Alguns sabem que por conta de minhas atividades profissionais estou tendo que “morar” em São Paulo por 3 dias, entre as 3ªs e 5ªs feiras inclusive.
É claro que isso não é o melhor dos mundos. Independente de qualquer coisa. É muito ruim você ter que largar, mesmo que por um curto período, toda aquela infraestrutura construída arduamente durante grande parte de sua vida.
A família, o cachorro, o conforto de sua cama, a intensidade com que a água sai do seu chuveiro, sua geladeira e a disposição das coisas dentro dela ou de seus armários, a vista da janela mesmo que não seja maravilhosa, etc.
A proximidade com suas coisas queridas. Livros, revistas, DVDs, CDs, etc. que fazem com que seu tempo seja gasto com mais prazer. Amigos, queridos ou não, que fazem a sua vida melhor.
A cidade, sua cidade, que você conhece como a palma de sua mão; ao menos parte dela. O seu restaurante favorito, o pé sujo da esquina, o lugar de praticar esportes, o supermercado onde, se bobear, consegue achar o que deseja no escuro; a academia, etc.
Os lugares de tantos passeios, o caixa eletrônico, o cantinho especial testemunha de seus segredos, de seus encontros e desencontros.
A praia.
Em suma, sua verdadeira vida.
Você aporta em uma cidade estranha, cujas referencias não existem para você. Ao contrário do Rio, em São Paulo, para onde você olha o cenário permanece exatamente o mesmo. É a dura poesia concreta das esquinas que a faz assim. À esquerda, prédios; à direita, prédios; à frente, prédios; atrás, adivinhem ... sim, prédios.
Sabemos que são diferentes e um dia significarão algo, mas agora, no início do processo de adaptação, são todos iguais. Altos, cinzas e feios. Narciso ainda não gosta deles porquê apesar de alguns serem de vidro, não são verdadeiros espelhos.
São Paulo, quando eu cheguei por aqui eu nada entendi. E ainda está difícil de entender. Só sei que de um lado tem o Pinheiros e do outro o Tietê, que dizem ser a praia mais próxima da cidade.
Com o passar dos dias, semanas e meses, você nota que alguns paradigmas são quebrados, afinal, são para isso que eles existem, se não, não os seriam.
Por exemplo, nada aconteceu quando cruzei a Ipiranga com a Avenida São João. Chovia bagarai, mas não vi nem senti nada de novo. Meu coração batia mais forte, é verdade, mas devido a corrida dada fugindo da chuva.
Era tudo muito estranho, lembro que chamei de mau gosto tudo o que vi, de mau gosto, mau gosto. O céu nublado pela feia fumaça que sobe, apagando as estrelas, com certeza proveniente da força da grana que ergue e destrói coisas belas. Coisas que faltam para que você, São Paulo, se torne mais humana e acolhedora.
Para mim, sem sombra de dúvida você está sendo um difícil começo e de medo ainda afasto o que não conheço. Mas hoje, já vejo diferenças, ainda sutis, mas já as vejo.
Suas mulheres, por exemplo, não todas, mas muitas, são bem tratadas e bem vestidas e por isso tornam-se belas. É a deselegância discreta de tuas meninas que as transformam no que são. Ainda não conheci a Rita Lee que dizem ser a tua mais completa tradução. Fazer o quê? Respeita-se o talento e o carisma, mas gosto não se discute. Cada um tem a imagem que merece.
Afinal tudo aqui para mim é estranho justamente por ser novidade e vocês sabem muito bem que à mente apavora o que ainda não é mesmo velho até porque, é sabido e notório para, mesmo os mais desavisados, que nada do que não era antes quando não somos mutantes continuará sendo novidade.
E para piorar há o paulistano, aquele que vende outro sonho feliz de cidade, mas com o passar do tempo assim como nós forasteiros, aprende depressa a chamar-te, São Paulo, de realidade.
Porque com todo seu dinheiro e ego, ele, o paulistano, acaba sendo o avesso do avesso do avesso do avesso do resto do país cujo povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas, empregados ou não nas oficinas de florestas, rezando para os deuses da chuva por dias melhores que demoram a chegar.
Portanto, para mim, São Paulo ainda é e por muito tempo continuará sendo uma miscigenação de raças de Pan-Américas de Áfricas utópicas, e por isso, com seus italianos, chineses, japoneses e demais imigrantes sempre será o túmulo do samba, mas exatamente devido a essa grande e maravilhosa mistura é mais possível tornar-se um novo quilombo de Zumbi.
E será livre, São Paulo, para que os novos baianos passeiem na tua garoa com espaço suficiente para que novos baianos te possam curtir numa boa.
