É a terceira vez que, como pessoa física, compro um equipamento com a mesma empresa. Se considerar uma aquisição feita no ano passado pelo meu filho, por minha indicação e insistência, serão quatro e justamente na última consegui mais um problema entre tantos outros que empresas e pessoas, em plena era da Qualidade, com criação de Procedimentos para tudo quanto é lado, visando (dizem) a melhoria do atendimento, produto ou serviço e quando o cliente tornou-se (dizem isso também) peça importante na imensa cadeia de consumo em que se transformou o mundo.
E você acreditou? Bobinho.
É a febre da qualidade.
“O cliente tem sempre razão.”
Mas não conseguiram e a impressão que me dá é que quanto mais se planeja, quanto mais as pessoas param para pensar em melhorias e procedimentos, mais se aprimora tecnologias, mais se busca prazo, baixo custo e qualidade; menos se atinge os objetivos. Parece que quanto mais se estuda teorias, menos tempo temos para aprender na prática o simples, portanto óbvio.
Vejo no trabalho a juventude “nativa” chegando e os caras mal sabem para que lado ficam as coisas. Se os largarmos dentro de um navio com certeza não saberão sair. Alguns mal chegariam em casa sem um smartphone com acesso ao Google Maps.
Estamos estudando tanto que estamos “emburrecendo”.
Na etapa de compra, por motivos óbvios, fui maravilhosamente atendido por uma simpática representante que esclareceu minhas poucas dúvidas já que eu já conhecia os tramites da empresa. Foram poucos e maravilhosos minutos entre iniciar o pressionar das teclas do telefone até ser informado que receberia o produto no dia 24/12/12 (eles estavam com a produção adiantada), fornecer o número de meu cartão de crédito e desligar o telefone.
Tudo funcionou ao contento e não precisei falar com mais ninguém a não ser a simpática e eficiente moçoila.
Não foi uma compra desejada e sim por circunstâncias que não vêm ao caso neste momento. Por isso não estava ansioso em receber o hardware, mas aproximadamente 12 horas após desligar o telefone iniciou-se um processo que me fez lembrar a infância quando da época do meu primeiro Natal consciente.
Estava começando a ficar ansioso.
Entretanto, os verões passados me fizeram, a muito custo, aprender a esperar. Assim o fiz e em 26/12/12 retornei ao 0800-701-12-68 a fim de saber a quanto andava a minha compra. Já esperava ouvir:
“Senhor, pedimos desculpas, mas devido ao feriado houve um atraso na remessa de nossos produtos, mas estaremos (atualmente, o gerúndio tornou-se a marca registrada da incompetência) enviando seu equipamento em alguns dias.”
Essa seria uma desculpa aceitável e eu estava disposto a aguardar os “alguns dias” para receber o que já se tornara meu principal e mais esperado presente de Natal.
Mas a versão que ouvi foi ligeiramente diferente. Depois de passar por duas pessoas (só duas, sou um felizardo), fui obrigado a ouvir a seguinte pérola:
“Senhor, verifiquei o andamento de seu pedido e seu equipamento encontra-se em produção. Senhor. Foi constatada a falta de uma peça e estamos aguardando sua chegada, mas estarei fazendo (olha o gerúndio novamente) o possível para agilizar a montagem e liberação para envio ao senhor.”
Imaginei a linha de produção de uma das maiores empresas montadoras de computadores e periféricos do mundo, parada com meu futuro computador ainda aberto e os demais em seguida numa fila gigantesca aguardando a chegada da importantíssima peça, como se em um daqueles desenhos animados da minha infância.
Fui educado e paciente ao ouvir tal asneira, diante da qual agradeci e desliguei sem nem ao menos perguntar quantos seriam os “alguns dias”. Com certeza iria ter de ouvir outra e eu não estava a fim.
No dia seguinte estava lá, na minha caixa de Entrada de e-mails uma mensagem do nobre Supervisor (sim, é verdade, consegui falar com um. Pelo menos ele disse que era um), com seus dados de contato.
Os “alguns dias” se passaram e verifiquei que meu conceito de “alguns dias” é bastante diferente do da empresa a qual sou (era?) um cliente fidelizado (isso parece que não tem mais valor, fica o registro).
Em 03/01/13, próximo das 8 horas da manhã, liguei novamente. Passei por três pessoas (realmente estou com sorte), sempre me identificando com meu número de Cliente.
