terça-feira, 24 de janeiro de 2012

SAMPA



Alguns sabem que por conta de minhas atividades profissionais estou tendo que “morar” em São Paulo por 3 dias, entre as 3ªs e 5ªs feiras inclusive.

É claro que isso não é o melhor dos mundos. Independente de qualquer coisa. É muito ruim você ter que largar, mesmo que por um curto período, toda aquela infraestrutura construída arduamente durante grande parte de sua vida.

A família, o cachorro, o conforto de sua cama, a intensidade com que a água sai do seu chuveiro, sua geladeira e a disposição das coisas dentro dela ou de seus armários, a vista da janela mesmo que não seja maravilhosa, etc.

A proximidade com suas coisas queridas. Livros, revistas, DVDs, CDs, etc. que fazem com que seu tempo seja gasto com mais prazer. Amigos, queridos ou não, que fazem a sua vida melhor.

A cidade, sua cidade, que você conhece como a palma de sua mão; ao menos parte dela. O seu restaurante favorito, o pé sujo da esquina, o lugar de praticar esportes, o supermercado onde, se bobear, consegue achar o que deseja no escuro; a academia, etc.

Os lugares de tantos passeios, o caixa eletrônico, o cantinho especial testemunha de seus segredos, de seus encontros e desencontros.

A praia.

Em suma, sua verdadeira vida.

Você aporta em uma cidade estranha, cujas referencias não existem para você. Ao contrário do Rio, em São Paulo, para onde você olha o cenário permanece exatamente o mesmo. É a dura poesia concreta das esquinas que a faz assim. À esquerda, prédios; à direita, prédios; à frente, prédios; atrás, adivinhem ... sim, prédios.

Sabemos que são diferentes e um dia significarão algo, mas agora, no início do processo de adaptação, são todos iguais. Altos, cinzas e feios. Narciso ainda não gosta deles porquê apesar de alguns serem de vidro, não são verdadeiros espelhos.

São Paulo, quando eu cheguei por aqui eu nada entendi. E ainda está difícil de entender. Só sei que de um lado tem o Pinheiros e do outro o Tietê, que dizem ser a praia mais próxima da cidade.


Com o passar dos dias, semanas e meses, você nota que alguns paradigmas são quebrados, afinal, são para isso que eles existem, se não, não os seriam.

Por exemplo, nada aconteceu quando cruzei a Ipiranga com a Avenida São João. Chovia bagarai, mas não vi nem senti nada de novo. Meu coração batia mais forte, é verdade, mas devido a corrida dada fugindo da chuva.

Era tudo muito estranho, lembro que chamei de mau gosto tudo o que vi, de mau gosto, mau gosto. O céu nublado pela feia fumaça que sobe, apagando as estrelas, com certeza proveniente da força da grana que ergue e destrói coisas belas. Coisas que faltam para que você, São Paulo, se torne mais humana e acolhedora.

Para mim, sem sombra de dúvida você está sendo um difícil começo e de medo ainda afasto o que não conheço. Mas hoje, já vejo diferenças, ainda sutis, mas já as vejo.

Suas mulheres, por exemplo, não todas, mas muitas, são bem tratadas e bem vestidas e por isso tornam-se belas. É a deselegância discreta de tuas meninas que as transformam no que são. Ainda não conheci a Rita Lee que dizem ser a tua mais completa tradução. Fazer o quê? Respeita-se o talento e o carisma, mas gosto não se discute. Cada um tem a imagem que merece.

Afinal tudo aqui para mim é estranho justamente por ser novidade e vocês sabem muito bem que à mente apavora o que ainda não é mesmo velho até porque, é sabido e notório para, mesmo os mais desavisados, que nada do que não era antes quando não somos mutantes continuará sendo novidade.

E para piorar há o paulistano, aquele que vende outro sonho feliz de cidade, mas com o passar do tempo assim como nós forasteiros, aprende depressa a chamar-te, São Paulo, de realidade.