Mas eu sou Carioca e permanecerei como um. Tentando ver surgir teus poetas de campos, espaços. E com eles aprender a te gostar ao menos te respeitar.
É claro que isso não é o melhor dos mundos. Independente de qualquer coisa. É muito ruim você ter que largar, mesmo que por um curto período, toda aquela infraestrutura construída arduamente durante grande parte de sua vida.
A família, o cachorro, o conforto de sua cama, a intensidade com que a água sai do seu chuveiro, sua geladeira e a disposição das coisas dentro dela ou de seus armários, a vista da janela mesmo que não seja maravilhosa, etc.
A proximidade com suas coisas queridas. Livros, revistas, DVDs, CDs, etc. que fazem com que seu tempo seja gasto com mais prazer. Amigos, queridos ou não, que fazem a sua vida melhor.
A cidade, sua cidade, que você conhece como a palma de sua mão; ao menos parte dela. O seu restaurante favorito, o pé sujo da esquina, o lugar de praticar esportes, o supermercado onde, se bobear, consegue achar o que deseja no escuro; a academia, etc.
Os lugares de tantos passeios, o caixa eletrônico, o cantinho especial testemunha de seus segredos, de seus encontros e desencontros.
A praia.
Em suma, sua verdadeira vida.
Você aporta em uma cidade estranha, cujas referencias não existem para você. Ao contrário do Rio, em São Paulo, para onde você olha o cenário permanece exatamente o mesmo. É a dura poesia concreta das esquinas que a faz assim. À esquerda, prédios; à direita, prédios; à frente, prédios; atrás, adivinhem ... sim, prédios.
Sabemos que são diferentes e um dia significarão algo, mas agora, no início do processo de adaptação, são todos iguais. Altos, cinzas e feios. Narciso ainda não gosta deles porquê apesar de alguns serem de vidro, não são verdadeiros espelhos.
São Paulo, quando eu cheguei por aqui eu nada entendi. E ainda está difícil de entender. Só sei que de um lado tem o Pinheiros e do outro o Tietê, que dizem ser a praia mais próxima da cidade.
Com o passar dos dias, semanas e meses, você nota que alguns paradigmas são quebrados, afinal, são para isso que eles existem, se não, não os seriam.
Por exemplo, nada aconteceu quando cruzei a Ipiranga com a Avenida São João. Chovia bagarai, mas não vi nem senti nada de novo. Meu coração batia mais forte, é verdade, mas devido a corrida dada fugindo da chuva.
Era tudo muito estranho, lembro que chamei de mau gosto tudo o que vi, de mau gosto, mau gosto. O céu nublado pela feia fumaça que sobe, apagando as estrelas, com certeza proveniente da força da grana que ergue e destrói coisas belas. Coisas que faltam para que você, São Paulo, se torne mais humana e acolhedora.
Para mim, sem sombra de dúvida você está sendo um difícil começo e de medo ainda afasto o que não conheço. Mas hoje, já vejo diferenças, ainda sutis, mas já as vejo.
Suas mulheres, por exemplo, não todas, mas muitas, são bem tratadas e bem vestidas e por isso tornam-se belas. É a deselegância discreta de tuas meninas que as transformam no que são. Ainda não conheci a Rita Lee que dizem ser a tua mais completa tradução. Fazer o quê? Respeita-se o talento e o carisma, mas gosto não se discute. Cada um tem a imagem que merece.
Afinal tudo aqui para mim é estranho justamente por ser novidade e vocês sabem muito bem que à mente apavora o que ainda não é mesmo velho até porque, é sabido e notório para, mesmo os mais desavisados, que nada do que não era antes quando não somos mutantes continuará sendo novidade.
E para piorar há o paulistano, aquele que vende outro sonho feliz de cidade, mas com o passar do tempo assim como nós forasteiros, aprende depressa a chamar-te, São Paulo, de realidade.
Porque com todo seu dinheiro e ego, ele, o paulistano, acaba sendo o avesso do avesso do avesso do avesso do resto do país cujo povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas, empregados ou não nas oficinas de florestas, rezando para os deuses da chuva por dias melhores que demoram a chegar.
Portanto, para mim, São Paulo ainda é e por muito tempo continuará sendo uma miscigenação de raças de Pan-Américas de Áfricas utópicas, e por isso, com seus italianos, chineses, japoneses e demais imigrantes sempre será o túmulo do samba, mas exatamente devido a essa grande e maravilhosa mistura é mais possível tornar-se um novo quilombo de Zumbi.
E será livre, São Paulo, para que os novos baianos passeiem na tua garoa com espaço suficiente para que novos baianos te possam curtir numa boa.
Mas eu sou Carioca e permanecerei como um. Tentando ver surgir teus poetas de campos, espaços. E com eles aprender a te gostar ao menos te respeitar.