Engraçado, como a cada ano que passa deixamos de ser quem somos para virar um número. Trabalhamos como uns imbecis, construímos uma reputação, nos sacrificamos para juntar um qualquer, compramos um produto ou serviço e, pasmem, viramos um número. Viva a evolução! Mas tudo bem! É para sermos encontrados com mais facilidade. Até concordo, mas o problema não é esse, são vários números: cliente da loja A, título de eleitor, cliente do posto de gasolina X, do cartão de crédito Y, cliente da loja B, CPF, celular, conta e agência de banco, sócio do clube, telefone fixo, carteira de identidade, carteira do órgão regulador de sua profissão, etc. Ou seja, você perde sua identidade mesmo. Sem falar das senhas?
“Ok, virei um número! Sem problemas. Mas não podia ser apenas um para tudo?”
E o simpaticíssimo atendente do “Pós Venda” iniciou nossa cavaqueira:
“Senhor, o senhor solicitou o seguro, certo senhor?”
Trata-se de uma pequena peça, chamada “Lodjack”, que localiza o computador caso este seja roubado. Item oferecido pela simpática vendedora. Eu tenho certeza que não pedi “nadica” de nada além da configuração padrão. Se houver mais, não me lembro, foi aceito por sugestão da mesma.
E ele prosseguiu sem me deixar responder:
“Acontece, senhor, que detectamos uma incompatibilidade entre a pecinha localizadora com o Windows 8. Essa versão do sistema não aceita a peça.”
Senti-me o todo poderoso.
Se estivesse escrevendo logo depois de ouvir essa pasmaceira estaria dizendo que sou o fodão, o picão das galáxias, afinal eu duvido que você tenha se imaginado travando a linha de produção de uma poderosíssima montadora de hardwares e levado complicações à Microsoft ao mesmo tempo (acho que não preciso explicar quem é essa, certo?), é mais fácil ganhar na Megasena da Virada, mesmo com todas as falcatruas.
Todavia, como já se passaram alguns dias e minha ira está reduzida, não vou escrever esses nomes feios. Se o fizer, vou acabar perdendo a razão.
Como se nessa altura dos acontecimentos houvesse alguma.
E, pela primeira vez em um crescente processo de irritabilidade consegui falar:
“E quando é que vocês iriam me contatar? Sim, porque vocês têm meus dados em algum lugar por aí, certo? Iam esperar o Papai Noel voltar do Natal?”
Desculpem, mas não tenho mais paciência para tanta incompetência, tanta falta de respeito. Esses caras contratam mocinhas e mocinhos de vozinha delicada, todos educadinhos, te chamam de senhor(a) pra lá e pra cá dizem que “estaremos fazendo isso e aquilo” quando na realidade estão mesmo é te sacaneando.
FATO!
Sim porque se quisessem mesmo resolver os problemas não iam ficar te passando pra lá e pra cá como fantoches idiotas.
Mas foi soltando mais alguns cachorros que me dei conta estar falando com quem menos culpa tem. Pedi para falar com um superior.
E foi aí que me ferrei de vermelho, azul e branco.
Deixaram-me ouvindo musiquinha. Tenho certeza que muitos de vocês já estiveram nessa agradabilíssima situação.
Não sei quanto tempo ficaria aguardando. Desliguei em aproximadamente 20 minutos.
Voltei ao trabalho.
Passaram-se várias horas e no final do expediente tentei uma nova ligação. Mas já estava infectado. Não fui mal educado, longe disso, mas minha paciência havia ficado ouvindo a musiquinha.
Atendeu mais uma mocinha;
“Empresa “X” Jose das Couves boa tarde, em que posso ajudar?”
Esqueci o nome da mocinha.
Expliquei em poucas palavras e em velocidade acima do normal o ocorrido e pedi para falar com um superior que decidisse.
“Senhor, seu assunto é pós venda. Vou estar encaminhando o senhor para o setor responsável. Ok senhor?”
Sempre há um setor, mas nunca há um responsável.
Atendeu outra mocinha:
“Empresa “X”, Pós Vendas, Maria das hortaliças, boa tarde em que posso ajudar?”
Elas sabem tudo decoradinho. São umas gracinhas parecem menininhas e menininhos do antigo primário fazendo a peça do teatrinho do final de ano.
Pedi para falar com um superior que resolvesse.
“Com quem estou falando, senhor?”
“Geraldo.”
“Qual seu número de Cliente?”