Porque com todo seu dinheiro e ego, ele, o paulistano, acaba sendo o avesso do avesso do avesso do avesso do resto do país cujo povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas, empregados ou não nas oficinas de florestas, rezando para os deuses da chuva por dias melhores que demoram a chegar.

Portanto, para mim, São Paulo ainda é e por muito tempo continuará sendo uma miscigenação de raças de Pan-Américas de Áfricas utópicas, e por isso, com seus italianos, chineses, japoneses e demais imigrantes sempre será o túmulo do samba, mas exatamente devido a essa grande e maravilhosa mistura é mais possível tornar-se um novo quilombo de Zumbi.

E será livre, São Paulo, para que os novos baianos passeiem na tua garoa com espaço suficiente para que novos baianos te possam curtir numa boa.

Mas eu sou Carioca e permanecerei como um. Tentando ver surgir teus poetas de campos, espaços. E com eles aprender a te gostar ao menos te respeitar.

domingo, 22 de janeiro de 2012

UMA VIAGENZINHA BOA DEMAIS

Uma ida despretensiosa à concessionária e encontrei uma turma que conheci no dia em que fui pegar meu brinquedo novo. No dia eram apenas 02, hoje 04. Como no primeiro, batemos um bom papo onde os assuntos principais foram motos e viagens de.

Papo bom no qual combinamos um bate e volta para hoje.

Minutos após chegar em casa recebi um SMS informando que o encontro seria entre 09:30 e 10:00 horas no Postinho da Lagoa, tradicional ponto de encontro de motos dos anos 70.

Saímos às 10:10 h como planejado e fomos em direção a Linha Vermelha. Não me preocupei com o destino nem itinerário, era minha primeira viagem com eles não ia “exigir” nada, são experientes e eu estava a fim era de “andar” de moto, não importava para onde.

A temperatura típica de verão, mesmo com as nuvens que tomavam cerca de 40% do céu, torrava nossos cérebros sob os capacetes e corpos envoltos pelos casacos e calças próprias para o que estávamos fazendo.

Estava de volta às estradas e isso era muito bom. Os problemas não existiam mais, as pessoas sem ética que frequentam o pesado ambiente de trabalho estavam mortas, pelo menos por algumas longas horas. As retas e curvas eram as únicas coisas que preenchiam meus pensamentos e o vento frontal o único a me encostar.

Linha Vermelha depois Rodovia Washington Luiz e chegamos à entrada de Teresópolis. A estrada, até então, estava lotada, os motoristas de domingo se faziam presente com suas barbeiragens mesmo sendo sábado. Mas chegamos sem sustos. Uma breve parada no mirante do alto da serra, uma foto e alguns poucos goles de água e voltamos para a pista em direção a Friburgo.


O movimento já era menor o que permitiu o início do processo de degustação da viagem. Nova pista, novas curvas, piso de boa qualidade, vista idem e temperatura amena. Estávamos na serra lembra? O conjunto ideal para momentos impares com grandes chances de tornarem-se inesquecíveis.

Foram, talvez, um pouco mais de 02 horas agradabilíssimas até chegarmos ao posto para abastecer e logo depois ao local do almoço.

Simples, amplo com decoração aconchegante triunvirato que faz o ambiente extremamente agradável. O atendimento é feito por meninas simpáticas e educadas. A especialidade alemã trouxe lembranças.


Éramos sete e cada um fez o seu pedido, um peixe foi o pedido da esposa de um deles, a única mulher do grupo, que pilota uma BMW F 800 R, a versão “naked” da F 800 GS, e o faz muito bem.


Altos filés, dois para cada. acompanhados de diversos tipos de arroz, salada ou massa foram os pedidos dos outros cinco. Uma BMW 1300, outra GS 1200, uma Honda Varadero, uma Suzuki Hayabusa 1300 e uma KTM 990. Achei que carne ia ser muito pesado e poderia dar sono na volta. Mas não estava a fim de peixe. Havia outras opções tais como coelho e frango. Optei pelos camarões à Provençal.


Tinha direito a dois acompanhamentos pedi para dividi-los em dois, no que fui prontamente atendido e se tornaram quatro pequenas porções: chucrute, legumes cozidos, salada de batata e uma salada de folhas.

