muito bem descrita nos textos
de outras viagens, mas agora tem um vergonhoso agravante: o último pedágio, no
sentido BH – Rio, teve seu preço absurdamente dobrado, com certeza por ser o
trecho de maior movimento. Se fossemos um país sério isso não aconteceria,
mas...
Os 55 km da BR-265 foram o aperitivo para a querida e desejada BR-040. Como esta proporcionou bons minutos de tudo o que um bom motociclista deseja e já foi citado neste e em outros de meus textos. Enjoativo repetir para vocês, mas extremamente prazeroso para os amantes das duas rodas. Foram mais de 270 km até chegar em casa, onde a BR-040, o prato principal de término de minhas viagens, torna-se o ápice de todas elas. Some tudo o que escrevi nas partes boas em que me refiro a estradas e repita nesse trecho, mas faça-o sem parcimônia e assim poderá ter um mínimo da ideia do que é percorre-la.
Até lá.
PS.: Em 21/09/23, Rodrigo, de Casa Branca, informou por WhatsApp que Caramelo já está bem, fazendo das suas.
INFORMAÇÕES BÁSICAS
- Dias de viagem (04/09 à 17/09/2023) - 14 dias
- Quilômetros percorridos - 4.143 Km
- Combustível (gasolina comum) - R$ 1.477,43
- Pedágio - R$ 78,75
- Hospedagem - R$ 2.275,30
- Alimentação (comida e bebidas) - R$ 1.795,32
- Turismo (Passeios, estacionamentos etc.) - R$ 470,99
- TOTAL - R$ 6.097,19
- TOTAL PREVISTO - R$ 7.222,00
REFERÊNCIAS – AS BOAS
- Delfinópolis - “JP Hotel” - Henrique - 035-9-9994-7706
- Delfinópolis - “Bar e Restaurante do Baiano” – Cachoeira do Ouro - -20.31045 / -46.76437
- Delfinópolis - “Bar do Magueta - -20.34326 / -46.85010
- Araguaí - “Home Burger” - Av. Minas Gerais, 1495 - Loja 2 - Centro, Araguari - MG)
- Araguarí – “Big Executive” – big-executive.minas-gerais-hotels.com
- Goiânia – “Junior Restaurante” - 5ª Av., 804 - St. Leste Vila Nova, Goiânia – GO.
- Goiânia - “Piquiras Famboyant“ - Shopping Famboyant
- Brasília - “Manuelzinho Restaurante” - SHCS CLS 404 Bloco A loja 33 - Asa Sul, Brasília – DF.
- Brasília - “Mangai do Lago” – SCE Sul, s/n - Lote 2, Asa Sul, Brasília - DF
- Paracatú - “Casa de Concesa” -@alojacasadeconcessa
- Três Marias – “Três Marias Hotel” - Praça Castelo Branco, 01 - Centro, Três Marias - MG
- Três Marias – “Grande Lago Restaurante” - Avenida Beira Lago, s/n - Cemig, Três Marias - MG
- Três Marias – “Pop Pizzas” - R. Pres. John Kennedy, 164, 2º andar - Centro, Três Marias – MG
- Belo Hoprizonte - “Pic Nic Posto de Combustível” - -19.99126 / -43.96382
- Casa Branca - “Estalagem da Villa” - 31-9-9594-3419 – Rodrigo - -20.09019 / -44.04595
- Casa Branca - “Restaurante e Pizzaria Madeira Velha” - -20.10179 / -44.05145
- Casa Branca - “Curral Carnes e Empório” - -20.09438 / -44.04628
- Rio Casca - “Hotel Morada do Sol - -20.22628 / -42.64150
- Pedra Azul – “Empório Del Nonni”- -20.37996 / -41.02684
- Guarapari - “Hotel Corona” - só no sufoco - Av. Des. Lourival de Almeida, 312 - Centro
- Guarapari - “Hotel Quatro Estações” - Av. Beira Mar, 1234, Praia do Morro
- Guarapari - “Canecão, Restaurante e Pizzaria” - Av. Praiana - Praia do Morro
- Tiradentes - “Museu da Moto” – -21.11792 / -44.16880
- Tiradentes - “Bárbara Bella” – -21.11798 / -44.16809
- Tiradentes - “Pandoro Restaurante e Pizzaria” - R. dos Inconfidentes, 488