“Desculpe já me identifiquei antes, quero falar com um superior.”
“Senhor, preciso saber com quem estou falando senhor, senão não vou poder estar passando o senhor para o primeiro ou segundo gerente, senhor.”
“Um é mais importante que o outro?”
“Senhor, sim, senhor.”
“Então passe para o mais importante.” “Senhor, preciso de sua identificação, senhor?”
Respondi rápido:
“664.nnn.nnn-nn, é meu cpf.”
“Senhor, não entendi senhor, preciso de sua identificação, senhor?”
Respondi menos rápido:
“664.nnn.nnn-nn, é meu cpf.”
“Senhor, não entendi senhor, preciso de sua identificação, senhor?”
Respondi menos rápido, mas ainda rápido: “664.nnn.nnn-nn, é meu cpf.”
“Senhor, não está havendo comunicação, senhor, esta ligação vai ser deslig...”
Respondi menos rápido, mas ainda rápido:
“664.nnn.nnn-nn, é meu cpf.”
“Senhor, não está havendo comunicação, senhor, esta ligação vai ser desligada por falta de comunicação”
“Pi, pi, pi, pi, pi, pi ...”
Antes de tudo, eles avisam que está gravando, como manda a lei, mas quando a situação começa a ficar crítica, eles devem ter um botão que os permite diminuir o volume de sua voz para parecer que a ligação caiu ou você, puto, desligou. Isso é para o caso de você pedir a gravação a fim de processá-los.
E a menininha, criada pela vovó ficou irritadinha. Ela não pode ser contrariada. A vida não pode ser injusta com ela. Ela é uma Profissional de telemarketing.
Não foi instruída para solucionar os problemas, foi treinada e muito bem treinada para irritar o pobre e incauto consumidor. Profissionais especialistas em tortura foram contratados para treinar essas mocinhas e mocinhos. Alguém duvida? Conheça uma e pergunte. São horas e horas de árduo treinamento.
E o pior, não podem ser contrariadas, você não pode perder a calma. Tem que ficar quietinho, sendo sacaneado, pois se ceder a tentação de libertar seus extintos...
“Pi, pi, pi, pi, pi, pi ...”
Você pode estar com toda a razão do mundo, mas mesmo depois de estar estando (gostaram dessa) sendo sacaneado por horas; se sair da linha ...
“Pi, pi, pi, pi, pi, pi ...”
Portanto, comporte-se, se não...
“Pi, pi, pi, pi, pi, pi ...”
E você, O CLIENTE (KKKKK!), não tem como fugir. Esses pseudos profissionais estão espalhados por todas as empresas fornecedoras e/ou prestadoras de serviço. Não vai demorar muito para estarem estando criando uma Faculdade de Profissional de Telemarketing. Se é que não já existe.
Senhores, é preciso uma providência. Os valores estão mudando e o que era bom exemplo antes, hoje perdeu a importância para os craques do futebol beberrões de noitadas sem fim, ou os MCs das belas músicas com suas educativas letras de Funck.
A paz, a ordem, os bons costumes e boa educação perderam a vez para os chefes de gangs lícitas ou ilícitas. Os políticos perderam a vergonha e com eles a Justiça perde forças numa luta inglória com os outros dois poderes para condenar bandidos mais que conhecidos eleitos por ignorantes que de alfabetizados mal sabem escrever o nome e só sabem interpretar um cartão da Megasena, do Bolsa Família ou do carnê de eletrodoméstico.
Essa história de cliente ser importante é pura balela. Só serve na hora da compra. E com a baixa qualidade dos produtos e serviços, a tarefa de reclamar os seus direitos está ficando cada vez mais necessária, porém, cada vez mais difícil.
Não adianta recorrer aos órgãos reguladores, estes estão recheados de incompetentes que não querem nada. Mas também do que ia adiantar se a maior das justiças pena para prender bandidos conhecidos, o que farão por você pobre “Números”?
Não sei se falta muito ou pouco, mas vai chegar a hora em que voltaremos aos tempos do vale tudo e não estou falando de MMA, que para mim também exerce sua influência negativa.
É preciso entender que se você chegou até aqui neste texto é porque tem condições de discernir, sim porque histórias como esta aí em cima, têm aos montes.