UMA DELÍCIA!

A sobremesa que também estava divina foi dividida com um deles e era composta de meia fatia de torta mousse de chocolate, uma pelota de chantilly e duas pequenas poças de uma espécie de geléia. Uma de Goiaba e a outra de manga.


MARAVILHOSA!

Acompanhou-nos umas long necks de “Proibida” uma excelente cerveja tcheca envazada na cidade de Pindoretama no Ceará, localizada à aproximadamente 50 Km à leste de Fortaleza.

Não vou dizer o nome do restaurante porque não é política desse espaço fazer propaganda, mas também não posso privá-los de tais iguarias. (22)2542-18-90.

Iniciamos a volta sob uma temperatura agradável e assim foi até chegarmos a baixada. Em Cachoeiras de Macacú o sol reinicia seu cozimento de corpos e cérebros e sob o quase insuportável calor carioca seguimos até uma rápida parada para um bom gole de água. Seguimos para casa como se estivéssemos em um deserto.

Antes, nova parada no Postinho da Lagoa para as despedidas e algumas boas palavras sobre as próximas viagens. Alí éramos apenas 04 as demais seguiram seu caminho.

sábado, 14 de janeiro de 2012

VOU PRECISAR DESENHAR?



ME ESPANTA O QUANTO SOMOS INTELIGENTES


Decidi!

Afinal, vendi o carro.

Eram 12 horas e 23 minutos do dia 11/01/2012 quando efetivou-se o depósito em minha conta. O valor não foi condizente com o real estado do carro, mas a liquidez da transação compensou.

Ficava falando por aí das pessoas inconsequentes que usam sozinhos o carro, para percorrer distâncias curtas, SUVs que atravancam o trânsito e outras coisas do gênero e não tomava uma decisão efetiva.

Era muito fácil.

Se bem que eu já não utilizava o carro havia muito tempo. Usava apenas para levar @Boris Stafford ao ParCão, mas isso porquê é longe, sua raça tem um problema na traquéia que prejudica a respiração e ele é pret ops, afro descendente (essas coisas me deixam nervoso, nunca sei que termo usar). A união dessas 03 coisas não permite que ele ande por aí serelepe sob o sol.

Fora isso, já faço quase tudo de moto. Na chuva, metrô ou taxi.

Confesso que não sei se vou me acostumar, eu não usava, mas sabia que ele estava lá na garagem, aguardando qualquer necessidade.

Sou um aficionado por motores, motos, carros, aviões (mesmo com medo), caminhões e derivados. Não entendo patavinas de mecânica, mas estar com eles na mão é indescritível. Já fiz poucas e boas de carro. Viagens curtas, longas, sempre com o pé direito com o peso acima do normal.

Automáticos? Estou completamente fora! Nada como a emoção de comandar uma arrancada com subidas de marchas sincronizadas, no limite do giro do motor. O que dizer de reduções feitas e uma leve, mas decidida freada, na aproximação de uma curva? E, enchendo os cilindros com potência, no ponto mínimo da tangente, para reiniciar a sequencia de subidas de marchas ao som quase mudo do limiar da cantada dos pneus. Isso não tem preço. Ainda mais ao som de um bom rock dos anos 70.

Não dizem que experiência é o resultado das cagadas que fazemos na vida? Pois em se tratando de carro eu tenho muita experiência.

Borboletas, deve ser bom, nunca dirigi carros providos desses acessórios, mas deve ser legal. Ao menos mais seguro.

Vou sentir muitas saudades!


O exercício que fiz, estou alimentando e me convenceu a tomar essa decisão tão drástica é composto de 10 itens e é muito simples.

Considerando 01 inconseqüente, “propriotário” de 01 carro médio, indo para o trabalho todos os dias, durante os 20 dias úteis do mês e em números redondos; teremos:


01 – Valor do carro - 35.000,00 / 5 anos = 7.000,00
02 – Diferença para o carro novo - 10.000,00 / 5 anos = 2.000,00
03– IPVA = 1.100,00
04 – Seguro = 2.000,00
05 – Lavagem semanal – porteiro = 20,00 x 4 x 12 meses = 760,00
06 – Revisão – 2 por anos = 1.000,00
07 – Combustível – 1 tanque / semana = 100,00 x 4 x 12 = 4.800,00
08 – Pneus – 2 / ano = 400,00 x 2 = 800,00
09 – Flanelinhas diversos – 2,00 x 20 x 12 = 480,00
10 – Imprevistos = 500,00

POR ANO = 20.440,00 ÷ 12

POR MÊS (útil ou 20 dias) 1.700,00

Acrescente as despesas de fins de semana, tais como estacionamentos de shoppings, garagens ou valets, combustível cidade, desgaste mecânico, lavagens no posto, etc.

São em média 04 fins de semana por mês, sendo assim, vou considerar R$ 213,00 (1.700,00 / 20 dias x 2 dias + 25%) para cada um deles ou R$ 852,00 por mês. Não vou considerar férias nem feriados.

Não se esqueça das aporrinhações tais como flanelinhas, procura de vaga, andar na chuva até o carro estacionado longe, trânsito infernal das cidades grandes, possíveis discussões com possibilidade de dano físico, eventuais batidas cujo custo não é coberto pela franquia do seguro, tempo gasto com as burrocracias consequentes de eventuais acidentes, o mesmo consequente das aporrinhações do DETRAN, guardas corruptos, etc.

Para esse caso, considerei 15% do valor mensal para os dias úteis e 10% para os fins de semana quando teoricamente estamos mais calmos, portanto, menos suscetíveis a esses problemas:

POR MÊS (útil ou 20 dias) – 15% de 1.700,00 = 255,00

POR MÊS (fins de semana) – 10% de 852,00 = 85,00

TOTAL GERAL POR MÊS = 2.892,00

POR DIA (30 dias) = 96,00

Não considerei multas, por saber que você é um exímio motorista. Ok?

Sim meus caros, também fiquei assustado. Mais ainda em saber que uns 43% dessa grana toda são impostos. São mais de R$ 1.200,00 por mês para sustentar os safados que nos governam e muito dos outros 47% serve para sustentar meia dúzia de montadoras que vendem seus produtos a preços substancialmente mais baratos em outros países.

Claro Zé Mané, você paga, eu paguei e se continuar assim, muitos ainda pagarão! Como isso vai mudar?

Não senhores, não quero fazer as vezes da Esquerda Festiva e sair dividindo bens com os menos favorecidos. Isso quem tem que fazer é a corja de governantes deste maravilhoso país; utilizando os impostos que regiamente é descontado de nossos rendimentos e transações econômicas. Quero apenas mostrar a vocês números bastante condizentes com a realidade e por isso convincentes.

O resto é com vocês!

O dinheiro é de vocês, o ego idem. Se você é daqueles que pensa que só arruma mulher porque tem carro, tudo bem, está no seu direito possuí-lo. É sua a grana e se foi conquistada honestamente você tem o direito de fazer o que quiser com ela.

Sei do status proporcionado pelo possante e do conforto inerente, mas você realmente prefere ficar horas parado no trânsito, mesmo que confortavelmente em um ambiente climatizado, ouvindo sua musiquinha favorita do que chegar em casa mais cedo e curtir o resto do dia no conforto de seu lar ou junto aos amigos?

Claro que o transporte público não é dos melhores, mas se fizermos algum sacrifício a situação vai ficar melhor para todos.

Ah! Você quer conforto? Compre uma moto. Os números serão outros bem menores e como você não suporta andar com pessoas ao seu lado ao menos não vai ocupar um espaço proporcional ao seu egoísmo.

Você já é motoqueiro ou motociclista (há uma diferença), não seja burro! Você é o elo mais fraco dessa corrente. Não faça bagunça nas ruas, e assim será respeitado.


Você tem medo de andar de moto ou trabalha na rua, precisa visitar lugares distintos e distantes durante o dia? Tudo bem, compre um carro pequeno e econômico. Além de ocupar menos espaço e poluir menos, não vai precisar gastar fortunas com blindagens.

Você que trabalha perto de casa, pode usar bicicleta. A cidade já tem uma excelente malha ciclo viária. Tem um grande amigo que faz isso e está adorando. Ele sai um pouco mais cedo para os compromissos e pedala devagar evitando transpirar. Vai de roupa de trabalho e tudo.

Você é motorista de taxi, ônibus ou caminhão? Reclama do perrengue que é ficar o dia todo na rua? Reclama do calor do motor? Dos passageiros mal educados? Respeite as leis de trânsito ele será mais tranquilo para você.

Mas você é um idiota egoísta e acha que está sozinho no mundo, que não quer sair da sua zona de conforto e que se foda a porra toda? Ao menos respeite as leis de trânsito e ele será mais dócil para você.

E o mais importante é que vocês motoristas remanescentes, respeitem as motos, dessa forma elas se tornarão mais seguras e mais pessoas as utilizarão, serão menos carros nas ruas e assim por diante:

Respeito às leis de trânsito, trânsito mais dócil, respeito às motos, motos mais seguras, menos carros nas ruas;

Respeito às leis, trânsito dócil, respeito motos seguras, menos carros;

Respeito leis de trânsito, motos seguras e menos carros ...

Entenderam? Ou será necessário desenhar?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

DE NOVO, NOVAMENTE, OUTRA VEZ?




“Vamos dar a primeira do ano? Já que a última de 2011 foi há muito tempo.”

“Pô você que não atendeu ao telefone!”

“Não importa, já discutimos isso. Você ligou e não tocou aqui. Coisas dos celulares. Tenho uma amiga que não acredita que essas coisas acontecem, acha que estou enrolando. Mas deixa prá lá! Vamos ou não vamos amanhã?”

“Vamos sim, eu te ligo.”

“Ok! Anota o fixo, não dou esse número para ninguém, normalmente não atendo a não ser quando combino antes como agora.”

“Pode deixar. Vamos para Terê e depois fazemos a volta por Petrópolis, como na última vez?”

“Nunca! Não quero ver desgraça! Tô a fim de andar de moto.”

“Ok! Tem razão. Amanhã decidimos.”

Fiquei com Teresópolis na cabeça. Mais um ano, início de, e algumas coisas permanecem as mesmas. De novo, novamente, outra vez chovia bagarai aqui na Cidade Maravilhosa (até quando?) e já temos nas páginas dos jornais e meias manchetes de telejornais nossas mais que conhecidas enchentes. As notícias ainda não chegaram às primeiras páginas, pois ainda não desbarrancou nenhum morro, as cidades ainda não estão tão inundadas e ainda não morreu muita gente. Mas não se preocupem, isso é apenas uma questão de tempo.

Só quem não sabe disso, ou não está nem aí para isso, são justamente aqueles que deveriam ter acabado ou ao menos minimizado o problema.
Quem são?

Ora meus escassos leitores, são os safados em quem alguns de vocês e a maioria da população votou (e vêm votando há tempos) nas últimas eleições em troca de alguma benesse. Sim meus caros porque para votar nessa corja só mesmo em troca de alguma coisa e não pode ser pouca!

Eu, outros poucos de vocês e a minoria da população, que continuamos na mesma situação socioeconômica desde antes da última eleição, que votamos corretamente e infelizmente não elegemos ninguém, só estamos aguardando os números das tragédias que estão por vir.

No último texto, eu errei e errei feio ao dizer que só tinha duas certezas para o ano novo. Na realidade são quatro: as duas que citei e a de que o estado do Rio de Janeiro terá duas tragédias uma por conta das chuvas de verão e outra por conta da Dengue.

São eventos que já podem ser inseridos no calendário turístico de nossa cidade.

Já imagino os panfletos de propagando lá no exterior:

(...) e conheçam a vida em um país do terceiro mundo. Vejam que mesmo com um crescimento econômico elogiável os nativos ainda sofrem com problemas há muito desconhecidos para nós. Será uma inesquecível lição de antropologia que você terá orgulho em contar para seus amigos, filhos e netos. Não percam essa grande oportunidade de conviver com opostos tão claros. (...)

(...) você poderá viver a experiência de rolar morro abaixo dentro de uma habitação típica de uma comunidade nativa e ainda passar horas soterrado em seus escombros (...)

(...) poderá ser picado por um legítimo mosquito transmissor da Dengue e de quebra ser tratado em uma UPA pelo SUS (...)

E a tendência, é piorar, pois da forma como estamos tratando nosso planeta, desperdiçando recursos e emitindo lixo; as alterações climáticas serão cada vez mais fortes.

Mas, como eu não posso fazer nada de efetivo a não ser continuar pagando meus impostos e votando corretamente, vamos mudar de assunto que dá mais certo.

Consegui dormir.

Domingo, 08 de janeiro, acordo com o despertador das 06:30 h que havia programado, fazendo fé de que a chuva não iria virar a noite e acordar molhando o chão. Deu certo. O céu estava nublado, melhor que isso, só um ventinho, mas aí é querer muito.

Levanto, acordo @Boris Staford para o passeio matinal. Um copo de água e descemos para um passeio maior do que o de costume, pois dessa vez não iria levá-lo ao ParCão.

Cachorro vazio, Ok!

Café da manhã, Ok!

Mais uma olhada no relógio e nada dos telefones tocarem.

Não importa a idade, quando ganhamos um brinquedo novo queremos brincar de qualquer maneira e eu queria muito estrear o meu. Presente adiantado recebido pelo meu aniversário.

Não resisti e liguei

“Alô?”

“Fala mermão! Meu filho disse que você havia ligado, mas não sabia se tinha sido sonho. Disse que você marcou o encontro na feira. O moleque só pode estar viajando!”

“Liguei não! Mas já ia ligar. Vamos para Miguel Pereira ou Paulo de Frontin?”

“Muito perto, vamos para Penedo e se der, para Mauá (Visconde de)?”

“Ok! Nos encontramos na primeira polícia da Linha Vermelha”

“Ok! Quem chegar primeiro cuidado com as balas perdidas. Hehehe!”

O tempo nublado me fez vestir a roupa da viagem. Quente e pesada, mas o risco de chuva não me deixou alternativa. Ainda levei a capa de chuva.

Enquanto me vestia imagens da viagem passavam como filme. Muitas saudades. Para quem não sabe foram 20 dias de moto até o Chuí, no Rio Grande do Sul. Dias inesquecíveis, mas que em breve se somarão a outros em novas travessuras.

Tudo pronto, capacete, luvas, carteira, documentos e chaves da moto e de casa. CamelBack? Não! Vai ser só um bate e volta. Simbora!

Subo no brinquedo novo, minha inseparável companheira de viagem, o brinquedo do ano passado, me olha com ciúmes. Tranquilizei-a:

“Você, minha querida, é insubstituível. Sua juventude, robustez e personalidade são ímpares. Vai para São Paulo comigo e passaremos as semanas juntos. Só eu e você.”

Isso a deixou mais calma.

O som do motor é diferente, mais dócil. O engrenar das marchas mais suaves assim como a tocada. Essas foram as primeiras impressões. Ligado em como meus comandos eram recebidos pela jovem senhora quase passei direto pelo ponto de encontro.

“Mas o que é isso?”

“Meu presente de aniversário”

“Tu é maluco!”

“Cara, foi uma oportunidade única! Ano 2008, 4300 Km, com os 3 bauletos e um casaco modelo 2 Pro, o melhor do mundo. Não podia deixar escapar.”

“E a outra?”

“Como sabes estou semanalmente por 3 dias em sampa. Serão uns 2 anos. Ela vai comigo. Devo vender o carro que não estou usando e assim fica financeiramente mais leve.”

VENDO UMA MONTANA, 2008 / 2008, FLEX, POUCO RODADA (13.000 Km), PRETA, ÓTIMO ESTADO, 1.8 COMPLETA, COM SOM, PROTETOR E COBERTURA DE CAÇAMBA E APENAS 2 PEQUENOS AMASSADOS POR CONTA DE UM ENTREGADOR DE PIZZA QUE AVANÇOU O SINAL, NA CONTRAMÃO QUANDO HAVIA PASSADO APENAS UMA SEMANA APÓS A SUA COMPRA. NÃO MANDEI CONSERTAR, PARA NÃO FICAR COM A COR DIERENTE. ACEITO OFERTAS.

“É um argumento.” Parabéns! Bela máquina. Vamu nessa!”

A jovem senhora pertencia a uma pessoa cuidadosa. Tratava-a com carinho e esmero. Fez todas as revisões, utilizava combustível de melhor qualidade e a mantinha limpa e cheirosa. Desfez-se devido ao nascimento de sua primeira filhota. Uma linda garotinha com um pouco mais de uma ano.

Decidi chama-la de jovem senhora enquanto não nos tornássemos íntimos o suficiente para trata-la como merece.

Iniciamos ainda sentindo a diferença na maneira como meus comandos eram recebidos, mas feliz por notar que ela parecia estar gostando da maneira como eu a estava tratando.

Respeitando sua insegurança fui passando as marchas com cuidado, mas com firmeza.

Acelerava com parcimônia, mas sem demonstrar muito respeito. Ela havia de perceber que o trato seria doce, mas firme. Ela não podia pensar em assumir o comando. Tinha que perceber quem seria quem nessa relação que se iniciava. Ela tinha que perceber que se não se entregasse nossa convivência não seria prazerosa e a única coisa que eu queria dela era prazer e para tê-lo seria paciente.

O caminho estava livre. Saímos da Linha Vermelha e entramos na Dutra em poucos minutos. Minha atenção em seu comportamento fazia com que o tempo voasse.

As ultrapassagens eram feitas com simplicidade e as mudanças de pista, necessárias para ultrapassar veículos que insistiam em trafegar a baixa velocidade na pista da esquerda, sem tensão.

As curvas, ainda longas, eram absorvidas com prazer, antevendo o que me aguardava na subida da Serra das Araras.

Em pouco tempo o primeiro pedágio da Dutra ficou para trás. Chegamos ao tão esperado início da serra.

O pouco movimento se confirmou e em segundos estávamos como em um só corpo ao sabor das curvas sobre um asfalto liso e temperatura agradável.

A doçura com que ela aceitava meus comandos e as vezes corrigia meus erros de primeiros contatos era embriagante.

Quando possível eu exigia um pouco mais do que o necessário e ela correspondia com um leve sorriso.

Ela estava gostando e demonstrava isso com seu ronronar grave, porém suave.

Era a música que eu queria ouvir.

A serra acabou sem avisar, passou em minutos como se fossem apenas segundos.

A jovem senhora havia desabrochado para se tornar uma bela mulher.

Seguimos em uma conversa cada vez mais íntima e silenciosa até chegar ao posto para abastecer.


Conhecemos um casal também de moto com quem conversamos alguns agradáveis minutos. Voltavam das festas de fim de ano passadas na Cidade Maravilhosa.

São de Serra Negra no interior de são Paulo, próximo as estações de águas minerais. Falaram tão bem da cidade e, com as confirmações de meu amigo, decidi que iria conhecer em breve.

Trocamos contatos.

Voltamos para a estrada e Penedo não demorou a chegar. Dessa vez quem abasteceu fui eu e seguimos para um bom lanche. Eram 11 horas e alguma coisa; o sol começava a se fazer presente com timidez.

Tentei convencer meu amigo a seguir para Mauá. Não consegui. Tomamos a estrada de volta

A facilidade com que nos tornamos íntimos me impressionou. Paramos mais uma vez para reabastecer quando bebi um café tão aguado que a atendente se recusou a cobrar.

Não preciso detalhar o prazer da volta.

De novo, novamente, outra vez eu estava feliz e cada vez mais convencido que havia feito a coisa certa. Não era um exagero e sim o reconhecimento de uma conquista.

PARABÉNS!

OBRIGADO.