Semana quente bagarai,
perspectiva de permanecer nesta situação. Claro, como tudo a moto tem seus
senões. Acordar cedo, vestir a indumentária protetora, pesada e quente, com
direito a luvas, botas e capacete. Tudo o necessário para você desistir só em
ouvir alguém perguntar:
“Vamos?”
Nada que nos fizesse pensar em
pegar a estrada em duas rodas.
“Tu tá maluco? Nesse calor de
rachar?”
Mas claro que isso fica pra trás
quando imaginamos o roteiro proposto:
Diferente da maioria que só
conhece uma ou duas estradas meus companheiros são mais criativos então fica
difícil repetir. Como distância e tempo não são problemas, sempre tem novidade.
Nesses últimos meses temos
passado por estradas inacreditáveis. Quem imagina que no miolo do triângulo
Rio, São Paulo e Minas as estradas são ruins, têm gratas surpresas.
Dessa vez seria:
Rio, Cachambú, Lima Duarte, Itaipava,
Rio.
Detalhando:
116 – Dutra - Até um pouco depois
de Resende;
354 – Até a divisa de São Lourenço
com Caxambu;
267 – Até o cruzamento com a 040;
040 – Até Itaipava;
040 – Até o Rio
Quase 700 quilômetros de prazer.
Novas estradas se misturando as
já conhecidas, as possibilidades dos visuais, das curvas, do cair da
temperatura a cada quilômetro percorrido nas serras da região. O sempre
excelente papo recheado de brincadeiras, o cafezinho acompanhado do delicioso queijo
de Minas ...
Tudo que nos faz pensar em pegar
a estrada em duas rodas.
E como quase sempre, escolhemos
ir. Está no sangue e com isso não se brinca.
“7:00 horas no posto para sairmos
às 7:30.”
Tudo pronto, devido a ansiedade, chegamos
antes do previsto. Um café, água e rodas na estrada.
Da Dutra, nada a comentar. Apenas
a saudade do mesmo trecho percorrido em minha última grande viagem. Com exceção
das curvas da serra, em uma pista deliciosamente asfaltada onde brinquei como
criança, só o visual de pouco antes do cansativo retão de Resende. Um imenso e
lindo lago com a ferrovia ao fundo e só.
Sempre que passo por lá penso em
parar para tirar fotos, mas como sei serem as últimas curvas antes da maçante
reta, escolho aproveitá-las ao máximo. Mas fiz essa mais ou menos aí embaixo.
Parada obrigatória próximo à
Resende para abastecimento, esticar as pernas, tirar a água do joelho e um
lanche comum. Sanduiche de contrafilé com queijo Minas, para uns e só queijo
prato sem carne, para mim. Refrigerante, café ou água.
Normal.
Seguimos e poucos quilômetros
após o 2º pedágio, depois entramos à direita pela 354, subindo. As lembranças
da grande viagem ficaram mais claras. As curvas menos suaves, o asfalto estreito
e liso, as sombras da vegetação, o cair da temperatura; só prazer e nada mais.
O desejo de seguir na rota
arduamente planejada em maio e junho de 2013 e percorrida em julho, era enorme.
Largar a porratoda pra trás e só seguir em frente sem nem olhar para trás...
Paramos no mesmo restaurante,
tudo se repetia como um dejavu, mas desta vez bem real.
Café, pedaços de queijo tipo
parmeson e um bom papo com outros motociclistas vindo em direção contrária.
A estrada nos convidava a
continuar e foi o que fizemos.
Mais uns prazerosos 60
quilômetros e chegamos à Caxambu. Não me lembrava de nada da época em que
estive lá com meus pais. Era muito pequeno. Só lembro que tinha muita gente, ao
contrário de hoje.
Filé de lombo de porco à mineira,
foi a pedida. Não podíamos ir à minas e comer coisa diferente. Não estava
ruim, mas foi decepcionante. Esperávamos bem mais daquilo que comemos.
Estávamos em Minas uai!
Antes de partir, sorvete para um,
café para outro e um açaí para mim.
Logo pegamos a 267. Já conhecia
em sentido contrário nas idas à Ibitipoca, mas o trecho até Lima Duarte era
novidade.
E estava como o trecho conhecido.
Asfalto liso, boas curvas, vegetação mais aberta e bela paisagem.
Acelerei um pouco mais que os
outros e segui me deliciando. Mini retas entre as maravilhosas curvas das bem
asfaltadas estradas de Minas. Fato sempre comentado por nosso mestre em GPS e
demais tecnologias Mr Jeff.
Não havia o que fazer a não ser selecionar
o “modo” “Dynamic”, rosquear a mão direita e curtir acelerando a cada trecho de
reta para reduzir duas antes de esterçar o guidom na direção oposta e colocar
toda a responsabilidade da gravidade e a potência do boxer 1200, no ESA, no
controle de tração e nos pneus.
É brincadeira de gente grande, não
é para qualquer um. O medo vira companheiro e é ele quem realmente segura a
porratoda.
A vista me fez parar e fazer essa
foto.
E segui em frente para ousar em
mais prazer.
E assim foi em pouco mais de 190
quilômetros para só então chegarmos na, para mim, Rainha das Estradas.
Posso dizer que conheço quase
todas as curvas e retas, no trecho entre o Rio e Juiz de Fora. E exatamente por
isso afirmo que tenho o medo como meu maior e melhor companheiro sempre que
estou nela.
Duas para ir e duas para voltar.
Asfalto em quase perfeito estado, curvas longas, curtas, em aclive, em declive,
de todos os jeitos e maneiras, bela paisagem, clima ameno. Não há como parar e
fazer fotos, não há como descrever; só aproveitar cada metro consumido.
E estava em transe, seguindo meu
caminho quando no retrovisor esquerdo aparece uma mancha branca se aproximando.
Abri passagem quando a Mercedes se mostrou no espelho, nos dois espelhos,
elegante.
Ela permaneceu alguns metros
atrás sem fazer menção de querer ultrapassar.
Rosqueei o direito voltando à
pista da esquerda retomando o ritmo. Ela me seguiu, sempre respeitando
distância e assim fomos por quilômetros. Sem ameaças, sem forçações de barra,
tudo no maior respeito. Quando ela se distanciava devido a falta de espaço ao
ultrapassarmos outro, eu reduzia até ela atingir a distância “combinada”.
Reduzi mais uma vez com a
proximidade do pedágio, precisava esperar meus companheiros de viagem. Nos cumprimentamos
e ela então seguiu. Era uma bela Kompressor como essa aí embaixo.
Chegamos em Itaipava, um café e
excelente papo com Serginho, dono de uma rvenda de motos no posto Shell em
frente ao Alemão. Belas motos e acessórios, excelentes preços.
Saí antes para tentar chegar ao
Rio à tempo de ver o jogo do Maior de Todos, Mengão, e consegui.
Bela viagem, bons companheiros,
excelentes momentos.
Até a próxima.