Mas você chegou até aqui, então faz parte de apenas 6% da população deste maravilhoso país com condições de lobrigar. Mas isso não vale nada, ainda mais se levarmos em consideração que entre esses 6% tem muito safado e sem vergonha. E num cenário onde quem decide mal sabe ler e escrever, interpretar então... nem pensar; não nos resta muitas opções.
E como são esses coitados (sim coitados, muitos são honestos, têm caráter, mas não sabem o que estão fazendo) que decidem, a tendência é, com o tempo, tê-los no poder. E aí meus caros vai ser phoda! Você vai ter que dividir sua reluzente SUV (4x4 que nunca saiu da cidade) com eles. Ah! Vai!
Lembrem-se, ainda não chegaram ao poder e já faz algum tempo que estão invadindo terras, matas e construções, pelo Brasil à dentro e refinarias pelo Brasil à fora. E o pior, tudo com a aquiescência dos que lá estão
É preciso mostrar a esses 94% que o que estão fazendo vai acabar voltando contra eles. Sim, pois para os que ainda não entenderam, não é só a terra que é redonda, a vida também o é.
Você faz parte de uma cadeia em que suas ações, por mais insignificantes que sejam impactarão outro e as dele outro; assim por diante até a reação bater no vidro blindado de sua SUV em alguma esquina do país.
É preciso fazer com que os motoristas que fecham os cruzamentos entendam que em outro momento estarão em situação inversa, principalmente os de ônibus e taxis que passam horas nas ruas sob o sol e chuva escaldantes.
É preciso tirá-los das profundezas da ignorância e fazê-los entender que Bolsas Assistenciais, Crianças Esperança e ONGs da vida não devem ser regra e sim exceção, E que devem obter seus bens móveis e imóveis através de seu trabalho e que este seja honesto.
Se assim não for e eles continuaram decidindo pelos mesmos desprezíveis políticos continuarão vivendo nas encostas sob o risco de rolarem a cada chuva mais forte. Vão continuar vivendo em favelas, que nunca deixarão de ser favelas só porque as pseudo urbanizaram, puseram um teleférico, colocaram uma UPP e organizaram alguns shows com artistas em decadência.
É preciso fazê-los entender que fazer filho e trepar são atividades distintas, porque Bolsa Escola não sustenta ninguém.
Entretanto, nós dos 6% temos nossa parcela de responsabilidade, por exemplo: há os que acham que passar em concurso público é a solução dos seus problemas. Não caras pálidas, não é! Você vai passar (se é que vai passar) e ficará feliz por algum tempo. Depois verificará que o salário e/ou condições não são suficientes e vai começar a amolecer, vai começar a faltar, vai começar a se vender, vai começar a pegar emprestado material e/ou serviço alegando salário indireto e isso impactará em nossos impostos ou na qualidade dos serviços a que temos direito, inclusive você.
E para seu conhecimento, seu canalha, eu não tenho culpa de suas escolhas. Você que as fez arque com todas elas ou mude de ramo.
Você tem direito, porém procure não usar a sua maravilhosa SUV 4 x 4 para andar a 40 km/h na cidade. Mas se por ventura o fizer, faça pela pista da direita. É simples e não dói nadinha.
É preciso mostrar para os profissionais de telemarketing que eles também são consumidores, também tem celular, eletrodomésticos, computadores, televisão a cabo e tudo o mais que nos obriga a aturá-los com frequência. Eles precisam entender que se chegamos ao ponto de ficar irritados e mal educados é porque eles não fizeram o que lá estão para fazer. Não agilizaram o atendimento. Estamos reclamando? É porque não fomos atendidos como prometido na etapa de aquisição do produto ou serviço. Eles precisam perceber que como representantes da empresa, são a própria empresa e devem sim ouvir pacientemente cada reclamação e providenciar a solução o mais rápido possível. Se assim o fizerem, não serão agredidos, ao contrário, receberão elogios como fiz em raras vezes em que fui bem atendido.
Vou ser honesto e dizer que não faço a menor ideia de como fazê-lo, mas é preciso achar uma maneira mostrar aos 94% que decidem que não dá mais para continuar como está.
Neste momento, a mim só resta ver se o produto que deixou de ser presente de Natal, passa a ser de aniversário, porque para o dia 10/01/13, faltam apenas poucos dias.
Portanto, meu caro leitor, se desejar comprar algo ou serviço, pense direitinho. Verifique a essencialidade da coisa; você não precisa de uma 4 x 4 para andar na cidade à 40 km/h.
Sendo assim, eu sugiro: